The Hardest Part



Capítulo Três


The Hardest Part


- Chegamos.


James tomou fôlego ao parar em frente a sua própria casa. As luzes estavam apagadas e a rua, silenciosa. Ele sabia, porém, que no momento em que abrisse a porta, tudo se acenderia e gritos de “surpresa” encheriam o ambiente. Como que para confirmar suas suspeitas, olhou para a casa em frente à sua e viu as luzes também apagadas, o que só podia significar que seus tios e primos também estavam ali, esperando-o.


- Não dá mais tempo de desistir, James – falou Teddy pacientemente. Ele passara o dia inteiro junto do rapaz, com a missão de distrai-lo enquanto a festa era preparada. James mencionara voltar para casa e contar toda a verdade várias vezes durante o dia, mas sua coragem se esvaía cada vez que ele cogitava aparatar.


- Preciso de um tempinho – falou James, aflito, torcendo os dedos por dentro do bolso do casaco.


Dentro da casa onde a festa aconteceria, havia Weasleys e amigos por toda parte: alguns atrás do sofá, outros embaixo da mesa ou da escada e outros encolhidos contra a parede. Albus, que estava próximo da janela da sala, espiou discretamente por uma fresta da cortina e viu o irmão parado em frente da casa, ao lado de Teddy, parecendo hesitante. Com estranhamento, franziu a testa. Rose, escondida atrás de uma poltrona, sussurrou para o primo:


- O que foi?


Albus deu de ombros.


- Não sei. O idiota está parado na frente da casa.


- Teddy está falando com ele? – perguntou a menina. Lily cutucou-a e reclamou:


- Silêncio!


- Teddy está falando com ele, sim – respondeu Albus, ainda espiando pela janela. - É. Eles estão sérios e... James está vindo! James está vindo!


Os três se calaram novamente e esperaram nervosos. Ao ouvirem a maçaneta girar, Hugo, que estava ao lado do interruptor, acendeu as luzes, dando a deixa para que todos pudessem sair de seus esconderijos.


Por mais que a festa não fosse mais uma surpresa, James ainda sentiu lágrimas virem a seus olhos quando todos saíram de seus lugares e encheram o ambiente de gritos e vivas. Sua mãe, cada vez mais sensível pela gravidez, abraçou-o com força e enxugou o canto do olho, feliz. Após infinitos abraços, os quais ele mal sabia de onde surgiam, os últimos a chegarem a ele foram seus irmãos e seus dois primos. James viu a expectativa nos olhos de cada um e falou:


- Obrigado. Ficou ótimo. Obrigado, de verdade.


- Caso você tenha odiado as faixas, já aviso que foi ideia das meninas – falou Albus, em tom de brincadeira. Rose olhou torto para ele.


- Amei tudo. Rose, Lily, as faixas não podiam estar melhores – respondeu James. Lily deu um sorriso debochado para Albus.


- Estão todos querendo falar com você. – Harry colocou uma mão sobre o ombro do filho e puxou-o para longe dos primos e dos irmãos. O pai tinha um brilho de orgulho nos olhos que James nunca vira antes. Parecia feliz como nunca.


- Ele parece ter gostado muito – falou Hugo olhando para o primo de longe. – Acho que fizemos um bom trabalho.


Os outros três assentiram satisfeitos. Era raro conseguir reunir toda a família Weasley. Anualmente, Molly Weasley organizava um almoço familiar e a maioria dos parentes aparecia, mas sempre havia alguns faltantes. Aquela ocasião parecia ser uma das poucas em que veriam a família, com todos os primos e tios e parentes, distantes e próximos, juntos.


- Olá.


Lily sentiu um sobressalto ao ouvir a voz que viera de trás de si.


- Vince! – exclamou, soando mais animada do que gostaria. Ao abraçá-lo, viu por cima de seu ombro, Hugo afastando-se irritado, mas ignorou o próprio remorso. Não fizera nada para sentir-se daquele jeito.


- Desculpe pelo atraso – falou o rapaz.


- Tudo bem, tudo bem! – Lily fez um gesto despreocupado com as mãos. – Só familiares chegaram antes. Muitos outros convidados não chegaram ainda. O importante é que você veio.


- Eu não perderia a oportunidade de ver voc... James! Eu não perderia a oportunidade de ver o James.


- Ótimo – falou Lily, sentindo o coração bater cada vez mais rápido. – Ele está bem ali. Vá falar com ele enquanto eu faço uma coisa e volto logo, certo?


