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_Ora, Alvo! Outra vez chorando!

O silêncio do outro disse tudo. Justamente por causa desse silêncio, Minerva sabia que novamente os sentimentos mais cruéis e destrutivos que acometiam os brios daquele que ela considerava o maior bruxo, mais competente, talentoso, poderoso e capaz que ela conhecera algum dia, ou que tivera notícia, que tivera sabido existir.

Sim. Ele sempre ostentava muita calma, sobriedade, equilíbrio e, acima de tudo, sabedoria. Ostentava, sem arrogância todas essas qualidades que realmente abundava em sua personalidade. E seu privilegiado intelecto sempre falara muito alto, ostentando por si ainda mais uma qualidade, essa sim, conquistada não sem muito esforço e trabalho: a humildade.

Ela, somente ela e mais três bruxos em toda o mundo, sabia a verdade sobre esse velho, que parecia nunca envelhecer, apesar dos cabelos e barbas brancas que já carregava há muito tempo. Esse bruxo que diante de qualquer necessidade, mostrava-se mais jovial e bem disposto ao trabalho do que muitos mais novos do que ele, do que ela, do que Hagrid e do que Doge. Bem verdade que eles aprenderam infinitamente com esse homem de extrema generosidade. Também Snape aprendera com ele. Nunca entenderia porque Dumbledore insistia em manter esse bruxo, do qual todos desconfiavam, entre os seus amigos mais íntimos, a ponto de lhe confiar sobre sua vida na mesma proporção que a nós, que sempre estivemos ao seu lado. A ponto de preferir o auxílio dele ao nosso em tantos assuntos, principalmente nesses últimos tempos.

Nunca achei que Snape seria a pessoa indicada para ensinar oclumência ao Harry. Sim, ele era, entre todos nós, amigos íntimos de Alvo, e membros da ordem, profissionais do ministério, talvez o melhor em todo o mundo bruxo. Mas eu tanto pedi a ele que me deixasse ensinar o garoto, em vez de Snape. O garoto gostava de mim. Sim, eu sei que costumo inspirar um certo temor nos alunos, mas Snape?! Ele simplesmente habitava os pesadelos de todos. E além disso, era flagrante toda a antipatia que nutriam mutuamente. Eu previra o fracasso das aulas, mas Alvo sempre reafirmava, até mesmo mal contendo a intransigência, que o mais indicado era Snape.

_Alvo, eu avisei a você, essas incursões à penseira, remexer as memória, não poderiam lhe fazer bem. Não sei o que você tanto vasculha e mostra a Harry, mas eu poderia, se você quiser, ou precisar, guiá-lo em seu lugar. Meu amigo! Você já sofreu tanto... Como eu gostaria de poupá-lo... Ao menos um pouco... Deixe-me ajudar você, diga-me. O que eu preciso fazer.

_Ah! Minerva, minha querida amiga... Apenas me faça companhia, e chame Hagrid. Sinto tanto! Entenda, Minerva. Preciso apenas do apoio de vocês. Preciso sentir que não estou sozinho. Porque não posso errar novamente. Não com Harry, não da mesma forma que errei com minha irmã. Por isso preciso fazer tudo o que estou fazendo, pessoalmente. E por favor, não subestime as coisas que tem feito por mim. Sem sua ação, seu apoio, sua colaboração,e acima de tudo, sua mente e seu coração, Minerva, já estaríamos derrotados, talvez mesmo nem tivéssemos conseguido manter Harry em segurança durante todos esses anos.

