Malfoy-Weasley



 


 


CAPÍTULO 24


Malfoy-Weasley


"A coisa mais importante que um pai pode fazer por seus filhos é amar a mãe deles." (Theodore M. Hesburgh)


Tudo o que eu devia fazer era esperar. Via-me sorrindo por dentro, nervoso por fora, consciente de que em poucos minutos eu a veria, andando em minha direção. Como se a caminhada que estivesse preste a enfrentar no corredor entre as cadeiras ocupadas por membros de duas famílias, antes rivais de sangue, fosse a última caminhada de sua primeira vida. Como se estivesse dando seus primeiros passos para enfrentar uma vida completamente nova. E aquela seria ao meu lado, comigo.

A música soou no ouvido de todos os convidados, todos os familiares. Eu olhava para frente, curioso e ansioso, quando os demais sentados nas fileiras se inclinavam para assistir a chegada dela. A sra. Weasley, mãe de Rose, insistira em fazer daquele um casamento cheio de enfeites, o qual haveria Rose num vestido branco, caminhando num longo tapete vermelho aveludado, pois esse era o sonho de sua mãe: ver sua filha se casar da mesma maneira que um dia ela se casou. E como aquela seria a única chance de Rose se casar, mesmo que com apenas dezoito anos, nem a mãe ou avó dela – e suas primas e suas tias – descartaram a idéia para que tudo ficasse intacto e brilhante para mais uma Weasley, a primeira dos Malfoy.

No entanto, para mim, os enfeites, as flores, os trajes formais, os penteados, aquela banda tocando melodias calmas e perfeitas para entreter e emocionar, estavam em último plano. O casamento aconteceu no fim de tarde, e nos primeiros minutos da noite, e no jardim da Mansão dos Malfoy. Minha mãe, que mesmo não ligando para cerimônias extravagantes, aceitou que o casamento acontecesse ali, e não objetou nenhuma idéia da família Weasley sobre os enfeites. Quem ficara encarregada dos convidados fora Lily Potter, madrinha do casamento, escolhida fielmente por Rose. Convidara todos os alunos que formaram em Hogwarts comigo e com Rose. Zabini apareceu, acompanhando Parkinson. Mas nada podia me irritar, nada faria meu sangue ferver. Nada. Afinal, nenhum deles dera motivos para aquilo. Quando nos cumprimentamos, foi como se nunca tivéssemos ofendido o outro, ou traído. Foi como se estivéssemos nos conhecendo outra vez.

A som da música aumentava a cada nota, e eu parado, esperando. Mas nenhum sinal de branco se aproximando na minha direção. Apenas a minha própria mãe, que caminhava cumprimentando os convidados, toda elegante, formosa e extremamente orgulhosa. Postou-se a minha frente. Achei que ela ia me avisar alguma coisa, mas tudo o que fez foi segurar minhas duas mãos. Eu beijei o rosto dela.

– Não fique nervoso – pediu. – Ela está vindo.

– Não estou nervoso. – Quero dizer, era Rose.

Foi sentar-se ali na frente, na cadeira ao lado da sra. Weasley, que depois daquela cerimônia seria permitido que eu a chamasse de Hermione. Meus avós estavam logo atrás. Eu nunca acreditei que um dia veria aquela cena, ou estaria fazendo parte dela.

Mas lá estava eu. Esperando uma Weasley para casar.

E eu me sentia feliz.

As únicas presenças ao meu lado eram de Alvo e David, que seriam os padrinhos do casamento. No entanto, Alvo era não apenas do casamento como eu e Rose o escolhemos para ser o padrinho do nosso filho – ou filha, se Lily estivesse certa. Nunca o vira tão animado e contente com uma idéia, só quando vencera os jogos de Quadribol na escola. E agora ele estava lá, ao meu lado, para impedir que eu fugisse ou deixasse Rose no altar. Garanti a ele que eu a amava suficientemente para aquilo nunca acontecer.

Finalmente alguém apareceu no tapete. A música já mudara. Eu não queria saber daquilo, eu só queria ver Rose ultrapassar todo o metro que nos distanciava, e se aproximar de mim. Todo mundo tinha me proibido de ver Rose o dia todo, e a espera valeu a pena quando finalmente a vi ali na frente, segurando um braço do seu pai, com um vestido branco e simples, as ondas do seu cabelo ruivo movimentando-se em seu ombro enquanto ela caminhava, e o sorriso impregnado naquele rosto maravilhoso, o sorriso vitorioso e sincero que tantas vezes enviava a mim, agora todos estavam vendo. Por um momento, fiquei petrificado, observando-a dar os seus passos na minha direção. Não escutava nem a música lá trás. Apenas a voz do sr. Weasley, na minha memória, quando conversamos antes do casamento:

“Eu não tenho mais nada contra você, Scorpius. Na realidade, nunca tive. A única coisa ruim que você fez foi simplesmente conseguir tirar Rose totalmente dos meus braços, então... é por isso que você não me verá sorrindo quando eu entregá-la a você na cerimônia. Não tem nada a ver com o fato de que a engravidou. Hermione me fez enxergar que eu não sorriria nem mesmo se Rose se casasse com aquele jogador de Quadribol, o Greg Marck, que eu admiro bastante. Então... não tem nada a ver com essa estória de você ser um Malfoy ou um sangue-puro, é porque você vai se casar com ela, só isso. Não que no fundo eu não fique feliz por isso, Rose está feliz, eu vejo nos olhinhos dela. Mas, bem... não importa mais. Quero dizer, era para ser desde o começo... Você e a minha filha. Então... bem, é só isso. Não espere ver meu sorriso, mas não é nada contra você. Sério. Bem, nos veremos no altar então.”

E, realmente, não havia sorriso nenhum no rosto do sr. Weasley enquanto ele levava sua filha até mim. Havia uma expressão aflita e nervosa, as sobrancelhas estavam ligeiramente franzidas como se ele estivesse se perguntando como isso podia estar acontecendo, como ele podia ter deixado aquilo acontecer. Ele olhava para o chão, e andava tão devagar que Rose teve que o apressá-lo. Quero dizer, a música já estava acabando e eles não tinham passado nem a metade do corredor.

Ao chegarem a minha frente, o sr. Weasley e Rose se encararam um de frente para o outro. Por um louco momento, achei que ele estava chorando. Ou talvez estivesse, mas eu estava concentrado em Rose, quando ela segurou a mão direita do seu pai e depositou um beijo nela. Não era o sr. Weasley que a estava deixando, Rose é quem sairia de suas vistas agora. E pareceu a ela o mais conveniente fazer aquilo, do que ele mesmo beijar sua mão.

De repente o sr. Weasley agarrou e abraçou Rose com toda a força. Acho que ele não estava mais agüentando. Essa, por mais que tenha gerado risadas de compreensão das pessoas que o conheciam, foi uma das cenas que eu nunca quis que fugisse da minha memória.

– Tio – Alvo interveio, rindo. – Rose precisa se casar.

– É, eu sei. Desculpem. Hum...

Ele olhou para mim, permitindo que estendesse meu braço a sua filha. Assim fiz, e ela o segurou, sem tirar os olhos de mim.

– Senhoras e senhores – a voz do bruxo que estava fazendo a cerimônia soou todo o jardim. E a voz dele foi sumindo também. Eu sabia que devia prestar atenção, mas toda a atenção que eu tinha já estava dando a Rose, então... Apurei os ouvidos, forçado a entender o que ele estava dizendo. – ... para a união de duas almas...

Quando a voz do bruxo se dirigiu a mim, eu finalmente recomecei a dar atenção.

– Scorpius Hyperion Malfoy, você aceita Rose Jane Weasley como sua esposa?

– Sim, eu aceito.

– Rose Jane Weasley...

– Sim.

Um pouco surpreso com a pressa de Rose, o bruxo então anunciou:

– Se alguém é contra a essa união, fale agora ou cale-se para sempre.

Foi só para provocar, tinha certeza. Só porque aquele estava sendo o casamento de uma Weasley e um Malfoy, o bruxo me vem com a chance de alguém poder acabar com tudo.

No entanto, ninguém se manifestou ou ergueu a mão. Ninguém. De modo que o bruxo falou:

– Então eu os declaro unidos para a vida toda.


***

Diziam que a gravidez de Rose foi a mais saudável e menos preocupante do que qualquer outra gravidez ocorrida nas mulheres da família Weasley. Ela não teve problemas com dores, e quando tinha era porque o bebê começava a chutar a barriga dela. Meses e meses se passaram, eu percebia o quanto a barriga dela crescia a cada semana, e cada vez mais eu ficava convencido de que tudo estava bem. E quando não estava, ficaria.

