Ísis ‘Najla’ Nureen
N/A:
Eu, AUTORA, estou fazendo a minha parte ao postar o capítulo.
E você, LEITOR, está fazendo a sua, ao comentar o capítulo??????????
2. Ísis ‘Najla’ Nureen
No dia seguinte ao seu primeiro ‘desabafo’ acabou contando a ela quase toda a história de como foi preso, desde as ameaças à Narcisa para que ele cumprisse sua missão em Hogwarts no seu último ano na escola até a morte de seu pai e a condenação injusta de sua mãe, não deixando de expor o ódio mortal que tinha do Potter e de toda a sujeira que ele aprontou e sua necessidade de se vingar dele, independente do tempo que isso levaria.
Após muitas exclamações revoltadas de Ísis e depois de ter aprendido mais de uma dúzia de palavrões em árabe, Draco se sentia mais a vontade com a egípcia. Alguns minutos de silêncio se seguiram até que Draco perguntasse subitamente sobre o passado de Ísis, assustando a moça pela maneira tão repentina das questões.
- Por que quer saber disso Draco? Que importância isso tem? – perguntou mais uma vez, querendo um motivo mais convincente do que a simples curiosidade de Draco em saber mais sobre seu passado.
- Apenas curiosidade, Ísis... deixa de ser desconfiada, vai... – respondeu praticamente a mesma coisa que nas outras três vezes. – E tem mais... Já te contei coisas que nunca havia dito a ninguém... você me deve um voto de confiança, não? – começou a apelar para o ponto fraco dela, a confiança.
- Sujo! Isso é golpe baixo e você sabe!
Ele balançou a cabeça para cima e para baixo afirmando as palavras dela e manteve sua melhor expressão de “criança inocente” enquanto murmurava:
- Hum-hum...
- Certo... É um pouco longa! E me entristece um pouco, mas por você, tudo bem. Quer mesmo saber? – diante a cara que ele fez, ela não se atreveu a esperar uma resposta, adiantou-se em responder rapidamente – Tudo bem, tudo bem, já entendi... eu vou contar tooooooooda minha história pra você sr. Draco. Está confortável? Então vamos lá. – com um sorriso cínico ela começou a falar com a voz sonhadora e teatral: - Era uma vez, numa terra muuuuito distante e muito bela, uma família que vivia feliz apesar da opressão e desafios de seu reino. Eles tiveram uma linda filha, uma verdadeira princesa...
- Ei!!!
– Que foi? - ela olhou divertida para Draco e diante a expressão do rapaz ela perguntou. - Comecei errado? É assim que começam as grandes histórias daqui, não é? – viu-o rir e agitar a mão antes de falar:
- Pare de enrolar e fala logo, Ísis. Quero saber da sua história! Eu odeio contos de fadas... – disse impaciente.
- Certo... certo... Você fica mais bonitinho sorrindo mesmo, então vou te contar... – ignorou o olhar de Draco, entre envergonhado e de censura, e prosseguiu: - Eu nasci em uma região do deserto do Saara, ao sul do Egito. Já ouviu falar em Tuaregs? – vendo a expressão confusa do loiro, presumiu que a resposta era negativa, então explicou brevemente: - Os tuaregues são um grupo étnico da região do Sahara que falam uma língua berber. Somos muitos, espalhados por toda a região do deserto, estima-se que existam entre 100 000 e 3,5 milhões nos vários países que partilham o Saara. Em nossa língua, somos os Kel Tamasheq ou "falantes de Tamasheq", ou ainda Imouhar, "os livres". Por aí já dá pra entender muita coisa sobre mim, não dá? Então... As mulheres não sofrem dos rigores da religião islâmica, não precisam usar aquele véu e podem até solicitar o divórcio. Por outro lado, são os homens que não dispensam um véu azul índigo característico, o Tagelmust, que usam mesmo entre os familiares. É para se proteger dos maus espíritos, além, é claro, de proteger também contra a inclemência do sol do deserto e das rajadas de areia durante as viagens em caravana. Já deve ter visto alguma imagem, principalmente dos homens, eles usam o véu como um turbante que cobre todo o rosto, exceto os olhos. Entre as diversas tribos, obviamente existem as tribos dos bruxos. Os costumes culturais são bem parecidos dos não-bruxos egípcios e árabes em geral, mas entre os outros bruxos que você possa conhecer, somos bem diferentes, principalmente dos bruxos europeus. Atualmente existem poucas tribos de bruxos do deserto, também conhecidos como “Bruxos da Areia”. Bruxos do deserto são, em