Amor líquido



Já haviam se passado um mês dentro daquele castelo, e Alvo se sentia muito mais a vontade para tudo. Seu círculo de amigos não se resumia apenas a Rosa, e o garoto parecia ser muito desejado pelas meninas.
- Olha lá, elas de novo. Estão acenando. A-ce-nan-do. Você sabe a gravidade disso?
- Não – Disse o garoto, retribuindo o aceno, com um sorriso
Rosa deu um tapa no braço do amigo, com toda força que pôde reunir.
- Para de dar mole pra elas!
- Ai! Sua maluca... Mas porque, ta com ciúmes ?
A garota corou fortemente, e olhou para baixo.
- Claro que não. Eu apenas... Ah, deixa de ser chato Alvo.
- Eu sei que está.
- Não estou.
- Está.
- Não.
- Então porque você ta vermelha ?
- E-eu comi muito tomate seco hoje de manhã. É isso.
- Sei.
Retomaram o caminho para a Comunal, um tanto cansados, devido ao dia exaustivo que tiveram. A professora de Vôo resolvera montar um time mirim de quadribol, no qual Alvo era o apanhador e Rosa era uma rebatedora. Os testes foram realmente complicados, e o que mais desejavam no momento era um bom banho e cama.
Responderam a pergunta da Gárgula de pedra, em forma de águia, e finalmente entraram na ampla sala. Estava um tanto cheia, por isso preferiram subir diretamente para seus respectivos dormitórios.
- Boa noite Alvo – Disse Rosa, dando um beijo na bochecha do garoto, que corou instantaneamente.
- B-boa noite.
Subiu as escadas lentamente, tentando sustentar o peso do próprio corpo, enquanto visualizava uma ducha bem gelada.
Tomado seu tão esperado banho, o garoto se jogou na cama, literalmente. Com esse feito, o pergaminho que estava do lado de seu travesseiro caiu, e rolou para baixo da mesma.
- Droga – Disse, se agachando ao lado da cama e tateando a procura do objeto – Cadê você?
De repente, sua mão tocou em um recipiente de vidro, um tanto arredondado. Segurou-o, e o puxou para si, a fim de ver melhor.
- A... Poção
Praticamente balbuciou aquelas palavras, tinha esquecido daquele líquido rosado e que cheirava chiclete. Sorriu, consigo mesmo, enquanto guardava a poção na gaveta.
- Até mais ver, Rosa. Até amanhã. Vou esperar seu beijo.
Deitou na cama, rolou para o lado e dormiu, pensando na garota.