Mesmo casada comigo, Rose continuou morando com seus pais. Ronald dizia: “Vocês já passaram a lua de mel naquela viagem, então nem reclamem! Scorpius vai ficar na mansão dele, e você aqui em casa, na hora de dormirem. Isso é castigo sim, não quero nem saber, eu ainda sou seu pai e você engravidou muito cedo!” Mas assim que a criança nascesse, ele assegurou que não pegaria mais no nosso pé. Por um lado, aquela idéia era melhor, afinal Hermione ajudava Rose em tudo, e ali na casa dela as coisas eram mais fáceis. Por isso diria que a gravidez não estava causando nenhum sofrimento, muito pelo contrário. Com isso, a idéia de mais um membro na família foi se manifestando de uma forma positiva até mesmo na cabeça do pai de Rose, que numa época quis até escolher um nome se fosse menina ou menino.

O tempo passava, Rose já estava grávida de sete meses. Quando ficava pensando que daqui dois meses um filho meu nasceria, meu coração começava a bater como uma bomba-relógio contra o meu tórax, chegava até a doer.

Eu praticamente comecei a morar com a família de Rose, em Londres mesmo. Passava todos os dias, o dia inteiro, com eles, para ficar ao lado dela. Às vezes o sr. Weasley até permitia que eu dormisse lá, mesmo ainda com o castigo. Só não deixava eu entrar no quarto de Rose a noite. E isso meio que a deixava irritada.

– Casamos para o quê, então? Eu não quero meu marido dormindo num porão não.

– Ao seu lado que não vai ser.

– Pai. Eu e Scorpius estamos casados agora, e se acha que vamos fazer sexo ou algo parecido aqui em casa, pode ficar tranqüilo. Eu asseguro que, enquanto essa barriga estiver desse tamanho, isso não vai acontecer. E eu asseguro também, que quando o bebê nascer, vamos comprar uma casa para morarmos, e tipo, viver a nossa nova vidinha sem vocês. Quero dizer, não vou ficar com vocês para sempre, agora é hora de me preocupar com o meu filho.

– Ou filha – apontou Lily, que ouvia toda a conversa.

Rose também não ficava de bom humor às vezes e isso a tornava meio direta em alguns assuntos. Há dias em que ela simplesmente está toda emotiva, e chora largamente quando alguém faz menção de lhe repreender – ou chora só por ouvir uma música, ou por lembrar o quanto me amava.

Mas o dia em que seu humor me preocupou foi numa noite, ou a última noite em que veria aquela barriga enorme nela. Hermione e Rose estavam no quarto dela. Rose deitada na cama, de lado, enquanto conversava com sua mãe, que acariciava seu cabelo. Dores comuns instalavam em Rose, por isso elas estavam assim, quietas e carinhosas. E eu, que só queria entrar lá para ver como ela estava, não ousei interrompê-las. Mas ouvi o que estavam conversando.

– Obrigada, mãe – Rose dizia, com aquela voz trêmula e emocionada. – Por tudo. Tudo mesmo. Eu não sei o que eu seria sem você.

– Ora, filha...

– E desculpe por ter dado esse trabalho todo, eu não queria que você se preocupasse tanto comigo.

– Rose, é impossível não se preocupar.

– E desculpe também por fazer você pensar que está ficando velha, porque agora vai ser vovó.

A risada de sua mãe soou o quarto todo.

– Não se preocupe, querida. Uma hora isso ia acontecer, não? Bem... Você nunca me deu trabalho, nunca me desrespeitou, sempre mereceu nosso apoio. E vai continuar tendo até mesmo depois que seu filho nascer. Eu não me importo de ser vovó agora. Posso ser como aquelas avós jovens que ainda correm pela casa para conseguir segurar a euforia do neto...

– Ou neta. – Rose também imaginava que seria uma garota. Eu entrei no quarto, quando elas ficaram silenciosas. Rose me viu e sorriu. – Olhe só o papai. Vem cá, amor.

Hermione sorriu para mim antes de sair do quarto, deixando-nos a sós. Eu fiquei agachado na beirada da cama, olhando para a barriga de Rose, que estava maior do que nunca. Apoiei o cotovelo no colchão, e enterrei minhas mãos no meu cabelo, enquanto ainda observava.

– Preocupado? – ela perguntou.

Neguei.

– Que mentira – riu Rose, puxando a minha mão para segurá-la.

– Eu não consigo imaginar – falei inconformado –, eu não consigo me imaginar com um filho.

– É... – concordou Rose. – Porque vai ser menina, uma
filha.

– Pelo que eu fiquei sabendo, você nunca assistiu às aulas de Adivinhação em Hogwarts.

– Olhe pra mim, Scorpius – a seriedade tomou conta da sua voz. Eu obedeci. – Fale para o Al também desistir das esperanças de sair um garoto de mim.

Havia uma convicção no seu tom, que me fez finalmente perceber que não era tentativa de adivinhar naquela vez. Fiquei em pé, e me deitei ao lado dela, bem perto dela, quase colado nela. Nos encaramos. E perguntei:

– Você já sabe...?

– Scorpius, nossa filha vai nascer amanhã – falou Rose um pouco impaciente. Eu perdi o fôlego, porque ninguém tinha me falado aquilo tão diretamente. – Você que nunca quis saber, eu sei que vai ser menina desde o sétimo mês.

Eu engoli em seco.

– Isso quer dizer que vai ser mais difícil – murmurei. – Menina. Se fosse um garoto eu teria mais chances...

– Você vai ser o melhor pai do mundo para ela. Eu posso prometer isso a você, se não acreditar em mim. – Rose passou a mão no meu cabelo, gentilmente. – Além do mais... eu imagino você sim, com nossa filha. E vai ser igualzinho ao meu pai. Quando ela tiver um namorado, vai ficar colocando ele pra dormir num porão, apontando garfos e facas na direção dele na hora do almoço... vai achar que ele não quer nada além de ver sua filha sem roupa. Vai fazer o namorado dela passar por tudo o que você passou com o meu pai.

– Ele foi o melhor pra você, não foi?

– Foi. E você será para a nossa filha também. E isso não tem nada a ver com adivinhação.

Ela fechou seus olhos, ainda com a cabeça na direção da minha. Um silêncio se formou ali, enquanto eu passava a mão na barriga dela.

– Não pára não – pediu Rose, ainda com os olhos fechados, quando fiz menção de tirar minhas mãos dali. – Ela sempre me chuta quando você está por perto, e de alguma forma eu gosto mesmo que incomode um pouco.

– Isso é coincidência.

– É lindo. – Ela fez uma pausa, e colocou minha mão em uma parte do seu abdômen quando anunciei que não estava sentindo nada. – Fique falando de alguma coisa, alguma novidade.

– Certo... – de repente não parei de falar: – eu vou começar a trabalhar no Ministério, num departamento que pouco me importo qual, porque eu só penso na minha filha que vai nascer, mas eu só estou fazendo isso pra não ter que ficar nas custas de uma herança, eu também sou um Weasley agora e todos os Weasley ganham o próprio dinheiro, quando começam a construir uma família... AH LÁ! – eu senti uma pressão contra a minha própria mão. – Putz, como é que você agüenta isso aí dentro?

Só que eu não recebi nenhuma resposta, porque Rose já tinha adormecido com a mão pousada na minha. Acho que aquela foi sua última noite de sossego. Porque, no dia seguinte, uma vida pela qual ela tornou-se dona e responsável em todos os dias e em todas as noites, entrou no mundo.

Rose anunciou que o bebê ia nascer, quase berrando, no fim da tarde seguinte. Foi a maior correria da minha vida até chegar ao hospital St. Mungus. Os pais de Rose chamaram todos os tios e primos, e todos já estavam lá, na sala de espera – ocupando todas as cadeiras, quando o médico falou que aconteceria daqui algumas horas. Minha mãe aparatou ali mesmo, e correu até mim ao me ver lá em pé, e estava tão descontrolado que nem cumprimentou os Weasley.

– Minha netinha já nasceu? Ela já nasceu? Eu perdi alguma coisa?

– Não, sra. Malfoy. Ainda vai nascer – respondeu Hermione quando viu que eu simplesmente não conseguia falar.

– Merlin! – exclamou Lily. – Imaginem o que a Rose deve estar passando agora... Olha, Al – ela se virou para o irmão –, não preciso de um galeão. Não quero que o nascimento da sua afilhada faça você perder um dinheirão desses. E, certo, Scorpius, beba essa poção para acalmar você. – Ela me entregou um frasco, só que não fui capaz de tomar um gole porque o médico apareceu.

– Bem, quem é o pai?

– Da Rose ou do bebê? – perguntou Ronald, tão nervoso quanto eu.

– Do bebê.

– Nasceu? – eu murmurei.

– Não, mas vai nascer. É bom que você fique na sala também.