A menina saiu a passos apressados, correndo os olhos ligeiramente pela sala. Viu Rose encostada em uma parede, conversando com Albus e correu até ela.


- Com licença, preciso dela por uns minutos – falou para o irmão, puxando a prima pelo braço até a cozinha. Chegando lá, encostou a porta atrás de si e olhou em volta, certificando-se de que não havia ninguém por lá.


Tomando fôlego, Lily explodiu:


- Ele disse que queria me ver!


- Ele quem?


- VINCENT!


- Calma! Como foi exatamente que isso aconteceu?


A ruiva olhou em volta novamente.


- Ele chegou e se desculpou pelo atraso. Eu disse que não havia problema. Daí, ele disse que não perderia a oportunidade de ver o James, mas ele quase disse “você” antes disso.


- Eu?


- Não, tonta. Eu! Ele ia dizendo “você”, mas se atropelou e disse “James” para disfarçar, entende?


- Sim, sim. Que legal, Lils – falou Rose. Lily, porém, pôde notar que ela não estava completamente animada com a notícia.


- Você não parece achar tão legal – disse ela, cruzando os braços.


- Não, eu realmente estou feliz. Você conseguiu o que queria – respondeu ela, dando meiosorriso. – Mas eu não posso deixar de me preocupar com o meu irmão, entende?


Lily suspirou. Detestava ter que falar daquele assunto para o qual, diga-se de passagem, ela nunca achava uma solução.


- Eu entendo. E sei que você também entende o meu lado, Rosie. Ele é meu primo e eu nunca vou conseguir vê-lo de outra forma. É difícil mudar esse tipo de coisa.


- Nem sempre – disse Rose, pensativa.


Lily olhou-a intrigada.


- Como assim?


Antes que a mais velha pudesse pensar numa resposta, porém, Albus adentrou a cozinha.


- Rose, venha ver quem chegou.


A ruiva sorriu radiante. Quando se virou para sair, Lily segurou-a pelo ombro.


- Espere. – Ela passou a mão pelos cabelos ondulados de Rose. – O que você fez no cabelo?


- Ah, usei umas coisas.


- Você nunca usa “coisas”. Eu até já tinha desistido de tentar. Quem conseguiu o que eu não consegui por anos?


Rose encarou-a, mordendo os lábios, aflita.


- Eu queria contar, mas não posso. Quando eu puder, você será a primeira, certo?


Lily assentiu, franzindo a testa.


- Ótimo. – Rose saiu em disparada, com a prima em seu encalço.


Scorpius estava conversando com Albus, quando as duas se aproximaram. Abruptamente, ele interrompeu o que estava falando.


- Oi – disse ele a Rose. Esta acenou timidamente.


- O que vocês estão fazendo? – perguntou Albus. – Vamos, se abracem! Que jeito é esse de se cumprimentar agora? – O garoto empurrou Rose para junto do amigo, e os dois se abraçaram, estranhamente desconfortáveis com a situação. Lily olhou de um para outro, sem precisar de muito para entender o que se passava. Como todos os homens, Albus não se atentava aos detalhes, portanto não percebia nada. Mas ela percebeu.


- Ei, Albus, por que você não vai à cozinha e pega algo para o seu amigo beber? – falou a menina. – Eu vou cumprimentar algumas pessoas. Enquanto isso, Rose faz sala para o seu convidado. Não é mesmo, Rosie?


Rose fitou Lily demoradamente. Ela conhecia aquele olhar. Era um olhar de quem acabara de perceber algo e estava se gabando em silêncio por isso.


- Até. – A mais nova deu um aceno e saiu.


Scorpius olhou para os lados, checando se não havia ninguém por perto. Ao ter certeza, sussurrou:


- Não tenho recebido cartas ultimamente.


- Eu sei. Eu escrevi várias, mas não consegui enviar nenhuma. Tem tanta coisa acontecendo por aqui, você nem imagina.


- Entendo – disse ele. – Albus me contou tudo. É que sinto sua falta quando você não escreve.


Ela sorriu, sentindo-se desmanchar por dentro.


- Eu também sinto a sua, quando não escrevo.


As mãos de ambos se tocaram de leve, por alguns instantes.


- Rose, quero contar a ele.


A menina suspirou. Lembrar de Albus a fez soltar a mão de Scorpius.


- Eu também quero. Mas não sei se Albus entenderia. Ele é ciumento, você sabe...


- Bom, talvez ele não reaja tão bem no começo, mas ele vai acabar entendendo. Tenho certeza disso. Albus é meu melhor amigo e você é da família dele.


