Revelações




Quando chegaram ao corredor vazio da sala do diretor, a passagem da gárgula de pedra já estava aberta. Os dois se entreolharam e entraram, logo em seguida a passagem se fechou sozinha. O professor Dumbledore estava sentado atrás da mesa em sua cadeira, escondido atrás do Profeta diário, onde eles reconheceram a matéria que tinham acabado de ler.
- Bom dia, Harry. Bom dia, Srta. Weasley. – disse ele com a voz serena, mas sem abaixar o jornal. – Sentem-se, por favor.
Os dois sentaram nas duas cadeiras que estavam em frente a mesa do diretor e esperaram ele começar a falar, o que ele logo fez.
- Acho que vocês já imaginam a razão da nossa conversa. – ele falou abaixando o jornal e deixando a mostra a reportagem.
Harry e Gina assentiram.
- Mas nem tudo que está escrito aí é verdade, professor. – disse Harry depressa.
Dumbledore sorriu.
- Imagino que sim, Harry. – ele disse calmamente, embora houvesse um “quê” de divertimento em sua voz, pelo que Harry e Gina perceberam.
Gina olhou para Harry e franziu a testa.
- Vamos começar. – ele disse suspirando. – Primeiro, eu quero que vocês me contem tudo o que aconteceu ontem.
Harry assentiu.
- Bom, em primeiro lugar nós não estávamos juntos em Hogsmeade. – começou Harry. – Eu estava com os meus amigos, Rony e Hermione. E Gina...
- Eu estava sozinha. – disse Gina.
- Quando o ataque começou, eu e meus amigos estávamos no Três Vassouras. – continuou Harry. – Eu lembrei da Gina e saí para procurá-la. Encontrei ela em frente à casa dos gritos e ela estava machucada.
- E como a senhorita foi parar lá? – perguntou Dumbledore se dirigindo a Gina.
- Eu estava andando pelas ruas de Hogsmeade quando o ataque começou, não estava em clima pra fazer compras. – Gina respondeu. – Quando eu estava correndo um homem me empurrou e eu cai. Torci o pé e bati a testa no chão. A casa dos gritos foi o único lugar que eu pensei pra ir. Eu estava machucada, não ia ter a menor chance se duelasse com os comensais. Eu também lembro que eles disseram uma coisa. – completou pensativa.
- O quê? – perguntaram Dumbledore e Harry juntos.
- Teve um comensal que gritou para o outros: “Peguem a garota”. Na hora eu não parei pra pensar, eu já estava machucada e fui logo até a casa dos gritos.
Dumbledore ficou pensativo.
- E essa garota... – começou Harry. – Era você?
- Eu não sei, mas acho que sim. – respondeu Gina. – Quando o Harry me encontrou na casa dos gritos, os dez comensais apareceram.
- Eles queriam levar você? – perguntou Dumbledore.
- Sim. – respondeu Gina.
- Eles disseram que Voldemort a quer. – falou Harry. – Mas não disseram porque.
- Eles disseram que se eu fosse com eles logo, iriam deixar o Harry ir embora. – falou Gina. – Mas eu sabia que eles não fariam isso.
- Claro que não. – disse Dumbledore.
- Harry também não deixou que me levassem. – continuou Gina. – Eles ficaram com raiva e nos atacaram. Ou melhor, tentaram nos atacar.
- O que eles fizeram?
- Eles iam lançar o Avada Kedavra. – respondeu Harry.
- Iam? – perguntou Dumbledore franzindo a testa. – Não lançaram?
- Não, não deu tempo. – respondeu Gina nervosa. – Eles desmaiaram.
- Imagino que o Harry não tem nada a ver com isso como diz no jornal, não é, Srta. Weasley? – ele perguntou com os olhos cintilando em direção a garota.
- Eu não sei. – ela disse desanimada escondendo o rosto com as mãos. – Harry disse que fui eu, mas eu não sei o que eu fiz.
- O que aconteceu, Harry?
- Eu não sei direito. – Harry respondeu. – Ela só levantou uma mão e eles começaram a desmaiar como se tivessem sido atingidos por alguma coisa, mas nada os atingiu. Eu, pelo menos, não vi nada os atingindo.