Eu corri até lá. Tudo o que eu precisava fazer era segurar a mão de Rose. Aquela tarefa era fácil, mas não quando você tinha em mente de que era um bebê que ia nascer e ele seria seu filho para o resto da vida. E nem quando a sua mulher começava gritar no maior esforço para empurrar a criança que ficou nove meses dentro da barriga e agora tinha que sair. E nem quando a sua mulher apertava com mais força ainda a mão contra a sua, quase quebrando todos os seus dedos. Mas eu agüentei, com os olhos fechados, esperando. A dor que eu sentia era tão grotesca comparada a que Rose provavelmente estava sentindo, que me envergonhei por ter exclamado um “ai” em meio ao parto.

Apertei com força meus olhos, cada vez que ouvia a tentativa de Rose para tirar aquela criança. Minha mão já estava dormente, de modo que eu não sentia mais nada, nem se Rose estava apertando-a ainda. Então só me dei conta que a minha filha havia nascido quando, aos meus ouvidos, chegou o som de um choro estridente.

Eu abri os olhos e a vi pela primeira vez.

Aquela criaturinha minúscula conseguiu me fazer chorar também. Era tão pequena, tão frágil, tão recém-nascida que todo aquele medo que eu sentira, todo aquele perigo que eu achara que ia correr quando soube da gravidez de Rose, parecia insignificante.

A bebê chegou aos braços de Rose primeiro, já limpinha. Foi aí que eu consegui raciocinar, porque não lembrava de mais nada depois que tiraram a minha filha da sala e tudo ficou silencioso. Naquele silêncio, eu achei que estava dentro de um sonho, e que eu não escutada nenhum choro e que Rose nunca esteve grávida realmente. Então, quando me dei conta, uma enfermeira voltava com ela no colo, e ela estava envolvida num tecido quente e macio, e a enfermeira entregou com cuidado a Rose, e ainda comentou:

– Vamos colocá-la desse lado, para o papai ver o rostinho dela também.

Eu me aproximei para ver o rosto dela. Seus olhinhos estavam fechados, mas a enfermeira contou que não estava dormindo, apenas com dificuldade de abri-los ainda. Então... então a primeira coisa que me chamou atenção foi o seu cabelo. Pouco, mas tinha cabelo.

E era da cor do meu.

Rose também reparou naquilo, e finalmente olhou para mim – para o meu cabelo. Ela ainda ofegava, e seus olhos estavam entreabertos. Havia um brilho no olhar que se incendiou mais ainda quando viu o do meu. Não tinha mais forças para falar, nem para se mexer. Eu compreendia. Mas ela fez de tudo para dizer:

– É loira.

– Bem, puxou o pai – exclamou a enfermeira. – Vocês querem chamar quem primeiro, para vê-la? Quero dizer, a família toda não cabe nessa sala. Temos que ir por partes.

Rose voltou a olhar para mim e compreendi.

– Os avós dela – respondi.

Enquanto esperava Ronald, Hermione e minha mãe, eu beijei Rose cautelosamente nos seus lábios várias vezes. Depois voltei a olhar para a nossa filha, imóvel, mas respirando... e ainda com os olhos fechados.

– Aahh... – suspirou Hermione se aproximando, com a voz toda emocionada, no outro lado da cama. – Ela... ela é maravilhosa... olhe só. – Beijou a testa da própria filha e a analisou por um bom tempo. – Céus, você é mais forte do que eu pensava. Não está doendo?

– Demais – murmurou Rose, mesmo que sorrindo fracamente.

– Não se preocupe – assegurou o médico, que reapareceu na sala logo mais tarde. – Demos uma poção para imobilizar da dor do parto, mas o único problema é que vai dar sono, mas logo logo Rose vai estar muito melhor, sem dores nem nada.

Hermione ficou inconformada, mas falou cochichando:

– No meu tempo não havia essas poções. Eu ficava nesse estado durante uns dois dias! Bem, sorte a sua, Rosie.

Hermione depositou um beijo no topo da cabeça da minha filha. Por outro lado, Ron estava em estado de choque. Ao ver sua filha segurando uma filha, ele ficou parado lá na entrada da porta, petrificado.

– Achei que seu pai ia desmaiar, como fez quando você e o Hugo nasceram – contou Hermione. Só que Rose não tirava os olhos do bebê em seus braços. – Mas ele conseguiu agüentar dessa vez.

Ele se aproximou, e ficou ao meu lado, também exaltado na minha filha. Ronald acariciou o rostinho dela com as costas da mão. Rose teve forças o suficiente para fazer um gesto, tão cauteloso quanto qualquer outra pessoa era capaz de fazer, para que seu pai pudesse segurá-la.

Enquanto a observava nos próprios braços, ele sussurrou:

– Hermione.

– Hum?

– Não, o nome dela vai ser Hermione.

Rose olhou para mim urgentemente, e agarrou meu braço.

– Não – conseguiu murmurar mais alto, como se sua vida dependesse daquilo. – Não, não... não...

– Que nome você está pensando em dar a ela então?

– Sei lá.

– Meu bem, ela precisa de um nome.

– Menos Hermione – falou. – Depois... depois decidi.

E levantou seus braços, pedindo ela de volta.

– Olha, ainda bem que você impediu seu pai de colocar o meu nome na sua filha, ainda bem – agradeceu Hermione.

– Ah, foi só um palpite – desculpou-se Ronald. – Bem, que nome quer dar a ela Scorpius?

– Eu não quero dar a ela um nome. Digo, eu não. Mas a minha mãe sim. – Minha mãe, que observava minha filha a alguns passos atrás de mim, se aproximou ao ouvir aquilo. Tirando os olhos do bebê, ela se virou para me encarar.

– Vai me deixar na responsabilidade de dar um nome à filha de vocês? – ela perguntou. Eu assenti. Rose também. – Mas... eu não tenho...

– Sem desculpas, a senhora estava doida para fazer parte disso – comentei.

– É que... – ela hesitou, voltando a olhar para a neta. – É que... não é um nome que eu escolhi, o qual estou pensando. É um nome que Draco sempre admirou, ele já quis ter uma filha que tivesse esse nome, nunca esqueci disso.

Tirei os olhos da minha filha e encarei minha mãe. Esperei até voltar a dizer, mas ela ainda estava indecisa se deveria falar.

– Astória – interveio Hermione. – Se o seu medo é nos falar um nome horrível, saiba que nenhum é pior do que Hermione Narcisa Malfoy.

– Eu já disse que foi só um palpite! – exclamou Ron. Rose soltou uma risada.

– Astória... – ela chamou. – A senhora... a senhora pode escolher qualquer um...

Minha mãe pareceu mais segura ao ouvir a permissão de Rose. E perguntou se podia segurar a bebê também. Quando o fez, encarou o rosto dela, apaixonadamente, suspirou e fechou os olhos por dois segundos. Sussurrou rapidamente:

– Aries.

Fazia sentido.

– Aries? Constelação? Signo? Assim como Scorpius? – riu o pai de Rose. – Típico do Draco mesmo. Acho que combina até com a família. Aries Malfoy, filha de Scorpius Malfoy, neta de Draco Malfoy.

– É, se Scorpius fosse menina, Draco queria que se chamasse Aries – contou minha mãe, fazendo-me rir.

– Acho que nada mais é justo que isso, então – disse Hermione. – Draco infelizmente não está aqui, mas a idéia de um nome que sempre admirou em uma garota, pode ser da filha de seu filho, o que seria algo que possa lembrar Aries do avô que infelizmente não chegará a conhecer.

– O que acha, Scorpius? – perguntou minha mãe.

– É perfeito – disse Rose, respondendo por mim.

– Bem – falou Ronald. – A gente se acostumou com Alvo Severo, podemos nos acostumar com Aries. Se for ver, por um lado, é até bonitinho para uma menina cujo nome do pai também é de uma constelação.

Sorrindo, minha mãe deu um beijo em Aries como se assim a batizasse com tal nome. Depois, quando achei que ia devolvê-la a Rose, minha mãe deu um passo na minha direção e sussurrou:

– Ela abriu os olhinhos! Segure-a.

– Ah... eu... não sei.

– Você vai aprender!

Ótimo. Se eu ia ser um bom pai já nem importava mais. Naquele momento, quando senti o peso imperceptível da minha filha nos meus braços, eu só me preocupei se estava segurando-a corretamente.

Quando vi os olhos dela, azuis iguais aos de Rose, alguma coisa transbordou dentro do meu peito, como se, ao notar que sua primeira visão foi de meu rosto, eu estivesse completo mas ainda recebendo mais do que necessário. Como se eu estivesse recebendo algo mais do que eu já precisava. Como se aquela pequena criança fosse um presente, um bônus. Eu senti que eu não precisava de mais nada, contanto que eu recebesse aquele olhar para o resto da minha vida.


 


 


 




































DEZ MESES DEPOIS...


