Azkaban



N/A: Comecemos com 10 páginas...

São três capítulos apenas, e eles já estão prontos, portando a pressa é de vocês!

Boa leitura.



01. Azkaban

A Batalha Final aconteceu em Hogwarts com um desfecho aparentemente feliz. Mesmo que tenham ocorrido algumas perdas, entre mortos e feridos o resultado ainda era ‘satisfatório’, pois foi definitivamente eliminado do mundo bruxo o terror que envolvia a presença e o crescente poder do Lorde das Trevas. Enquanto algumas pessoas corriam em socorro aos feridos, outras mantinham sob a mira ameaçadora de uma varinha os Comensais da Morte sobreviventes, outras ainda encontravam-se paralisadas pelo choque, e outras se entregavam ao destino da condenação.

Diferente do que muitos pensaram, Draco Malfoy não se acovardou no fim da batalha. Entregou-se sem resistência aos aurores, jogando sua varinha especificamente para Hermione Granger, que a princípio não entendeu o motivo daquele ato. Sentia-se extremamente culpado desde os acontecimentos do ano anterior, quando permitiu a entrada dos Comensais na escola, culpado pela morte do diretor e, consequentemente, por tantas outras mortes que ocorreram a partir daquele dia e no ano seguinte. Na angústia do momento não viu para onde seus pais haviam ido, tendo notícias deles só alguns dias depois, quando saiu no jornal sobre a tragédia da família Malfoy.

Draco entregou-se ao seu destino de condenação. Vivia agora em uma cela fria e pequena no mais seguro presídio bruxo do Reino Unido, em Azkaban. Lembrava-se da inveja que sentia de seus inimigos de escola quando os viam juntos, sorrindo e brincando, enquanto ele, para tentar combater a avassaladora depressão que lhe apertava o peito, ofendia e humilhava quem estivesse em seu caminho, apenas por terem lhe dito que ele podia fazer aquilo. Acreditava agora que sua condenação não era pelos últimos atos daquele corrente ano, mas sim por todos os anos de sua vida. Para não ser vencido pela renovada e crescente dor que lhe apertava o peito ainda mais, ocupava-se com leitura e exercício, qualquer informação ou atividade servia para afastar suas antigas preocupações e eternos medos.

Estava encarcerado em Azkaban sem nenhuma expectativa de vida, de futuro, de sonhos. Apenas passava os dias treinando o corpo e a mente para não dar espaço às impurezas daquele lugar fétido. Não queria ser igual ao pai ou a qualquer membro “notável” de sua família. Não sabia se sairia dali algum dia, e muito menos para onde iria se isso viesse a acontecer, mas sentia que devia estar preparado física e psicologicamente, com conhecimentos afiados e prontos para qualquer situação. Não queria se entregar às facilidades das trevas ou à beleza do poder, mas indiretamente e sem ter consciência do que fazia, acabou conquistando o poder ali dentro, tornando-se uma espécie de líder entre os detentos. Não se metia em encrencas e não se envolvia com nada obscuro ou incerto, e com isso dava um bom exemplo, fazendo-se ser respeitado por sua conduta leal e força de vontade, e que apesar de ter vindo de uma família nobre com tanto dinheiro e fama, principalmente no submundo bruxo, permanecia ali com o que lhe restou de dignidade e honra. Acabou exercendo um papel “diplomático” ali dentro. Conseguia algumas coisas para os presos ou até mesmo para alguns guardas. Tinha uns contatos externos, apesar de nunca ter recebido uma visita sequer. Tinha o poder da inteligência nas mãos, e usava isso como um tipo de moeda, trocando favores ou conselhos por conhecimento em qualquer área. E com isso era possível conseguir qualquer coisa. Era extremamente respeitado e também temido. Criou para si um código de conduta de moral e honra que passou a ser cobrado de todos que o rodeavam. Acreditava que dessa forma, tudo correria sempre conforme o planejado e, caso isso não acontecesse, arranjaria um jeito de fazer acontecer. E pra isso precisava aprender tudo que fosse possível com os mais variados tipos de pessoas.

Os dias passavam devagar naquele lugar. As celas frias, a solidão, a desesperança. Mesmo sem os Dementadores o ambiente ainda era frio e desesperador, restando a Draco a necessidade de procurar manter a mente ocupada para não cair nas armadilhas de uma mente vazia em um lugar como aquele.

Já estava preso havia mais de um ano. Nesse meio tempo aprendeu muito com quem estava disposto a ensinar e até conquistou alguns amigos, principalmente quem poderia lhe transmitir algo útil e diferente, nascendo aí uma rica rede de contatos e prósperas relações. Entre esses amigos, estava Ísis Nureen, uma belíssima bruxa egípcia, com algumas particularidades bem diferentes dos demais bruxos que Draco conhecia.

