Preocupações
"A maturidade começa a crescer quando você começa a perceber que sua preocupação com os outros é maior que com si mesmo"John Macnaughton
O tempo passava e eu não conseguia pensar em outra coisa a não ser pela espera da revelação do próximo minuto. Eu não tinha nenhuma idéia, nenhuma noção exata do que aconteceria, mas eu não estava com medo nem preocupado. Não, eu já nem mais conhecia esse sentimento. Na verdade, eu nem me importava com as conseqüências futuras. Não me importava com os olhares indecifráveis de meu pai quando me via pelo corredor da mansão, não me importava se ele estava zangado. Não mais. Aquilo não fazia diferença. Eu não podia me controlar, era improvável que meu pai pudesse. Então era mais improvável que ele conseguisse retirar as palavras da minha boca, ou qualquer outro sentimento do meu coração, já que nem mesmo eu consegui destruí-lo no tempo que tive chance.
Palavras. Às vezes estragavam tudo, mas às vezes nos calavam.
Minha mãe, ao ouvir-me dizer que a Weasley tinha importância para mim, ficou durante dias absorta em seus próprios angustiantes pensamentos, calada e sem denunciar sua presença. Eu não estava curioso para conhecê-los, de modo algum. Mas ela estava desejando reconhecer os meus pensamentos. Afinal, não eram mais os mesmos agora, e isso ninguém podia negar.
Nunca vou esquecer o modo como minha mãe me olhara naquela sexta-feira de manhã, primeiro de setembro. Minha última embarcação no Expresso de Hogwarts. Era quase surreal. Meus dois pais estavam ali, a minha frente, algo que não costumaram fazer depois que completei treze anos. Eles estavam diferentes. Olhavam-me tristonhos, ao mesmo tempo preocupados. Eram expressões diferentes, as quais raramente via neles, e que, quando as vi ali estancadas nos traços pálidos de seus rostos eu senti compaixão, eu senti felicidade. Eu senti satisfação.
Aquilo demonstrou o quanto eles ainda eram pais, apesar de tudo.
– Eu sei que está ansioso, Scorpius, mas saiba que nunca vou deixá-lo embarcar até ouvir o que tenho para lhe dizer – meu pai disse. Ele observou ao redor, aproximou-se de mim, olhando-me nos olhos para me convencer de que aquilo era algo sério. – Não importa as escolhas, apenas não siga o lado das trevas. Faça o que quiser, contanto que ninguém sofra com suas ações. É algo simples, mas terá que ser feito com sabedoria. Eu não posso constatar que fiz corretamente, pois minhas escolhas não eram nada boas. As suas podem ser, você tem mais razão do que eu tive quando tinha a sua idade.
– Devo avisar, então, que minhas escolhas não serão boas para vocês.
– Nós sabemos – ele respondeu com a voz grossa. – Mas não significa que serão ruins. Portanto estou me preparando para o dia que resolver me desafiar.
– Eu nunca vou desafiá-lo – prometi a ele – só espero que aceite qualquer caminho que pretendo seguir. Não vou prometer, no entanto, não lutar pelo que quero, se tentarem impedir.
– Determinação – suspirou meu pai para o vento fresco da manhã. O trem estava me esperando. – Se me dissesse isso há sete anos atrás, eu não me surpreenderia se o chapéu seletor o mandasse para a Grifinória. É uma casa que, em segredo, admiro demais. Devo minha vida a quem esteve lá. Nunca lhe disse isso, mas é uma das razões por evitar briga naquela festa. E evitar briga com você, por dizer o quanto a filha de um traidor de sangue significa para você.
Estava explicado, eu pensei. Meu pai não pretendia se humilhar mais do que tivera sido humilhado em sua vida.
Não havia mais nada a ser dito, pelo menos não naquele instante. Percebi, então, que responderia as cartas dos meus pais nos últimos semestres.
Eu não tinha idéia de como aquelas férias criara em minha alma uma certa sabedoria, talvez da vida do meu pai e de seus sentimentos, talvez da minha própria. Eu havia entendido o que ele era para mim. Não só família, mas o único ser humano que eu seria capaz de perdoar independente do tamanho do pecado e da loucura cometida no passado e no instante.
Mesmo que demorasse tanto tempo para acontecer e absorver os erros, eu perdoaria.
Minha mãe me apertou num abraço aconchegante. Eu não fiquei envergonhado, como a maioria dos meus colegas ficava quando as mães os agarravam daquele jeito. Eu sentia falta do aperto carinhoso e não impedi para que reatasse a sensação. Mas quando ela começou a chorar, eu nos separei.