– Olhem pra ela... – sussurrou Rose, deliciando-se com a presença de Aries deitada com a barriga para cima na cama, que esperava ser vestida por algum agasalho acolhedor. Ela resmungava com o frio, e Rose parecia não se tocar nisso, de tão exaltada que estava olhando para ela. Hermione e Lily lhe avisaram que a razão do choro que se estendeu pela Toca era o frio, então ela se desculpou gentilmente e logo vestiu um agasalho em Aries.

– A sua mãe tem muito que aprender ainda! – exclamou Hermione, com aquela voz que todo mundo fazia para se comunicar com bebês, pegando-a no colo.

– Não – choramingou Rose, tirando com cuidado Aries do colo de Hermione, e colocando-a de volta na cama para que todos, eu, Alvo, Lily e Hugo pudessem ficar vendo suas  expressões.

– Ela não é boneca, Rose – avisou Hermione.

– Eu sei... no fato de que tive que trocar a fralda dela pela quinta vez hoje. Mas é minha filha, eu mal fico com ela quando não está chorando e berrando. Né, filha? – levou um dedo na frente da mãozinha de Aries. Rose ficou observando os cinco dedinhos dela envolvidos com força no seu dedo indicador. – A mamãe tem que ficar cuidando de você, mas a mamãe também quer brincar com você... Ainda mais hoje que é Natal...

– Rose, ela não está entendendo nada – exclamou Hugo.

– É você que não entende nada. – Aries apenas mexia suas pernas e seu braço enquanto seus olhos curiosos observavam todas as cabeças a sua frente. – Aries é mais esperta que você, afinal. – Beijando a barriguinha dela, Rose exclamou: – O tio Hugo é um bobão! Fala assim pra ele... “bobão”.

Hugo fez um sinal exasperado com a cabeça e lamentou:

– Rose acha que a Aries é um gênio.

– E não é? – depois se inclinou para mais perto do rosto de Aries e beijou seu pescoço. – Ah, que cheirosa! Fala pra mamãe cadê o papai? – Rose virou a cabeça, e voltou com a voz normal: – Fiquem vendo, ela vai olhar para o Scorpius.

Só que Aries não tirava os olhos de Rose.

– Cadê seu pai, Aries? Eu não sou seu pai... eu sou sua ma-mãe.

Eu fiquei esperando ela me olhar. Seu rosto redondo e todo corado se mexeu e ela balbuciou alguma coisa. Depois sorriu. Aquele sorriso genuíno dela fez todo mundo do quarto começar a querer fazer gracinha só para ver outra vez quando sumiu de seu rosto.

– Sorria de novo, filha – pediu Rose, beijando a barriguinha dela novamente. Aries balbuciou outra vez e fez um sonzinho esquisito com a garganta, quando tentou puxar o cabelo de Rose. – Assim não, puxar o cabelo da mamãe não pode!

Ela riu e deixou Rose tirar sua mãozinha do cabelo. O sonzinho da sua garganta era uma risada. Depois fez um “aaaaaaaah” bem alto e virou seu corpo para o outro lado começando a engatinhar na cama, na minha direção.

Quando ela se aproximou, jogou suas mãos para o ar apoiando-se pelos dois joelhos, olhando de frente para mim. Eu fiz cara de surpresa ao vê-la naquela posição, porque parecia que ela estava querendo me mostrar o que podia fazer.

– Quem é que te ensinou a ficar assim, hein?

Ela ainda sorria quando deixou seu corpo cair para frente, desequilibrando. E se segurou na minha camisa antes que caísse totalmente. Depois percebendo que estava segura ali, acabou enterrando sua cabeça no meu peito e ficou balbuciando um monte de coisa, com a voz abafada.

– Quer se esconder por que se só tem sua família aqui? – perguntei a ela. Aries parou de tentar falar, mas ainda ficou roçando seu rostinho no meu peito. Eu não ousei me movimentar para que ela não saísse dali, por saber que quando ela fazia isso em mim, eu queria que ficasse daquela maneira para sempre. A sensação era boa, muito boa. Parecia que toda a raiva que você sentia do mundo e da sua vida passada se esvaziava com aquele gesto tão puro e intencional.

– Ela deve estar com sono – tentou Lily. – Ai que coisa mais linda!

Rose se levantou.

– Aries sempre avisa que está com sono assim... – suspirou Rose, parecendo achar aquilo fascinante. Para ela, tudo em Aries era fascinante. – Maaaaas... não quero que ela fique muito tempo dormindo, se não vai ficar choramingando sozinha de madrugada. Como alguém consegue ficar com sono de dia tendo Alvo e James na casa? Ainda mais no Natal.

– Deve ter herdado a preguiça do Ron – disse Hermione, parecendo se lamentar.

– Mas a minha filha não é preguiçosa quem nem o vô dela não! – exclamou Rose se aproximando com aquela voz de criança novamente, e segurando Aries para fazê-la se divertir. – Fala que você não é preguiçosa... fala que você tem disposição que nem o seu papai! ... Não... Aries, sem bocejar...

Já era tarde. Todo mundo riu quando Aries fez um bocejo e encostou-se no ombro de Rose.

– Podem rir, mas não vamos dormir essa noite.

– Ninguém pretende dormir no horário certo, Rose, é Natal – exclamou Alvo.

– O primeiro Natal da minha filha ela o passa dormindo!

Eu dei uma olhada no rostinho de Aries, que já dormia profundamente no colo de Rose.

– Duvido que tenha coragem de acordá-la agora – eu lhe disse.

– Eu também duvido – disse Rose. – Mas se ela ficar acordada de madrugada, você quem vai tomar conta dela.

– Não tem problema – dei de ombros.

Na verdade tinha sim quando se conhecia a chatice que era ficar ouvindo berros e choros, mas por sorte Aries acordara toda agitada quando Arthur Weasley anunciou mais um Natal à meia-noite. E, não só para ela, mas para todo mundo, a noite foi bem longa e a melhor. Todos se reuniram na sala, pois lá fora estava nevando e muito frio. Havia um piano no canto do aposento, e Victorie começou a tocar para todo mundo músicas natalinas. Depois, George quis ver Hugo tocar violão, e quando ele trouxe na sala o objeto, Aries, que brincava com um mini-puff foi até ele engatinhando e ficou tentando passar a mão no violão.

– Ah, quer que eu toque uma música pra você? – perguntou Hugo. E quando Aries fez um movimento com os braços, sorrindo, Hugo não demorou a começar a tocar para ela qualquer coisa, distraindo-a.

Diante de tanto barulho e euforia, ainda mais depois que as crianças e até os adultos abriram os presentes, eu fui ao encontro de Rose no sofá, e ao me ver ela deitou com a cabeça no meu colo e exclamou:

– Ahh, eu estou muito cansada.

– Você pode descansar agora.

– Como adoraria. Mas o barulho é terrível, e eu não consigo tirar os olhos da nossa filha. – Ficamos observando os dois, Hugo e Aries se divertindo. Rose voltou a falar: – Hum... minha mãe que costumava dizer isso, agora eu entendo porque.

– Dizer o quê?

– Que o tempo passa rápido demais. Parece que foi ontem mesmo que eu nem sabia colocar uma fralda nem dar banho na Aries direito. Bem, agora eu sinto que nem mais preciso de tanta ajuda da minha mãe assim.

Ela parecia estar querendo chegar a algum outro lugar com aquela estória. E eu já estava sacando quando ela ficou calada e hesitou a continuar.

– Eu já sei o que você quer – comentei.

– Sabe? – Rose parecia esperançosa.

– Quer uma casa só para nós três.

– É... – sussurrou ela. – Eu não quero que meus pais precisem me ajudar toda hora. Acho que já está na hora de nos virarmos totalmente. Você trabalha no Ministério, daqui alguns anos eu vou poder trabalhar também...

– Anos? Não eram meses?

– Até parece que vai ser tão fácil eu largar a minha filha pra trabalhar, fala sério. E, bem, eu quero muito viver com vocês dois todos os dias, como meus pais viveram comigo e com o meu irmão. Eu sei que família grande ajuda mais, só que eu quero ter um espaço só pra nós três.

– Entendi, Rose. Esse pode ser meu presente de Natal pra você e pra Aries. Um pouco atrasado, mas nunca é tarde demais.

– Eu te amo, sabia?

A sra. Weasley, toda velhinha, ainda teve fôlego para anunciar, ao chegar na sala com um suéter pequenino nas mãos:

– Olha só o que eu fiz para a nova princesinha da família! Cadê a Aries, ah... aqui.

– Ah, vó! Eu tava segurando ela – reclamou Hugo, mas a avó o ignorou e levou Aries até o centro da sala.

Aries parecia eufórica e ao ver um outro objeto na mão da sua avó logo tentou pegá-lo.

– Acalme-se! Veja... Rose, quer colocar na sua filha o suéter dos... Malfoy-Weasley?