Ísis era uma Bruxa do Deserto e suas habilidades com luta de espada, conhecimento em poções e sua personalidade forte e explosiva deixaram o loiro encantado. Ela havia chegado há pouco mais de quatro meses e viam-se com freqüência nas últimas semanas. O primeiro mês dela foi bastante conturbado, recheado de brigas, discussões, a morte de um detento e o ataque aos guardas que a impediram de se aproximar de seu irmão, o que a levou a ficar em isolamento no início de seu segundo mês ali, ficando três semanas longe de qualquer outro detento. Quando saiu soube do falecimento de seu irmão na enfermaria da prisão e evitava conversar com os outros prisioneiros, ficando a maior parte do tempo sozinha na pobre biblioteca que havia ali que continha exemplares trouxas e bruxos dos mais variados assuntos.

Draco era pouco próximo de qualquer detento, mas com Ísis era diferente. Encontraram-se muitas vezes na biblioteca e começaram a conversar eventualmente e trocar conhecimentos diversos. Possuía algo nela que o atraía, uma magia diferente, um poder que ele desconhecia. Sentia-se bem ao lado dela, fosse enquanto ele a ensinava alguns feitiços, ou praticavam alguma luta corporal que ela estava ensinando a ele, ou até mesmo quando passavam horas na biblioteca e estudavam qualquer coisa, desde magia chinesa à história trouxa ou a arte da guerra e psicologia. Mas ainda havia assuntos “proibidos”. Tanto Draco quanto Ísis não falavam de suas famílias ou de como foram parar ali em Azkaban, mas uma hora esse assunto teria que vir à tona...

Numa manhã gelada Draco andava por um corredor quando encontrou Ísis sozinha próxima a um pilar perto do pátio. Já fazia alguns dias que não conversava com a garota, pois ela parecia estar evitando qualquer aproximação. Ela parecia distante e pensativa. Ele se aproximou pelas costas dela, caminhando devagar e quando chegou a dois palmos da orelha da morena, assustou-se com o giro rápido que ela deu e com a mão aberta e firme como uma lâmina a milímetros de sua garganta, como se fosse uma faca perigosamente cortante. Ele não se moveu... tentou sorrir, mas só pareceu ainda mais nervoso.

- Sou eu... o Draco, lembra? Relaxa Ísis... – disse num fio de voz e o olhar assustado, ficando mais tranqüilo quando ela abaixou o braço e balançou a cabeça, reprovando a atitude dele.

- Nunca chegue pelas minhas costas, Draco. Nunca pense que pode me pegar desprevenida, pois você certamente se dará mal, entendeu? – ela falou em um tom de aviso que mais parecia uma ameaça.

- Certo... eu só queria conversar um pouco com você, se me permitir... – falou erguendo os braços em sinal de rendição e tentava sorrir. - Você não fala mais comigo? Faz tempo que não ouço sua voz... – disse em voz baixa, sentindo que ela voltava a se acalmar.

Ela se limitou a responder algo em árabe que ele não entendeu nada, olhando-a confuso como se pedisse uma tradução.

- “Um mudo sensato vale mais do que um tolo que fala” ...

- Um provérbio da sua região?

- Sim, um ditado popular árabe. Quero dizer que prefiro calar-me a dizer apenas maldições.

- É por isso que tem estado tão calada nos últimos dias... para não bater em alguém ou dizer maldições?

- Também... Essa semana tive que me controlar muito pra não socar aquele francês metido a besta da ala C... por muito pouco ele não ficou sem uns dentes na boca. Mas não posso mais perder tempo com bobagens como esses idiotas.

- Parece preocupada... aconteceu alguma coisa?

- Estava apenas pensando onde estarão meus pais, meus irmãos...

- Viu só? Está falando comigo... sem dizer maldições.

- Falo apenas contigo, Jumanah. Somente você vale a pena por aqui. Por enquanto, preciso me concentrar, preciso encontrar um jeito de sair daqui.

- Jumanah... É a terceira ou quarta vez que me chama assim. O que significa? – perguntou curioso.

- Pérolas cinzentas. – seus olhos brilhavam e sua voz saiu tímida como de uma adolescente envergonhada. - Seus olhos são cinza como tempestade e como pérolas raras... Seus olhos... lindos olhos... se me permite dizer... são Pérolas Cinzentas.

- Obrigado. – uma estranha sensação tomou conta de Draco, a inédita situação de sentir o rosto corar. Para retribuir o elogio perguntou com uma voz suave: - E como nomeio seus doces olhos de mel?

- Não são mais doces, Draco. Restam neles apenas um brilho, o desejo de vingança.