– Já está na hora – avisei saindo de perto antes que piorasse. – Não há motivos para isso, mãe.
– Eu vou sentir a sua falta – ela respondeu e sorriu fracamente logo depois.
Mas o modo como dissera aquilo me deixou um pouco surpreso. No olhar de uma mãe, Astória tinha suas preocupações. Tais diferentes da que de um pai. Minha mãe estava receosa. Os motivos eu poderia adivinhar, e hoje diria que ela estava ciente do que aconteceria, como se já tivessem anunciado que, logo logo, ela não seria mais a única mulher do mundo para mim, como costumava ser.
Mas, mesmo assim, nem Rose nem qualquer outra mulher poderia ser tão importante como a minha mãe.
Eu não tinha tempo de demonstrar isso, mas não me preocupei. Ela devia saber que, ao meu olhar, tudo ficaria bem. Por isso deixou que eu embarcasse sossegado no trem de Hogwarts.
E o caminho até Hogwarts fez sentido quando eu dei conta de que aquela seria minha última viagem. Eu não veria a mesma paisagem por trás da janela até observar as torres do castelo, mas não fiquei entristecido com isso. Lamentei, é claro. Mas era uma sensação boa saber que eu estava progredindo. E que o tempo passara livremente diante dos meus olhos, como vôo de uma coruja – lento o suficiente para me deixar capturar os essenciais detalhes de cada momento.
E pensava nisso enquanto passava pelo corredor do trem, cumprimentando as pessoas. Alunos novos, pequeninos e ingênuos, tentavam de tudo para serem aceitos nos compartimentos e não ficarem de fora. Eu os observava, como se relembrasse dos meus primeiros momentos há sete anos ali naquele expresso. Estava tão absorto que nem reparei no caminho, onde um pé desconhecido passou por mim e eu tropecei, caindo no chão. Uma risada que me dava desgosto espalhou pelo meu cérebro. Com uma raiva indesejada, olhei para os lados, e lá estava Luke Beaumont.
– E aí, escorpião?
Eu ia lhe dar um soco. Estava avançando até Beaumont quando alguém entrou na minha frente e segurou meu braço e me levou para longe dali. Beaumont ainda ria e eu estava com tanta raiva que nem reparara que era Rose que estava me puxando.
– Ignore-o – Rose mandou, rispidamente, percebendo que eu tentava me desvencilhar. – Ele adora quando você fica assim. Mas eu não. Venha, vamos sentar aqui.
Ela entrou no compartimento onde estavam seu primo, Alvo, e sua prima, Lily, com a melhor amiga de Rose, a Anna Holls, da Corvinal. Olharam-me, curiosos, exceto Alvo, um pouco rabugento.
– Então você é o novo namorado da Rose? – perguntou Lily, achando interessante.
Rose quase caiu ao meu lado.
– Lily, eu já disse que ele... – ela ia repreendê-la, mas não deixei que terminasse.
– Sou – eu disse, displicente. Rose pareceu extremamente surpresa. – Espero que se acostumem com isso.
Nunca tínhamos entrado em um acordo de que estávamos namorando oficialmente. Mas agora não havia mais dúvidas. Rose pertencia a mim; eu pertencia a ela. Definitivamente não havia nada mais correto do que isso. Se assim não fosse, onde haveria justiça nesse mundo?
– Eu vou tentar – riu Lily voltando a ler uma revista, sem antes lançar um olhar para Rose, aquele que só as garotas trocavam entre si.
Sentei-me de frente para Alvo Severo, e ao lado de Rose. Ele estava com os braços cruzados apenas me observando.
– Anna, você tem alguma revista? – perguntou Alvo. A garota fez que sim e lhe entregou a última revista. Depois Alvo se escondeu atrás dela.
– Como foram suas férias, Severo? – perguntei a ele.
– Boas.
– O que achou da Copa Mundial? A Escócia venceu pela décima vez.
Era uma afirmação errada que eu sabia que Alvo faria questão de corrigi-la.
– Décima primeira vez – respondeu, sem desviar a atenção para a revista.
– Isso é interessante... Ainda continuará sendo o capitão do time da Sonserina esse ano?
– Não.
Fiquei surpreso. Sério, não esperava que ele dissesse isso. Até soltei uma risada, olhei para Rose e percebi que estavam falando sério.
– Alvo não jogará Quadribol esse ano – ela disse.
– Preciso me concentrar na ambição futura e acho que ser jogador de Quadribol não será essa.
– Mas isso não significa que terá que abandonar o Quadribol – eu respondi incrédulo. Dessa vez, ele guardou a revista e me olhou com um olhar menos rabugento, e mais chateado.