Rose hesitou por alguns instantes. A ideia de contar a Albus que ela e Scorpius estavam namorando, desde o ano passado, pelas costas dele parecia assustadora, embora fosse o certo a fazer. E agora, quando já fazia tanto tempo que estavam escondendo aquilo, imaginava que a reação seria a pior possível.


- Certo – falou, decidida. - Não passa de hoje.


- Ótimo. Assim que nós contarmos a ele, - disse Scorpius, malicioso - vamos poder fazer isso sem medo.


Ele aproximou seu rosto do dela discretamente. Rose olhou para os lados. Todos estavam distraídos e conversando alto. Ninguém veria se fosse rápido.


- Rose?


Sobressaltada, a menina olhou para trás de si. Albus estava parado, segurando um copo. Olhava do amigo para a prima, sem entender porque estavam tão próximos um do outro.


- É só impressão sua, Scorpius. Não tem uma espinha no seu queixo – disse ela, afastando-se dois passos do rapaz.


- Que bom – respondeu ele, de um jeito que Albus julgaria como estranhamente aliviado. – Pedi para Rose me olhar de perto. Você sabe como eu odeio espinhas. – Ele sorriu para Albus, esfregando a mão no queixo.


Albus riu, divertido.


- Cara, não se pede a uma menina que veja suas espinhas, sabe? Ainda bem que Rose é só sua amiga.


Rose e Scorpius se olharam, sem reação. Depois, riram alto.


- Ok, não foi tão engraçado assim. – Albus entregou o copo ao amigo. – Vamos sentar ali na varanda. Temos muito que conversar.




Do segundo andar da casa, Lily ouvia as conversas e risadas altas que vinham da sala. Procurara Hugo por todos os cantos do primeiro andar, até que resolvera subir. Ele devia ter se escondido em algum dos quartos depois de vê-la junto com Vincent.


Viu, no fim do corredor, um único cômodo com a luz acesa. “Ele deve estar lá”, pensou. Aproximou-se do quarto, e espiou pela porta semi-aberta. Avistou duas figuras conhecidas, mas nenhuma das duas se parecia com seu primo.


- Teddy, eu vou descer e contar tudo aos meus tios. – Lily reconheceu a voz nervosa de Victoire, sua prima mais velha.


- Você não pode fazer isso! – replicou uma voz masculina que ela identificou como sendo a de Teddy. – Você vai humilhá-lo na frente de toda a nossa família!


- Eu não vou gritar aos quatro ventos! Vou apenas chamar Harry e Ginny e falar discretamente: “Tia, tio. Seu filho não conseguiu os pontos para entrar para a Escola de Aurores. Tudo isso é uma farsa e ele não pretende contar a vocês nunca”.


Repentinamente, a porta se abriu com força e uma ruiva, vermelha de raiva, explodiu adentro do quarto. Tinha que ser uma brincadeira de mau gosto.


- O QUÊ?


Victoire arregalou os olhos, parecendo sentir-se repentinamente acuada. Teddy passou a mão pelos cabelos, em desespero. Se ele bem conhecia Lily Potter, em cinco minutos seus gritos de fúria estariam invadindo a sala.


- Lily, nós... – começou Victoire. – Nós não queríamos...


A loira se calou, não sabendo como explicar a situação à prima mais nova. Em vez de sentir-se decidida, como estivera havia poucos minutos, sentia-se culpada. Lily era a maior fã do irmão mais velho. Não conseguia sequer mensurar a decepção que ela estaria sentindo naquele momento.


- DO QUE VOCÊS ESTÃO FALANDO? MEU IRMÃO ESTÁ MENTINDO?


- Fale baixo, por favor! – suplicou Teddy, rezando para que as conversas no andar de baixo se sobressaíssem à estridente voz de Lily.


- EU NÃO VOU FALAR BAIXO! QUERO SABER O QUE ESTÁ HAVENDO! MEU IRMÃO NÃO MENTIRIA SOBRE ISSO!


- Lily.


Hugo entrou no quarto de James, olhando com estranhamento para a situação. Lily estava possessa; com o que, ele não sabia. Estava no quarto ao lado quando ouviu os gritos incoerentes da prima.


- Não grite novamente – pediu Teddy à menina, com cautela. – Pelo amor de Merlin.


- James está mentindo para nós – falou ela a Hugo, cerrando os punhos para controlar a própria raiva. – Ele não conseguiu os pontos para ir para a Escola de Aurores. Todo esse tempo, e ele não disse uma palavra para se corrigir. Mentiu descaradamente. Não só para nós quatro, mas para os meus pais, para os seus pais, nossos avós e toda a nossa família.