- Adoro essas palavras... vingança e... desejo. – em seus lábios brincava um sorriso maroto, intenso... que dizia mil e uma coisas sem precisar de palavras. Deu-se por satisfeito quando a viu amenizar a expressão no rosto e se preparava para falar alguma coisa, mas antes que ela pudesse começar, continuou: - Tudo bem... sem olhos doces... mas também gosto de seus olhos, gosto do desenho dos seus olhos e quero um apelido para eles... Um nome entre nós... eu, Jumanah, “Pérolas Cinzentas”, e você... Olhos de mel... não, não.... expressivos, também não... olhos grandes... Isso! Como seria “Lindos e grandes olhos” em árabe?

- Najla... significa “grandes olhos”... Você é Jumanah e eu, Najla. Gostei... - ela o olhava de forma diferente, entre curiosa e carinhosa.

- Então fica assim... Najla. – aproximou-se dela e lhe fez um carinho no queixo, como se selasse um acordo. - Nos vemos mais tarde, certo? Hoje temos prática de latim. – e virou-se para ir à biblioteca.

- Draco... – chamou-o antes que ele desse um passo para trás e o encarou profundamente. – Isso significa muito pra mim, sabia? Pode parecer bobeira, mas para mim, ter alguém que me chame por um nome árabe, um apelido, como usamos em nossa família... significa muito mesmo... Obrigada!
Ele apenas sorriu, um sorriso simples, quase imperceptível, mas ela entendeu o que ele quis dizer: ‘Não há de quê’. Acenou a cabeça e foi andando para trás, até sair do campo de visão da bela egípcia.


Mais alguns dias se passaram...


“Não agüento mais esse inferno. Esse bando de idiotas... Preciso sair daqui.” – reclamava consigo mesma a jovem com olhos cor de mel enquanto respirava profundamente para se acalmar após mais uma discussão com um prisioneiro. – “Sou Mariyah, imbecis... uma mulher de honra!!! Ikram... coisa que vocês não têm! Esses idiotas estão me provocando... Se não fosse por Jumanah, eu acabava com eles.”

- O que está pensando, Ísis? – perguntou o loiro ao observar a expressão raivosa que ela mantinha no rosto e sorrindo ao imaginar os xingamentos que estariam povoando a mente de sua amiga. Trazia uma garrafa de água em uma mão e com a outra usava sua camiseta para secar o rosto e os ombros molhados de suor.

- Não consegue nem imaginar, Jumanah? – respondeu irada. Ela tinha os olhos semicerrados, exprimindo a raiva que segurava apenas por respeito ao único amigo que tinha. – Como você consegue, Draco? Você vê como são insuportáveis. Você ficou sabendo, não ficou? Estão no meu pé de novo! Já tem mais de seis meses que estou aqui e eles ainda não saíram do meu pé. Desde o dia que cheguei não param de me irritar. Só é possível conversar com você, sabia? Porque com o restante só tenho vontade de espancar, até a morte de preferência, você é praticamente o único que dá pra manter uma boa conversa. Meu sangue ferve, Draco... você sabe disso, não sabe? Agora ficam me ameaçando, falando um monte de bobagens e esperam o que? Que eu fique quietinha? Fodam-se todos eles!!!... Mas não fico mesmo... Idiotas... Lembra-se que logo na minha primeira semana aqui já vieram com gracinhas pro meu lado... Eles devem se lembrar que eu não sou de ficar calada, como daquela vez em que eu reagi.

- Reagiu? Minha cara... você quebrou o pescoço do infeliz em um golpe! E
em mais três seqüências deixou inconsciente meia dúzia de prisioneiros, simplesmente porque riram da ‘gracinha’ que o outro fez. Na mesma semana teve outro “incidente” e você mandou pra enfermaria mais três detentos. Lembra-se disso? Em menos de cinco dias você nocauteou dez homens! Acredito que se lembra dos outros incidentes também... quase enlouqueceu metade dos prisioneiros que estavam na mesma ala que você até que você finalmente encontrou seu irmão.

- Não enlouqueci ninguém... não era esse meu objetivo. Se fosse... eu teria conseguido... – terminou a frase com a voz baixa e mortal. Se Draco não acreditasse que ela realmente o tem como amigo, ele teria ficado bastante assustado.

- Certo... – disse ele um pouco nervoso, mas ainda assim, divertido. – Mas mesmo assim, por precaução, eles te mantiveram na mira, não é mesmo? E você, não contente, tinha que atacar justo um guarda? Mulher, você não pensou nas conseqüências, não?

- CLARO QUE PENSEI... encontrei meu irmão ferido, praticamente inconsciente. Se não o tratassem imediatamente ele poderia m-morrer... essa ‘c-conseqüência’ eu n-não poderia sup-port-a... – não conseguiu completar a frase. Sua voz falhava e sua respiração estava ofegante.

