Indo atrás




Sentindo o mundo girar ao seu redor, Harry abriu os olhos. Estava na Ala hospitalar de Hogwarts. Se sentou depressa na cama.
- Harry! - gritou Hermione espantada.
Ela o abraçou. Estivera ao lado de sua cama, junto com Rony. Harry tinha esperanças de que tudo que tinha acontecido fosse apenas um sonho. Queria que Gina ainda estivesse ali segura. Mas olhando ao redor e não a encontrando ele deduziu que tinha sido real. E os olhos inchados de Hermione também comprovavam isso.
- Como você está, Harry? - perguntou ela.
- Não importa como eu estou. O que importa é a Gina. - disse se levantando rapidamente. - Não podemos ficar aqui parados.
- Harry, não podemos fazer nada. - disse Hermione. - Não sabemos onde ela está. Dumbledore já avisou os aurores, avisou a família dela.
- Eu não vou ficar parado aqui esperando, sem fazer nada. - disse ele.
- Eu também estou preocupado, Harry. - disse Rony. - É a minha irmã, caso você tenha esquecido. Sei que você deve estar sentindo o mesmo que eu.
- O mesmo, certamente, eu não estou sentindo. - disse ele quase sem perceber o que dizia. - Gina não é minha irmã, lembra? Não é isso que vocês queriam que eu entendesse? Não era o que ela queria que eu entendesse? Então! Eu entendi. Gina não é minha irmã!
Ele encarou os dois amigos que o olhavam chocados. Ele bufou exasperado e se deixou cair na cama outra vez.
- Eu não posso ficar aqui parado. - sussurrou.
- Você não pode fazer nada, Harry. - disse Dumbledore entrando na enfermaria.
Harry ergueu a cabeça e olhou Dumbledore diretamente nos olhos. Harry sabia que o medo do que podia acontecer deveria estar estampado em seu rosto, principalmente em seus olhos. Mas naquele momento, ele não se importava que as pessoas soubessem que ele estava com medo. Que Snape soubesse, que Malfoy soubesse, que Voldemort soubesse... ele não ligava. Ele estava com medo e Gina não ficaria mais segura se ele tentasse escondê-lo.
- Posso. - disse Harry firmemente. - Eu posso encontrá-la e trazê-la de volta.
- Mas você não sabe onde ela está. - disse Dumbledore calmamente.
Harry teve raiva do diretor por estar tão calmo, enquanto ele estava se roendo de raiva e de medo por dentro.
- E mesmo que soubesse, o mais apropriado era que você não fosse atrás dela. É isso que Voldemort quer. - continuou Dumbledore.
- Eu não ligo para o que Voldemort quer.
- Ele fez isso para que você fosse atrás da Srta. Weasley, Harry. Ele sabia que se fizesse isso, você iria tentar salvá-la.
- Que ótimo, ele acertou. - disse com raiva, se levantando. - Se eu descobrir pra onde aquele desgraçado levou a Gina, pode apostar que eu vou atrás dela e vou trazê-la de volta nem que eu tenha que morrer pra isso. E eu garanto que eu vou descobrir.
Dumbledore suspirou.
- Todos estão atrás dela, Harry. - disse Dumbledore. - Os aurores foram avisados e...
- Os aurores não podem fazer nada. - disse Harry. - Eles não têm como seguir nenhuma pista de Voldemort, não tem como descobrir para onde levaram a Gina.
- Mas você...
- Eu tenho. - disse ele. - Eu tenho a minha ligação com a Gina e posso saber onde ela está... eu vou trazê-la de volta...
- A ligação de vocês dois ainda não está forte o suficiente. - disse Dumbledore serenamente. - Mesmo que descubra onde ela está, o que poderá fazer, Harry?
- A nossa ligação é forte, apesar de termos descoberto sobre ela há pouco tempo. Não importa o tempo, não importa distância...
- Então tente, Harry. - disse o diretor.
Ele assentiu, não sabendo se o diretor estava falando sério ou apenas tentando fazer com que ele ficasse mais calmo. Sentou na cama novamente. Rony e Hermione os observavam intrigados.
- Gina... - chamou mentalmente, implorando para que ela respondesse... mas Gina não respondeu. - Me responde, Gina, por favor...
Silêncio. Ele voltou a olhar para Dumbledore.
- Ela não responde. - sussurrou.
- Deve estar desacordada. - disse Dumbledore.
- Ou não. - sussurrou Harry.
Cobriu o rosto com as mãos. As cenas se passavam por sua mente rapidamente. Gina no trem, um pouco vermelha depois de meter a mão na cara de Malfoy. Gina nadando com ele naquele lugar. Ela feliz, comendo as tortinhas de chocolate. Suas conversas mentais com ela, onde os dois riam e se divertiam juntos. Gina no baile.
Lembrou de como ela estava linda naquele dia, mas ele não enxergava, não conseguia enxergar o que estava tão claro na sua frente todo esse tempo. Gina estava lá o tempo todo. Ela sempre esteve do seu lado, mas ele não a via. Precisou que a tirassem dele daquele jeito para que pudesse enxergar isso. As lágrimas escorriam por seu rosto e ele não fazia questão de secá-las. Se soubesse que isso ia acontecer, não a tinha deixado sozinha. Mas ele não sabia. Mesmo assim não devia tê-la deixado sozinha. Lembrou de quando a viu sentada naquele banco. Do pequeno sorriso que ela deu.
Queria que nada disso estivesse acontecendo. Queria que Gina nunca tivesse sido envolvida nisso tudo, agora mais do que nunca. Mas antes que pudesse pensar em mais alguma coisa, se sentiu novamente sonolento. Ergueu a cabeça e viu Dumbledore apontando a varinha para ele. Sem poder fazer nada, caiu novamente desacordado.