geral, curandeiros, guerreiros, saqueadores e assassinos. Talvez por isso existam tão poucos grupos e, normalmente são rivais entre si. – o sorriso no canto dos lábios estava cheio de insinuações. - Minha tribo era pequena e muito unida. Acreditava-se que só nasciam homens nessa tribo, sendo necessário o convívio constante com outra tribo, que era “mista”, como costumavam dizer. Mista em dois sentidos: por possuir tanto homens como mulheres e bruxos e não-bruxos. Outra curiosidade é que acreditavam também que somente os homens poderiam ser bruxos (na tribo que só nasciam homens) – por isso a necessidade de conviver com outras tribos: as mulheres eram de outras famílias que andavam juntos há muitos séculos. Meu pai... ahhh, que saudades dele... bem, ele sempre bateu de frente com as rígidas regras da tribo e não aceitava certos padrões de comportamento. Casou-se muito jovem, como era o esperado, mas tratava a esposa, minha mãe, com real admiração e levou cerca de dois anos até que viesse o primeiro filho, e isso incomodava alguns. O costume era que casasse e logo viesse o bando de filhos. Como coelhos selvagens. Mas quando nasceu o primeiro filho tudo voltou ao normal, e assim foi até o nascimento do terceiro filho, no caso, filha, eu, a primeira menina que nascia na tribo. Primeira que eles tivessem falado... Os líderes não poderiam aceitar uma não-bruxa por nascimento e deixaram-nos ficar apenas até eu completar um ano de idade e depois nos expulsaram de lá. Para eles era inadmissível que uma mulher, ainda considerada um ser de sangue inferior, fosse criada sob os mesmos costumes e conhecimentos mágicos. Falavam que somente os homens tinham esse direito. Idiotas. Enfim, apesar dessas dificuldades, meus pais, que a todo tempo demonstravam tanto amor a mim e aos meus irmãos, fizeram todo o possível pra que tivéssemos uma vida decente. Eles não são fáceis não. – seus olhos se iluminaram pela lembrança e pela força do amor que sentia pela família, mas logo em seguida tornaram-se frios novamente, pela dor da distância que a separava de seus entes queridos. Com a voz alegre e distante, perguntou: – Acredita que eles diziam que desde muito nova, meu olhos já eram intimidantes? Eles falavam que transmitiam força e minha mãe dizia já saber que eu seria a bruxa mais poderosa que ela conhecia. Para o meu nome escolheram um bem forte para os egípcios: Ísis, que na mitologia egípcia era a deusa-mãe do Egito, a deusa do amor e da magia.
- Que ironia, não? A deusa da magia? – interrompeu Draco, que respirava as palavras dela, atento a cada detalhe.
- É. Pura ironia. – divertiu-se com o comentário dele.
- E depois? – o loiro incentivou a garota a continuar.
- Bem, depois que fomos expulsos, ficamos uns dias vagando pelo deserto indo em direção a um oásis. Meu pai avistou uma caravana ao longe e logo os reconheceu, e como estávamos sozinhos não significávamos ameaça a eles. Já haviam se encontrado algumas vezes, trocaram informações e mercadorias. Fomos acolhidos por eles sem nenhum problema. Eles nos aceitaram no grupo e na família. Era o grupo de bruxos do deserto mais temido na época... e ainda é até hoje, eu acho. Composto basicamente por curandeiros poderosos e os assassinos de aluguel mais cruéis que se tinha notícia no deserto. Estavam sempre por dentro das culturas de outros locais bruxos, e disseram que a história de nascer somente homens era um mito, uma besteira que inventaram para manter uns poucos no poder, e que existiam sim mulheres bruxas que lá nasceram, mas que, assim como acabara de acontecer, foram expulsas pelo medo de alguns que elas fossem tão ou mais poderosas que os líderes. Esse grupo que nos acolheu possuía exímios lutadores e mestres em poções e transfiguração. As varinhas mágicas possuem uma peculiaridade... – olhou profundamente nos olhos de Draco analisando cada reação dele e disse em um tom de voz baixo e ameaçador – E esse detalhe morre aqui, certo? Ninguém mais deve saber. – vendo-o acenar a cabeça em concordância, ela prosseguiu. – Nossas varinhas, além dos atributos mágicos, ainda podem transformar-se em espada, uma cimitarra, através de um feitiço específico, um feitiço que foi desenvolvido pelos ancestrais deste grupo e passado de uma geração a outra.