- Imagino que a senhorita tenha se sentido muito cansada depois disso. – falou Dumbledore.
Gina tirou as mãos do rosto e o fitou durante algum tempo pensativa.
- É... – disse lentamente. – Eu fiquei cansada e tonta.
- O senhor sabe o que aconteceu, professor? – perguntou Harry curioso.
- Tenho alguns palpites, Harry. – disse ele sério.
- Quais? – perguntaram Harry e Gina juntos.
- A Srta. Weasley é a primeira mulher nascida em muitas gerações na família Weasley, estou certo? – ele perguntou a Gina.
- Está. – respondeu ela automaticamente.
- Eu não sei se vocês sabem, mas o número sete no nosso mundo é um número mágico e muito poderoso. – Dumbledore falou fitando Gina.
- E daí? – perguntou Harry sem entender.
Ele olhou para Gina e viu que ela tinha os olhos fixos em Dumbledore e parecia estar entendendo o que ele estava falando.
- Eu sou a sétima filha, Harry. – ela disse balançando a cabeça como se não acreditasse no que estava dizendo.
- Sétima filha? – perguntou Harry entendendo cada vez menos. – O que isso tem a ver com o que ela fez com os comensais? – ele perguntou a Dumbledore.
- Como eu disse, Harry, o número sete é mágico e muito poderoso, ou seja, a Srta. Weasley é muito poderosa.
Harry levou um tempo para absorver a informação. Olhou para Gina de novo e viu que ela estava com a cabeça baixa pensativa, fitando os próprios joelhos.
- E não é só por ser a sétima filha. – continuou Dumbledore. – O nome dela tem sete letras, Ginevra. Seu sobrenome tem sete letras, Weasley.
Gina assentiu lentamente.
- É como se ela tivesse um pouco de sangue de feiticeira. – falou Dumbledore. – Mas só um pouco, por causa da magia do número sete. Se ela fosse completamente uma feiticeira, seria muito mais poderosa.
Gina franziu a testa.
- Isso explica a magia involuntária quando estou com raiva? – ela perguntou em dúvida.
Harry olhou para Dumbledore esperando uma resposta. O diretor sorriu.
- A magia involuntária, sim. – ele falou. – A raiva, não. Suponho que a raiva esteja relacionada com os genes das mulheres da família Weasley.
Gina sorriu fracamente.
- E porque ele estaria atrás de mim? – perguntou Gina depois de um tempo em silêncio.
Ela não precisava dizer quem. Harry entendeu a pergunta e queria saber a mesma coisa. Dumbledore também pareceu entender.
- Existem vários motivos... – ele disse sério. – Quer mesmo saber?
- Sim. – disse Gina com firmeza.
Dumbledore suspirou.
- Ele sabe disso. – ele falou depois de um tempo calado. – Ele sabe do fato da senhorita ser poderosa por ser a sétima filha.
- Mas porque ele quer me pegar?
- Acho que ele quer se livrar de você antes que controle melhor os seus poderes. – disse Dumbledore.
- Controle melhor? – perguntou Gina sem entender. – Eu não sei como fazer isso, mas mesmo que eu soubesse, como isso iria atrapalhá-lo?
- Ele tem medo, Srta. Weasley. – disse Dumbledore sombriamente. – Ele tem medo de todos aqueles que possam ter poder suficiente para derrotá-lo. Ele quer se livrar dessas pessoas enquanto elas não têm controle sobre seus poderes e não podem se defender.
- Como eu. – disse Harry. Gina olhou para Harry sem entender.
- Sim, Harry. – concordou Dumbledore. – Como você. Quando você era um bebê ele teve medo de você poder derrotá-lo quando crescesse, então decidiu acabar com você enquanto não podia se defender.
- Mas eu não posso fazer nada contra ele. – disse Gina sem muita convicção. – Quer dizer, eu nunca demonstrei poder nenhum além de fazer algumas coisas explodirem como qualquer outra criança do mundo bruxo. Como ele acha que eu vou poder derrotá-lo? E agora ele quer me matar.
- Ele já tentou fazer isso uma vez. – disse Dumbledore.
Harry e Gina se entreolharam.