– A senhora pode colocar – permitiu Rose, ela estava descansando em mim e não parecia muito disposta para sair dali e chegar até lá.

– Scorpius? – perguntou a sra. Weasley. – Nenhuma objeção contra isso?

– Nenhuma, sra. Weasley.

– Alguém quer colocar o suéter na Aries?

– Mãe, pelo amor de Deus, coloca logo se não a menina vai ficar nervosa – exclamou Gina, percebendo que Aries tentava inutilmente agarrar o suéter, e já fazia careta resmungona.

– Então deixe-me colocá-lo em você, querida. – A sra. Weasley sorriu com carinho quando conseguiu vesti-la. – Agora ela está mais quentinha do que antes.

Como se ninguém resistisse, a sra. Weasley lhe deu um beijo na bochecha e cheirou seu pescoço. Aries ficou a mostra para todos verem que ela vestia um suéter da família Weasley. Mas, do outro lado da sala, Ronald viu um defeito:

– A senhora tricotou o W de ponta cabeça, mãe.

Mas não era um defeito.

– Que nada, Ron. Esse é M de Malfoy mesmo.

Aries engatinhou até nós dois, e conseguiu agarrar com as mãos a beirada do sofá, bem em frente ao rosto de sua mãe. Rose acariciou seu cabelo loiro, e a carregou pelas costelas, deixando-a com os pés apoiados na sua barriga, e Aries marchava para se manter firme e em pé em cima de Rose. Aries olhava para mim e logo apontou com as duas mãos o suéter que vestia.

– Você ganhou um suéter – eu exclamei, incapaz de não conversar com ela.

– Quem você deve agradecer? – perguntou Rose, com a voz que eu me achava inapto a fazer, até mesmo para a minha filha. – A vovó Weasley!

Alvo apareceu por perto naquele momento. Aries sempre queria fazer gracinha quando ele se aproximava, de modo que começou a pular na barriga de Rose, forçando Rose a se sentar direito e tirá-la dali.

– Posso segurar ela, Rosie? – perguntou Alvo.

– Não precisa perguntar, é só você estender seu braço na direção dela que ela vai sozinha com você, Al.

Aries gostou de ficar no colo de Alvo, e ficou passeando com ele pela Toca toda, depois voltou e Alvo decidiu colocá-la no colo de seu avô, Arthur, que estava sentado numa poltrona que balançava.

– Boa idéia, Al – disse Harry ao ver aquilo. – Você adorava ficar sentado com ele aí, por causa da poltrona.

– Por isso mesmo! – respondeu Alvo. – Ela tem que ver o quanto é legal.

E ocorreu a mesma sensação de alegria em Aries, ao ser colocada ali nos braços do sr. Weasley, enquanto a poltrona ia para trás e para frente.

– Feliz Natal, criança – exclamou o sr. Weasley. – Se a minha fantasia de papai Noel não estivesse rasgada, eu vestiria ela só pra você! Mas, agora terá que ficar pegando no pé do seu avô, aquele ruivão lá.

Arthur pegou com cuidado a mãozinha de Aries e a apontou para Ronald. Aries ficou olhando para ele, exaltada e quieta. Ronald se aproximou.

– Aposto que sou inconfundível, ela sempre sabe quando sou eu – observou ele, orgulhoso passando a mão na cabeça dela. A cada carícia, Aries fechava os olhinhos. – Como eu já disse, ainda bem que você herdou a esperteza da sua mãe! Ihhh... Rose, ela está com sono, fechando os olhinhos.

Lily e Alvo se aproximaram na mesma hora e os dois, em uníssono, exclaram:

– Eu a coloco no berço!

Os dois se entreolharam.

– Eu disse primeiro – falou Lily.

– Eu sou o padrinho dela.

– Eu sou a madrinha.

– Bem – eu desencostei a cabeça de Rose gentilmente e saí do sofá, sentindo uma coisa ao ver aqueles dois discutindo para ficar com a minha filha. – Bem, eu sou o pai dela.

E parecia que ninguém podia discutir comigo quando eu os lembrava daquilo.

– Vamos, filha – eu a peguei no colo, tirando-a perto de todo mundo. – Papai vai colocar você pra dormir.

Todos olharam para Rose naquele momento.

– Menina, impressão minha ou ele pareceu ciumento? – exclamou Angelina, brincando. – Que pai mais perfeito você arranjou pra sua filha.

Rose sorriu e disse:

– Foi inevitável.


***


 


Compramos uma casa em Londres, cidade trouxa. Os pais de Rose podiam nos visitar quando quisessem, e, para quem achava que Astória não pisaria em terras de um mundo tão trouxa, estaria enganado. Quando se tratava para ficar com sua neta, ela nem se importa por onde pisa.

Em todo caso, Rose realizou um sonho quando conseguimos um espaço só para nós três: eu, ela e Aries. Hermione ficou feliz e orgulhosa e sempre nos desejou boa-sorte com aquilo. Estávamos preparados e ela assegurou que era o momento certo para começarmos a viver assim.

O tempo se passava, quase imperceptivelmente. Eu tinha que trabalhar, como sempre, e a hora que eu mais gostava era quando acabava o meu horário – que era lá pelas oito horas da noite – e voltava para casa. Às vezes eu chegava bem tarde mesmo, por causa da rede do pó de flu que não funcionava direito à noite. Quando cheguei às onze horas, e o silêncio bem estranho contornava pela casa, eu gostava de observar como as duas estavam. Rose dormia no nosso quarto, então estava tudo bem com ela. Depois, eu abri o quarto de Aries – decorado por Ronald Weasley com algumas figuras de Quadribol, ele torcia para que ela gostasse daquele esporte –, e lá estava ela no seu berço.

Mas eu não a encontrei dormindo. Pelo contrário.

Aries estava em pé, com os dedos agarrados ao berço, e seu rosto corado e redondo me encarava quando fiquei ali do lado. Murmurei um “boa noite” a ela, só que ao em vez de deitar sozinha – ato que já fazia sem nenhum problema – Aries continuou me observando. Eu me agachei para ficar da sua altura ali. Suas duas mãozinhas foram ao encontro do meu rosto, e de um jeito desastrado e confortável, levou seus dedos até a ponta do meu nariz e minha bochecha, e um riso perpassou sua garganta.

– Você não vai dormir não, menininha? – eu brinquei, percebendo que ela já estava se divertindo com uma mecha do meu cabelo. – Papai precisa descansar.

Na maior inocência, mas como se não gostasse daquela idéia que eu tinha que sair de sua vista, Aries simplesmente puxou meu cabelo e eu tirei, rindo, sua mão dali antes que me machucasse de verdade. Não que eu achasse que aquilo ia acontecer, Aries parecia ser incapaz de fazer mal até a própria boneca que havia ao seu lado. Ela era doce, terna e tinha as mãos mais macias, eu adorava quando eu recebia seu toque límpido e generoso numa parte do meu rosto. Era a melhor sensação que eu podia receber, depois de trabalhar o dia inteiro, e ficar ouvindo blá blá blá de chefes e colegas insuportáveis.

– Você vai ficar com sono – eu avisei.

Baaah... – toda à noite, antes de dormir, ela balbuciava essa palavra em um tom sussurrante e urgente. – Babaaah... paaaa...

– Quer brincar comigo numa hora dessas? Será que a mamãe vai gostar de saber que você ainda está acordada?

Ela riu, mostrando seus dois dentinhos que nasciam ali. Acompanhei seu riso, era tão gracioso que era impossível não se admirar. Agachei para o outro lado do berço, sumindo da vista dela. Aries balbuciou outro “baaaaaah” só que mais rápido e assustado, se inclinando para me encontrar. Riu novamente ao me ver, mais sossegada. Quando me levantei, seus braços foram em minha direção. Ela sempre fazia isso para Rose, quando queria que a carregasse no colo. Todas as vezes que Aries faz aquilo – estende seus braços – comigo são nas vezes que eu me ofereço para segurá-la. Mas, naquela vez, eu não tinha feito nenhum movimento, ela queria que eu a carregasse, ela estava escolhendo aquilo por conta própria.

Percebendo a demora para ser atendida, Aries fez um choro com a boca. Um choro tristonho. Fiquei com pena dela, mas... ela precisava dormir! Eram onze horas da noite!

– Aries...

Ainda implorando, fazendo outros barulhos com a garganta, Aries continuou com seus braços estendidos para mim. Parecia tão desesperada de repente, que começou a pular.

– Sua mãe vai ficar brava – eu disse, ela parou de tentar escalar o berço. Depois ela fez aquela cara de... pidão... e o brilho no olhar dela ficou irresistível. – Mas ela não precisa saber!

Quando a carreguei no colo e me virei para sair com ela, Rose estava parada, com o rosto amassado, e sonolento, na entrada do quarto. Seus olhos mal se abriam. Pareceu mais cansada ainda ao me ver segurando nossa filha.

