For a Pessimist, I'm Pretty Op

For a Pessimist, I'm Pretty Op



 Capítulo Dois


For a Pessimist, I’m Pretty Optimistic


 


Embora o verão estivesse para terminar, o sol ainda se abatia incansável sobre Londres.


 


Na rádio e nos canais de televisão, a previsão era de que o calor fosse, aos poucos, diminuindo e dando lugar ao outono. Ainda que às vésperas de Setembro, porém, os dois Granger-Weasley e seus vizinhos Weasley-Potter, não queriam se importar com esse fato. Não queriam se lembrar de que, em duas semanas, teriam que levantar da grama onde ficavam deitados todas as tardes, tomando sorvete e conversando. Lily não queria se lembrar de que teria seus N.O.M.’s naquele ano, assim como Albus e Rose gostariam de esquecer que logo prestariam seus N.I.E.M.’s. James, embora animado com a idéia de iniciar sua carreira como auror, preferia a sombra daquela árvore a uma sala apertada do Ministério da Magia. Hugo, que não conseguia se lembrar de nenhum fato especial para o quarto ano, apenas queria ficar ali para sempre, saboreando aquele sorvete de creme e jogando xadrez. As férias eram boas demais para terminar, e tudo estava bem do jeito que eles queriam.  


 


Exceto por alguns acontecimentos recentes, que eram, no mínimo, atordoantes.                                                                                                                               


 


- Será que eu sou uma pessoa ruim por não me sentir tão... feliz?


 


A pergunta partiu de Lily, quebrando um grande período de silêncio. Embora ela a houvesse feito daquela forma tão vaga, todos souberam logo do que se tratava. Afinal, o assunto “novo membro da família” estava em pauta havia duas longas semanas, desde o anúncio da notícia até aquele dia, no qual cinco jovens descansavam sob a sombra da grande árvore do jardim dos Granger-Weasley, cansados de estarem descansados.


 


Rose, James, Hugo e Albus interromperam abruptamente seus jogos de xadrez quando Lily falou. A garota estivera em silêncio por vários minutos, deitada e de olhos fechados, enquanto esperava para formar dupla com alguém do time perdedor e jogar uma partida contra o time vencedor. Era assim que eles se revezavam. E, aparentemente, o tempo que geralmente Lily passava cheia de impaciência servira para lhe dar algo em que pensar daquela vez.


 


Ela odiava admitir para si mesma que fora quem menos calorosamente recebera a notícia do novo irmão. Assim que seus pais anunciaram a gravidez inesperada, Albus e James correram para abraçá-los, enquanto Lily não conseguiu se mexer. Ficou sentada, de braços cruzados e boquiaberta pelo que pareceram cinco longos minutos. Depois, foi até os pais e abraçou-os, sem muita emoção.


 


- Por que vocês nos esconderam isso durante todo esse tempo? – perguntou, soando mais desgostosa do que pretendia.


 


Ginny e Harry se olharam, como se buscassem a resposta um no outro. Foi a mãe, então, quem tomou as rédeas da situação.


 


- Não sabíamos como contar, filha – disse ela, acariciando os cabelos ruivos da mais nova. – Vocês já estão crescidos, não esperavam e nem querem outro irmão...


 


- Mas estamos felizes – interrompeu James, sorrindo para a mãe. Ela devolveu um largo sorriso para o filho mais velho. Lily, porém, não se comoveu. Realmente, não esperava e nem queria um irmão. Embora estivesse tentando arduamente parecer um pouco menos infeliz, tudo o que conseguia expressar era aquela expressão resignada.


 


- Vamos contar a Ron e Hermione – falou Ginny, apanhando um casaco que estava jogado em cima do sofá. – Vamos?


 


Os três seguiram os pais em direção à casa da frente. Do lado de fora da casa, uma brisa cálida e convidativa. Ginny e Harry iam à frente, abraçados. Pareciam aliviados, diferentemente das últimas semanas. James e Albus, ainda em estado de choque, iam conversando, com Lily entre eles.


 


- Não é estranho? – perguntou James, franzindo a testa. Albus assentiu, arregalando os olhos por trás dos óculos. Lily limitou-se a dar um sorriso aborrecido e andou um pouco mais rápido, para ficar longe dos irmãos.