- UAU! Que interessante!!! – Draco suspirou admirado e sem se prolongar, acenou com a cabeça para que ela continuasse.
- Era um grupo que estava fadado à extinção devido ao pequeno número de crianças e adolescentes que continuavam na tribo. As crianças eram, desde muito jovens, ensinadas na arte da guerra e da magia e deveriam estar prontas para entrar em combate assim que tivessem força para segurar uma espada e se defenderem sozinhas. Lei da sobrevivência. Além dos conhecimentos em magia, como feitiços, preparo de poções e venenos, como lidar com as serpentes do deserto, identificar magia negra, transfiguração e outros, aprendemos também a lutar, manejar a espada e sobreviver na constante guerra que existia há muitos anos entre as tribos do Saara. Apesar de ser uma tribo de bruxos experientes e sábios, os anciões sabiam que, visto a pouca conexão com outros grupos bruxos, os conhecimentos mágicos, especificamente, estavam defasados em alguns pontos, portanto, conforme as habilidades que as crianças demonstravam ao crescer, elas eram encaminhadas para professores mais qualificados ou escolas específicas de magia para se aperfeiçoarem, já que na família aprendiam mais que o básico de uma escola comum, mas ficava restrito ao conhecimento tradicional, e esperava-se que depois de formadas retornariam para casa para passar adiante seu novo aprendizado. A maioria das crianças eram enviadas ao Cairo, capital do Egito, ou a Damasco, capital da Síria, ou ainda para Tunis, capital da Tunísia, onde estão as principais escolas de bruxaria de língua árabe. Mas nem sempre elas voltavam, preferiam as facilidades da vida nas grandes capitais.
- Tentador mesmo... Então em qual escola você estudou?
- Quais... você quer dizer. Pois foram várias...
- Ah é? Você já comentou algo sobre isso... Então, quais escolas? Alguma escola européia?
- Sim... na verdade, apenas escolas européias. Logo cedo já apresentei algumas particularidades: uma aptidão nata com preparação de poções, transfiguração e aparatação. – vendo-o enrugar a testa em sinal de dúvida ela tratou logo de responder antes da pergunta. – Ah, sim, a aparatação para nós, devido às temperaturas extremas do deserto, o calor e o frio excessivos, é muito mais difícil e perigosa do que para vocês, sendo mais utilizado o tapete mágico para transporte, e eu já aparatava sem dificuldade com 12 anos. Desfaça essa cara engraçada, Draco! Por que todos riem quando falo do tapete? Na escola também era assim. Tapetes mágicos são muito mais eficientes do que suas vassouras, tá legal? E muito mais seguros também. Vassouras me parecem tão frágeis.
- Tá legal. Foi mal. É que é engraçado mesmo ouvir “tapete mágico”. Pra mim é mais do que natural voar em vassouras, não em tapetes. Um dia te levo pra voar de vassoura comigo e você vai ver que é bastante seguro. – o olhar travesso e maroto que ele lançou não agradou a morena.
- Nem pensar. Pra você falar assim, você deve gostar dessa coisa e não vou com você de jeito nenhum. Deve ser daqueles que disputam corrida com os amiguinhos... – falou com um toque de medo na voz, que não passou despercebido pelo rapaz.
- Sem essa Ísis... Vai dizer que tem medo de voar em vassoura? Qual é? Você brinca de hipnose com uma naja, mas não voa comigo? Vai sim... Você vai gostar.
- Não tenho medo de voar... aliás, eu adoro. Só acho que vassouras não são tão seguras quanto o tapete. E com você seria muito ainda menos seguro...
- Por que diz isso? Domino a vassoura desde criança... e era apanhador no time de Quadribol da Sonserina, e era muito bom. Maldito Potter! – resmunga o loiro ao se lembrar do rival. – Enfim... Nunca pensei em apostar corrida... deve ser interessante. Mas isso não vem ao caso agora... só sei que você não precisa temer se estiver comigo. Acredite! Te proponho um desafio... Topa? Gosta de desafios, não gosta? Voa comigo... Te levo para onde você quiser. Na primeira oportunidade... quando estivermos longe daqui... onde você quiser. – seu olhar era sedutor novamente. Irresistível.
