.: Capítulo 9 :.



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Lembranças


Hermione se revirava agitada, em sua cama. Perdera as contas das vezes em que repetira tal gesto impaciente. A noite se mantinha escura, sem estrelas no céu; nebulosa, assim como seus pensamentos. Tivera uma sorte imensa de Harry não ter a chance de procurá-la, muito embora, desejasse que ele o fizesse. No entanto, não se sentira pronta naquele momento para contar-lhe tudo que a afligia.

Sentou-se na cama, remoendo o lampejo de imagens conturbadas que lhe atingira quando conseguira fechar os olhos por um instante. Além das imagens, sons perturbadores a empertigavam. Com a voz baixa, entoava uma canção de ninar, tentando assim, afastar as sensações que experimentava. Era a mesma canção que Lílian cantava a ela e Harry. Quando nas muitas noites da infância, não conseguira dormir, como agora o fazia.

Abraçou-se, alisando os braços, e se arrepiara, quando uma fina e gelada brisa, se soprou dentro do quarto preso à penumbra. O silêncio da casa denunciava as altas horas que se estendiam a madrugada. Levantou-se da cama, jogando os cobertores de lado. Correu até a janela, e a fechou totalmente; antes, porém, dera uma longa espiada lá fora. E não soubera explicar o sentimento que tão sutilmente a deixava mal.

Mais uma olhada ao seu redor, fora tudo que precisou para saber que não poderia mais ficar ali sozinha. E ainda mais, não poderia guardar tudo que sentia somente para si. Para apenas se angustiar mais. Então, sem pensar em outra coisa, saíra do cômodo. Seus pés a levaram pelo corredor, ligeiramente, e só parara quando estava diante da porta do quarto de Harry. Sem rodeios, Hermione, abrira-a lentamente.

Entrou, caminhando cuidadosa, para que seus ruídos não despertassem mais alguém na casa. O silêncio era tanto, que qualquer vacilo, poderia denunciá-la. E a última coisa a qual queria era que fosse descoberta por Tiago, ali.

Aproximou-se da cama, logo após fechar a porta, para assegurar-lhes certa discrição e segurança; Ao pé do leito, observava Harry dormir tranquilamente. Os lábios entreabertos eram deveras sedutores, compartilhando do mesmo ensejo que toda a sua face serena. Conteve-se para não acorda-lo de súbito, tocando em seus cabelos negros e lisos. O lençol somente o cobria parcialmente, deixando seu torso nu, e forte, a mostra. E Hermione, sentiu-se ainda mais tentada a tocar-lhe.

Sorriu um pouco envergonhada. Por breves instantes se esquecera de tudo que a levara até lá. Só tinha olhos para a figura do moreno, adormecido. Ficou assim, parada, absorta em estudá-lo, por mais alguns minutos. Talvez devesse voltar para seu quarto, e quem sabe tentar com muita força de vontade, dormir. Mas algo muito além de sua razão, a deixava estagnada no mesmo lugar.

Então, entremeio a seu conflito interior, preparava-se para chamar por Harry, quando o mesmo, lentamente fora abrindo seus olhos verdes. Assustou-se um pouco, devido à conectividade de suas ações. Ela somente pensara em chamá-lo, e logo, o namorado despertara.

Ele a fitou, sonolento, parecendo diferir se o que via era um sonho ou realidade. A morena, sorrira ainda mais observando a confusão de Harry. O rapaz sentou-se, e sorriu também. Percebendo que a imagem dela a sua frente, era bem real. Os cabelos longos da bruxa caíam soltos sobre os ombros. E ele notou primeiramente, que Hermione, mostrava-se um pouco mais pálida do que de costume. Deveria ser por conta do parcial escuro em que se encontrava o quarto, cogitou ele.

A moça se adiantou até o auror, e sentou-se ao seu lado. Harry afagou seus cabelos, em seguida fizera o mesmo com seu rosto macio. Ela fechou os olhos, e se aninhou nos braços dele.

- Sentiu minha falta, hum? - murmurou em tom divertido a ela.
- Sim, eu senti sua falta... Acostumou-me mal, Harry... - respondeu, encarando-o. – Agora já não posso dormir sem você...
- Não me culpe por isso, moçinha. Somente ao meu charme natural. - disse, beijando-a suavemente. - Mas... Resolveu vir aqui unicamente para me ver dormir?
- Vim te contar o que queria saber mais cedo, ou não mais está interessado? - replicou Hermione, mordiscando-lhe os lábios.
- Seus assuntos sempre me interessam. - ele falou, sorrindo.

