Capitulo 49 – Harry Potter
Capitulo 49 – Harry Potter
Sem ser notado, sobre a chaminé da Choupana da Guardiã, estava pousado um petrel. Tinha sido arrastado para terra pela tempestade da noite anterior, e tinha estado a observar a Ceia do Aprendiz com grande interesse. E agora, reparou com uma sensação calorosa, Tia Zelda estava a ponto de fazer aquilo que o petrel sempre considerara que ela tinha muito jeito para fazer.
- Está uma noite ótima para isso. - estava dizendo Tia Zelda, da ponte sobre o Mott. - Há uma Lua Cheia lindíssima, e nunca vi as águas do Mott tão calmas. Cabem todos na ponte? Chega um bocadinho para lá, Marcia, e arranje um espacinho para o Gui.
Gui não tinha o ar de quem quisesse que lhe arranjassem um espacinho.
- Oh, não se incomodem por minha causa. - murmurou. - Por que haveriam de mudar velhos hábitos?
- O que disse, Gui? - perguntou Tiago.
- Nada.
- Deixe estar, Tiago. - intercedeu Lílian. - Ele passou por momentos difíceis.
- Todos nós passamos por momentos difíceis, Lílian. Mas não andamos por aí nos arrastando e choramingando por causa disso.
Tia Zelda deu várias pancadas na balaustrada da ponte, irritada.
- Se todos já discutiram tudo o que tinham para discutir, queria recordá-los que estamos aqui para tentar responder a uma pergunta muito importante. Estão todos prontos?
O silêncio envolveu o grupo. Além de Tia Zelda, o Garoto 412, Lílian, Tiago, Marcia, Gina, Rony e Gui também estavam apertados na pequena ponte que atravessava o Mott. Por trás deles estava o Barco Dragão, a cabeça erguida bem alto e arqueada por cima deles, os olhos de um verde profundo atentamente cravados na Lua que nadava nas águas calmas do Mott.
A sua frente, um bocado recuado de forma a permitir que o reflexo da Lua pudesse ser visto, estava o Molly com Alther sentado à proa, contemplando a cena com interesse.
Gui tinha se deixado ficar na beira da ponte. Não via qual era a importância de tudo aquilo. A quem mais podia interessar saber de onde vinha um fedelho do Exército da Juventude? Sobretudo um fedelho do Exército da Juventude que tinha arruinado seu sonho de uma vida? A ascendência do Garoto 412 era a última coisa que Gui queria saber, ou quereria saber alguma vez, tanto quanto podia imaginar. E assim, quando Tia Zelda começou a invocar a Lua, Gui voltou deliberadamente as costas.
- Irmã Lua, Irmã Lua. - disse Tia Zelda suavemente - Mostre-nos, se assim quiser, a família do Garoto 412 do Exército da Juventude.
Tal como tinha acontecido antes no tanque dos patos, o reflexo da Lua começou a crescer até um enorme círculo branco encher o Mott. A princípio começaram a aparecer alguns vultos vagos sobre o círculo; estes tornaram-se progressivamente mais definidos até que todos os que estavam olhando puderam ver... os seus próprios reflexos.
Houve um burburinho de desilusão por parte de todos, com exceção de Marcia, que tinha notado uma coisa que mais ninguém notara, e do Garoto 412, cuja voz parecia ter deixado de funcionar. Parecia que tinha o coração batendo em algum lugar na garganta, e as pernas pareciam prestes a converter-se em purê de pastinaga de um momento para o outro. Desejou nunca ter pedido para saber quem era. E se sua família fosse horrível? Se a sua família fosse o Exército da Juventude, como sempre lhe disseram? E se fosse o próprio Voldemort? Quando estava quase dizendo à Tia Zelda que tinha mudado de idéia, que já não queria saber quem era, muito obrigado, Tia Zelda falou.
- As coisas - lembrou Tia Zelda, dirigindo-se a todos os que estavam na ponte - nem sempre são o que parecem. Lembrem-se que a Lua nos mostra sempre a verdade. Como encaramos a verdade, é uma coisa que só depende de nós, não da Lua.
Voltou-se para o Garoto 412, que estava bem a seu lado.
- Diga-me, - perguntou-lhe - o que gostaria mesmo de ver?
A resposta do Garoto 412 não foi a que ele estava esperando dar.
- Quero ver a minha mãe. - sussurrou.
- Irmã Lua, Irmã Lua. - repetiu Tia Zelda suavemente - Mostre-nos, se assim quiser, a mãe do Garoto 412 do Exército da Juventude.
O disco branco da Lua encheu o Mott. Mais uma vez, começaram a aparecer sombras indistintas até verem... os seus reflexos outra vez. Ouviu-se um gemido coletivo de protesto, que foi rapidamente interrompido. Estava acontecendo alguma coisa diferente. Uma a uma, as pessoas estavam desaparecendo do reflexo.
Primeiro desapareceu o próprio Garoto 412. Depois Gui, Gina, Rony e Tiago desapareceram também.
Em seguida desbotou-se o reflexo de Marcia, seguido pelo de Tia Zelda.
De repente Lílian Potter se viu olhando para seu reflexo na Lua, esperando que este desaparecesse como todos os outros. Mas ele não desapareceu. Ficou mais forte e mais definido, até Lílian Potter estar sozinha no disco branco da Lua. Todos compreenderam que já não se tratava de um reflexo. Era a resposta.
O Garoto 412 tinha os olhos cravados na imagem de Lílian, petrificado. Como é que Lílian Potter podia ser mãe dele? Como? Lílian ergueu os olhos do Mott e voltou-se para o Garoto 412.
- Harry? - perguntou num sussurro.
Havia uma coisa que Tia Zelda queria mostrar à Lílian.
- Irmã Lua, Irmã Lua, - disse ela mais uma vez - mostre-nos, se assim quiser, o sétimo filho de Lílian e Tiago Potter. Mostre-nos Harry Potter.
A imagem de Lílian desbotou-se lentamente e foi substituída pelo... Garoto 412.
Ouviu-se uma exclamação coletiva, incluindo Marcia, que tinha adivinhado quem o Garoto 412 era há alguns minutos. Só ela tinha reparado que o seu reflexo tinha desaparecido da imagem da família do Garoto 412.
- Harry? – Lílian ajoelhou-se ao lado do Garoto 412 e olhou para ele de forma penetrante. Os olhos do Garoto 412 fixaram-se nos dela, e Lílian disse: - Sabe, acho que os seus olhos estão começando a ficar verdes, como os do seu pai. E os meus. E os dos seus irmãos.
- Estão mesmo? - perguntou o Garoto 412. - Verdade?
Lílian estendeu uma mão e pousou-a sobre a boina vermelha de Harry.
- Importa-se de tirar isto? - perguntou.
O Garoto 412 fez que não com a cabeça. Para isso é que serviam as mães. Para implicarem com os bonés. Suavemente, Lílian tirou a boina da cabeça do Garoto 412 pela primeira vez desde que Marcia o tinha posto em sua cabeça na casa de Molly Weasley. Tufos encaracolados de cabelo negro espalharam-se quando Harry sacudiu a cabeça como um cão que sacudisse a água, e um rapaz que sacudisse a sua vida anterior, os seus anteriores medos e o seu antigo nome.
Estava se tornando quem realmente era.
Harry Potter.
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