- Tudo bem, tudo bem... desculpe-me por tocar nesse assunto novamente. – tentava ser gentil, mas a própria dor por se lembrar de um assunto ‘proibido’ não permitia muito sentimentalismo, mesmo com alguém que o tratava tão bem. Respirou profundamente e disse com sinceridade: - Sei que nunca falamos sobre isso, que é um assunto doloroso... Sinto muito pelo seu irmão, Ísis, sinto mesmo. Ele não merecia o que aconteceu com ele.

- Mesmo com a sua ajuda não foi possível... Já era tarde demais. Armaram pra ele, Draco... Nada daquilo deveria ter acontecido... Nada... – ela estava com a voz trêmula e respirava com dificuldade. Draco se aproximou mais um pouco e sentou-se ao lado dela, esperando que ela falasse mais, pois parecia que era exatamente do que ela precisava no momento. Mas ela não continuou.

- Ísis... se você quiser conversar, podemos interromper o treino pelo tempo que você desejar...

- Não quero falar disso... – levantou-se rapidamente e andava de um lado para outro como se fosse um animal selvagem e feroz enjaulado, o que não deixava de ser um pouco verdade. Soltou um grito de frustração, voltou-se para Draco e, sem parar de andar continuou a falar. – Não quero falar da minha dor. De que adianta, não é mesmo? Isso não muda em nada a situação... Mataram Jamil aqui nessa porra de inferno e agora ficam me torrando a paciência com joguinhos sujos. Não vou voltar praquela cela de isolamento... Fodam-se as malditas exigências dos guardas... NÃO VOU VOLTAR PRA LÁ, mas não mesmo. Nas três semanas que fiquei lá mataram meu irmão... – outro grito escapou de sua garganta, agora além da frustração havia raiva. – Por que tinham que trazer isso à tona? POR QUÊ?

- O que aconteceu, Ísis? Não estou entendendo nada... por que tanta raiva, o que houve?

- Draco... nem você será capaz de me deter se eles tentarem me pegar de novo, entendeu? Nem você! – ela disse entre dentes, nervosa e a ponto de explodir.

- Será que dá pra você me contar o que diabos está acontecendo? – estava intrigado e preocupado. Tinha alguma coisa errada e ele não estava sabendo, algo saiu do controle. – Estávamos treinando numa boa, eu saio por cinco minutos e te encontro assim... Por que essa história do seu irmão. Quem esteve aqui? O que te falaram?

- Provocações. Lembranças. Insultos. Ameaças... O DE SEMPRE. – disse com a voz cansada e raivosa. – O que preciso para sair daqui? Já cumpri minha punição... eu só matei quem tentou me ferir, não fiz nada errado...

- Você matou aurores, minha cara... para eles não importaria se fossem eles os culpados, ainda assim seria você a estar aqui, e não eles. Também tenho minha cota de raiva e frustração. Eu te entendo. Mas você deve ser forte, não se deixar abalar por isso.

- NÃO ME ABALAR? Você está brincando, não? Não sou como você, Draco, que fica atrás dessa sua intransponível máscara de frieza e quietude. PRO INFERNO ESSA SUA FRIEZA, tá legal? Não consigo ser assim... a inconstância do deserto corre em minhas veias, o calor e o frio, a serpente e a areia... PRO INFERNO ESSA SUA COMPREENSÃO! O que você sabe sobre mim?

- Sei apenas o que você me conta... – respondeu com mais frieza ainda, aumentando a ira da egípcia. - E essa máscara é necessária, Ísis, tente utilizá-la de vez em quando, você vai ver como ajuda. Você pode pensar que para mim é fácil falar, mas eu também sei o que essa dor significa.

- Sabe mesmo? Você também nunca diz nada sobre você. Você sabe muito mais sobre mim do que eu sobre você. – despejava nele todo o ódio que sentia. Sempre ficava com os nervos à flor da pele quando se lembrava do irmão e não media as palavras para agredir quem quer que fosse, mesmo que fosse Draco. Uma raiva que a consumia ferozmente a cada segundo e provocava uma dor cruciante em seu peito. Falava sem pensar e com o intuito de ferir. - Você sabe realmente que dor é essa, Draco? Sabe? Que alegria arrancaram duramente de seu peito? Por quem seu coração chora e clama por justiça? Quem você perdeu pra conhecer essa dor?

- A única pessoa que eu tinha. – a resposta veio imediata e num sussurro, carregada de tristeza e dor, exatamente a dor que seu coração chorava, mas que lágrimas não seriam suficientes para amenizar o sofrimento. – Vamos voltar a treinar, tudo bem? Somos melhores enquanto lutamos para aperfeiçoar nossas habilidades do que enquanto falamos e perdemos tempo com palavras inúteis que nada nos ensinam. – abaixou-se para pegar um cabo de madeira que usavam como espada e voltou à postura da esgrima que estavam treinando antes de começar a conversa. Manteve-se firme em sua posição e ignorava a mão que tremia, aguardou que Ísis ficasse em posição de ataque e voltaram a lutar.