A bruxa se ajeitou de frente para ele. E se calou por instantes. O fitou novamente, e tentava encontrar um meio de começar sem fraquejar logo na primeira frase. Afinal, não queria preocupá-lo ainda mais. Harry pegou uma das mãos pequenas e frias da morena, e a acariciou, lentamente, carinhoso.

- Sempre tento compartilhar meus problemas com você, Mione... Porque dessa vez, está com medo de fazer o mesmo? - perguntou.
- É que dessa vez, o assunto é muito sério e complicado, não são as besteiras que está acostumado a ouvir. - respondeu tristonha.
- Está me assustando, falando dessa maneira... - murmurou ele, preocupado.
- Harry... Eu... - começou, mas tivera que se silenciar outra vez. Buscava coragem para tocar novamente naquele assunto delicado. - Quando estava no arquivo organizando algumas coisas, encontrei um jornal antigo... E nele, continha certas informações sobre mim.
- Sobre você? - indagou Harry, curioso.
- Sim. - respondeu ao mesmo tempo em que assentia com a cabeça. - Sobre o que aconteceu a mim, a morte dos meus pais...
- Oh, Mione... - sussurrou, trazendo-a mais para perto de si, de modo que ficaram quase colados um no outro. - E eu fazendo brincadeirinhas... Que idiota eu sou! - repreendeu-se, lembrando da cena de outrora.
- Não tinha como saber disso, mas... Não fora somente isso, tinha mais!
- E o que mais tinha?
- Eu não estou tão sozinha como pensei antes... Digo... Eu tenho parentes de sangue ainda! - falou Hermione, tirando um peso de si, e de sua consciência. E de certa forma, jogava-os sobre os ombros do rapaz. - Descobri por intermédio da notícia do jornal, que tenho avós, e que são bruxos!

Harry não pudera esconder a surpresa. Ela estava estampada em cada traço de seu semblante, e em suas ações, as quais não foram imediatas. Simplesmente, ainda não captara a intensidade do fato. Hermione tinha uma família além deles, e eram bruxos. Por um momento, não conteve uma súbita pontada de ciúme. Talvez medo. Medo de que ela possivelmente os abandonasse, todavia seu coração se fortalecia prontamente, pois sabia que a ligação que tinham - os dois - não poderia ser futilmente quebrada.

Sua curiosidade, então, se manifestara fortemente após suas reflexões. E ele já formulava milhares de perguntas para fazer, contudo resolvera ir com mais calma, para não assustar a namorada ainda mais. A palidez de Hermione, era maior agora, e mais perto dela, ele julgou que algo estava acontecendo, além disso.

- Acho melhor, não falar mais disso por hoje, você parece cansada...
- Não, Harry, não fique me poupando assim. Eu preciso desabafar de uma vez, acabar logo com isso! Conversei com mamãe mais cedo, mas... Com você é diferente.

Ele sorriu, acariciando o queixo pequeno da morena. Inspirava sem dúvida uma confiança imprescindível em Hermione, e sentia-se orgulhoso por ser digno de tal.

Então, ela recomeçara sua narrativa, dando-lhe mais detalhes do que descobrira, e à medida que ela revelava os fatos que conhecia, Harry se enchia de raiva. Repulsa, por aqueles, que a desprezavam. Pois além das palavras que soavam tristes, via igual sentimento no olhar de Hermione.

O moreno não dissera nada, na verdade, não soubera escolher as palavras certas para aquele momento. Afinal, não poderia ofender pessoas que ele mal conhecia, mesmo sendo estas merecedoras de tais insultos. Aproximou-se mais de Hermione, apertando-a nos braços. Ela encostou sua cabeça no peito dele, e deixou-se embalar pela firmeza de Harry.

- Eu te amo e... Já deve perceber que vou apoiar você no que for que sua cabeçinha decidir. Ainda que eu acredite que ir procurar seus avós seja algo que apenas fará mal a você... No entanto, como eu já disse isso ficará a sua escolha, e eu vou estar do seu lado. Mas quer saber de uma coisa? – indagou, sorrindo torto. - Eles não merecem a neta que tem. – disse carinhoso, buscando o olhar dela.

Ela riu, encarando-o. Seus olhos estavam molhados, mas isso era irrelevante. Ainda não se decidira sobre o que fazer, no entanto, sentia-se segura pra o que fosse. Indo ou não, de encontro aos parentes, sempre teria Harry ao seu lado, e isso a fortificava.