 


Chegando à porta da casa vizinha, Ginny tocou a campainha. Alguns segundos depois, escutaram o barulho de várias fechaduras se abrindo e Rose apareceu à porta, surpresa por vê-los ali àquela hora.


 


- Olá... – falou ela, vagamente. Abriu espaço para que os cinco entrassem.


 


- Olá, querida – respondeu Ginny, dando um beijo na testa da sobrinha. – Seus pais estão aí?


 


Rose meneou a cabeça.


 


- Vou chamá-los.


 


Antes de subir, ela lançou um olhar furtivo aos primos. Franziu a testa para Lily, que olhou-a da mesma forma que fazia quando estava de castigo ou era obrigada a escrever uma longa redação sobre a revolta dos duendes.


 


A família esperou sentada no sofá. Instantes depois, Hermione, Ron e Hugo desceram. Rose veio logo atrás.


 


- O que houve? – disse Hermione, erguendo as sobrancelhas.


 


Novamente, Harry e Ginny se olharam cheios de expectativa. Lily calculou que aquela era a vigésima vez em que faziam aquilo na mesma noite.


 


- Temos uma notícia – falou Harry. – É algo muito bom.


 


- Eu falo? – perguntou Ginny ao marido. Ele consentiu, e a mulher tomou fôlego. – Ron, Hermione, Rose, Hugo... estou grávida.


 


O casal, assim como Hugo e Rose, olhou de um para o outro, todos com a mesma expressão surpresa. Ginny e Harry sorriam exultantes.


 


- Mas isso é ótimo! – exclamou Hermione, correndo para abraçá-los.


 


- Vocês são doidos – falou Ron. – Quase se livrando dos três primeiros e resolvem ter outro...


 


- Ron! – censurou-o Hermione.


 


- É brincadeira, Mione – justificou ele, enquanto abraçava Harry. – Você sabe, esse é meu jeito de receber notícias boas.


 


Hugo e Rose foram até James, Albus e Lily. Rose mal continha sua felicidade, com a idéia de ter um bebê por perto. Hugo lhes dirigiu o mesmo sorriso calmo de sempre.


 


- Parabéns pelo novo irmão! – Rose se largou no sofá de forma tão brusca, que Lily teve que se segurar no braço do sofá ao pender para trás. Enquanto a prima abraçava James e Albus, ambos ao mesmo tempo, Hugo sentou-se ao lado dela. A menina não olhou para ele.


 


- Parabéns – disse o garoto. – E aí, qual é a sensação de deixar de ser a irmã mais nova?


 


Aquilo foi a gota d’água para Lily. Ela se levantou e foi para casa, sem que ninguém percebesse, além de Hugo, que permaneceu desentendido, no sofá.


 


Duas semanas se passaram e a vida seguia em frente. O assunto continuava comentado, já que sempre que os cinco encontravam-se, algum dos Granger-Weasley perguntava: “E aí, como vai meu sobrinho?”, ou “E aí, como vai meu priminho?”. Porém, agora, as conversas sobre aquilo se amornavam. Até Rose, que ficara particularmente empolgada em ter um bebê na família, se continha quando Lily estava por perto. Não que a menina tivesse se queixado do fato de estar ganhando um irmão. Mas sempre que a simples menção da palavra vinha à tona, ela parecia evasiva e calada.


 


A pergunta daquele dia - sobre ela ser uma pessoa ruim - foram as primeiras palavras de Lily sobre o assunto, desde que o recebera. Ninguém soube como reagir.


 


- Você não é uma pessoa ruim – falou Hugo. – Você só está demorando mais do que todo mundo a se acostumar com isso.


 


- Por quê? - perguntou ela, se levantando e recostando a cabeça no ombro do garoto. Antes que ele respondesse, Rose arriscou:


 


- Talvez por você ser a mais nova.


 


- Eu acho que é tudo birra – falou Albus, sem desviar os olhos do tabuleiro de xadrez. Rose lançou-lhe uma olhadela torta.


 


- Tenho que concordar – falou James. – Quer dizer, nem Rose, nem eu e nem Albus reclamamos de nos tornarmos irmãos mais velhos.


 


- Você tinha um ano quando Albus nasceu – retrucou Hugo.