Ele treinava esgrima eventualmente desde criança, mas nunca se dedicou muito, mas ainda assim era muito bom. Por outro lado, a garota era excelente, imbatível. Ela ainda não mostrava nem 50% de seu potencial para que Draco pudesse acompanhá-la e mesmo assim era impressionante e o fazia cansar-se rapidamente. Treinaram por mais algum tempo sem perder a concentração, e quando seus músculos já estavam cansados pararam um pouco para respirar, e logo em seguida foi ouvida uma sirene, indicando que era hora de se recolherem às celas. Despediram-se formalmente, com a pele suada pelo exercício, os músculos tensos pelos golpes e o coração apertado pelas lembranças.

Naquela noite nem Draco nem Ísis conseguiram dormir bem.

Ela por se lembrar do querido irmão, seu guardião, protetor e instrutor, conselheiro e amigo, corajoso e valente guerreiro. Foi pego em uma armadilha e preso em Azkaban, ferido, vindo a falecer três semana depois que Ísis chegou na prisão.

E Draco não dormia por se lembrar de sua mãe, a única pessoa com quem realmente se importava e que se importava com ele. Que mesmo depois de todos seus esforços para cumprir as chantagens que lhe impuseram na promessa de mantê-la segura, tudo foi em vão por causa do maldito Potter e do acordo estúpido que fizeram.


Os dias passavam sem muitas novidades na rotina diária. O que fazia o dia valer a pena, na opinião de Draco e seus companheiros, eram as atividades que envolviam algum aprendizado, que quase sempre eram escondidas dos guardas. Dividiam-se em grupos para treinar esgrima, lutas corporais, artes marciais, e até meditação. Montaram grupos de conversação de alguns idiomas, além de ‘aulas teóricas’ de duelos, onde trocavam feitiços e azarações que eram apenas guardados na memória.


- Você ainda não falou onde você estudou magia aqui na Europa... – Draco comentou em francês com Ísis enquanto treinavam o idioma, que ela dominava com excelência.

- Não tenho muito que dizer... – ela respondeu com um sorriso cínico.

- Imagino... Com esse sorrisinho cínico e olhar maligno você não devia ter muitos amigos...

- Deve ser por isso que não ficava mais de um ano na mesma escola. – seu olhar transmitia o prazer que sentia ao lembrar-se disso.

- Um ano? Era esse o tempo máximo? UAU! Um recorde! – exclamou divertido.

- Diziam que meu temperamento era um pouco explosivo... Explosivo, hummm... sei... Sou uma Bruxa da Areia. Fui criada no deserto do Saara por assassinos de aluguel, o que eles esperavam? Uma dama da alta sociedade francesa, por um acaso? Conjuro um botão de rosa colombiana para a mãe que chora enquanto com a minha espada fatio o infeliz que fez uma criança sofrer... Foi o que aprendi. Claro que eu teria uma educação um pouco... hum... diferente da de vocês, europeus.

- Eu te entendo. Também tive uma educação um pouco “diferenciada”, digamos assim. Não é muito convencional ensinar feitiços letais a crianças de sete ou oito anos, não é mesmo?

- Não? – a morena perguntou com sinceridade na voz e olhar inocente e confuso, o que provocou o riso de Draco.

- Não Ísis... hahahahaha... não mesmo... não aqui na Inglaterra. Hahaha... essa foi boa. O que te ensinavam aos sete ou oito anos, hein garota?

- Como eu disse, mon cherry, minha tribo é de assassinos de aluguel. Ganhamos dinheiro para matar, roubar e torturar. Não temos muitas escolhas no deserto – se você não pode fugir de uma naja, convença-a morder a própria cauda. Nossas habilidades se resumem à batalha, à espera de um novo ataque. Estamos em constante guerra. E eu aqui... Maldição!!! Estou presa nesse inferno monótono, enquanto minha tribo corre o risco de ser dizimada... nossos melhores guerreiros não está lá no momento.

- Ei, fale mais devagar, meu francês não está tão bom... Mas pelo o que eu entendi... os melhores guerreiros não está lá no momento... E você está entre os melhores, eu presumo...

- Meu irmão mais velho, Jamil, era o líder do grupo principal e responsável pelo ataque e estruturação das estratégias. Meu outro irmão, Said, era o líder do grupo de inteligência, o de defesa da caravana, cura, poções e venenos. E eu, do grupo secundário, que era de ataque à distância ou combate definitivo, responsável por não deixar nenhum inimigo vivo. Somos os melhores guerreiros do deserto.