Eu olhava com ternura para o meu amigo tão querido. Conjurei um patrono e quase imediatamente um gato cintilante pulou pela janela dos aposentos de Alvo, rumando direto até a cabana do Guarda-Caça de Hogwarts. Meu olhar não se desviava, e meu pensamento viajava na velocidade de uma perfeita aparatação, entre um ponto e outro que, no momento, eu optava por calar na garganta. Ainda não entendia tantas decisões que Alvo tomara, desde quando os Potter foram atacados e mortos. Porque Snape foi selecionado como o guardião-mor da vida de Harry. Eu propus a Alvo que nós o trouxéssemos para Hogwarts, e eu seria para o garoto como uma mãe. Mas ele preferiu deixá-lo naquela casa de trouxas, e logo aqueles trouxas ignaros. Em Hogwarts Harry estaria tão seguro quanto lá. Ok! O feitiço de sangue, aquela magia antiga. Ele optara pelo correto. Claro que para Harry foi melhor crescer na segurança da casa dos tios. Mas porque Snape? Porque não eu? Talvez até Hagrid. Àquele brutamontes desde o princípio coube o papel de mensageiro e guarda-costas do garoto. Ok! Compreensível. Definitivamente Hagrid era, entre todos nós, o mais resistente e, se fosse preciso defender Harry, ele suportaria melhor do que nós outros a uma batalha, e apesar do tamanho, sou obrigada a admitir, o grandalhão é bem veloz. Mas porque Snape foi escolhido para cuidar do bem estar e da educação de Harry antes de ele vir a Hogwarts? Porque confiar a ele a obrigação de garantir que os Dursley não iriam tentar se livrar de Harry, como, aliás eles chegaram a fazer, deixando-o naquele orfanato trouxa imundo. Pedi a Alvo para me deixar ir resgatar Harry e levá-lo de volta para os tios, e exigir que eles o aceitassem, até mesmo, visto que Alvo não me aceitava de nenhuma maneira, cheguei a indicar Hagrid, mas ele escolhera categoricamente Snape, e nada o persuadia.

Mas é necessário admitir. É muito difícil contrariar Alvo. Sempre acabamos por nos encontrar convencidos bem no meio de nossos mais concatenados argumentos. E como recriminá-lo por ser tão persuasivo? E como recriminarmos a nós mesmos, quando sabemos que o velho sabe o que faz, que é perspicaz, e se confiamos mesmo cegamente nele, e... a verdade era sempre essa... nunca diferente em nenhum ponto.... inalterada.... como negar que o amamos, como a um pai, a um irmão, a um mestre enfim?!

Ninguém alem de quatro bruxos, entre os quais tenho o privilégio de estar incluída, tem acesso ao coração de Alvo. E nós, por podermos afirmar que somos considerados por ele mesmo seus melhores amigos, sabemos, sim, ao contrário do que muitos pensam e até mesmo garantem, sobre todo o seu passado.

Não o sabemos porque ele nos contou, ou porque descobrimos. Ele fez questão de nos mostrar tudo, na penseira. Participamos de toda a sua angustia, de todo o drama, de cada um dos momentos mais doloridos da vida do Mestre. Vimos quão grande foi a alegria do menino Dumbledore ao presenciar o nascimento de Aberforth, depois de Ariana. Vimos a vida que sua família levara em Mould-on-the-Wold. Como eram felizes! Como eram carinhosos e dedicados os pais de Alvo. E como a magia exalava, transbordava pelos poros de todos eles! Kendra, por ter nascido trouxa em uma época em que o preconceito contra eles era ainda mais rigoroso, impressionava pelo total controle de um número incontável de feitiços. Era uma curandeira exemplar, e colaborava nesse aspecto com todas as famílias bruxas suas vizinhas então. Era incrível em transfiguração; transformava uma capa velha em um belo abajur tão facilmente como poderia dizer “Olá” com aquele sorriso encantador, que fora com certeza o que conquistara o coração do proeminente Percival Dumbledore, grande inventor de objetos mágicos. Quantos objetos mágicos usamos hoje que fora inventado por aquele gênio? Só posso afirmar então que Alvo teve de onde ‘puxar’ todo o seu talento. Os meninos começaram, todos eles, a manifestar a magia muito novinhos. Alvo, aos cinco anos já havia aprendido tanta coisa com os pais, que pela sua memória pudemos testemunhar várias ocasiões em que ele ajudava a mãe nos serviços domésticos fazendo os móveis levitarem, e sem o uso de varinha. O ministério não teria como rastreá-lo porque Kendra estava sempre próxima, realizando outros feitiços para limpar e arrumar as coisas em casa. Já aberforth, sempre mais genioso, demonstrara talento nato para o duelo desde cedo: por puro instinto aprendera sozinho a criar em torno de si um escudo poderoso, que impedia os pais de se aproximarem dele para corrigi-lo quando aprontava alguma molecagem. Mas Ariana sem dúvida fora um prodígio no mundo mágico. Ou teria sido. Com apenas dois aninhos já transfigurava suas chupetas em balinhas macias. Kendra ficava preocupada, mas não conseguia conter um certo orgulho pelo talento que sua filha, tão novinha, já demonstrava. Era impossível negar a garotinha qualquer guloseima que ela quisesse comer: Ela as trazia para perto de si levitando. Aos dois aninhos de idade.