O rapaz segurou-lhe pela nuca, num gesto sutil e cálido. Lentamente, fora se curvando até que suas bocas se encontrassem. Encostou seus lábios nos dela, de modo delicado. Harry a provocava, incitando-a a abrir a boca. Tão logo, ela lhe obedecera no gesto carregado de desejo, fora recompensada pela intensificação do beijo. Os lábios agora se uniam mais afoitos, cheios de ânsia.

- Quer dormir aqui comigo? – perguntou ofegante.
- É claro que sim, achei que não fosse perguntar... – brincou, dando-lhe um beijo suave nos lábios.




Alguns murmúrios, e vozes baixas - ligeiramente alteradas - chegaram até os ouvidos de Hermione. A morena havia entrado a pouco em casa, estranhando o aglomerado de ruídos incomuns. Imaginou e queria que não estivessem com visitas. Sentia-se derrotada, e não queria que mais pessoas a vissem naquele estado.

Sorriu sem jeito, quando se tornara o alvo dos olhares de todos os presentes. Apertou a alça da bolsa, e aproximou-se deles, vagarosamente. Em nenhum momento, os ocupantes da sala, deixaram de fita-la.

Harry sorrira a ela, o único que se atrevera a fazê-lo no momento. Estava feliz por revê-la, e escondeu muito bem o que antes lhe acolhia o coração. Lílian se remexera, inquieta, no sofá e Tonks, mantinha-se distraída, distante. Quanto aos outros dois homens – Tiago e Remo – ambos sustentavam suas fisionomias semelhantes em preocupação. Os dois, sombrios. Trazendo com eles, uma nuvem cinzenta, enegrecendo ainda mais o dia de Hermione.

Como se adivinhasse que aqueles trejeitos rígidos, e apreensivos, representassem uma predição ruim, andara, inconscientemente atraída até o namorado. Seus olhos se encontraram, e ela buscou na imensidão verde, a razão para aquela “reunião”. Não achando uma resposta para sua dúvida, resolveu-lhe perguntar.

- O que houve? – sussurrou a Harry.
- Precisam conversar com você, Mione, é importante. – respondeu no mesmo tom.

Ela virou-se para os demais, e eles continuavam estáticos. Esperando o momento certo para manifestações. Harry agarrou a mão da morena, num ato carinhoso, que chamou a atenção dela para suas mãos entrelaçadas. Antes, Hermione, havia deixado à bolsa no sofá onde Lílian permanecia; e esta agora estava junto ao marido de pé.

Remo sentou-se na poltrona, e encarou o jovem casal. Sempre tão sério, a moça não se surpreendera com sua postura. Mas de certo, havia algo de diferente. Não somente no antigo professor, mas em todos. Notara até mesmo, Harry, um pouco tenso.

- Algum problema? Já souberam que fui demitida? – indagou sem graça.
- Foi demitida? – entoaram em uma única pergunta, Harry e Lílian.
- Fui... Aquela loira monstruosa me delatou para o editor chefe, disse que sou mal educada e que meu lugar era num jornaleco qualquer, e não no Profeta! – respondeu, irritada. – Que eu somente sujaria o nome do renomado jornal se continuasse ali.
- Maldita Rita Skeeter! – resmungou a ruiva.
- Agora não, Lily... – cortou-a Tiago, vendo que a enxurrada de praguejos continuaria, desviando-os assim, do assunto principal.
- Papai tem razão, vou me lamentar e resmungar contra a Skeeter outra hora, talvez nem chegue a tanto. Mas o que queriam falar comigo?
- Querida, queríamos muito que respondesse as perguntas que iremos lhe fazer. – disse Tiago.
- Está tornando tudo muito formal, pai... – Harry falou, respirando fundo.
- O assunto é bem sério, requer todas as formalidades. – retrucou Remo, sua voz parecera a todos, carregada e seca.

Hermione estava confusa, muito mais do que quando chegara. Tentava, agora, entender o que se passava mesmo antes de alguém se pronunciar de fato. Odiava aquele suspense denso. Se precisavam contar alguma coisa, ou até mesmo, perguntar-lhe coisas, porque diabos não o faziam de uma vez?