Ísis sentiu que não seria capaz de dizer não. Não àqueles olhos, àquele sorriso. Vacilou ao responder, hesitou por um momento e vencida pela forte atração que sentiu por ele naquele momento, finalmente falou com um tom envolvente, correspondente ao que ele havia usado: - Quando estivermos longe daqui, Draco... eu vou com você... para onde você quiser.
- Certo. – não esperava ouvi-la dizer aquilo numa voz tão melodiosa, tão entregue. Surpreendeu-se ao constatar que queria sair o mais rápido possível por mais um motivo, afinal, por mais que sua mente já estivesse ocupada por certa grifinória desde os tempos de Hogwarts, ele não era de ferro, certo? Balançou a cabeça para os lados na tentativa de tirar da imaginação as imagens que se formaram, concentrou-se e voltou à conversa inicial. – Eu... Então... co-tin-nue... – sua voz falhou por um instante, saiu rouca e atrapalhou-se nas palavras. – Continue... particularidades... escolas...
Ísis sorriu satisfeita por ter causado alguma reação nele. Não teve essa intenção, e ter provocado isso sem planejar tinha um gostinho ainda melhor. Vê-lo confuso, atropelando palavras foi extasiante. Pôs de lado os pensamentos que surgiram e voltou ao ponto anterior.
- Isso, particularidades. Então, como você já percebeu, tenho muita facilidade com idiomas. Sempre tive. Aos 9 anos já dominava 5 línguas, apenas conversando com os mais velhos ou com quem encontrasse no caminho, e não encontrávamos muita gente, hein. Sem contar os diferentes dialetos que temos no árabe. Mas quer saber o que eu mais gostava mesmo? Era brincar com meus irmãos mais velhos. Eles estavam sempre brincando com saifs, dardos e afins, e eu adorava aquilo. E quando percebi que eu era mais rápida e ágil do que eles comecei a levar mais a sério nossas brincadeiras. Jamil, logo que ele começou a treinar pra valer, com 10 anos, sugeriu que eu também entrasse, pois eu possuía uma destreza e domínio da espada fora do comum para minha idade. Eu tinha quase 6 anos. E a sugestão dele foi aceita.
- Saif é aquela espada reta, não é? Longa e pesada?... Você não agüentaria nem o peso de uma cimitarra comum, muito menos uma saif... não seria possível. Era maior que você, se duvidar.
- Não duvide... éramos quase do mesmo tamanho. E não, eu não agüentava uma saif de verdade se fosse pra lutar de verdade, pois ela tem cerca de 1 metro de comprimento total e pesa em torno de 1,2 kg. Comecei treinando com uma cimitarra curta, que tem mais ou menos 56 cm de comprimento e pesa 500 gramas. Bem mais fácil, não é? E depois, com o tempo, percebi que gosto mais da cimitarra mesmo, a lâmina curva é mais ágil e flexível do que a lâmina reta, além de ser mais afiada e possibilitar o uso de duas, se for necessário.
- As garotinhas européias deviam morrer de medo de você. Quando você entrou pra escola já treinava pra ser assassina? – perguntou divertido. - Agora consigo imaginar o porquê de você não ter ficado mais de um ano na mesma escola... - ficou maravilhado com o que viu a seguir. Algo inédito aos seus olhos que atingiu diretamente seus hormônios. Ele a viu sorrir e depois rir sonoramente.