- Na Câmara secreta? – perguntaram os dois.
- Sim. – confirmou Dumbledore.
Gina pareceu assustada e zangada ao mesmo tempo.
- Ele já sabia? – perguntou com raiva. – Todos esses anos ele sempre soube? No meu primeiro ano, ele fez tudo aquilo pra poder se livrar de mim enquanto eu era pequena e não podia fazer nada? Planejou tudo?
Um copo de água que estava em cima da mesa explodiu. Gina apertava os braços da cadeira com força. Harry se aproximou dela e segurou em sua mão tentando acalmá-la.
- Gin, se acalme... – pediu ele. Gina respirou fundo.
- Desculpe, professor. – disse ela mais calma.
- Tudo bem. – disse ele sorrindo e retirou a varinha das vestes.
Ela fez um aceno com a varinha, o copo ficou inteiro novamente e água que estava derramada em cima da mesa secou.
- Sim, Srta. Weasley. – continuou ele. – Ele fez tudo aquilo planejado, desde o começo, o plano dele era se livrar de você.
- Mas o Tom, do diário, ele quis matar o Harry. – disse Gina.
- Sim, ele ficou impressionado com o fato de um bebê ter derrotado um bruxo das trevas poderoso e quis matar o Harry. – Dumbledore concordou. – Mas a senhorita estragou os planos dele.
Gina assentiu.
- Quando ele descobriu que eu tinha pego o diário de volta, ficou com raiva. – disse ela. – Ele achou que eu tinha pego o diário pra ele não contar ao Harry as coisas que eu escrevi nele.
- E não foi por isso. – afirmou Dumbledore sorrindo.
- Não. – disse Gina.
- Não? – perguntou Harry sem entender. – Mas ele me disse que foi por isso, lá na Câmara.
- Porque ele achava que tinha sido por isso. – explicou Gina.
- E foi porque? – perguntou Harry.
- Eu sabia que se você continuasse com o diário ele iria querer te fazer mal. Eu não sei como, porque eu confiava nele, mas de alguma forma eu sabia que ele queria te matar. – disse Gina angustiada. – Se você continuasse com o diário, ele iria fazer você descer até a Câmara e iria te matar lá. E eu não queria que isso acontecesse. Eu fui até o seu dormitório e peguei o diário de volta. Desci até a Câmara e fiquei lá. Assim não tinha como você ir lá e estaria seguro.
- Mas você não estaria. – disse Harry devagar. – Você podia ter morrido. Você quase morreu.
- Mas eu não me importava. – disse ela alto. – Eu não me importava de morrer naquele dia. Você não entende, Harry? Eu fiz mal a muitas pessoas. Todas aquelas pessoas que foram atacadas pelo basilisco podiam ter morrido, a Hermione podia ter morrido. Você podia ter morrido. Mas você foi lá me procurar e quase morreu do mesmo jeito. Eu me arrisquei, não sabia se daria certo, mas me arrisquei mesmo assim. Do mesmo jeito que eu fiz naquele dia, eu faria hoje de novo pra manter meus amigos seguros, e faria quantas vezes fosse necessário. Pra manter você seguro. Eu não me importo de morrer, eu já lhe disso isso.
Gina terminou de falar e ficou sentada na cadeira olhando para o chão sem realmente vê-lo. Harry estava sem palavras. Gina tinha se arriscado por ele. Quase morreu por ele. Dumbledore respirou fundo.
- Acredito que essa seja a razão da ligação entre vocês. – ele falou tranquilamente.
Harry e Gina olharam para ele.
- Que ligação? – perguntaram ao mesmo tempo.
- A ligação mágica de vocês dois. – ele disse sorrindo.
- Que ligação? – os dois repetiram de novo.
Dumbledore sorriu.
- Vocês têm uma ligação forte um com o outro, acredito que possam se comunicar um com o outro mesmo à distância. – disse Dumbledore.
- Como assim? – perguntaram juntos novamente.
- Como você encontrou a Srta. Weasley em Hogsmeade, Harry?
- Ela me disse, quer dizer... ela não disse, eu ouvi... mas não sei como... – disse atrapalhado.