- Não, Lily. Ele se importou – falou Teddy, aproximando-se da menina. – James quis tomar coragem para contar. Ele apenas tinha muito medo de decepcionar a todos vocês.


- Não acredito – disse Hugo, incrédulo. – Eu não consigo...


- Eu quis que ele contasse. Eu tentei convencê-lo esse tempo todo – falou Victoire. – Sinto muito que vocês tenham descoberto desta forma.


- Vocês três eram os únicos que sabiam? – perguntou Lily. – Teddy, você deixou que nós planejássemos tudo isso.


O rapaz abaixou a cabeça.


- Eu não podia obrigá-lo a contar. Além disso, James me fez prometer guardar segredo.


- Como vamos contar à nossa família? – indagou Lily, olhando para o primo. – Minha mãe e meu pai... Eles vão morrer de desgosto. Minha mãe está grávida, como nós vamos...


- Nós não diremos nada agora – falou Hugo, sério. – Não podemos fazer isso, Lily, você sabe.


- Como ele pôde esconder isso de nós?


- Não é tão grave assim – falou Hugo, colocando a mão sobre o ombro dela. – Nós quatro vamos descer, vamos fingir que nada aconteceu, e amanhã conversaremos com ele e com minha irmã e Albus.


- Albus e Rose têm que saber hoje – disse ela, cruzando os braços decidida.


- Não. Vamos fazer o que eu falei – redarguiu Hugo, firme. – Venha.


Ele estendeu a mão para a prima. Em silêncio, os quatro desceram.




Pela janela da varanda, que dava para a sala dos Potter, Rose pôde ver seu irmão e três de seus primos descendo a escadas. Lily não parecia bem.


- Albus – chamou ela, interrompendo a conversa do rapaz com Scorpius. – Há algo errado.


- Crianças! – Antes que Albus pudesse dizer qualquer coisa, Ginny apareceu. – Hora do jantar. Vamos?


Os três levantaram-se e entraram na casa. Várias mesas haviam sido postas pela sala. Na mesa de jantar comum, estavam as comidas e bebidas. Rose, Albus e Scorpius sentaram-se na mesma mesa em que estava James. Hugo e Lily juntaram-se a eles.


- Já tem um discurso em mente? – perguntou Albus a James. – Papai vai querer que você diga algo. – O mais velho deu um meio-sorriso. Pensara em algo do tipo: “Olá, família. Quero dizer que estou muito triste por não ter entrado para a Escola de Aurores, mas que esta festa de mentira que meus irmãos e primos tiveram tanto trabalho para fazer está ótima. Bom apetite”.


Mas, ao pensar uma segunda vez, talvez devesse trabalhar aquilo um pouco melhor.


- Vou falar o que estiver sentindo na hora – respondeu. – Você sabe, sou bom com as palavras.


- Sabemos bem – retrucou Lily, sem olhá-lo. Hugo fitou a prima pelo canto do olho. James, sem entender, indagou:


- Algo errado, Lily?


Ela suspirou. Num primeiro momento, parecia disposta a dizer que não; mas, como Hugo já esperava que a prima fosse fazer, disse:


- Descobrimos tudo, James.


- Droga... – sussurrou Hugo para si mesmo.


Albus e Rose olharam-se, sem compreender.


- Sabemos que você mentiu. Você não entrou para a Escola de Aurores. Você nos enganou.


James ficou repentinamente nervoso. Qualquer possibilidade de discurso desapareceu de sua mente. Olhou para Teddy e Victoire, sentados num outro canto da sala e encontrou suas expressões apreensivas fitando-o.


- James... – Rose, incrédula, chamou-o como quem tinha algo a dizer. Na verdade, porém, tudo o que ela queria era uma explicação. Albus, boquiaberto, olhava para o irmão num misto de raiva e decepção.


- Isso é sério? – perguntou.


James sentia o corpo todo tremer.


- Acho que vou sair por um minuto – falou Scorpius, quebrando o silêncio que se abatera sobre a mesa. Lily, porém, segurou-o pelo braço.


- Fique – disse ela tranquilamente. - Afinal, você é uma das muitas pessoas que perderam tempo vindo até aqui para parabenizar meu irmão por uma mentira, e também merece ouvir uma explicação. Então fique, por favor. James é ótimo com as palavras. Sei que ele tem algo a nos dizer.