 


- Ainda assim – insistiu o garoto. – Você não está se esforçando para aceitar, Lily.


 


Sem ter resposta alguma na ponta da língua, Lily se levantou. Não parecia aborrecida, mas, pelo jeito como ela saiu, deu a entender que gostaria de ficar sozinha.


 


- Não estou com muita vontade de jogar xadrez, ok? – falou, enquanto desamarrotava as próprias roupas. – Vou ficar lá dentro por algum tempo.


 


<hr>


 


- James e Albus estão sendo tão injustos com ela – comentou Hugo com a irmã, após entrarem em casa. Rose estava na cozinha, enchendo um copo com água. Deu um gole e franziu a testa para o garoto, como se ponderasse sobre o assunto.


 


- Eu entendo por que eles disseram aquilo – falou. – Lily é um pouco drástica.


 


Hugo deu uma risada debochada.


 


- Olha quem fala!


 


Rose enrijeceu os músculos do rosto, nada feliz com a resposta. Hugo realmente conseguia irritá-la em poucas palavras, de vez em quando.


 


- Não precisa ficar ofendido só porque eu fiz uma crítica aberta à prima pela qual você é apaixonado – falou ríspida.


 


O garoto corou da cabeça aos pés à simples menção da última palavra. Antes que pudesse responder, porém, um ruído de algo batendo na janela chamou a atenção de ambos.


 


Uma coruja parda e altiva bicava o vidro, com uma carta presa à pata. Pela etiqueta que lacrava o envelope, Hugo teve certeza de que viera de Hogwarts.


 


- Será que...


 


Rose nem sequer esperou que ele desse seu palpite sobre o que se trataria aquilo. Correu para a janela e escancarou-a, dando passagem ao bicho.


 


- Os resultados! Os resultados! – repetia ela em júbilo.


 


Ele se aproximou da irmã.


 


- Não, espera. James e Albus devem ter recebido também. – A mão dela estava trêmula. – Vamos até lá.


 


Ela saiu em disparada pela porta, e Hugo seguiu-a sem pressa.


 


<hr>


 


Cinco minutos antes que a coruja chegasse a Rose, ambos os Weasley-Potter haviam recebido seus respectivos resultados. Uma outra coruja trouxe dois envelopes lacrados pelo inconfundível selo de Hogwarts. Quem estava na sala naquela hora, sozinho e com o pensamento voltado justamente para os resultados dos N.I.E.M.’s, era James.


 


De um jeito até mais afobado que o de Rose, ele abriu a janela e desprendeu as tiras que amarravam ambos os envelopes à pata do animal.


 


- Albus! ALBUS! – gritou ele, jogando no sofá o envelope que continha o nome do irmão.


 


- O que foi? – respondeu Albus, do andar de cima.


 


- Os resultados dos seus N.O.M.’s chegaram – James passou por ele, rasgando com violência seu próprio envelope, e indo em direção de seu próprio quarto.


 


Em tom de surpresa, Albus perguntou:


 


- Ah, é? E os seus N.I.E.M.’s, também chegaram?


 


James pensou em dizer que aquilo era óbvio. Porém, estava tão trêmulo e tão absorto em achar o que lhe interessava que não pensou duas vezes antes de fechar a porta de seu quarto na cara do irmão.


 


Correu os olhos pelo papel, concentrado em cada detalhe. Havia as notas que ele atingira em cada matéria, além de uma lista de profissões que ele poderia investigar, tendo em vista os resultados atingidos. No final, havia uma observação concernente à profissão que o aluno havia escolhido antes dos exames.


 


Caro Sr. Potter,


 


É com pesar que lhe informamos que você não tem a pontuação necessária para se tornar um auror. Há, porém, uma vasta lista de opções acima, que podem ser consideradas pelo senhor.


 


Parabéns e boa sorte,


 


Corpo Docente da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts


 


James ficou impassível pelo que pareceu um minuto inteiro.


 


- COMO É? – gritou ele, quase encostando a boca no papel, como se a carta pudesse lhe dar uma resposta. Não era possível. Tinha algum erro ali. Sua pontuação estava errada, só podia ser aquilo.


 


Lily, atraída pelo escândalo, adentrou o quarto.