- Por favor, queiram ir direto ao assunto, hoje não foi um dia feliz... – murmurou a morena, e Tiago, suspirou fundo.
- Certo... O que queremos saber, é se você se recorda de alguns fatos. – disse ele. – Fatos que serão de suma importância para nós.
- É um assunto do ministério? – indagou Hermione.
- Sim, e não. – respondeu Remo, enigmático. – Você poderia nos dizer se recorda-se do que seu pai andava fazendo, do que ele tanto pesquisava, ou talvez, sobre o que ele enfim transcrevera em seu livro.
- Eu só tinha cinco anos, como querem que eu me lembre?! – questionou, irritada. – Achei que soubessem o que continha o livro.
- Sim, era sobre runas... Um estudo mais completo, e detalhado sobre essa arte como ninguém nunca conseguira ter conhecimento. – respondera Lílian.
- Ótimo, sua pergunta fora respondida, Remo. – comentou a moça irônica. – Eu não sei de mais nada, nada que vocês já não tenham ciência.
- Tente se lembrar Hermione, qualquer coisa que nos diga pode ser uma pista... Algo que para você possa ser irrelevante, mas que poderia ser importante em nossa investigação. Precisamos a qualquer custo saber onde se encontra o livro que seu pai escreveu. – falou Tiago, angustiado.
- Por quê? Eu não quero remexer nisso, é difícil pra mim! E sinceramente, não entendo o porquê de saber desse maldito livro, bem como pelo que me consta foi o causador de todo o sofrimento dos meus pais, e consequentemente o meu também! – bradou ela, seus olhos estavam marejados. E o silêncio do lugar, a deixava irritada.

Tiago bufou, passando as mãos pelos cabelos. Desde o inicio sabia que não daria em nada toda essa inquisição. Mas por insistência de Remo, acabara aceitando a sugestão de conversar abertamente. Lílian também não aprovara de cara, mas após reaver a situação em que se encontravam, achou melhor que perguntassem a ela. Por mais que pudesse ser dolorido agora, era para assegurar seu bem estar.

- Nem tentará? – insistiu Lupin. O amigo se controlava para não dar logo um fim naquilo, e por muito pouco não tomara essa atitude. Hermione o encarou, e riu cinicamente.
- Tentar me lembrar das ruínas em que minha vida ficou? Quer que eu me lembre de como a minha mãe morreu...? Ou quer que eu diga como senti medo naquele dia... Pois é tudo isso que eu lembro! Não sei de nada que querem, não tenho conhecimento nenhum sobre o que meu pai fazia. Agora se me derem licença...

Soltou a mão de Harry, e apressada correra para fora da casa. O silêncio ainda permanecera entre todos após sua partida. Tiago sentou-se no sofá, e Lílian, lhe afagava os ombros. Realmente não obtiveram nenhum sucesso. E apenas fizeram com que Hermione se exaltasse lembrando das coisas terríveis pelas quais passara.

Ela, porém, sentia-se literalmente acabada. Num só dia, aconteceram tantas coisas. No mais, sentia-se nauseada, tonta. Talvez estivesse doente. E os fatos que vivenciara, somente contribuíam para seu mal estar. Ninguém poderia entender o que se passava em seu interior, nem mesmo ela, compreendia.

- Ninguém pode entender...

Ao escutar os murmúrios baixos, perdidos no vento, Harry virou-se e enxergara Hermione sentada sob a sombra das folhagens do carvalho, que se agitava com a brisa; imaginou que ela estaria por ali e seu palpite como sempre estava correto.

A conhecia muito bem.

A grande árvore que servira de entretenimento na infância, agora servia para escondê-la de todos. Hermione sempre ficava ali, quando queria ficar sozinha, ou somente pensar na vida. A vista que se fazia era de todo reflexiva. A imensidão verde dos vales era inspirador. O grande carvalho que crescera demasiado no quintal, fora marcado com suas iniciais, um trabalhoso ato de Harry, mas que ficaria preso ali por várias gerações.

Ele sorriu brevemente, a morena presa em suas divagações nem o notara. Possivelmente não ressalvaria nada que não fosse o que se passara a minutos dentro de casa. A moça ficara muito transtornada com a quantidade de coisas a qual fora submetida. A qual, de certa maneira, fora obrigada a remoer. Revirar no fundo de sua alma o que havia se passado há anos atrás quando ainda era apenas uma garotinha.

Durante todos aqueles anos, ela fizera questão de não mencionar nada sobre seu passado. Pouco falava da mãe, da casa em que viviam, das coisas que gostava e principalmente sobre o pai. E durante todo esse tempo, sua vontade de permanecer focada apenas em seu presente, fora respeitada. Entretanto, a situação momentânea era outra. Envolvia certas complicações. Certos fatos que dispensavam importância.

Como a sua própria segurança...

