Quadribol
Alvo acordou um tanto devagar, demorando um pouco para sair da cama. Para dizer a verdade, praticamente acabara de pegar no sono, tivera uma noite péssima. Mas despreocupou-se pois era sábado, e seu dia estaria livre, não tendo nenhum compromisso.
Colocou suas vestes corvinas, e desceu para sua comunal, que estava praticamente deserta, a não ser pela única garota que lhe despertava interesse: Rosa Weasley. A mesma estava com uma expressão um tanto apreensiva, e segurava nas mãos um pergaminho. Ao seu lado, estava uma coruja, que bicava delicadamente seu braço a procura de afeto ou alguma recompensa.
- Agora não, Billie.
A coruja piou contra-feita, voando em direção as janelas. Alvo então, resolveu se aproximar.
- Rosa... Ta tudo bem?
A garota deu um pulo, deixando cair o pergaminho, que rolou para debaixo da mesa.
- Ah, oi Al – Disse, colocando o cabelo para trás da orelha – Nem vi você aqui...
- Notei. Accio pergaminho!
O objeto voou em direção a ele, que pegou-o nas mãos e o entregou para a garota.
- Ahn... Obrigado.
- Mas o que to escrito aí, que está te deixando tão preocupada?
- Nada de importante – Disse, bufando e relendo o pergaminho – Apenas minha mãe, que disse que talvez venha para cá, junto com meu pai. E o seu também.
- HAN?
- É, e Gina provavelmente vem junto. Eles pareceram bastante preocupados com o que aconteceu. Você sabe né, tirando sua mãe, jogadora de quadribo, eles são aurores.
- Mesmo assim... Precisa chegar a esse extremo de vir aqui?
- Também acho que foi uma decisão exagerada. O ‘’comensal’’ nem era dotado de grande poder, ou se não podia ter acabado com a gente em três tempos – Disse, estalando o dedo.
- É. Mas vamos, não quero passar o dia todo enfornado nessa comunal.
Seguiram, então, até o retrato da mulher gorda. Saíram do local, e foram caminhando pelos corredores até os jardins que, naquele dia, estava especialmente cheio. Se encaminharam até uma árvore frondosa, com uma sombra particularmente grande, e se acomodaram embaixo dela.
- Ué... Não estou vendo o Scorpion – Disse Rosa, colocando a mão em cima do olhos, a fim de protegê-los do sol, e olhando em volta.
- Deve estar ainda no dormitório, dormindo, do jeito que ele é preguiçoso...
- Verdade. Mas e aí, preparado?
- Para quê ? – Perguntou, olhando para a garota um tanto confuso.
- Seu débil. Hoje, o treino de quadribol para o primeiro ano. E mais tarde, o treino da armada.
- Ai não! – Disse, dando um tapa em sua testa – Esqueci completamente.
- E o quadribol é daqui a duas horas, pelo que vi, no relógio da comunal. Estou tão anciosa! Meu primeiro treino como batedora...
- Até parece. Treinávamos na quadra de quadribol lá de casa, lembra?
- Ta, mas é diferente. Estaremos diante de uma verdadeira profissional.
- Rô, acorda. Minha mãe é uma verdadeira profissional, ela é jogadora.
- Mas é minha madrinha e tia! To falando de uma pessoa realmente desconhecida, e que acredita de verdade na gente. Quer dizer, ela fez um pequeno time do primeiro ano... Só com os melhores!
- Ah, não pode ser tão difícil assim.
- Mas é muita responsabilidade. – Disse, pegando a varinha do bolso interno das vestes, e fazendo alguns movimentos com a mesma.
- Você se preocupa demais.
A garota bufou, jogando os cabelos para longe dos olhos.
- Talvez você tenha razão. Mas, qual você acha que vai ser nossa vassoura?
- Duvido que uma firebolt. Uma Nimbus, pelo menos.
- Ou Silver Arrow.
- Não sei, esse modelo é meio velho.
- Mas é tão bom quanto à firebolt
. – É, pode ser. E claro, a escola não vai nos dar modelos tão bons, somos iniciantes.
Rosa brandiu a varinha, murmurando baixinho um feitiço, fazendo flutuar algumas pedras.
- Posso te confessar uma coisa?
- Claro que sim.
- Estou um pouco receosa com os treinos da armada. Não, não adianta falar que eu não tenho motivos – Disse, diante do olhar reprovador do amigo – Mas... Não sei. Estou lá, mais para ‘’te proteger’’ caso aconteça algum imprevisto ou algo do tipo. Só não sei se sou capaz.
- Pelas cuecas folgadas e estampadas de Merlin. Pare de bobagem, claro que você consegue.
- Prefiro acreditar nisso.