***

Estava frio. Sentia tudo a sua volta girar, mas não conseguia enxergar nada. Percebeu que estava de olhos vendados. Tentou levar as mãos à cabeça, mas percebeu que estavam amarradas. Balançou a cabeça tentando se livrar do pedaço de pano que cobria seus olhos, mas estava bem amarrado e tudo que conseguiu foi que sua cabeça doesse mais ainda. Tentou ficar de pé, mas percebeu que seus pés também estavam amarrados. Não podia fazer nada. Não sabia o que estava acontecendo e nem sabia onde estava.
Sentia um cheiro nauseante que lhe dava vontade de vomitar. O chão onde estava caída estava molhado e frio. A parede que estava encostada também estava fria.
Ficou mais atenta ao ouvir barulho de passos. Tinha alguém ali, sabia que sim. Queria se defender, mas não sabia como.
- Quem está aí?
Se xingou intimamente por sua voz ter saído trêmula. Mas ninguém podia culpá-la por isso. Estava com medo, estava morrendo de medo. Estava de olhos vendados, pés e mãos amarrados e completamente desarmada. E o pior: sozinha. Não tinha ninguém ali que pudesse ajudá-la, estava completamente perdida. Estava às cegas no escuro.
- Quem está aí? - repetiu mais firme.
- Shhh... - alguém sussurrou.
Parecia não querer falar e apenas aquele sussurro fez ela se arrepiar inteira. Imaginou que se a pessoa tivesse falado alguma coisa, teria sentido menos medo.
- Quem... quem é você?
- Shhh... - repetiu a pessoa.
- O que você quer? - perguntou.
Queria que a pessoa falasse. Queria saber quem estava ali, mas a pessoa parecendo perceber o que ela queria, não o fez. Apenas respondia com sussurros, ou então não respondia.
Tentou se lembrar o que tinha acontecido. Lembrava que estava em Hogsmeade com Harry, depois estavam na loja de doces. Cho apareceu, ele saiu com ela e a deixou sozinha. Esbarrou em Colin, depois queria ir embora para o castelo, mas decidiu esperar Rony, Hermione e Harry.
Lembrou de quando os viu chegando, viu Harry cair de joelhos e o pânico a invadiu. Tentou correr até, mas não conseguiu por causa dos comensais que aparataram ao seu lado. Depois tudo ficou escuro e ela não lembrava de mais nada. Os comensais deviam ter levado ela até ali. Mas onde será que estava? Onde estava Harry?
Pensou em pedir ajuda a ele mentalmente, ele poderia ajudá-la. Contudo ela não sabia onde estava, não tinha como dizer isso a ele. Perguntou para si mesma: Se soubesse, diria a Harry? Chegou à conclusão de que não diria nada.
Desejou intimamente que seja lá onde estivesse, Harry não viesse atrás dela. Por mais que estivesse com medo, não queria que ele fosse até ela porque sabia que podia ser uma armadilha para pegá-lo. Desejou que Harry ficasse longe. Que ficasse seguro.