Era verdade que Harry pouco sabia sobre tudo, possivelmente saberia de mais no decorrer dos dias, ou quando finalmente deixasse de ser tratado como uma criança e passasse ao “cargo” de auror e integrante da Ordem da Fênix. Usufruindo de tudo que tal posição merecia. A confiança nas responsabilidades. E uma delas era a morena a sua frente.

Ela o fitou, e encolheu-se, abraçando aos joelhos. Escondera o rosto, certamente chorava.

- Eu não quero me lembrar de nada, na verdade, eu não me recordo de muito. Para que me torturar dessa maneira? – falou a bruxa quando Harry sem convite sentara-se ao seu lado.
- Mione, não quero que se sinta pressionada, mas é significativo que faça um esforço e se lembre pelo menos de algumas poucas coisas. Não quer tentar?

Sabia que se insistisse mais um pouco ela acabaria cedendo e tranquilamente lhe contaria qualquer coisa que fosse. Precisavam disso, e de certo modo todos contavam com ele para que alguma informação nova pudesse ser usada para os fins da Ordem.

Hermione voltou seus olhos para a sua frente, fixou-se em qualquer outra coisa que não fosse às pressões que vinha sofrendo. Nem se focara em Harry, porque ele também a pressionava, mas de uma forma sucinta e diferente da dos demais. Enxergava em seus olhos a curiosidade e a necessidade de suas palavras, e duramente desenterraria tudo de dentro do peito.

- Eu era muito pequena, só queria a atenção do meu pai, eu não sabia de nada do que ele fazia. Ele ficava tanto tempo enfiado na biblioteca, e se esquecia de tudo. Da vida, da mamãe, de mim. E de certo modo eu também queria ficar lá, me sentia perto dele, inclusa na sua rotina...

Começou e Harry passara a prestar mais atenção no relato da namorada. Finas lágrimas escorreram dos olhos tristes de Hermione, e ele prontamente as limpou. Seria sempre assim, pensou a bruxa, ele estaria ali ao seu lado para curar-lhe as feridas, e consola-la. Harry era seu porto seguro, alguém que poderia se firmar em todas as ocasiões. Sentia-se agora, um tanto mais confiante para contar-lhe mais.

- Quando ele sumiu minha mãe também ficava sentada na cadeira dele, olhando para o nada. Ela alisava as suas roupas, os seus objetos, por pouco não se esqueceu de mim também. Foi difícil, levou um tempo até que ela recobrasse os ânimos. Ela já havia se conformado de que seríamos só nós duas...


O tempo em Norfolk nunca parecera condizer realmente com o que se passava dentro do coração de Elizabeth Granger. Há algumas semanas morando naquele vilarejo, especificamente naquela casa, o céu nunca fora tão cinzento como agora estava. As densas nuvens o cobriam e rapidamente ela retirara as roupas secas e cheirosas do varal disposto no quintal pequeno.

Dera uma rápida olhada no céu, uma outra vez, e em seguida fitou a pequena garotinha que brincava no gramado verde. Os cabelos castanhos da menina eram iguais aos seus, e cheios como os do pai. Eles se embaraçavam à medida que o vento aumentava seu ritmo. As mãozinhas sujas se livravam rapidamente dos fios que insistiam em lhe cegar. A garotinha olhava encantada a um formigueiro. E de vez em quando ela ‘ajudava’ alguma formiga que se perdera no caminho. Recolocando-a dentro de sua casa. Seu sorriso era grande e bonito, e por um momento a mulher esquecera-se de suas agonias.

A falta de notícias do marido, era sua pior aflição. Ainda mais quando a última que recebera fora um bilhete apressado, amassado, que dizia para se esconderem ali. Parecera a ela muito mais que um pedido, as palavras do marido, lhe caíram como uma despedida. Um adeus forçado.

Guardara as roupas no cesto de vime e o encaixara na cintura. Caminhou até a filha, parando perto dela.

- Mione, meu amor, acho melhor entrar com a mamãe...
- Aaah! Ah, não... Mãezinha me deixa ficar aqui vendo as formiguinhas? – pediu ela sem tirar os olhos dos insetos.
- Querida, vai começar a chover daqui a pouco, não quero que fique aqui sozinha também. – explicou carinhosa, e a menina fizera um beiçinho aborrecido.
- Mas se chover as coitadinhas das formiguinhas vão morrer de tanta água. Como elas vão fazer, será que elas sabem nadar?- perguntou, e Elizabeth rira.
- Não meu bem, elas não sabem nadar, mas vê aquela árvore ali? – Hermione assentira, levantando-se do chão. – Ela, com suas frondosas folhas, vai proteger o formigueiro... E suas amiguinhas vão estar salvas até que a chuva passe. Espertas não? Construir sua casa em baixo das folhas?