– Significa sim, você não entende. Os treinos ocupavam o tempo, eu ficava maluco. Ainda sou Monitor-Chefe da Sonserina, acabei de descobrir isso. E não quero mais me envolver em brigas por causa dos jogos.
– Alvo Severo, você enlouqueceu – exclamou Anna, que parecia mais surpresa do que eu. – E o que será do seu time agora?
– Não sei, não faço idéia. Rose está explodindo de felicidade, agora que a Grifinória tem o nosso último torneio nas mãos.
– Claro que não! – exclamou Rose, como se isso fosse um absurdo. Alvo girou os olhos. – Para a falar a verdade, quando era Grifinória contra Sonserina eu ficava dividida. Não sabia para quem torcer. Tem a Lily, tinha o James... e na Sonserina tinha você, e... era difícil.
– Aposto como ficou mais dividida ainda quando Scorpius entrou no time – comentou Lily, olhando para mim.
– Sem dúvidas – Rose respondeu. Eu apenas consegui rir.
No resto da viagem fiquei agradecido por não instalar uma certa tensão com eles. Alvo pareceu ter esquecido com quem estava conversando e começou a contar o que aconteceu nas suas férias. Eu era um bom ouvinte, não falava e nem comentava, apenas perguntava, talvez a razão para não receber nenhuma desaprovação. Olhava para Rose constantemente e admirava seu sorriso e seu comportamento divertido e simples, enquanto ela ficava entretida nas piadas que Lily contava para passar o tempo.
Todos os risos, todos os comentários, eram por causa de Rose. Eu queria vê-la feliz com seus amigos na minha companhia. Na tentativa de agradar Rose sendo educado e sincero com seus amigos eu acabei gostando de ficar ali. Eles eram diferentes, mas leias na personalidade. Finalmente senti segurança na companhia deles, de alguma maneira tinha quase certeza de que eles não seriam capazes de trair a confiança, como Beaumont e Zabini um dia fizeram.
E eu só estava me arrependendo por descobrir aquelas coisas justamente na viagem para o último ano em Hogwarts.
Último.
Não há maneira de descrever o que o som dessa palavra transmitira a mim naquele ano letivo.
***
– Precisamos conversar.
Ouvi a voz de Alvo e ele me chacoalhou para que eu acordasse. Estávamos no meio da noite, quatro horas mais ou menos. Eu apenas abri os olhos e me sentei na cama, com a cabeça girando de sono e fiquei esperando até ele continuar a falar.
– Olha, não consigo pensar numa razão. Não consigo entender.
Ele estava zangado. Mas eu não prestei atenção em seu tom de voz.
– Shhhh! – Davis, na cama ao lado, reclamou e se virou para o outro lado.
Alvo pediu para que eu o seguisse. Sem reclamar, saí do dormitório com apenas a calça do pijama e sentei na poltrona da sala comunal que estava vazia.
– Por que você olha para minha prima como se ela fosse alguma coisa para você?
Legal, pensei. Explicar o inexplicável no meio da noite para Alvo Severo. Levantei bruscamente, irritado só de pensar naquilo.
– É melhor esperar o amanhã chegar para conversarmos sobre isso – eu disse, subindo as escadas. – Não consigo pensar direito às quatro horas da manhã.
– Você não vai me enganar. Eu sei quem você é, Scorpius. Eu sei o que pensava sobre Rose antigamente.
Parei de andar.
– Antigamente, Potter. Antigamente foi há muito tempo. Se você pensa que o tempo passa e as pessoas continuam a mesma, deve abrir mais seus olhos.
– E o que te fez colocar Rose em evidência nesses últimos tempos? – ele perguntou.
– É a Rose que devo me explicar, e não a você, Potter.
Alvo estava nervoso. Eu me virei para vê-lo caminhar até que ficasse de frente na escada. Nós tínhamos a mesma altura e não precisei me mexer para observar sua expressão.
– É aí que você se engana, Malfoy – ele apontou o dedo. – Quem deve ter consciência das suas intenções é a família dela, sou eu, o pai dela, o avô dela... Porque Rose está cegamente apaixonada para enxergar o erro que ela-
– Ela conhece perfeitamente seus próprios sentimentos – o interrompi rispidamente. – Por isso e por outros motivos já tentou e perdeu nessa inevitável tentativa de fugir de mim.
– Tentou fugir de você? – ele parecia confuso. – Como assim?