***

Estava em um lugar escuro, não conseguia enxergar nada. Andou às cegas sem saber pra onde ir. Esticou a mão instintivamente e tocou em uma parede fria.
Continuou andando com a mão naquela parede, tentando saber onde estava. Ouviu barulhos de passos e olhou para trás rapidamente. Agora tudo estava iluminado, como se sempre tivesse estado assim.
Não tinha ninguém ali. Mas sentindo um frio na espinha, ele reconheceu o lugar. Era a Câmara secreta. Estava do mesmo jeito que ele lembrava. Viu um pouco mais a frente o basilisco morto. Caminhou até ele. Também estava do mesmo jeito que da última vez que tinha visto.
- Quem está aí?
Ao ouvir a voz trêmula, Harry se virou rapidamente para trás. Agora, no lugar onde estava antes próximo a parede, ele viu Gina. Estava com as mãos amarradas nas costas,os pés amarrados e de olhos vendados. Estava completamente indefesa.
- Quem... quem é você? - perguntou ela.
Parecia estar falando com uma pessoa que Harry não podia ver, mas ela parecia ter certeza de que estava ali à sua frente. Andou até ela lentamente se surpreendendo que conseguisse andar, de tanto que tremia.
- O que você quer? - tornou a perguntar.
Harry tentou falar, mas nenhum som saía de sua boca. Quanto mais se aproximava, mais distante Gina parecia estar. Podia sentir o medo dela. Tentou correr até ela, mas de repente ela desapareceu.
Harry olhou ao redor tentando encontrá-la, mas não estava em lugar nenhum. A Câmara estava mais uma vez vazia e escura. Gina não estava mais ali. E ele não podia saber se em algum momento esteve.
- Gina! - ele gritou, mas tudo que ouviu foi o seu grito ecoando por toda a Câmara.