Se calaram, imaginando o que aconteceria dali pra frente. Nada de radical mudara na vida deles, mas estavam convivendo com um inimigo ‘invisível’, que podia ser quem menos esperavam. Era uma idéia assustadora e ridícula, ao mesmo tempo. Alvo sacudiu a cabeça, afastando pensamentos, e notou que uma figura grande e ruiva caminhava em direção a eles, com uma expressão um tanto quanto sonhadora no rosto.
- Oi casal 2O... – Disse Thiago, ainda zombeteiro – Vocês viram a Julia passar por aqui?
- Pra dizer a verdade não – Disse Rosa, despertando de seus pensamentos – Mas se a virmos, dizemos que você está procurando ela.
- Obrigado pelo favor. Vou falar com o Ted. – Disse, sorrindo, e já ia virando as costas quando Alvo o interrompeu.
- Eiei... Thiago, você quer alguma coisa de especial com ela sabe... Algum recado ou algo parecido? Inocência sabe.
- Boa tentativa Al. Mas eu não vou falar nada.
Dizendo isso, piscou ironicamente, e saiu andando em direção a um garoto de cabelos azuis no outro extremo do jardim.
- Quer saber? – Cochichou Rosa, averiguando se Thiago já estava longe o bastante para ouvir – Eu acho que ele e a Juh estão tendo alguma coisa.
- Você acha? Eu tenho absoluta certeza.
* * *
O vento estava um tanto forte, para o lado leste, de modo que os cabelos e a roupa de Alvo voavam bruscamente, incomodando o garoto. Rosa tinha feito um coque com seus cabelos ruivos, e prendido a franja, para que a mesma não atrapalhasse. Ambos seguravam uma vassoura, e saiam do vestiário em direção ao campo, cambaleantes.
- Não sei como vamos treinar – Disse Alvo, fechando os olhos, para protegê-los da poeira que voava contra seu rosto
- Também não – Disse, imitando o amigo – As condições do vento estão péssimas. Se subirmos na vassoura, não quero nem pensar no que vai acontecer.
Pisaram na grama absolutamente verde do estádio, e abriram os olhos por um breve momento para ver o que estava acontecendo. Um pequeno grupo já estava ali reunido, e a professora ia em direção aos dois, segurando dois grandes óculos de proteção.
- Ponham – Disse, estendo para eles – Vocês vão precisar.
Não pensaram duas vezes antes de obedecer, e logo, fizeram o que lhe era mandado.
- Pois bem... – Disse, se dirigindo à turma- como vocês puderam ver, as condições de hoje não são das melhores. Mas, não é por isso que vamos deixar de treinar. Se vocês notaram, existem dois grupos aqui. E sim, vocês vão jogar hoje. Treinamos jogando, e só assim poderemos chegar a perfeição.
Alvo e Rosa se olharam, achando aquilo tudo um tanto exagerado. Pelas expressões, os outros alunos também concordavam com eles, porém ninguém disse nada.
- Ok, já dividi os times. Vamos, vamos lá. Quero total organização.
Puxou de seu bolso uma lista, e foi falando vários nomes. Por sorte, Alvo e Rosa ficaram no mesmo time.
- Vamos lá então. Cada um monte em suas vassouras, Rosa e Emílie apertem as mãos, por favor e que comece o jogo.
Deu um passo para frente e sorriu, estendendo a mão para uma garota com uma aparência um tanto assustadora da Lufa Lufa. Emile não retribuiu o sorriso, e ainda fez uma expressão de raiva extremamente grosseira. Rosa então fechou a cara e montou em sua vassoura, um tanto sem graça.
- E um, dois, três... VOEM!
Vários vultos subiram pelo ar, e Alvo foi o que subiu mais alto para sobrevoar o local, a procura do pomo. Matheus Abbot era o apanhador do outro time, Unicórnios, e fazia a mesma técnica. Trocaram breves olhares, e logo tornaram a olhar para o campo.
Olhou para baixo, por um breve instante, procurando Rosa. Sorriu, achava que a mesma estava simplesmente linda voando, com os cabelos ruivos jogados ao vento, seguindo um balaço e preparando-se para rebatê-lo. Logo, retomou sua atenção, tentando não se desviar do jogo e de que acontecia nele.
Emilie conseguiu a posse da Goles, e saiu voando com ela, segurando a mesma como se fosse seu maior desejo. Seus olhos faiscaram em direção aos aros, ela sorria ameaçadoramente, o que intimidou bastante o goleiro, Gabriel Lovegood.
Alvo sentiu um empulso de ir tentar pegar a goles, porém, essa não era sua posição. Voltou a olhar para a quadra em si, tentando não perder nenhum detalhe, foi quando notou que algo vinha com toda força em sua direção. Era um balaço. Se jogou para o lado, mas o tempo foi suficiente para Rosa chegar, se jogando em sua frente e rebatendo em direção de Emilie.
- Essa foi por pouco – comentou baixinho a garota, e tornou a voar o local.