James tomou fôlego para começar a se explicar, mas Harry levantou-se, antes que ele pudesse dizer algo, e pediu a atenção de todos.


- Antes de começarmos... – ele olhou para James, como que indicando que ele teria que levantar-se.


- Ah, não. Droga – disse o rapaz.


-... meu filho James tem algumas palavras a dizer.


James procurou algum apoio nos olhares dos primos e irmãos, mas todos haviam se fixado em algum outro ponto da sala. Ninguém o correspondeu.


Levantou-se e olhou em volta. Seu tio Ron e seu pai olhavam-no com orgulho. Sua mãe e Hermione sorriam alegres, encorajando-o.


- Eu...


Sua avó, Molly, enxugou uma lágrima no canto do olho, e seu avô, Arthur, levantou o polegar para ele, sorrindo. Seus olhos brilhavam por trás dos óculos.


-... queria dizer que...


Dominique e Louis olharam-no com expectativa, assim como Fleur e Bill. Havia uma infinidade de primos e tios pacientes, esperando ouvir o que ele tinha a dizer. Luna e sua família também esperavam.


Após uma longa pausa, James concluiu:


-... não posso fazer isso.


A incompreensão foi geral. Todos se entreolharam como se perguntassem uns aos outros o que estaria acontecendo. James pôde ouvir alguns: “Ele está nervoso, é só” e outros: “ Acho que ele se emocionou e perdeu as palavras”. Sentindo pesar os olhares de Rose, Lily, Albus e Hugo atrás dele, o rapaz prosseguiu:


- Eu não consegui os pontos no N.I.E.M.’s para me tornar auror. Eu não estou indo para a Escola de Aurores, como eu sonhei desde criança. Não tive coragem de contar isso antes, por medo de decepcionar quem sempre confiou em mim. Acontece que, não faz muito tempo, meus primos e irmãos descobriram a verdade pelas bocas erradas. – James lançou um olhar furtivo a Teddy e Victoire. – Eu sei que poderia ter evitado isso e peço desculpas. Mas agora que as pessoas para quem eu mais tive medo de contar sabem, não posso continuar com isso. Mil desculpas.


Ninguém disse nada.


- James... – alguém o chamou num tom idêntico ao que Rose usara. Ele olhou para o lado e viu sua mãe, com as mãos na cintura. Seus pais e tios ainda o olhavam duvidosos, esperando que ele dissesse que tudo aquilo era uma brincadeira de mau gosto. James não quis olhar novamente para a plateia, que o fitava pesadamente. As taças, que haviam sido levantadas para o brinde, foram baixadas.


- Ainda assim, obrigado por terem vindo – falou ele.


James saiu disparado pela escada, para o segundo andar. Ainda pôde ouvir algumas vozes o chamando, mas ignorou-as. Ninguém veio atrás dele.




- Merlin – falou Ginny, sentando-se.


- Calma. Você não pode ficar nervosa – disse Hermione, colocando a mão sobre a barriga dela.


- OK, família Weasley e amigos. A festa acabou – gritou Ron, vendo que Harry estava paralisado na cadeira. – E, tudo bem, podem levar comidinhas no bolso. Afinal, são quase dez horas e ninguém aqui jantou, certo?


Nenhum membro da família parecia indignado. Todos foram saindo, mais chocados do que furiosos e entendendo que a família precisava ficar sozinha.


- Ron... – Molly e Arthur Weasley vieram em direção do filho, mas ele interrompeu-os.


- Pai, mãe, desculpem, mas agora vai ser impossível conversarmos. Prometo que amanhã nos falamos.


- Só diga ao James – falou Molly – que nós o amamos.


Ron sorriu.


- Eu direi.


Rose, Albus, Lily e Hugo permaneceram sentados, sem saber como tomar parte na situação. Scorpius levantou-se e disse:


- Melhor eu ir – disse ele. – Até depois.


- Scorpius – chamou Rose. – Você pode, por favor, me esperar na minha casa? Eu não demoro.


O garoto olhou-a, duvidoso.


- Não pode passar de hoje. Estaremos lá em um minuto.


- O que não pode passar de hoje? – perguntou Albus, olhando do amigo para a prima.


- Temos que conversar sobre um assunto mais tarde.


Scorpius assentiu, com um gesto de cabeça.


- Estarei lá.


Albus tencionou perguntar novamente, mas Hermione chegou a passos duros e interrompeu-os.


- Vocês estavam sabendo disso? – perguntou, olhando de um para outro.