 


- Oi – falou ela, olhando em volta. – Tudo bem por aqui?


 


James respirou fundo. Podia dizer a sua irmãzinha que estava tudo péssimo e pedir que ela saísse, pois ele precisava se atirar da janela. Optou, porém, pela resposta mais curta:


 


- Sim, tudo bem.


 


Ela franziu a testa, duvidosa, mas resolveu não insistir.


 


- Ei, desça com a sua carta, ok? Rose e Albus estão aos berros lá na sala, parece que se deram bem em quase tudo.


 


Ótimo, pensou James. Agora teria que parecer feliz porque seu irmão e sua prima haviam tirado notas altas. Sua vida havia acabado, mas James teria que sorrir.


 


- Ah, nem preciso perguntar, sei que você passou. – Lily lançou-lhe aquele olhar de expectativa, enquanto puxava-o para fora do quarto pela manga da camisa. – Não foi, Jay?


 


- Eu... – James respirou fundo, fazendo uma longa pausa. Sua irmã esperou. – Passei, claro.


 


Lily soltou um uivo em comemoração, e deu-lhe um abraço apertado.


 


- Eu sabia. Mas vamos indo, temos que espalhar a notícia para muita gente ainda.


 


“Ai”, pensou James, enquanto seguia a irmã pelo corredor. “Duplamente ótimo”.


 


<hr>


 


- Tirei mais que você em História da Magia.


 


Albus deu uma risadinha debochada da prima. Rose revirou os olhos, como se ele tivesse lhe dito algo que ela já sabia havia séculos.


 


- Finalmente você me superou em alguma coisa – alfinetou ela. – Já estava pensando em oficializar minha doação de pontos para você.


 


Ofendido, o garoto empurrou-a de leve.


 


- Idiota – falou ele. Hugo riu.


 


- Os anos passam, as pessoas crescem, e continua sendo divertido ver vocês comparando notas – disse ele.


 


- Rose é ridícula – provocou Albus. Ela abriu a boca para responder, mas antes que o fizesse, Lily e James desceram as escadas. Toda sorrisos, a menina falou:


 


- Adivinhem quem vai ser auror?


 


Todos se voltaram para James, esperando um alto brado de alegria, mas ele apenas sorriu e levantou um braço.


 


- Eu nunca tive dúvidas – falou Rose, levantando-se e dando um beijo no rosto do primo mais velho.


 


Albus e Hugo foram abraçá-los também. Todos pareciam partilhar de uma felicidade que James estava longe de sentir.


 


- Nós devíamos ir até A Toca contar aos nossos avós, antes de todos os...


 


- Não, não! – James interrompeu Hugo efusivamente. Os quatro olharam-no sem compreender. – É que... Bem, primeiro vamos esperar nossos pais chegarem, depois contamos a quem mais precisar saber. – Ele se corrigiu, torcendo nervosamente a manga de seu suéter.


 


- Hum... certo – respondeu Hugo. – Faremos como você preferir.


 


- Ei, sabe o que tem na geladeira? – perguntou Lily, olhando de um a outro. – Sorvete!


 


- E alguma vez faltou sorvete aqui em casa? É como se faltasse...


 


James assistiu à discussão que começou a se formar entre Albus e Lily, sem realmente ouvi-la. Pensava no que deveria fazer a seguir. Tomar sorvete não parecia ser a melhor opção, além do que, seu estômago rejeitaria qualquer tipo de comida pelos próximos trinta anos.


 


- Eu tenho que fazer uma coisa, é rápido – avisou, enquanto subia as escadas.


 


Ao perceber que o irmão estava longe o bastante, Lily pediu silêncio aos demais e, com um gesto, disse que se aproximassem:


 


- Estou com uma idéia na cabeça há algum tempo, só precisava ter certeza que o James iria passar para contá-la a vocês – sussurrou ela, empolgadamente, para as três cabeças coladas à sua. Rose sorriu.


 


- É o que eu estou pensando? – perguntou, murmurando.


 


- Sim, se você estiver pensando em uma festa supresa.


 


<hr>


 


James adentrou o próprio quarto, fechando a porta suavemente. Sacou sua varinha do bolso e buscou, em meio à bagunça do cômodo, pergaminho, pena e tinta.