A menina sorriu e abaixou-se novamente, murmurou algo para as formigas. Algo que a mãe distinguira ser um relato do que ela mesma contara há pouco. Então após sua ‘conversa’ Hermione se erguera.

- Agora agente pode ir, eu disse para elas que iria ficar tudo bem e que não precisavam ter medo da chuva. Porque eu não tenho mais medo da chuva!
- Certo, então vamos entrar por que a senhorita precisa de um bom banho. – falou e a filha sorrira travessa, em seguida partira em disparada para dentro de casa. – Hermione não corra dentro de casa!

Escutara o som das risadinhas da menina, certamente ela começava a procurar um cantinho para se esconder. Era sempre assim quando um banho a esperava. Balançou a cabeça a esmo, e subira as escadinhas que levavam a uma pequena e modesta varanda. Assim como o restante da casa, a qual era muito menor que àquela que viviam antes.

Deixara o cesto em cima do balcão, se ocuparia das roupas mais tarde, no momento sua garotinha era mais importante. Era sua prioridade.

Após encontrar a filha, atrás da cortina - cujo fato predominante para sua descoberta, fora os pezinhos se mexendo por sobre o tecido - a levara para o banheiro. Depois de a menina estar devidamente limpa, ela escolhera seu pijama favorito, e fizera a mãe contar-lhe as histórias fantásticas de ‘mágicas’ que tinha conhecimento, e mesmo sabendo que teria que reconta-las mais a noite, Elizabeth as narrou com entusiasmo.

Realizava-se por Hermione, despertar a magia que ela não conseguira florear. A vida da filha, seria diferente da sua, disso não tinha questionamentos. Pudera ver nos olhos dos pais - quando contara a eles que sua menina era uma bruxa - o brilho que não tivera quando os mesmos descobriram que ela era um aborto. E de todo sentia-se muito feliz por orgulha-lhos, mesmo que por intermédio da filha. Esperava também que a carta que mandara a Sirius, tivesse seu destino certo nas mãos do bruxo. Ele também ficaria feliz por isso.

- Mamãe... Eu não acho minha meia coloridinha... – resmungou a pequena despontando na cozinha.
- Eu as coloquei em cima da cama, não é possível que tenham criado...

Um baque ensurdecedor a fizera se calar. Parecia que os vidros da sala, tinham todos se partido em estilhaços. Voltou-se alarmada para a menina, que assustada, agarrou-se a suas pernas. O coração da mulher batia acelerado, o medo a consumia. Temia tanto por Hermione. E sentia-se incapaz de racionar com clareza. Somente sabia que tinha que tirar a menina dali. Fosse o que fosse, sabia que a ameaça agora tomava o rumo da realidade.

Pegou-a no colo, e sem averiguar com minúcia o que estava acontecendo no outro cômodo. Partira escada a cima, a fim de esconder Hermione. Quando chegou ao topo da escada, rumou pelo corredor parcialmente escuro. A menina nada dizia, estava muito amedrontada para dizer qualquer coisa que fosse. E Elizabeth sabia que aquelas pessoas apenas queriam o que o marido escrevera em seu livro, nada mais, então poupariam Hermione se não a encontrassem; o que rezava fervorosamente para que acontecesse. Perdera o marido, era um fato cada dia mais veraz, mas morrer tendo a idéia de que a menina não sobreviveria, seria um martírio muito cruel. Ela era apenas uma criança, e teria a vida inteira pela frente.

Seu coração, agora estava apertado. Tentava controlar-se, e inutilmente não conseguira segurar as lágrimas. Já previa o pior...

Entrou no quarto, e fechou a porta atrás de si, trancando-a. Sabia que não os tardaria; que a porta trancada seria somente uma barreira que sua mente frágil insistia em criar para confortá-la. “Seria como soprar uma pluma”, pensou ela. Colocou Hermione no chão, e a fitara. Seus olhinhos mostravam confusão, e temor.

- Querida, que tal brincar de esconder agora? – indagou, e sorriu fracamente.
- Agora?
- Sim... Preciso que se esconda bem aqui. Vai ser uma brincadeira diferente. – disse, Elizabeth, abrindo as grossas portas do armário de madeira, bem escondido em seu quarto.
- Mas vai saber onde vou estar... – falou Hermione, coçando os olhinhos.
- Por isso vai ser diferente desta vez, só a mamãe poderá saber onde você está... – olhou para a porta, e escutou passos firmes, talvez vindo em sua direção. – Outras pessoas não poderão saber, entendeu bem?
- Quem não pode saber?As pessoas más... Eles quebraram o vidro, né?
- Exatamente, meu bem... E quando tudo acabar, eu vou tirar você daí de dentro... Então, só saia se eu chamar você.