- Não tenho dúvidas disso... Mas por favor, Ísis, aqui você tem que se controlar... eles estão a um triz de te colocar em isolamento de novo. Não posso ficar sem meu treinamento... – falava como um pedido, mas tinha autoridade na voz, mesmo sabendo que era ‘perigoso’ tentar ser autoritário com ela. Seu sorriso cínico deixava transparecer que realmente não queria ficar sem as “aulas” dela e que interferiria novamente se ela se metesse em mais confusões. E ela pareceu ter percebido, e numa voz manhosa, que ele ainda não conhecia, respondeu:

- Só você mesmo para me salvar dessas encrencas, Draco... Para mim é impossível lidar com eles. – voltou a falar com seu tom de voz mais usual, o de indiferença. - Semana passada mesmo, você viu... se não fosse você ter aparecido no pátio aquela hora, certamente aquele babaca do Troadou estaria com o braço quebrado em pelo menos três partes...

- Claro! E você estaria no subsolo quatro, longe de nossos treinos. Nem pensar! Nada é impossível cherry, é um pouco difícil, confesso, mas é um mal necessário. Você não pode se meter em mais confusões, garota, já está marcada pelos guardas...

- Não estou marcada pelas confusões... Sabe muito bem disso. – sua voz saiu trêmula de fúria - Estou marcada porque eles têm medo de mim. Um bando de fracos... Não agüentariam nem dois minutos em uma luta e eu nem me cansaria.

- Certo, gosto de treinar com você, Ísis, e adoro seu temperamento explosivo, impulsivo e imprevisível, e definitivamente não estou a fim de testar suas reais habilidades. – respondeu em tom divertido amenizando o ar tenso que a envolvia.

- Ah Draco... – Ísis suspirou demoradamente – Eu não deveria estar aqui... nem você! É tudo tão injusto.

- Isso não cabe a nós decidir... não mais.

- Você nunca me falou porque está aqui...

- Nem você, diga-se de passagem... – interrompeu-a antes que ela aprofundasse a pergunta.

- Tem razão. Mas então... – seus olhos “sorriam” sapecas, já que seus lábios não conheciam mais o ato de sorrir e Draco percebeu que sua interrupção não foi eficiente – É tão jovem, bonito, inteligente e parece ser de boa família... O que te trouxe a Azkaban?

- Defina “boa família”, Najla. Rica, nobre, influente e leal ao lorde das trevas? Se for isso, você acertou em cheio. Mas não quero falar disso, por favor, ainda não.

- Tudo bem, respeito sua vontade. – disse com sinceridade. Parou um instante antes de comentar com a voz terna: - Sabe que adoro quando me chama assim, não sabe? Sinto-me... tão segura...

- Fico feliz por isso... – era inevitável dar seu sorriso mais sedutor, não era proposital, mas havia algo nessa mulher que o “obrigava” a ser sensual, como se precisasse conquistá-la. E conhecendo o efeito que seu sorriso provocava nela, aproveitou para inverter a situação. – E você, Najla... Também é jovem, bonita, inteligente, eficiente... Por que está aqui? Tão longe de sua terra, sua família.

- Muito esperto você né... escorrega pro lado e dá o bote depois.

- Pode escorregar também, se quiser. – disse com a voz arrastada e desafiadora.

- Não preciso... não com você. – fez uma pausa para respirar profundamente e continuou - Armaram uma cilada pro meu irmão e uns membros do nosso clã... Quando eu soube... Ahhhh... não medi esforços para encontrá-los, mas não sabia que vocês estavam em guerra... deu tudo errado.

- Sei que seu irmão foi preso injustamente, mas você matou aurores ingleses, Ísis, aos olhos deles, você não é nada inocente.

- Eu estava apenas defendendo minha tribo!!! Estava acontecendo mais uma guerra entre os bruxos do deserto, onde alguns lutam por terras e outros, por poder e conhecimento. Esta guerra estava sendo a mais brutal e devastadora de todas que já existiram e já durava mais de três anos. Estávamos todos cansados... E quando os ataques finalmente começaram a diminuir, Jamil, meu irmão mais velho, que é mestre em poções e venenos, excelente com uma espada e líder do principal grupo de guerreiros, foi capturado em uma armadilha pelos tais Comensais da Morte e enviado à Inglaterra junto com outros membros do grupo que comandava. Parece que eles queriam conhecer e explorarem os poderes dos Bruxos da Areia, pensando que faríamos algum tipo de aliança ou coisa assim. Francamente! E como os Comensais não conseguiram nada, Jamil e os outros foram torturados pra valer, e depois armaram uma cilada para que eles fossem incriminados e posteriormente presos, deixando-os fora do caminho dos planos do tal Lorde Negro. Então quando fui ao encontro deles acabei entrando em uma guerra que não era minha. Lutei contra todos os lados, e lutei sem piedade, eliminando quem entrasse em meu caminho, incluindo aurores ingleses – e foi aí que eu me ferrei. Ou não, não é? Depende do ponto de vista... Encontrei meu irmão aqui, ferido, à beira da morte, sem poções ou nenhum outro recurso... aí o final você já sabe, ele acabou morrendo na enfermaria tosca e nojenta que tem aqui.