 


Os objetos que invocara vieram flutuando até onde James estava, e ele depositou-os sobre sua mesa. Depois, tomou fôlego e começou a escrever rapidamente:


 


<i>Teddy,


 


Você nem vai acreditar no que aconteceu. Será que você teria um tempinho para me encontrar, hoje? Escolha um lugar e eu estarei lá. É meio urgente, então seria realmente ótimo se pudesse ser logo.


 


James</i>


 


Trish estava dormindo na gaiola, mas ele escancarou a porta com tanta força, que a coruja acordou.


 


- Desculpe, mas você tem que trabalhar – disse ele, enquanto o animal dava bicadas insatisfeitas em sua mão.


 


Amarrou o pequeno bilhete na pata do animal e abriu a janela, para que Trish saísse. Com um último piado de indignação, ela se foi.


 


James ficou olhando para o céu por alguns instantes, enquanto a coruja ia sumindo em meio às nuvens. Depois, ficou a andar pelo quarto, em círculos, sem vontade alguma de descer e ver sua família. Ele não sabia o que lhe afligia mais: a decepção que tinha consigo mesmo ou o medo da decepção que Rose, Albus, Hugo e Lily sentiriam. Por um lado, queria descer e contar toda a verdade. Por outro, se fizesse isso, estaria destruindo um sonho que fora sempre tão dele quanto de todos os outros.


 


Começou a se lembrar de quando eram menores e ficavam brincando no jardim da casa dos avós. Lily e Rose se revezavam para serem mocinhas indefesas. Albus e Hugo se revezavam para serem parceiros de James, mas James, o próprio, nunca abria mão de ser o “herói do dia” no fim da encenação.


 


E agora, se ele não pudesse ser o que estava predestinado a ser, o que aconteceria?


 


<hr>


 


- OK. Depois de amanhã parece ótimo. – Rose anotou em um papel que estava sobre o criado-mudo a data que definiram para a festa surpresa de James. Hugo franziu o cenho para a irmã.


 


- Por que você está anotando?


 


- Bem, porque nós temos que mandar convites para toda a família, não é?


 


- Convites? Rose, nós temos um dia para fazer tudo isso – falou Albus.


 


- Um e meio, se contarmos a tarde de hoje. Ah, e nós devemos chamar os amigos do James?


 


Lily, distraída com um livro de receitas gigantesco, herdado por Ginny de sua mãe, ergueu o olhar rapidamente, assustada.


 


- Não. É só para a família.


 


Rose e Hugo olharam-na, sem compreender por quê ela ficara tão alterada, mas Albus riu da irmã.


 


- Você se esqueceu que Lily é apaixonada pelo Vincent?


 


Lily imediatamente corou da cabeça aos pés. Vincent um dos muitos amigos de James, talvez o mais próximo dele. Ela se lembrava da primeira vez que o vira: tinha se perdido de Albus e Rose, nos quais andara colada desde que entrara na locomotiva. Era seu primeiro ano, então ela não sabia para onde estava indo nem onde queria chegar. Ficou, então, parada no corredor, à beira das lágrimas, quando um grifinório em seus catorze ou quinze anos avistou-a. Ele enrugou a testa, penalizado pela imagem da novata que parecia perdida e sozinha ali.


 


- Oi – falou ele, se abaixando para ficar na altura dela. – Tudo bem com você?


 


Lily levantou o olhar para ele e ficou paralisada por alguns instantes. Ela tinha certeza de que nunca havia visto um garoto tão bonito em toda a sua vida, especialmente sorrindo para ela. Antes que pudesse responder, porém, James surgiu de dentro de uma cabine não muito distante e gritou:


 


- Vincent, você achou a minha irmã mais nova?


 


Lily sentiu seu coração pular até a garganta.


 


- Ah, é sua irmã? – Ele olhou para a garotinha novamente. – Então esse é o bebê das fotos?


 


James riu e Lily achou que, ainda que o chão se abrisse e ela caísse no buraco mais fundo, não seria fundo o suficiente para a sua vontade de se esconder.


 


Será que James havia mostrado fotos dela tomando banho quando criança?