* * *


- Bom dia Rosa – Disse Alvo, abraçando a garota pela cintura e lhe dando um beijo na bochecha, enquanto a mesma lia um pergaminho.
- Bom dia – Disse, sorrindo, enquanto retribuía o beijo. – Estou com fome, vamos tomar Café?
- Claro ! – Sua mão apertava de leve um pequeno frasco dentro de seu bolso.
Os dois saíram da comunal, passeando pelos corredores, rumo ao Salão Principal. O castelo estava cheio e, milagrosamente, não esbarraram com Scorpion naquela manhã de terça feira.
Chegando ao local desejado, os dois se sentaram próximos, e começaram a se servir do banquete que lhes aguardava. Alvo pegou o frasco e deixou-o a mão, preparado para por seu plano em prática.
- Hm... Rosa. Você pode pegar aquela tigela de ensopado ali ?
A garota concordou com a cabeça, virando de lado e se debruçando sobre a mesa, a fim de pegar o alimento.
Mas que depressa, Alvo tirou a rolha, e despejou uma pequena parte do conteúdo no suco de abóbora de Rosa. Logo depois, guardou novamente o frasco nas vestes, como se nada tivesse acontecido.
Foi o tempo exato para a garota se virar, com a tigela no braço, depositando-a ao lado de Alvo.
- Tome.
- Obrigado – Disse, sorrindo, enquanto se servia um pouco, para disfarçar.
Nunca fora muito fã de ensopado, mais foi o primeiro alimento que lhe veio em mente para distrair a garota. Enfiou uma colherada na boca, um pouco contra vontade, e logo depois tomou uma golada de suco de abóbora para ajudar a engolir. De repente, olhou para o suco em sua mão, e gelou.
- Rosa... Esse suco era o seu?
- Era... Mas pode beber, quer?
‘’Não... Não, por favor, não’’.
- Eu estou me sentindo um pouco mal – Mentiu, aflito – Já volto.
Saiu correndo, desembestado pelos corredores, a fim de chegar no banheiro masculino. Precisava se isolar de tudo e todos, antes que a poção fizesse o efeito.
Escancarou a porta, e foi diretamente para a pia, e começou a lavar o rosto. Já haviam se passado cinco minutos, e o efeito já estava por vim....
De repente, sua imagem no espelho lhe pareceu muito atraente. Seus olhos verdes, aquele cabelo meio jogado no olho. Levou sua mão até o rosto e disse, com um sorriso.
- Nossa... Eu sou bonito mesmo, hein.
Ficou admirando seu corpo, sua roupa, o jeito que segurava a varinha. Riu, mostrando seus dentes quase perfeitos, e lançou uma piscadela para ele mesmo. A poção que ele mesmo tinha bebido, fez ele se apaixonar por ele mesmo. Não iria durar mais que duas horas mas, mesmo assim, os efeitos podiam ser desastrosos.
- Eu sou... Tudo de bom. Eu me amo. As garotas me amam.
Não queria sair de frente ao espelho, passaria o dia todo lá se fosse preciso. Até que, o garoto foi despertado de sua profunda arte da admiração por um grito.
- AAALVO, AINDA BEM QUE VOCÊ ESTÁ AÍ!
Rosa vinha correndo, e entrara no banheiro masculino, mesmo sendo proibido. Se ajoelhou aos pés do garoto, e segurou sua mão.
- Preciso te dizer uma coisa.
- Fale. – Disse, enquanto ainda ajeitava os cabelos, jogando-os para os lados, a fim de decidir se eles ficavam melhor jogados no olho esquerdo ou direito.
- Eu estou... Apaixonada por você – Dizia isso um tanto confusa, enquanto olhava firmemente nos olhos do garoto – Pode parecer bobagem, mas eu descobri isso hoje, ainda agora!
- Uhun. Você acha meus olhos verdes esmeraldas ou verde musgo?
- Esmeraldas.
- Ah, eu sei. Eu me amo. – Disse, jogando um beijo para seu reflexo.
- Olha pra mim – Disse Rosa, puxando o rosto do garoto para si.
Naquele momento, um garoto alto e loiro, com as vestes da Sonserina entrou no local. Lançou um olhar de desprezo ao ver Alvo ali e passou direto. De repente, parou. Virou para trás, e soltou uma indagação.
- Rosa ?? O que você ta fazendo aqui, é um banheiro masculino!
- Eu vim me declarar para o Alvo, estou apaixonada. Mas acho que ele não me quer... – Disse isso quase chorando, e olhando suplicante para o garoto.
- Não te quer? – Scorpion estava ficando um pouco mais interessado.
- Não, não quero ninguém. Sou lindo e auto suficiente – Dizia isso se olhando no espelho, dobrando o braço para mostrar o ‘’muque’’.
- Fala sério... Vem Rosa, vamos sair daqui, deixe esse garoto casar com o espelho – Disse, passando o braço delicamente em volta de Rosa, a fim de tirá-la do local.
A garota, raivosa e descontrolada, empurrou-o e para longe, a agarrou Alvo.
- Não saio daqui sem ele! Meu amor!
- Não amassa a minha camisa!
Scorpion olhou para os dois, incrédulo, até que realmente começou a entender as coisas. Provavelmente Alvo teria bebido uma poção do amor, que não era para ele, e sim para aquela tão desejada ruiva.
Sentou-se no chão do banheiro, olhando para os dois, com um olhar calmo e paciente.
- Vou ficar aqui, até o efeito passar. Não quero que aconteça nada.
- O efeito de minha paixão por Alvo é eterno!
- Cara mulher, desgruda de mim, vai amassar minha camisa... Aí, tá vendo? Amassou! – Disse, se desvencilhando de Rosa, e se olhando no espelho.
A garota começou a chorar descontroladamente. Gritava, esperneava, e dizia que Alvo ia ser dela. Ele, por sua vez, ficava se admirando no espelho, enquanto tentava, frustrante mente, deixar a camisa lisa.
Depois de longas duas horas, Rosa se sentou no chão, exausta, olhando para os dois garotos que se encontravam ali.
- Eu não entendo o que deu em mim... – Disse, levando suas duas mão a cabeça.
- Nem em mim – Disse Alvo, se sentando ao lado da garota. Para dizer a verdade, sabia sim e tinha consciência, porém não ia revelar naquela hora.
Scorpion sorriu, jogando a cabeça para trás.
- Não agüentava mais ficar aqui, ainda bem que o efeito disso passou. Bem, agora eu vou indo – Se levantou, ajeitando as vestes, e começou a andar em direção a porta.
- Espere! – Disse Alvo, se levantando também. Foi até ele, e estendeu sua mão. – Obrigado, você não precisava ficar aqui, mas ficou. Só Deus sabe o que poderia ter acontecido.
- Não foi nada. – Disse, um tanto tímido, apertando a mão de Alvo. Nunca pensaria estar fazendo isso, mas, quem sabe, não surgiria daí uma amizade?

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