Era a primeira vez em todos esses meses que se conheciam que Ísis ria daquela forma. Draco foi tomado por um desejo imenso de absorver aquele sorriso, tomá-lo dos lábios dela diretamente para seus lábios. E o riso dela, divertido e descontraído, era hipnotizante. Ele sorveu aquele riso como se ele fosse o líquido da vida. E mergulhou na freqüência daquele som que era música aos seus ouvidos. Ela riu por mais uns instantes antes de responder:
- Isso mesmo, Draco. Você entendeu o espírito da coisa... Bem, você já sabe que não sou de agüentar calada desaforos e insultos, não sabe? E eu não agüentava mesmo... – dizia entre risos – Era tudo muito diferente, foi um choque no início, mas depois foi divertido. Imagine a cara daquelas francesinhas metidas a princesas quando viram minha varinha se transformar em um belíssima e afiadíssima cimitarra em um piscar de olhos? Foi hilário! E a transformação se faz com um feitiço mudo, então foi assustador pra elas, não foi? E eu tinha 12 anos! Teve vezes que eu mesma as provocava, só pra ter motivo pra brigar com alguém... mas a diversão durou pouco. Oh sim, meu primeiro ano foi no Instituto de Magia Casa de Titãs, no sul da Grécia. A escola era o máximo, bastante exótica ao meu ver. Mas eu achava as aulas fracas, estava sempre à frente da turma e isso incomodou até os professores, pois eram frequentemente questionados por mim e minhas perguntas complexas para a turminha de 11 anos. Mas eu já tinha visto tudo aquilo e mais um pouco com meus pais e tutores do clã. Era monótono demais e pedi pra mudar de escola. Então no segundo ano fui para a Academia de Magia de Beauxbatons, na França. Esse foi o mais divertido. As francesinhas metidas a princesa... por mim, eu teria saído de lá no segundo mês, mas seria muito difícil conseguir vaga em outra escola e eu não queria correr o risco de perder um ano. Então fui até o fim, e compensei as falhas e frustrações nas férias, onde treinava com meus irmãos e primos. Não primos de verdade, apenas nos chamávamos assim... eu era a única que estudava na Europa. Me sentia muito sozinha na maior parte do tempo. Nas férias, quando reunia todas as crianças e jovens, tínhamos ‘aulas’ com os anciões... basicamente combate e estratégia nas artes da guerra e outras das especialidades do clã, poções, transfiguração e identificação dos tipos de magia.
- Como assim, tipos de magia?
- Como assim? Dos vários tipos de magia que existem no mundo, oras. O nosso tipo, que é o clássico. Se bem que o meu pode estar classificado entre o clássico e o tribal. Temos as tribais, negras, psíquicas, elementais, metamórficas, entre outras...
- Ah... sim... metamórficas eu conheço... Voltamos a falar disso mais tarde. Acho que você tem mais uma coisa pra me ensinar... mas e aí, e o terceiro ano?
- Esse também foi legal, foi bem emocionante... foi na Academia de Bruxaria La Isla, no arquipélago espanhol Ilhas Baleares. Recorde absoluto! Dois anos consecutivos! O quarto ano também foi lá. Era legal porque eu fazia algumas matérias com as turmas mais avançadas, então deu pra aproveitar bem melhor. Mas nas férias de fim de ano, no quarto ano, Jamil foi até lá ficar dois dias comigo, já que eu não poderia ir pra casa, pois estava a maior bagunça e a ameaça de explodir uma guerra no Saara era iminente. E depois disso quase fatiei uma garota que falou mal do meu irmão. Aí as coisas começaram a piorar... não queria voltar pra escola com medo de que a guerra começasse e eu não estivesse lá para ajudar, mas meu irmão me garantiu que se acontecesse alguma coisa, ele mesmo viria me buscar. Então fui para o Instituto Durmstrang de Magia e Bruxaria para cursar o quinto ano e quase não concluí porque a guerra começou, mas meu pai só permitiu que voltasse após as provas finais da escola... Um absurdo, não? Minha família precisando de ajuda, e meu pai preocupado com malditas provas escolares! Em Durmstrang eu me dei bem com as matérias, só não gostava da ênfase camuflada que davam às artes das trevas... Isso era repugnante. E nem comecei o 6º ano... fiquei no Saara para a guerra que estava para começar, o que não demorou muito a acontecer.
- Então você estava nessa guerra há três anos?
- Sim. E no começo foi difícil pra me impor lá dentro. Não aceitavam que uma “criança” fosse pra combate, mas provei a eles que possuía habilidade, força, frieza, coragem e voz de comando suficiente para ser guerreira e disse que não voltaria à escola enquanto minha família corresse perigo. Em menos de 8 meses eu comandava o segundo grupo de ataque. No ano passado as coisas começaram a sair do rumo. Estávamos em vantagem. Tivemos poucas baixas, a maioria apenas ferimentos, mas apenas 12 mortos. Surgiram bruxos de outras regiões e se envolveram por motivos diversos. Tinham outros objetivos e interferiram entre os bruxos da areia. Aí começa a parte que já contei a você. Quando Jamil, Said e os outros foram capturados e enviados para um grupo de bruxos das trevas do Reino Unido que tentava se reerguer. Você ainda tem que me falar sobre esse grupo. Ainda não entendi o motivo dessa guerra de vocês...