Emilie foi atingida no braço, perdendo a posse da goles.
Hellen Brow passou por baixo dela rasante, pegando a bola e voando em direção aos aros e arremessou, em um gol certeiro.
- PONTO PARA OS DRAGÕES! – Disse a professora, com a voz magicamente aumentada. Todos comemoraram, riram, e Hellen levou bastante tapinhas carinhosos nas costas.
Alvo deu um grito de comemoração, olhando de esguelha para Matheus, que não perdia a expressão serena. Irritou-se um pouco, a notar o que o garoto não estava incomodado, mas logo seu foco voltou para o jogo.
Mas um ponto marcado por Hellen, outro marcado por Fábio Patil. Assim foi seguindo, até o placar 90 x 40 pro time dos Dragões, ganhando por uma boa vantagem. Alvo vibrava a cada ponto marcado, um sorriso de triunfo passava pelo seu rosto. Foi quando avistou, pequeno e dourado, o pomo de ouro.
Mais do que depressa, curvou sua vassoura na direção do objeto, voando com toda a intensidade. Logo, sentiu Matheus Abbot um pouco atrás, mas se considerava em vantagem. Não estava se sentindo seguro a ponto de tirar uma mão da vassoura, pois, naquele momento, fez uma curva muito fechada e brusca para tentar capturá-lo. Seu corpo escorregou um pouco para o lado direito, e ele segurou firme para não cair, tremendo um pouco.
- Mais calma aí em cima! – Disse a professora, olhando atentamente para o menino, como se ele fosse despencar.
Fez um sinal positivo com a mão, e percorreu o estádio com os olhos, a procura do pomo. Logo, notou um pequeno objeto passar perto de sua orelha e sair voando, com Matheus Abbot a seu encalço. Não tardou a projetar seu corpo para frente, indo em direção ao objeto, com a mão estendida.
Logo, os dois se encontravam lado a lado, disputando pelo pomo. Matheus se jogava constantemente na direção de Alvo, a fim de tirá-lo do caminho, e estava dando certo. Cada vez mais ele se afastava, até que teve uma idéia que julgava digna de aplausos.
Se aproximou mais de Matheus, um sorriso triunfante nos lábios, as duas mãos segurando o cabo da vassoura. Deixou que o garoto se jogasse fracamente sobre ele, mas sem sair do lugar por causa disso, se desviando e voltando a sua posição. O intuito era irritar Abbot, e ele estava realmente conseguindo. Com raiva, Matheus se jogou com tudo sobre ele, que rapidamente inclinou sua vassoura para baixo, fazendo o garoto se jogar fortemente para o lado, perdendo um pouco o controle da vassoura e tomando distância o suficiente para Alvo ter uma larga vantagem.
Rapidamente, se inclinou para cima, a mão estendida, seu plano perfeito tinha dado certo. Seus dedos encostaram levemente no pomo, e ele tornou a fechar a mão.
- ALVO CAPTURA O POMO! VITÓRIA DO TIME DOS DRAGÕES!
Socou o ar com a mão desocupada, rindo, e logo começou a sobrevoar o estádio, erguendo alto o pomo. Gritos e aplausos o acompanhavam, e logo todo time voava em direção a ele, que recebeu um grande abraço coletivo.
Devagar, foram descendo ainda abraçados, até tocarem levemente a grama. Alvo ainda levou vários tapinhas nas costas e na cabeça, seguidos de palavras agradecidas.
- Valeu cara, você joga muito – Disse Hellen, uma nascida trouxa que da mesma casa que o garoto, e que podia facilmente ser considerada uma das melhores artilheiras.
- Obrigado – Disse, sorrindo – Você também, fiquei impressionado.
A garota corou levemente, e logo depois deu um breve aceno, se retirando do local.
Alvo se desmontou de sua vassoura, andando em direção as arquibancadas. Foi quando deu falta de uma pessoa. Uma menina, especificamente, onde estaria Rosa?
Foi quando sentiu um peso se projetando sobre seu corpo, o que o fez quase desequilibrar e cair. Lá estava Rosa, montada em suas costas, bagunçando seus cabelos.
- O que foi aquilo hein? Jogou muito – Disse, sorrindo, e logo depois se inclinando para dar um beijo na bochecha do menino, que fez sua pele adotar um tom rubro. – Precisava ver a cara do Abbot.
- Ah, eu... Eu fiz o que sabia. E você também, se não fosse por todos aqueles seus balaços arremeçados, os artilheiros nem fariam tantos pontos. – Disse, tentando achar as palavras certas.
Sorriu, e logo pulou das costas do menino, aterrissando no chão.
- É, eu também fiz o que sabia. Agora vamos?
Rosa segurou a mão de Alvo, entrelaçando seus dedos e, juntos, os dois seguiram para a comunal.
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