– Eu fiquei duas horas cantando para ela dormir – contou Rose, mas não parecia zangada. – E aí você chega ela sempre acorda.

Aproximou de nós dois, me deu um beijo rápido na boca, e fez menção de tirar Aries do meu colo. Só que Aries simplesmente virou para o outro lado, e envolveu seus pequenos braços no meu pescoço, e afundou seu rosto no meu ombro. Rose pareceu profundamente magoada.

– Já é hora de dormir, princesa – exclamou, meio perplexa. Mas Aries não se mexeu. Rose me encarou, preocupada.

– O que você fez pra ela? – perguntei. – Ela parece um pouco chateada.

– Eu não fiz nada, juro. Fiquei um pouco zangada na hora que ela não conseguia dormir... – Percebendo então, que tinha feito alguma coisa para ela, Rose acariciou as costas de Aries e sussurrou: – Desculpa, filha! Mamãe não quis brigar com você de verdade. – Aries encostou sua bochecha no meu ombro, emburrada, e me apertou com força quando Rose tentou tirá-la de mim, avisando que era muito necessário que voltasse para o berço. O esforço foi em vão. No entanto, Rose acabou sorrindo e me olhou: – Ela só queria esperar você chegar, os olhos dela já estão sonolentos.

– Quando ela dormir, eu coloco de volta no berço, pode voltar pra cama que eu já... que eu já vou – eu disse, caminhando pelo quarto, enquanto Aries se acalmava nos meus braços e provavelmente fechava seus olhinhos. Mas Rose ficou parada, imóvel, apenas nos observando.

– Essa é a cena mais linda que eu já vi na minha vida – cochichou. Por um mero segundo, achei que ela estava emocionada. Rose saiu, depois que falou que estaria me esperando, e então fiquei ali no quarto. Aries ficou pesada, e já descobri que tinha fechado os olhos. Fui até o berço e a coloquei com todo o cuidado. Dormia profundamente, e eu sorri triunfante.

Quando voltei para o meu quarto, avistei Rose deitada na cama, lendo um livro. Ela afastou o livro ao ouvir a porta fechar e ficou me observando.

– Conseguiu?

Eu comecei a tirar a gravata, quando assenti. O silêncio tomou novamente conta da casa inteira, e aquilo era a paz do nosso universo.

– Você parece terrivelmente cansado – comentou Rose, largando o livro ao lado da cama e se levantando, para se aproximar de mim.

– É só uma dorzinha estúpida de cabeça – eu respondi, e isso fez Rose ficar decepcionada.

– Que... pena – sussurrou, me ajudando a desabotoar a camisa que eu usava. – Justo hoje, que o sossego é iminente, e eu estava tendo uma idéia...

– Uma idéia?

– É – ela sorria fracamente, enquanto alisava uma parte do meu peito com o dedo indicador. – E não tem nada a ver com choros, trabalhos, chefes, colegas...

Eu me vi sorrindo, adivinhando a idéia quando ela começou a tirar meu cinto também.

– Tem a ver com o que então? – perguntei, mesmo sabendo a resposta. Mas era bom sempre perguntar. E eu não me arrependi quando Rose foi com seus lábios até o meu ouvido e sussurrou:

– Vou dar uma chance pra você adivinhar. Mas, se você estiver com dor de cabeça e cans... AH!

Ela abafou o grito quando eu a carreguei nos braços. Nós dois fizemos silêncio, receando ouvir algum barulho. Nos encaramos.

– Acho que ela não vai ouvir – eu respondi a nossa dúvida.

– Faz tempo que você não faz isso – exclamou Rose, referindo-se ao fato de estar sendo carregada. – Ainda mais estando com dor de cabeça, consegue me carregar desse jeito... Oh! – ela fez uma exclamação exagerada. – Eu me casei com um homem forte.

– Por você eu agüento. Além disso – eu já a deitei na cama, e tirava minha camisa jogando-a no chão lá trás –, é uma dor. Você sabe como roubá-la.

Rose me puxou para ela, e nos beijamos. Pouco era o tempo que tínhamos para aquilo, depois que Aries nasceu. Eu a beijava no pescoço, no braço, na barriga... e de novo na boca. Ela soltava alguns gemidos fracos, de saudades, mas de repente parou o que estava fazendo, que era tirando a minha calça, no mesmo segundo que me beijava. Sua boca ficou parada, sem se mexer, diante da minha.

Dissera que estava ouvindo alguma coisa. Mas eu estava absurdamente concentrado nela, para dar atenção. Então continuei beijando seu pescoço, e explorando seu corpo.

– Espera, espera... – ofegou Rose. – Acho que... ela acordou de novo. Preciso ver, já volto.

– Não acredito – falei, revoltado, e me joguei no outro lado da cama.

Rose saiu do quarto, foi verificar se era verdade. Voltou com a melhor notícia.

– Foi só impressão. Está no décimo sonho, provavelmente. Hum... – ela se deitou de novo, e sorria parecendo mais acordada do que nunca. – Onde é que paramos, mesmo?

– Bem aqui.

– Verdade...

E, seguros que não seriamos mais interrompidos, transformamos aquela noite tão perfeita quanto todas as outras.

Fui o primeiro a acordar de manhã. Rose dormia demais no sábado, mas eu não gostava muito de acordar tarde. Eram oito e meia quando fui até a cozinha e preparei um leite. E, com o bom humor e as lembranças, fiz um café da manhã para Rose, para entregá-la na cama. Eu nunca tinha feito aquilo para ela, e aquela manhã parecia a melhor chance de experimentar para ver a reação dela. Afinal, Rose estava completando vinte anos naquele dia.

Aries também não dormia até tarde, mas quando entrei no quarto dela para verificar se estava acordada, ela ainda dormia, de lado, as mãozinhas afundadas entre o rosto e o travesseiro. Fiquei esperando, então, até uma das duas acordarem. Claro que foi Aries, berrando como sempre, pedindo atenção.

Pareceu extremamente feliz quando eu apareci. Ela já me chamou com um “bah” bem alto e animado, e me deixou carregá-la. Deu alguns tapinhas alegres e indecifráveis na própria cabecinha enquanto eu atravessava o corredor e a levava até a cozinha. Essa era uma de suas gracinhas.

– Baaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah...

Eu comecei a rir. Aquele sonzinho da voz dela era tão maravilhoso que eu não conseguia deixar de rir. E ainda o jeito que ela exclamava, toda descontraída, alegrava o dia de qualquer um.

– Babaaaaai... – exclamou quando eu a coloquei sobre a mesa, e ela ficou engatinhando pra lá e pra cá. Esperou a mamadeira nas suas mãos e ficou em pé para começar a tomar.

– Escute, Aries, hoje é o aniversário da sua mãe – eu falei. – Já são nove horas, e você – apontei o meu dedo na sua barriga, ela olhou curiosa para ele – vai acordar ela. Andando.

– Na... – negou com a cabeça, e a boca se mexendo enquanto ainda tomava seu leite.

– Sim.

– Na...!

Aries tinha um ano e uma semana. Ela sabia engatinhar, mas quando o assunto era ficar em pé e dar passos, ela se esquivava, e toda teimosa, tentava fugir da tarefa.

– Vem – eu agarrei ela pela barriga, o que causou uma gargalhada. Ela adorava quando eu fazia aquilo. – Hoje você vai aprender a andar de vez.

E a coloquei no chão da sala ali ao lado. Ela ficou em pé, olhando para mim, seu corpo bambeava mas ainda Aries conseguia se equilibrar. Ficava em pé, apenas, mas parecia que tinha medo de dar um passo. Só quando eu segurava sua mão que ela o fazia, porque só assim sentia-se segura.

– Não tenha medo – eu me sentei para ficar na sua altura. Mas me sentei bem distante dela.

Colocou as mãos nas costas, e negou com a cabeça, arrogantemente, quando fiz um movimento para que se aproximasse.

– Vem – eu sorri, estendendo meu braço.

Só que ela sentou-se no chão, jogou a mamadeira para o lado, e engatinhou rapidamente até o meu colo.

– Assim não tem graça! Mamãe quer que você aprenda a andar, Aries – eu falei, enquanto ela tentava escalar a minha barriga e agarrava meu cabelo, tentando subir no meu ombro. Aries parecia gostar do meu cabelo, porque era o da mesma cor que o dela. – Eu também quero. Se o seu medo for de se machucar, pode esquecer, você vai ter que superar isso...