- Assim que fique sabendo que ele era seu irmão, tentei de tudo para colocá-lo numa ala um pouco melhor da enfermaria, mas como você disse... já era tarde demais.

- É... Eles foram seqüestrados, torturados... Eu não podia ficar de braços cruzados, eu precisava fazer alguma coisa. Vim para a Inglaterra assim que possível e eles já haviam sido presos. Maldição!!! – falava rápido e com raiva, despejando a dor que sentiu ao imaginar-se sem seu querido irmão. - Como é possível? Bruxos do deserto não se submetem a bruxos das trevas! É repugante!!! Nós dominamos as serpentes, Draco, não nos rebaixamos à elas.

- Calma lá, garota!!! – repreendeu-a pelo tom usado ao falar de ‘serpentes’ e continuou, agora falando em inglês, depois de ter perdido algumas palavras quando ela começou a falar rápido demais. – Devagar... e em inglês agora, por favor... Cuidado ao usar o termo serpente por aqui. Sou da casa Sonserina, mesmo que com pouco orgulho, mas nosso símbolo é uma serpente.

- Certo... – disse em inglês como ele havia pedido. - Digo serpentes de verdade, não uma metáfora. Desculpe-me. Quer dizer... tudo bem que também usamos como metáfora: desde crianças aprendemos que o mal está associado à imagem da serpente. Por isso é tão importante que aprendamos a controlá-las tão cedo, para nos afastarmos do mal que ela causa. Nós dominamos as serpentes do deserto, Draco, mambas, najas, as serpentes mais perigosas... manipulamos o veneno, a mantemos sob nosso olhar, desde criança aprendemos a controlá-las... ainda não me conformo por terem capturado meu irmão. Ele era o líder daquela operação, e tinha com ele os melhores guerreiros da nossa terra, é inadmissível.

- Ísis... – Draco a chamou com a voz suave, querendo passar pelo menos um pouco de paz – Não havia nada a se fazer... eles foram capturados por Comensais da Morte, eles possuem meios bastante eficazes de conseguir qualquer coisa. Eles seguiam ordens do Lorde das Trevas e se não as cumprissem, morreriam sem piedade. Seu irmão e o grupo dele não foram ‘fracos’, ou qualquer outra coisa. Eles não deveriam estar naquele prédio, ou naquele sábado, não havia momento mais inoportuno do que aquela manhã. Eles apenas estavam no lugar errado, na hora errada.
Ísis espantou-se ao descobrir que Draco sabia parte da história, ela não havia contado nada e não tinha como alguém conhecer esse episódio. Fechou os punhos, virou-se lentamente ficando de frente para Draco e com a voz levemente ameaçadora perguntou:

- Como sabe disso, Draco? Prédio? Sábado? Ninguém sabe disso... – levantou-se devagar, apenas encarando o loiro.

- Não te falo nada sobre mim para não criar falsos julgamentos.

- Não sou eu quem julga e não dou minha opinião se não tiver os fundamentos. O que sabe sobre isso, Draco, você tem que me dizer.

- Sou filho de um Comensal da Morte, Ísis. Isso não me dá credibilidade nenhuma. Meu pai era o braço direito do lorde... eu fui obrigado a seguir os passos do meu pai. Vai mesmo acreditar em alguma coisa que eu disser?

- Só você vale a pena por aqui Draco. Dê-me motivos para continuar acreditando nisso. – a voz dela saiu baixa e firme. Suplicante.

- Certo... Eu não tenho porque mentir para você... Eu sabia de muitas das armações de Lucius e não podia fazer nada... Muito tempo atrás eu os ouvi falando sobre possíveis ‘aliados’, fora do reino Unido, talvez um grupo de bruxos no Oriente Médio que possuíam algo diferente que pudesse ajudá-los de alguma forma, mas não tinha noção do que se tratava. Depois só fiquei em Hogwarts e não tive mais notícia nenhuma. Só fui saber algo mais quando já estava aqui e vi seu irmão e os outros, mas já era tarde, não? E quando te vi, tive certeza que era uma deles. Naquela época, quando soube do provável ataque a um grupo no Egito, o que eu poderia ter feito? Eu tinha muito a perder, Ísis... muito mais do que a fortuna que minha família possui há séculos, muito mais do que propriedades ou prestígio na sociedade... muito mais do que minha própria vida... eu... eu temia... eutemiaperd-derm-minha-m-mãe. Emesmoassim... euap-perdi. – Draco despejou as palavras como se pudesse ser livre ao dizê-las. Disse tudo muito rápido e com raiva, como um libertador desabafo. Era a primeira vez que dizia qualquer coisa referente ao seu pai desde que fora preso. A primeira vez também que verbalizava a perda de sua mãe. Sentiu-se realmente aliviado por poder falar, por poder libertar a dor que carregava há tanto tempo. Respirou profundamente tentando recuperar o controle, mas não tinha coragem de encarar os olhos de Ísis. Tinha medo que ela também o culpasse de algo.