 


- Rose e Albus passaram por aqui perguntando por você – avisou James, se aproximando. – Disseram que se viraram para trás por um momento e, quando olharam de novo, você não estava mais por perto.


 


Ela assentiu, constrangida. Perdera-se do irmão e da prima porque Rose e Albus pararam para conversar com alguns amigos, e ela continuou andando em frente, distraída pelas figuras que passavam pelo corredor. Agora, sentia-se idiota por ter se perdido daquele jeito. Não se sentiria tanto, se aquele garoto, Vincent, não estivesse lá.


 


Ele era muito, muito bonito.


 


- Vou levar você de volta para eles – falou James, agarrando a mão da irmã. – Não se perca mais.


 


Puxada repentinamente, Lily tropeçou, quase caindo de queixo. Olhou para trás, para ver Vincent de novo e falou:


 


- Obrigada.


 


O garoto sorriu e deu um aceno ligeiro:


 


- Até logo.


 


Já se completariam quatro anos desde o ocorrido, e Lily ainda tinha as mesmas sensações daquele primeiro de Setembro, sempre que encontrava Vincent. Rose foi a primeira a saber sobre sua “paixonite”, mas disse apenas que aquilo passaria com o tempo. Que haveriam garotos mais novos e mais bonitos e mais interessantes. Bem que Lily gostaria que fosse verdade.


 


- É mentira, não tenho nada – defendeu-se ela, sob o olhar desafiador do irmão. – Pode convidar se quiser, mas eu acho que devia ser uma coisa só para a família.


 


- Eu também acho – concordou Hugo, sério. – Sem amigos do James.


 


Rose deu-lhe um olhar furtivo e concluiu:


 


- Sem amigos do James, então – ela anotou o lembrete no mesmo papel onde escrevera a data. – Aliás, onde está ele?


 


- Ainda lá em cima – disse Albus. – Vou chamá-lo.


 


- Não, tonto – Lily segurou-o pela manga do suéter. – É melhor que ele demore. Assim temos mais tempo para tratar disso.


 


Albus sentou-se no chão novamente, perto da mesa de centro.


 


- Então, vamos logo com isso. Rose, qual é o plano?


 


- Certo – Rose deixou de lado o bloco onde estivera anotando idéias e chamou-os mais para perto de si. – É o seguinte: Lily e Hugo vão comprar as coisas que nós precisamos – ela mostrou a lista de compras que fizera -, eu e Albus vamos fazer as faixas, cuidar dos convidados e etc. Esse, é claro, é o plano de hoje.


 


- E amanhã? – perguntou Hugo.


 


- Amanhã teremos outros planos, oras – respondeu ela, dando de ombros. – Não fiquem aí parados, gente. Andem logo, vamos, vamos!


 


<hr>


 


James mal se continha, enquanto andava ansiosamente em volta do quarto.


 


Ele não se sentia nervoso daquele jeito desde o Natal em que tinha seis anos de idade e seus pais lhe prometeram uma vassoura como presente. Passou a noite inteira andando de um extremo do quarto a outro, torcendo para que a manhã chegasse logo.


 


Agora, toda aquela espera era por conta de uma carta.


 


Quando Kalliope chegou, com um bilhete amarrado à pata, James escancarou a janela com tamanha violência que a coruja se sobressaltou. A resposta que Teddy lhe enviara era breve e não fazia maiores perguntas:


 


<i>James,


Você pode vir até aqui em casa, se quiser. Não fui trabalhar hoje, estou doente (nada que possa te contagiar e te levar à morte, caso isso venha a ser um problema).


 


Até depois!


Teddy</i>


 


 


“Ótimo para mim”, pensou James, deixando o pequeno papel de lado. Apanhou o casaco e saiu do quarto.


 


<hr>


 


- Rose, não precisa conferir pela terceira vez – reclamou Hugo, mal-humorado, tomando a lista de compras da mão da irmã. – Se lembrarmos de alguma coisa, enquanto estivermos por lá, nós compraremos, ok?


 


- Mas e se vocês não se lembrarem? – insistiu ela, puxando o papel dele novamente. – Não temos todo o...


 


- Silêncio, silêncio! – pediu Lily, ao escutar os passos do irmão mais velho vindos da escada.


