Capitulo 5 - Segunda parte




Para minha surpresa, o mercadinho era muito bem abastecido. Tinha até três tipos de ração para gatos.
- Tallulah gosta das melhores marcas – disse a mulher por trás do balcão. O fato de todos me conhecerem começava a me pirar. Em Londres, eu tinha vizinhos que me viram crescer, mas que jamais me reconheceriam, muito menos saberiam qual era a ração favorita de minha gata.
- Então me diga: de que ração Curio gosta?
A mulher me olhou, meio assustada. Era bom que aquelas pessoas se tocassem de que não sabiam absolutamente tudo sobre todos. Além disso, era bem provável que elfos não tivessem dinheiro para comprar ração.
Quando voltei, Muriel se vestira e estava no jardim com um grande bule de chá. Ela suspirou e disse:
- estou um pouco melhor.
Contei meus encontros com Julius e Ava na loja, mas nada falei sobre Kate. Não gosto que minhas crises de choro se tornem públicas. Muriel serviu-me de chá:
- Eu devia ter-lhe falado sobre eles. É gente boa e inofensiva.
- E os Românticos Radicais? São inofensivos também?
- Tenha cuidado, muito cuidado... Os românticos Radicais levam muito a sério uma boa história de amor – disse Muriel com um sorriso forçado. – Eles têm um inesgotável apetite por romances.
Fiz um gesto indicando que esse comentário morria ali, e em seguida perguntei:
- Quem são eles?
- Ativos mesmo, três. Ava é a mais prolífica leitora de romances. Dizem que chega a ler quatro por dia. E também Carla e Sarah. Elas dirigem o brechó
- Não consigo imaginar nada mais chato do que passar a vida lendo histórias de amor.
- Isso porque você ainda não se apaixonou... - começou Muriel, mas em seguida se deteve: - Sinto muito. Fui muito presunçosa ao dizer isso. Vai ver que você já se apaixonou várias vezes.
Para desviar a conversa de minha “vida amorosa”, perguntei:
- e você, quantas vezes já se apaixonou?
Foi a vez de Muriel ficar enroscada:
- Que pergunta difícil...
No mesmo instante me arrependi da pergunta. Não estava nem um pouco interessada na resposta de Muriel. Ela não tinha o “filtro” de mamãe para lidar com crianças. Mamãe teria dito para eu não me intrometer na vida dela, ou daria o mínimo de informação possível. Com Muriel, a coisa era imprevisível:
- Tive namorados... – começou ela.
Comecei a ficar aflita. Por favor, por favor, por favor, poupe-me dos detalhes sórdidos...
- Houve ocasiões em que pensei estar apaixonada, duas vezes.
Ante que eu conseguisse me controlar, perguntei:
- Qual é a diferença entre pensar que é amor e saber que você está apaixonada? Que tudo não passa de uma paixão intensa, mas sem importância? – eu pensava como eram confusos meus sentimentos em relação a Draco.
- Você sabe que é amor quando está disposta a arriscar tudo pela pessoa. Até mesmo a separação.
O rosto de Muriel começou a se fechar, mas em vez de desmoronar, ela olhou o relógio e disse:
- Já são cinco e quinze. Você pode ficar aqui e descansar. Vou à loja. Nesta época do ano, sempre temos alguns turistas em Netherby.
- Você quer que eu trabalhe com você? – perguntei.
- Conto com sua ajuda, Gina. O verão é uma época muito agitada. E lhe pago quando puder. Até mais tarde.
Subi para meu quarto, me deitei e, pela primeira vez desde que saí de Londres, tirei a foto amarrotada de Draco da minha bolsa. Ele era lindo até quando se esforçava para parecer desprezível e mal-humorado. Era o clássico modelo de capa de revista, muito mais do que o Garoto Sarado.
Sorri ao me lembrar o dia em que Draco me deu a foto. Não havia ninguém por perto. Cho não fora à escola por causa de um resfriado. Draco teve de ir para renovar o passe escolar, e tomamos um ônibus para comer pizza em Leicester Square. Ficamos um tempão andando pela praça, observando os tipos que circulavam.
Fizemos um jogo bobo que chamávamos de “Aquele é o seu namorado/ Aquela é a sua namorada”. Apontávamos para um transeunte e gritávamos: “Olha a sua namorada!” Fazia ponto para o primeiro que gritasse. A idéia do jogo, se é que havia alguma, era apontar o maior número possível de gente estranha e gritar que era namorado/ namorada do adversário. Ficamos jogando durante horas, rindo feito dois malucos.
- Você é incrível, Gina – disse Draco na volta, quando me deu uma de suas fotos. Quando Cho viu no dia seguinte, insistiu para que nós três tirássemos mais fotos, o que foi muito divertido.
Cho era uma ótima companhia, mas a gente terminava fazendo só o que ela queria. Tudo começou quando ela veio para a oitava série na escola Coot’s Hill, aos doze anos. Ela sabia lidar com as outras garotas e com os professores e ninguém se atrevia a contrariá-la. Eu estava numa luta insana, tentando fazer amigos e acompanhar o curso.
De repente, uma imagem de Cho me veio à memória. Ela era mais alta e mais magra do que eu. Para ser exata, 1 centímetro e meio mais alta. Seu cabelo era mais comprido, seu pai tinha mais dinheiro do que o meu... Cho era muito boa em estatísticas, principalmente quando a conta fosse favorável a ela. Não havia limites para ela. A mãe dela a descrevia como “grande vencedora”; minha mãe dizia que ela vivia em busca de atenção. Mamãe nunca gostou de Cho, um motivo forte para eu gostar.
Pouco depois, Draco voltou para nossa escola. No ensino fundamental, ele era uma garoto muito chato que só falava em futebol e era alucinado por um time. A coisa mais profunda que ouvi dele naquela época foi:
- Por qual time você torce?
Ele fora transferido para outra escola e fazia séculos que eu nem pensava nele.
Mas aquele garotinho sem graça se transformou num garotão maravilhoso: alto, musculoso, bem vestido. Ele não teve escolha. Cho era o rastreador. Ele, o alvo. Quando entrou para nossa turma, as coisas se complicaram. Eu sabia que Cho gostava dele, mas eu também queria ficar com ele. Queria que ele me beijasse, que as pessoas soubessem que eu estava saindo com ele. Queria um envolvimento.