- Aí que está o grande lance, Ísis. Não há motivo! Esse grupo era movido apenas pela arrogância e prepotência de um homem. De um mestiço estúpido, ainda por cima. Agora vamos nos mexer, pois daqui a pouco vão nos mandar para as celas. Já é tarde. E eu já estou começando a enferrujar. Não treinamos nada hoje, foi só papo. Daqui a pouco você me fala até uma poesia em árabe.
- Mas ‘papo’ também é importante. Considero a parte teórica do meu conhecimento. E eu não gosto de poesia árabe! Prefiro as gregas e inglesas, ou até mesmo as francesas...
- Parece uma CDF falando... – o loiro brincou, mas não surtiu o efeito esperado, visto que a garota pareceu não entender o significado da sigla. Ao falar em CDF era sempre inevitável se lembrar da sabe-tudo Granger. Suspirou para si e, mexendo as mãos despreocupadamente, chamou Ísis para se levantar e saírem dali.
Seguiam pelo corredor que dava acesso às celas e ao chegarem ao ponto em que se despediam Draco falou:
- Obrigado pelo ‘papo’ de hoje. Eu gostei muito de saber um pouco mais sobre você, Najla.
- Eu que agradeço...– encarou os olhos cinza profundamente, derretendo-se quando ele puxou sua mão e beijou-a delicadamente em sinal de ‘boa noite’. – Jumanah... – ela chamou antes que ele soltasse sua mão e se virasse para partir, e quando ele a encarou novamente ela falou em francês:
Tu m'admirais que hier
et je serais poussière pour toujours demain.
On est bien peu de choses.
Déjà je ne suis plus.
Ele sorriu encantado enquanto traduzia mentalmente as palavras dela:
Você me admirava ontem
Eu que serei pó amanhã e para sempre
Nós somos tão pouca coisa
Logo não serei mais
- Eu sempre aprendo algo com você... Aprendi até a gostar de música francesa. Quem diria, hein?
- É uma das minhas preferidas...
- Eu sei. E é apenas uma delas... – ele sorriu maroto, fechou os olhos por um instante e ao abrir suas íris estavam levemente mais escuras, mais profundas, e falou docemente um trecho de uma música em grego que ela tanto gostava:
Ta mavra matia sou
Otan ta vlepo me zalizoune
Ke tin kardia mu sigklonizoune
Otan ta vlepo mu thimizoune
Kapia agapi mu palia.
Ele declamou a letra da música com a voz suave e lenta. Ísis sentiu-se arrepiar a cada palavra que sua mente entendia... Principalmente quando ele pronunciou o último verso...
Seus olhos negros
Quando eu os vejo, eu me sinto tonto
E meu coração está quebrado
Quando eu os vejo, eu me lembro
De um amor antigo
Draco beijou a mão da egípcia mais uma vez, sorriu e saiu, sumindo ao longo do corredor frio. Um pequeno trecho de um diálogo passado voltou à sua mente com um agradável gosto doce e quente.
- Jumanah??? É a terceira vez que me chama assim. O que significa?
- Pérolas cinzentas. Seus olhos... lindos olhos... se me permite dizer...
- Obrigado. E como nomeio seus doces olhos de mel?
- Não são mais doces, Draco. Restam neles apenas um brilho, o desejo de vingança.
- Adoro essas palavras... vingança e... desejo.
Constantemente Ísis sonhava com sua família, mas naquela noite seu sonho foi outro. Ela ainda se lembrava daquele olhar intenso e incandescente de desejo que Draco lhe direcionou certa vez. “Me zalizoune... mu thimizoune...“ , ela murmurava. “My Jumanah...”
Apenas desejo.
* * *
N/A: as duas músicas do final são perfeitas!!!
1ª - Mon Amie La Rose (Minha amiga a rosa) – interpretação de Natacha Atlas
2ª - Ta Mavra Matia Sou [Your Black Eyes] (Seus olhos negros) – George Abdo
* * *
PRÉVIAS - Cap 3. Black-o-quê ?
(...)
- Mas então, como farei o que quer que seja aqui? O que foi previamente calculado? Pode me falar... – esperou alguma reação do homem à sua frente e vendo que ele demorava a se decidir por onde começar, completou – Dann’el, só pra constar: eu “aceitei” antes mesmo de você começar a falar.
(...)
A sala que via diante de seus olhos era enorme e a decoração no estilo egípcio estava impecável, fazendo-a se sentir em casa. Sentiu uma mão carinhosa tocar sua cintura convidando-a a seguir adiante.
* * *
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