Até que aquela coisa horrível aconteceu. Aqueles trouxas! Ok! Eu compreendo que eles definitivamente não sabiam o que estavam fazendo. Mas foram cruéis. Mas não se pode esquecer que há também muitos bruxos cruéis. E aquilo foi o fim de toda a felicidade daquela família. Percival reagira da pior maneira possível e isso lhe custou a liberdade, depois a sanidade, e por fim a própria vida, enquanto Alvo, Aberforth, a pequena Ariana e a dedicada mãe ficavam completamente indefesos, agora mais do que nunca, alvo de toda espécie de preconceitos possíveis, e acometidos de muito temor. Ariana nunca voltaria a ser a mesma, e o pior... a magia que se manifestava nela jamais se extinguiria. Definitivamente a família precisava se mudar. Sumir, de preferência. Godric’s Hollow era inegavelmente o lugar mais seguro. Um lugar bem camuflado e, na época, uma das últimas comunidades genuinamente bruxas do mundo. Era para lá que precisavam mudar, e se manteriam bem preservados, distantes de todos, discretos e reclusos. Sim. Kendra também nunca mais voltaria a ser a mesma. Toda a severidade que ela desenvolvera, percebemos, assim como Alvo, que toda ela era resultado de sofrimento e temor, por causa incontinência mágica da pequena garotinha.

Testemunhamos também, nas lembranças do velho e querido amigo, todo o sofrimento que a morte de Kendra causara, todo o peso das responsabilidades que o jovem Alvo quisera assumir, trazer para si, na tentativa de não prejudicar ainda mais os irmãos, principalmente Aberforth. Testemunhamos a chegada de Grindewald na vida do jovem solitário e tristonho. Compreendemos os motivos pelos quais Alvo dançou com as trevas, e pudemos perceber a sinceridade ingênua e inconseqüente com que criara o lema tão famigerado posteriormente: “Para o Bem Maior”.

E vimos exatamente como foi que aconteceu toda a briga que resultou na morte da garotinha, ainda tão jovem, e tentando conter dentro de si tanta magia, tanto poder. A garotinha que tivera a vida destruída muito antes de sua morte, mas que, tão querida que era pelos irmãos, foi-se, levando consigo toda a paz dos irmãos que ficaram.

Vimos a união e confiança de Aberforth por Alvo se esvair, como um recipiente esburacado tentando conter a água.

E pudemos ver, tanto nas memórias, dentro da penseira, quanto nos olhos de Alvo, que ele jamais se perdoaria pelo que aconteceu, e que jamais superaria tanto sofrimento.

Sim, nós, sem dúvida, sabíamos que Alvo era humano. Genial, mas tão humano quanto qualquer outro homem ou mulher, bruxo ou não, na face da terra. E éramos os únicos a testemunhar, a partilhar o sofrimento desse homem venerável, e os únicos dos quais ele aceitava apoio.

A porta do aposento se abre e um homem incomumente grande adentra. Não diz palavra. Apenas segue até o leito onde o velho e respeitável bruxo se encontrava jogado, e o abraça forte. Tão forte que se faz necessária a minha intervenção antes que Alvo se visse sufocado ou com costelas fraturadas. O imenso homem, não se contendo ao ver o amigo sofrer, aliás, como sempre acontecia, começa a chorar também, e, por incrível que pareça, é isso que leva Alvo a reencontrar seu equilíbrio, não conseguindo conter o sorriso de gratidão, ternura, carinho, e inegavelmente, graça. Porque, por mais sinceras que fossem aquelas lágrimas, não deixavam de ser um tantinho cômicas.

Enfim aparentando estar recuperado, Alvo enfim se ergue daquela cama.

_Meus amigos. Amanhã é uma nova segunda feira e eu preciso preparar muitas coisas no escritório. As provas finais estão chegando e preciso ordenar a Mme. Pince que averigúe se todos os alunos estão em dia com a biblioteca, preciso ordenar que os elfos da cozinha providenciem as provisões para a semana. E preciso preparar tudo. Precisarei sair, em missão muito importante para o futuro de Harry, da Ordem da Fênix, da grande guerra contra Voldemort, e levarei Harry comigo. Por isso, preciso preparar tudo minuciosamente, pois não poderá haver falhas, e aquela caverna é bem perigosa.

_Professor! Do que está falando?

_Na hora certa todos saberão.

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