Hermione assentiu, e antes de entrar, dera um beijo demorado nas faces molhadas da mãe. Esta sorrira, em meio às lágrimas. A pequena então, colocara sua mãozinha sobre o rosto da mulher, e limpou-o. Sorriu, e Elizabeth sentiu-se despencar em um abismo. Teria de ser forte, para que a última lembrança de sua filha fosse à de que era uma mulher segura.

- Eu te amo querida... Fique bem quietinha, aí dentro. – beijou-lhe o topo da cabeça, e quando a menina entrara, fechou a porta, deixando apenas uma pequena portinhola de madeira furada, aberta.

Mal se virara, e a porta do quarto se escancarou de uma só vez. Por instinto, recuara, afastando-se do armário. Suas mãos tremiam, assim como suas pernas. Nunca sentira tanto medo em sua vida, quando seus olhos pousaram-se sobre os homens que entraram vorazes. Todos eles vestidos com roupas escuras, suas figuras eram assustadoras.

- Elizabeth Granger, é um prazer revê-la... – saudou com frieza o mais alto dos homens, ele tomava a dianteira dos demais. Era Keegan. – Foi difícil encontra-la, mas nada é impossível para mim... Nada!
- O que quer aqui, Bristol? – perguntou firme, escondendo o receio em sua voz.
- É uma pergunta um tanto óbvia, não acha minha cara? – aproximou-se dela, que permanecera imóvel, apenas respirava irregularmente. – Seu marido tem uma coisa que me pertence, e creio eu, que ele escondera-a por aqui. – falou por fim, examinando o aposento.
- Não há nada aqui, e você sabe que Logan não aparece há muito tempo... Então perdera sua viagem.
- Eu sei bem disso, seu marido é um homem fraco, Lizzie. Sinceramente, você merecia algo melhor que um trouxa obcecado. – disse, afagando a face, dura, da mulher. – Ele ficou louco, certamente, fora isso a causa maior para que enfim fosse para o além. – a pose sólida de Elizabeth desaparecera diante aquelas palavras. – Você não sabia, não é? Que Logan agora é um cadáver em uma vala?
- Vá embora, por favor, Logan não deixou nada comigo. Tudo que ele tinha... Seus estudos, seus rascunhos, você levou tudo! Porque não me deixa em paz!

Ele apenas deixou-se rir brevemente, para assumir sua postura rígida de outrora. Sabia que ela escondia algo, que tinha conhecimento de tudo que o idiota do Granger fizera. E o próprio num momento de loucura deixara escapar tal informação. Mas não seria tão fácil com ela. Disso também estava ciente.

- Vou ser direto, e claro, Lizzie...
- Não me chame assim, seu cretino! – bradou.
- Eu sabia que era corajosa, mas não imprudente. Você não está em condições de ofender-me. – num ímpeto de raiva, ele agarrara Elizabeth, pelo pescoço. Apertando-o moderadamente, para não sufoca-la de vez. – Como eu dizia, Lizzie, vou ser claro e direto... Onde Logan escondeu o livro de Runas?
- Já disse que não sei... – murmurou com a voz abafada.
- Argh! Raios, mulher! Diga de uma vez, ou vai querer que use um de meus ‘truques’?
- O que faria? Já fizera tudo de ruim a mim... A minha família! – retrucou áspera. – Não tenho mais nada a perder, Bristol.
- E sua filhinha, hum?
- Não pode machucá-la, está bem longe daqui. – falou melhor, quando ele afrouxou seus dedos.
- Que pena, mas eu não acredito em você. Ela deve estar por aqui, em algum lugar. E se não me disser agora mesmo, onde está o meu livro, eu vou achá-la. E vou torturá-la bem diante de seus olhos, e depois, você imploraria para que eu a matasse. Ou eu poderia deixar isso a seu encargo?
- Minha filha está em segurança, não pode fazer mal a ela. – disse mais uma vez.
- Está com aquele idiota do Black, não é? Eu bem que desconfiava de vocês dois, mas Logan, nem me dava ouvidos. “São só amigos...” Eu não acredito nisso. – insinuou, e ela o olhara feroz. – Bem, não vim aqui de todo modo, atrás da fedelha, tanto faz se está aqui ou não, mas seria divertido tortura-la. – o silêncio o respondera. - Não vai me retrucar desta vez, querida?- a mulher ficara calada, já não tinha mais forças, estava fraca. - Vasculhem tudo, papel por papel, em cada gaveta desde quarto. Vou cuidar de você, Lizzie...