- Descobrimos há pouco, mãe – respondeu Rose. – Foi agora mesmo, por acidente. Não tivemos tempo de contar. Mas se tivéssemos, não contaríamos do mesmo jeito.


Hermione olhou furiosamente para a filha.


- Rose!


- Nós não traímos um dos nossos, mãe. Não importam as circunstâncias. Foram vocês e nossos tios que nos ensinaram isso – disse Hugo, em defesa da irmã. – Você, papai e tio Harry deviam saber disso melhor do que todos.


A expressão dura na face da Hermione mudou lentamente. Ela meneou a cabeça e suspirou, em sinal de compreensão.


- Tudo bem. Vocês não tiveram tempo.


Hermione voltou para a sala-de-estar, onde Ron tentava inutilmente acalmar Harry e Ginny.


- Será que devíamos dar uma olhada em James? – perguntou Albus. – Ver se ele está bem e tudo?


- Não – respondeu Lily, secamente. – Vamos dar a ele um tempo para pensar no que ele fez.


- Lily, não seja tão como eu – falou Rose. – Já passou, ok? Vamos superar isso.


- Vamos. Mas não hoje. Além do mais, não acho que ele esteja a fim de receber ninguém – disse ela. – Vou para o meu quarto. Boa noite.


- Vamos indo, também – falou Rose a Hugo. – Albus, Scorpius deve estar nos esperando.


- Rosie, estou meio cansado. Será que isso não pode ficar para...


- Não – falou ela. – Vamos indo?


- Hum... vamos – respondeu ele, desconfiado.


Rose e Hugo despediram-se dos tios, que já pareciam mais calmos. Albus falou que já voltava.


Enquanto atravessavam a rua, Rose viu Scorpius calmamente sentado em um dos bancos de sua varanda.


- Bem, vou dormir. Até mais – falou Hugo, acenando para Scorpius e entrando em casa.


Os outros três se viram sozinhos. Rose sentou ao lado de Scorpius e Albus tomou o outro lado. Disse:


- Ei, talvez fosse melhor você dormir lá em casa hoje. Está meio tarde para você voltar, só precisamos avisar...


- Albus – interrompeu Rose -, temos uma coisa para contar.


- Uma coisa boa – acrescentou Scorpius, embora soubesse que aquilo não ajudaria muito.


Albus olhou de um para o outro, desconfiado.


- Estou esperando.


Rose e Scorpius entrelaçaram as mãos sobre o colo dele. Albus baixou os olhos para a cena, como se já entendesse o que viria a seguir.


- Estamos namorando – disse Rose.


Se por um lado sentia que havia tirado um grande peso de suas costas, parecia que o havia jogado com tudo sobre o primo. Sentiu a mão de Scorpius apertar ainda mais a sua.


- Quanto tempo faz isso? – perguntou Albus, impassível.


Ambos hesitaram.


- Algum tempo – falou Rose.


- Quase um ano – disse Scorpius, sem pestanejar. – Foi no começo do sexto ano.


Albus continuava fitando as mãos dos dois. Começou a estralar os próprios dedos com força, como se quisesse quebrá-los.


- Todo esse tempo – falou, quase num sussurro – e agora é que vocês decidem me contar? Depois de “quase um ano”?


- Sentimos muito – disse Rose, suplicante. – Tínhamos medo de que você nunca aceitasse.


- E o que te fez pensar que eu aceitaria agora, então? Hein? Você agiu muito pior que o James! Os dois agiram!


Albus se levantou furioso. Enquanto descia os degraus da varanda, virou-se novamente e disse:


- Acho melhor você voltar para sua casa, Scorpius. E pode começar a procurar outro melhor amigo também.


O rapaz não olhou para trás novamente enquanto seguia seu caminho. Scorpius e Rose permaneceram em silêncio por alguns instantes, até que ele perguntou:


- Foi melhor do que você esperava?


- Sinceramente? Não – respondeu Rose, com um suspiro. – Mas nós vamos superar isso. Acho que, daqui para frente, teremos que superar muita coisa. Todos nós.


- É. E tudo vai dar certo, no fim das contas – disse Scorpius. – Posso usar sua lareira?


Ambos entraram em casa. Scorpius pegou um punhado de pó-de-flu, de um vaso em cima da lareira e deu um beijo rápido em Rose.


- Boa noite – falou.


- Boa noite – disse ela. – Ei?


Ele se virou novamente.


- Amo você.


Ele sorriu enquanto adentrava as chamas esverdeadas.


- Eu também.


Scorpius desapareceu.


 

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