– Se você soubesse o quanto me esforcei para não envolver Rose na minha vida, eu lhe daria mil galeões, Potter. E ficaria orgulhoso pela sua perspectiva. Mas você não consegue ler meus pensamentos, por isso não acredita em mim. Você só observou o que você quis observar, agora está se roendo inutilmente para entender por que diabos eu fui amar a sua prima. Justamente a sua prima.
Alvo Severo apenas ficou olhando para mim num silêncio transbordado entre pensamentos e acusações. Ele me olhava de modo sério, eu também fazia o mesmo. Nunca houvera tanta verdade naquele momento.
– Você a ama? – Alvo desviou o olhar, cerrando os dentes. – Ela sabe disso?
– Quem deve ter consciência disso é a família dela, você, o pai dela e o avô dela.
– E você acha que ela ama você?
Percebi um certo tom de zombaria.
– Rose não é obrigada a me amar da maneira como eu a amo – eu retruquei. – Eu não fiz nada para que a deixasse orgulhosa, nada que a deixasse admirada. Mas eu sou completo sabendo que ela não está mais temerosa ao meu lado, e sim satisfeita, feliz.
Alvo suspirou e despenteou o cabelo com as mãos. Olhou para os lados, parecia desesperado. Depois se virou novamente para mim, com outra expressão no olhar.
– Se um dia – sua voz era ameaçadora – Rose derramar lágrimas por sua causa eu te mato. De verdade, eu acabo com você. Eu a amo mais do que pode imaginar, conheço-a tão bem quanto qualquer outro cara. Comigo, ela possui amizade, e eu me preocupo o suficiente com ela para acabar com a pessoa que brotar qualquer mágoa em seu coração. É sério, Malfoy, Rose não é como a Parkinson ou qualquer outra garota que ficou com você no passado, Rose é diferente.
– Eu sei disso.
– E estou falando sério. E quero acreditar que você não está pretendendo fazer mal algum para ela... eu quero acreditar que você a ama de verdade. Eu quero ficar sossegado com a companhia que ela terá... e, cara... ela também ama você. Não quebre o coração dela, se não eu...
– Alvo Severo – eu aumentei meu tom de voz na tentativa de conseguir chamar sua atenção. – Se eu fizer algum mal a ela vou estar fazendo mal a minha vida. E se minhas palavras não forem o bastante para convencê-lo, então observe com atenção nos próximos dias e tire suas conclusões quando perceber que eu também me preocupo com Rose.
– Ótimo – ele falou. – Ótimo. Assunto encerrado.
Ele começou a subir as escadas, mas depois se virou.
– Só para você não ficar surpreso, pediram para que eu lhe desse um recado.
Ergui as sobrancelhas esperando que continuasse. Alvo disse:
– Você é o novo capitão da Sonserina. Os treinos começam daqui três semanas.
Mas eu não voltei para a cama. Fiquei ali parado no meio da escada, sentindo que tinha acabado de virar dono de duas grandes responsabilidades: conquistar a confiança de todos as pessoas que se preocupavam, além de mim, com Rose, e a de conseguir manter o título da Sonserina que Alvo Severo tanto lutou desde seu primeiro ano para conseguir. Ele sacrificou todo o seu talento para levar o time a cinco vitórias seguidas a cada ano. Eu entendia completamente a tristeza que se instalou nele naqueles dias. Por isso não o decepcionaria na responsabilidade que tinha com o time; e na responsabilidade que tinha para manter Rose sorrindo todos os dias. Pois cada sorriso que ela dava era um motivo para idolatrar o fato de que eu ainda estava vivo e consciente o bastante para entender que, sem ela, nada tinha graça. Por isso eu não podia perdê-la na minha vida, nem para a família dela, nem para ninguém.
N/A: Galera! Por enquanto, como sempre, agradeço infinitamente os comentários dos capítulos anteriores e agradeço, claro, os comentários futuros. O apoio que vocês deram a fic (e espero que ainda continuem dando) é o motivo para as atualizações constantes. E nem acredito que já estou no décimo quarto capítulo =D
Obrigada a todos vocês, que leram, que gostaram, que comentaram.
Beijos e até a próxima atualização *-*
B.Inkheart
Comentários (2)
SIMPLISMENTE P-E-R-F-E-I-T-O ESSE CAP. A-M-E-I *.*#MORRI A-M-E-I <3 <3 <3 MUITOOOOOOOOOO LINDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA *.*CHOREI AQUI :)ALVO vs SCORPIUS: A-M-E-I A CONVERSA :))))))))))
2013-02-05Awwwwwwwwwwww *-* É tão lindo essa proteção do Alvo com e Rose tô amando a fic é demais e nossa é perfeita *-
2012-02-16