Mesmo pequenina, e ainda criança, eu sentia que ela compreendia tudo o que eu falava. Sempre conversavam com ela com aquelas vozes de criança, e ela apenas sorria de volta, porque achava engraçado. Mas eu sentia que quando falavam seriamente, Aries prestava atenção. Uma vez, eu briguei com ela por ter ficado brava com a Lily, e se irritado e a ignorado. Lily ficou tão magoada, que eu fui até Aries, segurei-a e tentei conversar com ela, quando ninguém mais conseguia acalmá-la ou fazer com que ela obedecesse. Ela ficara com um biquinho sério e a testa franzida enquanto escutava minha repreensão. Passava as mãos – sempre – no meu cabelo e me abraçava, como se pedisse desculpas a mim pelo seu comportamento. E quando Aries viu Lily novamente, ela pediu – daquele jeito silencioso – para carregá-la no colo, e as duas ficaram de bem novamente. Rose ficava preocupada por achar que Aries não gostava de Lily. Mas Aries não tinha nada a ver com nada, ela era apenas um bebê, uma criança inocente. Na realidade as duas se amavam demais até, Lily conseguia fazer Aries se divertir como ninguém. Então o seu estresse repentino era só o temperamento natural de Aries, uma mistura de Scorpius e Rose. Mas depois ela mudava rapidamente, toda meiga e doce e maravilhosa, assim como a mãe.

E, naquele momento, eu explicava para Aries que não era preciso ter medo de se machucar ou de cair. Ela, mesmo não olhando para mim e sim para minha testa ou para a própria mão, obedecia no final das contas.

– Então, tente mais uma vez. – Coloquei-a de volta no chão e fui para o outro lado da sala. – Eu prometo que, se você cair, você não vai se machucar. Mas não quero mais ver você só engatinhando.

Observei ela ficar em pé sozinha. As mãozinhas para o ar, dando finalmente um passo. Não olhava para o pé, mas olhava para mim, onde queria chegar. No terceiro passo, ela caiu de joelhos no chão. Não chorou, apenas me encarou novamente com outro olhar. Eu sabia que ela estava pensando em engatinhar, e até o fez. Mas hesitou, prevendo repreensão minha se o fizesse. Então se levantou e continuou na tentativa de andar.

Caiu umas quatro vezes, mas se levantava.

– Mamãe vai me matar se souber que perdeu seus primeiros passos – eu disse, me arrependendo de não ter acordado Rose para ver aquilo, enquanto Aries se aproximava.

– Eu não perdi! – exclamou Rose, aparecendo de supetão na sala e correndo ao meu lado, para ver de perto. – Eu... eu fiquei observando vocês dois! Eu não ia perder isso por nada nesse mundo... Aries!

Quando nossa filha percebeu a presença de Rose, uma animação se estendeu nela, causando mais vontade para Aries se aproximar de nós dois, andando. Ela caiu com a cabeça no chão ao tentar aumentar a velocidade de seus passos. Rose ofegou, mas eu impedi que fosse socorrê-la. Aries era forte o bastante para agüentar qualquer dor da queda, eu sabia daquilo. Além disso, ela estava no tapete.

Faltavam poucos passos para chegar até nós, e ela caiu de novo. Mas Rose não estava muito paciente para esperar beijar e abraçar a filha. E o fez, agarrando-a com toda a força, dizendo que já tinha feito o suficiente por enquanto e que estava muito orgulhosa dela.

– Foi o melhor presente de toda a minha vida! – exclamava, beijando o rosto de Aries, que recebia o carinho com euforia. Eu beijei o pescoço pequenino dela e ela ria, feliz que tinha cumprido uma lição. – E o dia mal começou... Parabéns, filha! Você foi ótima, foi incrível.

Ainda abraçando Aries, Rose se inclinou para me dar um beijo forte. Eu desejei feliz aniversário, e Aries apertou Rose como se desejasse o mesmo. Depois, Aries olhou para nós dois e apontou para a própria cabeça, arregalando os olhos. Rose sussurrou para mim, sem tirar a atenção de cada movimento que nossa filha fazia:

– Aposto que está contando que bateu a cabeça. – Rose depositou um beijo na testa dela e prometeu que ia sarar.

Depois, Aries saiu dos braços da mãe dela e, preferindo engatinhar por ser mais seguro, ela voltou para o centro do tapete e, como sempre fazia quando estava lá, tentou subir no sofá e agarrar o controle da televisão.

Cada toque dos dedinhos de Aries no meu rosto, cada carícia no meu cabelo, até mesmo os choros insuportáveis e as birras mais insuportáveis ainda no meu ouvido, eram a sensação de paz, a sensação de que aquilo sim era felicidade, aquilo sim era o que eu merecia. O que Rose e eu merecíamos. Afinal, Aries tinha um dom de arrumar as coisas quando brigávamos. Se não fosse por ela, talvez, ficaríamos brigados mais tempo que o normal.

Como, por exemplo, no mês seguinte, quando Aries já sabia andar perfeitamente e até chegava a correr pela casa. Rose ficava zangada que eu não estava mais decidindo ir A Toca, por causa do trabalho, depois brigamos na hora do almoço, porque ela tinha esquecido da festa de aniversário do Alvo – geralmente, as brigas não tinham motivo, mas acabávamos um emburrado com o outro por um que inventávamos.

E Aries ficava observando na cadeirinha que ela se sentava para almoçar, quando a briga era na mesa. Observava dentro do berço, quando a briga era no próprio quarto. Observava até no banho, principalmente quando Rose ficava zangada que a água era fria demais e eu não concertava ela logo.

Eu ia ao Ministério de manhã e voltava lá pelas oito horas da noite. Chegava em casa, via a bagunça e os brinquedos jogados para todos os lados, um dia esmaguei com o pé – sem querer – a boneca predileta de Aries, que estava no chão. Ela ficou brava comigo durante o dia seguinte inteiro, mas isso não vem ao caso. Depois, eu aparecia na sala, e lá estavam as minhas duas meninas preferidas no sofá. Rose sentada, segurando um livro gigante de conto de fadas, e lia para Aries, que roçava suas mãos no desenho de cada página.

E naquele dia, eu e Rose estávamos zangados um com o outro, o que me fazia passar pela sala sem me pronunciar que havia chegado. Mas Aries acabou me vendo e me chamava com um “papai” alto, jogando seus braços na minha direção, mesmo eu estando três metros de distância. Não ia desobedecer minha filha, portanto me aproximei para pegá-la no colo. Rose fechou o livro, sem me encarar, e foi para o quarto, fechando a porta em seguida.

Aries ficou olhando para mim, como se perguntasse o que eu havia feito daquela vez. Eu sorri, assegurando que não era nada demais, e a levei para o berço. Aries simplesmente não queria dormir, e ficou chorando durante horas. Acabou levando uma bronca de Rose, que não estava de bom humor – TPM, obviamente –, e Aries ficou mais chateada ainda.

No dia seguinte, que era feriado, eu fiquei o dia inteiro deitado no sofá assistindo a televisão, enquanto Aries brincava no tapete com a casinha que Alvo havia comprado para ela no seu primeiro aniversário.

De alguma forma, o silêncio era muito chato, mas parecia que ela realmente não queria fazer barulho, talvez para não zangar sua mãe, que por sinal estava na cozinha preparando o almoço provavelmente com sua maior cara emburrada. Aries ficou cansada de brincar e andou em minha direção, de frente para mim perto do sofá. Eu pedi para ela dar licença, mas tudo o que fez foi jogar suas mãos no meu rosto e exclamar coisas sem sentido.

– Ca migooo... papai... neca! – e apontava para a boneca no chão.

Percebendo que eu não estava dando atenção a ela, Aries foi até o brinquedo e o entregou a mim. Sua testa estava franzida, ela queria entender por que tanto mau humor naquela casa.

– Mais tarde a gente brinca – eu murmurei.

Agora! – mandou, desesperada, atropelando as letras. Eu não respondi, mesmo que tivesse entendido. Aries ficou mais desesperada ainda e correu até a porta da cozinha. Ouvi a voz de Rose, lhe cumprimentando. Passou um tempo, Aries apareceu de novo na sala puxando-a pela mão, e parecia ter feito bastante esforço para chegar até ali.

– Neca! – apontou de novo para a mesma boneca, olhando para Rose. – Papai nã ca migo!

Rose parecia entender tudo o que ela falava.

– Papai não quer brincar com você? Brinca com ela, Scorpius.

– Estou cansado demais.

– Ah, está cansado demais? Você ficou o dia inteiro deitado nesse sofá, e está cansado demais para brincar com a sua filha?

– Brinca com ela – retruquei.

Rose fez um escândalo silencioso e sibilou:

– Eu. Estou. Fazendo. Comida.

E saiu bruscamente da sala, voltando para a cozinha. Aries correu atrás dela, resmungando com um choro tristonho. E, para chamar atenção de nós dois, ela voltou na sala, e resolveu se jogar no tapete, enterrar o rosto ali com a sua manta verde, e começar a berrar. Ficou assim a tarde toda, e só parou para almoçar. No dia seguinte, de manhã, quando estava pronto para trabalhar, Aries se agarrou na minha perna e não deixou eu sair.