Ísis sentou-se ao lado de Draco e tocou-lhe o ombro para chamar sua atenção. Ele não se virou. Ela pediu baixinho:

- Respira... se acalma... e fale mais...

- Certo... Já ouviu falar do herói por aqui, não ouviu?

- Um rapaz da nossa idade, não é? Um moreno com lindos olhos verdes...

- Pula essa parte... É esse mesmo.

“Não se preocupe, minha mãe! Fiz um acordo com o Potter. Eu cumpri minha parte. Ele cuidará da senhora”*, se lembrava da última conversa que tivera com sua mãe antes dela ser injustamente condenada ao Beijo do Dementador. “Como prometido, ela vive e não está na prisão! Seu coração ainda bate. Mas não tratamos nada sobre a alma dela. Seja muito feliz em Azkaban, Draco!”* As palavras do bilhete que recebera do Potter no dia seguinte à condenação de sua mãe ainda estavam gravadas em sua retina e em seu coração como se tivessem sido marcadas a ferro quente. E com a intensidade do mesmo ferro quente marcou em sua alma a palavra ‘Vingança’ para quando encontrasse Potter novamente.

Ela se abaixou ficando de frente para ele e tocou em seu queixo, forçando-o a encará-la e pôde ver os olhos cinza dele úmidos e revoltos, como uma verdadeira tempestade. Acariciou lentamente a face pálida do garoto e beijou-lhe a face, depois envolveu-o num abraço apertado e carinhoso, enterrando o rosto no pescoço alvo do loiro enquanto seu braço esquerdo pousava no ombro dele e os dedos da mão direita se entrelaçavam nos cabelos platinados. Sentiu os braços dele envolvendo-a também, em retribuição ao abraço. Ele a segurava com força, como se precisasse daquele contato para continuar respirando. Ficaram assim por alguns minutos e quando se afastaram, apenas alguns centímetros, ela pôde ver o brilho do sorriso sutil e aliviado que brincava nos lábios dele, e então ela disse num sussurro:

- A tempestade gelada que suas pérolas cinzentas anunciam é imediatamente dissipada pelo fogo que seu sorriso verdadeiro provoca em mim. Você deveria sorrir mais, sabia? – e num toque suave acaricia novamente o rosto pálido do loiro, com a ponta dos dedos vai descendo da testa, passando pelo nariz e pela bochecha, contorna os lábios finos, o queixo e chega ao pescoço, subindo em direção à orelha, e pára ao chegar à nuca, brincando com o cabelo dele, provocando arrepios na pele do rapaz. Com os olhos brilhando intensamente, a morena diz com a voz quente e suave: - Você é meu souzan, Jumanah. O fogo que alimenta minhas esperanças... Não se culpe pelo que passou. Apenas agradeça pelo que você aprendeu. Pelas pessoas que conheceu. Eu agradeço por ter conhecido você. – parecia existir uma fina linha que os mantinham conectados pelo olhar, e por esta linha passeavam ternura, companheirismo e carinho. Inesperadamente Ísis sentiu-se ser puxada novamente aos braços de Draco. Foi um puxão forte e agressivo, mas o abraço apertado em sua cintura e a respiração entrecortada que sentia bater em seu pescoço era de alguém que precisava daquele contato... um contato de pele e de alma.


* Trecho da fic do Clau, sobre o acordo que Draco fez com o Potter logo que entrou em Azkaban.



* * *

Cap. 2 - Ísis "Najla" Nureen...

(...)
- Pare de enrolar e fala logo, Ísis. Quero saber da sua história! Eu odeio contos de fadas... - Draco disse impaciente.

(...)
Era a primeira vez em todos esses meses que se conheciam que Ísis ria daquela forma. Draco foi tomado por um desejo imenso de absorver aquele sorriso, tomá-lo dos lábios dela diretamente para seus lábios.

* * *


N/A: A personagem principal dessa fic foi criada para outra fic... Renascido do Inferno... do mesmo autor de Apollyon... Claudiomir. Ou seja, eu conheço a Cortadora de Almas... e ela me proibiu expressamente de postar o segundo capítulo até que tenha, no mínimo, 30 comentários.

Boa leitura.

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