Para me livrar dessas lembranças, fiquei horas lavando o cabelo. Depois fui sentar no quintal, para deixa-lo secar enquanto lia um romance policial que encontrei na sala. Quando já estava envolvida na leitura, um boné apareceu no quintal ao lado e alguém disse:
- E aí?
Sorri e disse:
- Tudo bem.
- Belo trabalho no jardim. A gente já te viu dando um role por essa cidadezinha interiorana – disse ele com um sorriso afetado. – Meu nome é Dino.
Ouvi uma porta se abrindo e apareceu outra figura por trás da cerca. Uma versão mais alta e mais desajeitada de Dino, usando uma grossa corrente de prata no pescoço.
- Qual a mina que você tá azarando, mano? – perguntou a figura com um sotaque gangster-rap meio forçado.
Dino nos apresentou:
- Este é Neville, meu irmão caçula.
- Descolado e encantador – disse ele, piscando.
Cravei os olhos nele. Ele ficou vermelho, começou a mexer na corrente e desapareceu.
- Não leve esse cara a sério. Ele só está passando por mais uma fase. Ano passado, queria ser jogador de futebol, agora pegou mania de falar com sotaque hip-hop. Não sabe o que quer. Nós tocamos numa banda anti-folk.
Dei sinal de que entendia:
- Muriel me falou de vocês dois.
- Você devia ouvia a gente tocar no solar Netherby qualquer dia – disse ele.
Concordei. Eu me sentia como se tivesse perdido a capacidade de formar frases, o que era estranho porque, quando estava com Cho e Draco, não parava de falar. Pensei que talvez todo aquele ar fresco e saudável do campo estivesse afetando meu cérebro.
A vida estava dando umas reviravoltas estranhas. Talvez eu pudesse me enturmar com Dino e Neville. Quem sabe acabaria ate conhecendo o Garoto Sarado? Nada mau! Pelo menos, enquanto Cho não resolvesse falar a verdade. Depois, minha vida voltaria ao normal.


Continua....

Espero que gostem do cap.! Um super beijo =*

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