– Eu preciso ir! – exclamei, tentando tirá-la dali.

– Nããão – dizia aquela palavra chorando. Depois, com um braço agarrado na minha perna, e o outro apontando para o quarto, exclamava: – Mamãe bava!.. rinho néa pai... vor!

Pegou meu dedo, e me puxando com uma força desesperada para a idade dela, Aries me levou até o quarto, onde Rose estava deitada dormindo. Aries foi até ela na beirada da cama e jogou suas mãozinhas no rosto, acordando-a gentilmente.

– Que foi, filha? Ah. Você já vai sair? – perguntou ao me ver.

Aries pulou Rose e foi para o outro lado da cama e me chamou. Rose ficou sentada, segurando Aries para ela não cair. Com as mãos ainda no rosto de Rose, as duas trocavam um olhar de compreensão a outra. Aries balbuciava algumas palavras, sussurrando, com sua testa colada na de Rose.

Rose também não estava entendendo, por isso soltou uma risada e deu um beijo na ponta do nariz dela. Depois olhou para mim, como se estivesse se certificando de que eu estaria observando aquilo. Aries me viu sentado ali perto, e agarrou minha mão de novo, levando-a dessa vez até o rosto de Rose.

E finalmente compreendi o que ela estava querendo.

– Quer que eu faça carinho na mamãe? – perguntei, acariciando o rosto de Rose. – Eu faço carinho na mamãe, olha... Faz também.

Aries aprovou a idéia. Segurei com as duas mãos o rosto de Rose e dei um beijo nela, enquanto Aries ainda acariciava a bochecha dela, com curiosidade.

– Não sai agora não – Rose murmurou depois que desencostei meus lábios do dela e encarei seus olhos. – Fica mais um pouco.

– Eu vou chegar atrasado – avisei, embora desejasse muito aquilo.

– Olha para a nossa filha... – Rose sorriu, diante do carinho que Aries fazia nela. – Ela vive implorando para ficarmos juntos. Pelo menos hoje, ninguém vai reclamar se você chegar atrasado.

Na realidade nem eu sabia porque me preocupava tanto com o trabalho. Quero dizer, eu já era completo com a família que eu tinha. Quem se importava em não ir ao trabalho naquele dia, para ficar com elas?

Agarrei Aries pela barriga, e ela começou a rir quando fiz cócegas nas suas costelas. Tinha impressão que Aries já sabia que, quando eu e Rose estávamos brigados, tudo na casa ficava ruim e chato, e ninguém queria brincar com ela. Talvez, a tentativa dela de nos reunir era para que ela se sentisse feliz e tivesse atenção. E descobriu que só a conseguia quando o papai e a mamãe estavam juntos. Ela realmente tinha herdado a esperteza da mãe para me fazer acreditar que ela mesma pensara naquilo tudo.

De qualquer modo, não me preocupava mais com qualquer coisa que tenha acontecido no passado, eu não me importava de ter cometido todos aqueles erros, ter achado um dia que não deveria ter perdoado meu pai, ter achado que as pessoas iguais a mim eram as mais leais, imaginado que ninguém merecia minha compaixão, não me importava por ter achado que simplesmente se esconder seria uma solução para os problemas. Era como se eu tivesse começado a viver uma outra vida, quando Aries nasceu.

Eram momentos como aqueles, os mais inesquecíveis, que me faziam agradecer por tudo o que eu tinha. Aquela menina era simplesmente o segredo que me fazia agradecer por nunca ter abandonado Rose quando receei não chegar a ser um bom pai, e por ter lutado para conseguir a confiança das pessoas que eu desejava que um dia pudesse fazer parte da minha vida.

Qualquer sacrifício que tenha passado para ficar ao lado de Rose, valera a pena, até ficava feliz que tivesse perdido na tentativa de evitá-la nas vezes que tive chance, ficava feliz que tudo fora inevitável com ela. Aquela pequena criança, às vezes mimada demais, só que na maioria das vezes inteligente, esperta e incrível, entrou no mundo para me salvar de todo o sofrimento que uma vez tive que passar. Aquela pequena criança simplesmente era o resultado do amor que eu sentia por Rose, e a conclusão da minha felicidade, que eu sabia que passaria a ter com a família que era minha.


 





********





 


N/A: *-* Com toda a sinceridade, esse foi um dos capítulos que mais tive o prazer de escrever. Eu, que nunca me emociono com o que escrevo, fiquei com um nó na garganta enquanto escrevia as cenas do Scorpius com a filha dele. Bem, e também por saber que essa fanfic está acabando, só falta UM CAPÍTULO. Quero dizer, eu tenho total certeza do que fiz a Scorpius, todo o sofrimento dele e a morte do Draco e talz. E vendo ele todo feliz, como pai, me faz ficar feliz por ele. Acho que quem escreve fanfics e ama realmente o que faz, pode me entender. Quero dizer, eu estou dando um final feliz a eles!

Bem, sobre o nome da filha deles. Draco é uma constelação, Scorpius é uma constelação, Aries é uma constelação. Para pegar esse nome, eu perguntei a mim mesma: “Que nome daria J.K Rowling para a neta de Draco Malfoy?” Não que eu conheço a cabeça dessa mulher para criar nomes, mas achei que ficaria fiel às escolhas da J.K Rowling, já que ela deu o nome SCORPIUS ao filho do DRACO. HSUASHUSAHS entenderam? Ah, se não, vão na do Ron: “Nos acostumamos com Alvo Severo, podemos nos acostumar com Aries.”

Obs: Se algum de vocês se decepcionaram por ter saído uma menina, e não um menino, não deixem de continuar lendo, porque ainda haverá o epílogo!

Agradecendo, mais uma vez, as maravilhosas reviews que recebi do cap anterior:

Leeh Malfoy: *________________________* Olhaa, eu adorei tudo o que vc falou aí no seu comentário, pq eu queria passar exatamente as mesmas impressões que vc falou, como o Scorpius agindo como qualquer garoto da idade dele reagiria, e a Rose madura é pq ela é muito Hermione Granger da vida, então já viu né! SHUSAHUS MUITO, mais uma vez, OBRIGADA PELOS SEUS COMENTS, são demais. E veja: A LILY ganhou a aposta! AHUHSAUASH Espero que tenha gostado!

Karla Dumbledore: HSAUHSAUUASH euri! Obrigada pelo comentário ASHIUASH acho q dessa vez vc não teve nenhuma previsão hein!? AHHA, espero q tenha gostado e, sério, eu vou manter contato sim \o Adooooro comentários.

Ana. Sly. Up: Eu percebi mesmo q não tinha mais seu nome nos meus comentário u_u' HUHUH O ron acabou vendo a filha dele se chamando Rose Weasley... Malfoy! Obrigada pelo comentário *-*

Larissa: AAAH você voltou! ASHUSAH Que bom! Jesus, não quebre o abajur não O_O' ahusha obrigada pelo comentário, e tipo, espero q tenha gostado desse cap! *-*

Éris: UAAAU, eu fico tão feliz qnd aparece leitores novos! Sabe que, mesmo escrevendo romance e drama, eu tentava não deixar tudo mto meloso e sim mais verdadeiro. As vezes é até inevitável não colocar cenas melosas, pq é amor né? SAHASUH mas assim, eu fiquei mto feliz ao ler seu comentário, eu precisava saber se estava ou não proibida para diabéticos, que bom que gostou dela, de verdade. Obrigada pelos elogios! *-*

MaracutaiaPato: ASSAIUHSAIUASHIUAS Foi mta cagada, desculpa a palavra, mas foi, vc me mandar um comentário justamente qnd acabo de postar um capítulo novo. Mas enfim, obrigada de verdade! EU, meg cabot, j.k rowling? fala sério! SAAHAUHAUAH Nuuussa, com certeza eu fiquei lisonjeada por tudo o que disse, obrigada mesmo.

Pois bem, espero que vocês tenham gostado desse mais novo capítulo – homenagem ao dia dos pais daqui alguns dias HAUHSAUSA *-* Não se esqueçam dos comentários =D

GRANDE BEIJOS e até o epílogo.
Belac.


Compartilhe!

anúncio

Comentários (2)

  • Mariana Berlese Rodrigues

    SIMPLISMENTE P-E-R-F-E-I-T-O ESSE CAP. A-M-E-I *.* #MORRI  A-M-E-I <3 <3 <3  MUITOOOOOOOOOO LINDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA *.* CHOREI AQUI :)ARIES PUXOU A MÃE E A VOVÓ MIONE U.UCAP. PERFEITO MSM :) 

    2013-02-07
  • Lana Silva

    Amei tudo no capitulo, desde o casamento até a inteligencia magnifica da Aries. Eu simplesmente ameiiiiiiiiiiiiiiiii *-----------------------*

    2012-02-17
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.