Os olhinhos atentos de Hermione tentavam visualizar o que acontecia no quarto. Ela quisera sair de seu esconderijo, mas lembrou-se do que a mãe recomendara. Não poderia deixar que ninguém soubesse onde estava. Mordeu os lábios, e encolheu-se mais no cantinho do armário.

Um lampejo de luz verde iluminara o quarto, inclusive dentro do esconderijo da menina. A luz era muito bonita, e de novo, Hermione quisera sair. No entanto, não ouvira mais nada, nem a mãe a lhe chamar. Sinal de que deveria ser obediente...

Logo o silêncio fora quebrado, pela voz insólita de antes.

- Então?
- Nada, Senhor... Não encontramos nada. – respondeu um de seus subordinados.
- Maldito Granger! – esbravejou Keegan. - Mas ambos pagaram bem caro por sua insolência... – emendou, fitando o corpo estendido ao solo. – Vamos embora, mas antes, quero deixar algo para nossos queridos aurores...

Então, eles saíram do quarto, deixando somente a lua fraca, a iluminar tudo... ”


- Eu saí pouco depois que aqueles homens deixaram o quarto. Fui até a minha mãe, e tentei acorda-la... Mas ela não...

Harry a abraçou forte, sua garganta queimava. Os soluços da namorada, o machucavam também. E melhor seria ficar em silêncio, pois se falasse, certamente, sua voz soaria falha. Entretanto, nenhuma palavra que conseguisse pensar, poderia acabar com a dor que Hermione sentia. Nenhuma palavra seria boa o bastante para aquele momento. Nunca pudera imaginar que ela havia passado por tantas coisas terríveis. Nunca pudera chegar ao fundo da tristeza dela, mas agora, ele fora até lá. Ao ínfimo onde ela resguardava seus medos, e inseguranças. E tinha certeza que se fosse ele em seu lugar, talvez não tivesse sido tão forte quanto a bruxa fora.

Estreitou-a mais em seus braços, e jurou que nunca mais Hermione sofreria algo assim, e obstinado cumpriria sua promessa. A livraria de todos os infortúnios que pudesse.

Sempre cuidaria dela...





N/A: Oh, glória, minha crise ta passando, finalmente! Esse capítulo foi bem melhor que o anterior, eu em senti um pouco satisfeita com ele. Espero que tenha acertado nos fatos que narrei, nele. O Harry é uma graça mesmo, ele é tão perfeitooo! Todo preocupado com a Mione. E o fato de ele sentir medo até de ela deixa-los, foi mara. Mas sabemos que contra os Potter, não há ninguém! Bem, em relação aos avós da Mione, com o tempo vocês saberão mais... Vamos ver se eles mudaram depois desses anos, se abrandaram seus corações, mas isso é para outros capítulos.

Eu tentei passar um pouco do fatídico acontecimento da morte da mãe da Mione, no flash back. Espero que vocês gostem, e que tenha dado para entenderem mais. Notaram que há mais coisas no ar... A amizade do pai da Mione com o Keegan, o Black, sim, é o Sirius. Kkk, obvio que é ele. Tem muito mais por aí gente, digo, nessa questão da Elizabeth com o Sirius, mas era só amizade mesmo. Mas, ainda posso mudar de idéia né? Kkkkk... Ops, estou revelando coisas demais.

Bem, gostaram da capa, agradeço a Luxuria Black, que a fez. Ficou realmente mara, deu um toque sombrio a fic, agora que as coisas irão mudar um pouquinho, e não digo nada sobre o bebê. Acho que alguém disse, e todos já devem imaginar o que é kkkkkkkkk. Eu não devia te-la colocado agora, mas enfim, o mal já esta feito.

Agradeço a todos que comentaram, e todos que inteiraram a cota de coments, para a atualização. Nome chique para chantagem, né? Kkkk. Agradeço a todos, de coração! *-* THANKS pessoinhas amadas. Aguardo mais comentários nesse capt, que ficou enorme para meus padrões kkk.

Beijos.

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Comentários (1)

  • Márcio Black

    Pô que pena que você está em Hiatus, sua fic é fantástica e muito gostosa de se ler, e aparentemente nos reserva muitos mistérios. Curti bastante o casal HH rs, estão lindos! Bom, torço para que você atualize em breve =D 

    2013-06-14
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