 


Todos se calaram, e Albus puxou um assunto qualquer, na tentativa de fingir que, durante todo aquele tempo, eles estiveram conversando casualmente.


 


- Vou dar uma saída – avisou James, indo apressado em direção da porta. – Até mais tarde.


 


Os quatro olharam-no com uma mistura de indignação e incompreensão. James estava agindo estranhamente para alguém que havia acabado de realizar o maior sonho da vida.


 


- Aonde você vai? – perguntou Albus.


 


- Teddy e Victorie – respondeu James, já destrancando a porta.


 


- Ah! – Lily soltou uma exclamação de entendimento – Você quer contar a novidade para eles pessoalmente, não é? Afinal, Teddy é seu melhor amigo.


 


James ficou a encará-la por alguns instantes, sem resposta alguma.


 


- É – falou, finalmente. – Isso aí. Então... tchau para vocês.


 


- Tchau – responderam, em coro. 


 


 Rose ficou olhando pela janela, enquanto o primo se afastava da casa. Quando o viu desaparatar, voltou-se para os outros três.


 


- Certo, temos um tempinho. Vocês dois – ela se dirigiu a Hugo e Lily – fora. Albus, minha casa.


 


- Ótimo, fui expulsa da minha própria casa – disse Lily, sarcástica. – Vamos, Hugo. Beco Diagonal. – Ela pegou um punhado de pó-de-flú, em cima da lareira e deu ao garoto.


 


- Rose, nós precisamos de...


 


- Eu tenho tudo de que nós precisamos, Albus – Rose interrompeu-o, antes que o rapaz terminasse.


 


- Mas e se...


 


- Albus, não discuta comigo.


 


Instantes depois de Hugo e Lily esvaecerem em meio às chamas verdes da lareira, Rose e Albus saíram pela porta, em direção da casa da frente.


 


<hr>


 


James aparatou em frente a um modesto prédio no centro de Londres, próximo de onde sua família morou antes de resolverem se mudar para uma casa. Era ali que ficava o apartamento onde Victorie e Teddy estavam morando desde que se casaram. Eles diziam que se mudariam quando tivessem filhos, também, mas que, por enquanto, aquilo era só o que podiam pagar.


 


O rapaz atravessou a rua e adentrou o lugar. Passou pelo porteiro, desejou-lhe “boa tarde”, mas o homem nem se incomodou em responder, tão absorto que estava no que quer que estivesse passando na minúscula televisão trouxa sobre o balcão.


 


James subiu três lances de escada e tocou a campainha da terceira porta do lado esquerdo do corredor. Pouco depois, um Teddy bastante abatido abriu a porta, enrolado em um cobertor que, a julgar pelo enorme “W” costurado, havia sido feito pela Sra. Weasley. Segurava uma caneca fumegante, e ensaiou um sorriso débil ao ver James.


 


- Oi, James. Entra. – Ele abriu passagem para o primo. – Não vou te abraçar porque não quero te passar minha gripe.


 


James pareceu relutante em entrar no apartamento.


 


- Tem certeza de que eu não vou incomodar? – perguntou ele, fitando o rosto abatido de Teddy.


 


- Eu estou descansando desde ontem à tarde – o rapaz tranqüilizou-o. – Entra. Você disse que tinha um assunto urgente para tratar.


 


Ainda que não quisesse incomodar Teddy, a menção do “assunto urgente” fez com que James entrasse num instante.


 


- E então? – indagou Teddy, enquanto trancava a porta. – O que houve? Não é nada com o bebê, é?


 


- Não, não – exclamou James. – É outra coisa. É comigo.


 


Teddy aguardou o amigo tomar fôlego para falar.


 


- Você sabe o quanto eu sempre quis ser auror, não sabe? – começou James. – Pois é. Hoje chegou o resultado dos N.I.E.M.’s.


 


- Ah, claro! Albus e Rose me mandaram um bilhete sobre os resultados deles. – Teddy tossiu, depois continuou: - Mas e você?


 


James lançou-lhe um olhar profundo, depois baixou os olhos e meneou a cabeça.


 


- Ah, James... – lamentou-se Teddy. – Que pena.