Harry acordou assustado, sentando na cama rapidamente. Olhou ao redor e percebeu que ainda estava na Ala hospitalar. Não sabia o que tinha acontecido, porque tinha adormecido de novo, mas isso não importava naquele momento. Sabia onde Gina estava e iria até ela.
Não tinha mais ninguém na sala. Ele levantou depressa, colocou a mão no bolso das vestes e tirou sua varinha.
- Gina, me reponde, por favor. - tentou.
Mais uma vez não teve resposta.
- Gina... - chamou novamente.
- Harry?
Harry estacou no meio da enfermaria. Sentiu o coração falhar uma batida e o ar deixar os seus pulmões por um segundo.
- Gina? - chamou só para ter certeza se tinha mesmo a ouvido.
- Harry, você...
- Eu não acredito. Você está bem, Gina? - perguntou desesperado.
- Estou. - respondeu ela. - Quer dizer, na medida do possível, mas estou inteira.
- Olha, eu sei onde você está, eu estou indo aí.
- Não!
- Como não? Eu...
- Eu não quero que você venha, Harry. - disse ela.
- Porque? - perguntou ele.
- Porque eu sei que isso é uma armadilha pra te pegar. Eu não quero que você se arrisque por mim. Eles devem estar esperando você vir me salvar pra te pegar, mas você não vai vir.
- Claro que eu vou, Gina. - disse ele.
- Não, Harry. Eu não quero que você venha, não quero que aconteça nada com você.
- Eu não me importo com o que vai acontecer comigo.
- Eu também não me importo com o que vai acontecer comigo, mas se acontecer alguma coisa com você eu morro. - disse ela.
- E se acontecer alguma coisa com você eu também morro, Gina.
Um minuto de silêncio se seguiu as palavras de Harry.
- Me desculpa, Harry. - pediu ela.
- Pelo que?
- Me desculpa... eu realmente tentei, mas não consegui.
- Do que você está falando? O que você não conseguiu? Olha...
- Te esquecer!
Harry ficou parado algum tempo tentando absorver aquelas palavras.
- Eu sinto muito... - recomeçou Gina. - Por favor, não vem. Você não sabe como eu vou me sentir mal se alguma coisa acontecer com você por minha causa.
- E como você acha que eu vou me sentir se acontecer alguma coisa com você? - perguntou Harry.
- Tudo que eu quero é que você fique bem. Não quero que se machuque e nem que se sinta mal por minha causa. Não venha.
- Sinto muito, Gina... - disse ele. - Isso é uma coisa que eu não vou poder fazer.
Harry fechou os olhos por um momento tentando colocar as idéias em ordem. Gina não falou mais nada. Sabia que ela podia estar certa, mas não se importava contanto que a trouxesse de volta. Voltou a abrir os olhos, decidido.
Abriu a porta da enfermaria lentamente para não fazer barulho e atrair a atenção de Madame Pomfrey, olhou para os lados, mas não viu ninguém. Saiu correndo dali rapidamente.
Correu mais rápido do que jamais tinha corrido em sua vida inteira, ignorando as pessoas que o olhavam curiosas, ignorando as pessoas que o chamavam. Não tinha tempo. Virando mais um corredor, sentiu um baque forte e caiu no chão, sua varinha caindo a alguns metros de distância. Olhou para quem tinha esbarrado e viu Rony e Hermione o olhando surpresos.
- Harry? Onde está indo? - perguntou Hermione.
Harry se levantou, pegou sua varinha do chão e voltou a encarar os amigos.
- Estou indo atrás da Gina. - informou ele.
Rony e Hermione se entreolharam.
- Harry, você não sabe... - começou Rony.
- Eu sei onde ela está. - disse interrompendo o amigo. - Ela está na Câmara secreta.
- O quê? Harry, Dumbledore colocou você pra dormir novamente justamente pra você não sair procurando a Gina por aí. E como você sabe disso?
- Não importa como eu sei, Hermione. Eu estou indo até lá. Preciso que avisem Dumbledore, eu não tenho tempo.
- Harry, você não pode...
- Posso. - disse firmemente. - Eu posso, Hermione. O que eu não posso fazer é deixar a Gina sozinha naquele lugar. Façam o que eu pedi, por favor.
Saiu correndo escutando os berros dos amigos se tornarem mais distantes. Chegou até o terceiro andar, entrou no banheiro da Murta-Que-Geme e se aproximou da pia. A Murta não estava por ali e Harry agradeceu por isso.
- Abra. - falou com um estranho silvo.
A pia se deslocou deixando aquele mesmo cano exposto. Respirando fundo, ele pulou dentro do cano e escorregou da mesma maneira que tinha feito há três anos atrás. Harry aterrissou no chão e ficou de pé rapidamente empunhando a varinha.
- Lumus. - ordenou.
Andou pelo túnel escuro que era agora iluminado apenas pela luz de sua varinha. Passou pela enorme pele de cobra que ainda estava no mesmo lugar de antes, continuou sem a olhar duas vezes. Depois de muitas curvas, chegou à mesma parede com as duas cobras entrelaçadas. Sabia o que tinha que fazer.
- Abram. - falou novamente com um sibilo.
As cobras se separaram e as paredes se afastaram, as duas metades se deslizaram suavemente, desaparecendo de vista e Harry entrou novamente na Câmara secreta.
Harry se sentiu de volta ao passado, no mesmo dia em que tinha salvado Gina na primeira vez. Contudo, a sensação que estava sentindo agora era diferente. Era pior.
Se naquele dia ele tinha medo de encontrá-la morta, hoje ele tinha medo de vê-la morrer na sua frente e não poder fazer nada.
Começou a avançar entre as colunas serpentinas. Viu a mesma estátua alta com o rosto gigantesco que se lembrava, mas Gina não estava ali como da última vez.
Olhou ao redor tentando procurá-la. O enorme basilisco morto estava do mesmo jeito, mas o cheiro que sentia agora era quase insuportável. Sentiu o ar deixar mais uma vez seus pulmões ao visualizar, um pouco mais afastada, a figura de Gina encostada a uma parede.
- Gina! - chamou correndo até ela.
Gina, que estava de cabeça abaixada, ergueu a cabeça e Harry a viu de olhos vendados, exatamente como no seu sonho.
- Harry? - perguntou ela incerta.
- Gina, você está bem? - perguntou se ajoelhando ao seu lado e tirando a venda dos seus olhos, deixando sua varinha em algum lugar no chão.
Já sem a venda, Gina abriu os olhos e piscou algumas vezes tentando colocar as imagens em foco. Harry desamarrou seus pés e suas mãos e depois voltou a olhar para ela, que tinha ficado o observando em silêncio.
- Você não devia ter vindo. - disse ela em voz baixa.
- Acha que eu ia te deixar sozinha aqui? Só ficaria tranqüilo quando soubesse que você estava bem. - disse ele.
- E eu só ficaria bem se soubesse que você estava seguro.
Os dois se encararam por alguns segundos e em seguida se abraçaram. Harry se sentiu tão aliviado como pensou que nunca se sentiria na vida.
- Que bom que você está bem. - disse ele.
Gina se afastou e sorriu. Depois olhou ao redor e arregalou os olhos ao ver onde estava.
- O que... a câmara... como eu vim parar aqui? - perguntou confusa e ao mesmo tempo assustada.
- Eu não sei.
Harry levantou e estendeu a mão para ajudar Gina a se levantar, o que ela aceitou prontamente.
- Vamos sair daqui. - disse ele.
- Não tão rápido, Potter.

Continua...

N/A: Mais um capítulo. Espero que gostem e comentem, ok? BEIJOS!

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