- Harry conversou comigo ontem e agora a pouco quando eu estava na Ala hospitalar, mas não foi uma conversa normal, entende? – falou Gina, também atrapalhada.
Harry achou um pouco difícil que qualquer pessoa entendesse.
- Entendo. – disse Dumbledore sorrindo gentilmente.
Harry franziu a testa.
- Entende?
- Sim, Harry. – ele falou. – O que vocês fizeram foi tipo uma conversa mental.
Harry e Gina se entreolharam espantados.
- Mas isso é... normal? – perguntou Gina em dúvida. – Quer dizer, eu nunca ouvi falar disso. Nós devíamos fazer isso?
- Não, Srta. Weasley. Isso é um dom muito raro. Normalmente, quando duas pessoas conseguem se comunicar desse modo, é porque elas têm uma ligação muito forte. – disse o diretor.
- E nós temos essa ligação? – perguntou Harry. Dumbledore assentiu. – Como?
- Eu acredito que essa ligação foi criada na Câmara Secreta. – disse ele. – Quando a Srta. Weasley pretendeu se sacrificar por você e quando você a salvou.
Os dois se entreolharam incrédulos. Gina balançou a cabeça como se quisesse colocar as coisas no lugar, porque Harry achou que devia estar mesmo tudo bagunçado. Pelo menos na cabeça dele estava.
- E o que eu fiz com os comensais? – perguntou ela.
Dumbledore ficou pensativo.
- Isso eu não sei. – disse sinceramente. – Acho que a senhorita só quis sair dali viva, e deixá-los desmaiados por um tempo foi a única coisa em que pensou.
- Mas eu nem pensei. – falou ela.
- Pensou, mesmo inconscientemente, mas pensou. – disse ele. – É como uma criança que usa os seus poderes involuntariamente. Ela não quer que aquilo aconteça, mas acontece sem ela saber como.
- Ah, que ótimo. – Gina falou sarcástica. – Eu tenho o controle de uma criança sobre os meus poderes.
Dumbledore sorriu amigavelmente.
- Srta. Weasley. – chamou ele. Gina o encarou. – Você não é fraca. Eu já lhe disse isso uma vez e repito agora. Você é uma das pessoas mais fortes que eu já conheci. Poucos bruxos enfrentam Lord Voldemort e vivem para contar a história, você sabe disso. Ainda mais sendo uma criança de apenas onze anos. Só é muito poder para que você consiga controlar agora. Quando você crescer mais, eu tenho certeza que terá total controle dos seus poderes.
Gina sorriu.
- Obrigado, professor. – disse com sinceridade.
- Professor... – chamou Harry.
- Sim, Harry?
- Voldemort sabe dessa ligação entre nós? – perguntou curioso. – Ele sabe dessas conversas mentais?
- Não, Harry. – disse Dumbledore. – Coisas assim Voldemort desconhece totalmente.
Harry não entendeu o que Dumbledore quis dizer com “coisas assim”, mas resolveu não perguntar mais nada. Dumbledore se levantou da cadeira e apoiou as mãos na mesa.
- Acho que já terminamos. – disse ele. – Vocês já podem ir e terminar de tomar café em paz.
- Paz? – perguntou Gina debochada. – Até parece que nós dois vamos ter paz depois dessa reportagem idiota que aquele filho de...
- Gina! – repreendeu Harry.
- O quê? – ela perguntou inocentemente e depois corou levemente. – Ah! Desculpe, professor.
Dumbledore riu.
- Podem ir tomar café, vão. – disse ele abrindo a porta.
Antes deles saírem, Dumbledore chamou Gina novamente.
- Srta. Weasley, é melhor não ficar andando por aí sozinha. – alertou ele. – Não sabemos o que pode acontecer.
- Tudo bem, professor. – disse desanimada.
- Mais uma coisa. – disse ele muito sério. – Aquela pergunta que eu lhe fiz há três anos... a resposta ainda é a mesma?
Harry olhou de um para o outro curioso.
- Sim. – disse Gina. – E eu duvido que ela algum dia mude.
Dumbledore sorriu. Os dois saíram da sala andando em direção ao salão principal pensativos.

Continua...

N/A: Mais um capítulo!!!

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