 


- O pior não é isso – disse o rapaz. – O pior é que eu não tive coragem de contar a eles, sabe? Meus primos e meus irmãos. Quando Lily me perguntou se eu havia passado, eu confirmei. Consequentemente, disse a mesma coisa a todos os outros. É claro que ninguém se surpreendeu tanto, afinal, eu sempre fui tão certo de mim mesmo no que se tratava de conseguir a pontuação para ser auror – James suspirou profundamente. – Eu nem acredito que isso está acontecendo.


 


- Ei, calma aí. – Teddy colocou a mão sobre seu ombro. – Isso não é o fim do mundo. Aposto que você tem um monte de outras opções.


 


- E até eu descobrir qual delas eu quero, serão outros dezessete anos – falou James. – Eu realmente devia ter traçado um plano B.


 


- Certo. Uma coisa de cada vez. – Teddy tossiu de novo. – Antes de qualquer coisa, você tem que contar a verdade. E quer mais um conselho? Faça isso rápido. Quando um Weasley tem uma novidade, no dia seguinte todos os outros já estão sabendo. Se quatro Weasley estão sabendo, então... – Teddy franziu a testa. – Talvez, quando você chegar em casa, seus pais e todos os seus tios e primos já estejam sabendo, também.


 


James massageou as têmporas, desnorteado. Aquela situação já estava lhe dando dor de cabeça. E ele estivera tão ocupado com aquilo tudo, que só agora a fome apertava. Estômago vazio não lhe deixava pensar.


 


- Farei isso, ok? – disse ele, vencido. – Vou contar a verdade.


 


- Hoje?


 


- Bem, eventualmente.


 


- James!


 


- Hoje, então! Vou tentar. Isso, é claro, depois que eu comer algo.


 


<hr>


 


- Por que a Rose colocou todos esses ingredientes na lista? Ela está pretendendo mesmo cozinhar, sendo que nós podemos comprar tudo pronto?


 


Lily fitava a lista, com o cenho retorcido, e carregava três sacolas na outra mão. Hugo, que carregava seis, revirou os olhos.


 


- Bem, você conhece a Rose. “Não facilite, se você pode complicar” – disse ele. - Vamos comprar o que estiver aí.


 


Lily deu de ombros e os dois continuaram andando. Ao se aproximarem da Floreios & Borrões, que era aonde deveriam comprar o presente que os quatro decidiram dar para James, a garota avistou um rosto que lhe pareceu conhecido. Seu queixo caiu, quando ela olhou mais atentamente e teve certeza de quem era. Parecia coincidência demais.


 


- Acho que é a nossa última parada – disse Hugo, passando as sacolas de um braço para o outro. – Tem mais alguma coisa aí, Lily? – Ele estava prestes a adentrar a loja, quando percebeu que a prima não mais estava atrás dele. – Lily?


 


Ao se virar e presenciar a cena vista a seguir, Hugo sentiu uma raiva descomunal percorrer seu corpo.


 


Aquele tal Vincent Hogan, o garoto que fazia parte da antiga turma de James em Hogwarts, estava parado em frente à vitrine de uma loja não muito distante da Floreios, e Lily o observava de longe, parecendo seriamente em dúvida se deveria ou não ir até o rapaz e cumprimentá-lo.


 


Hugo se recordava dos anos de ódio silencioso pelos quais passou enquanto Vincent ainda estava em Hogwarts. Agora que achou que se livraria daquele sentimento, o rapaz aparecia na sua frente, e, pior ainda, na frente de Lily, que sempre tivera uma queda por ele.


 


- Parece brincadeira – disse Hugo, a si mesmo.


 


- Parece um sonho – retorquiu Lily, abrindo um sorriso. – Hugo, você pode segurar essas para mim? – Ela largou as três sacolas que carregava no chão, deixando-as para o primo pegar, e foi andando até onde estava Vincent.


 


A vontade que Hugo sentia agora era a de deixar as nove sacolas lá, na calçada, e voltar para casa, sozinho, enquanto Lily flertava com o rapaz que tinha idade para ser pai dela. Porém, não tinha coragem. E, sendo o Hugo de sempre, deu um jeito que pegar as sacolas que estavam no chão, e foi se encaminhando até a prima.


 


- Vince? – chamou a menina, tocando de leve no ombro dele. Vincent, que estivera distraído com a vitrine à frente, se virou para ela. Ao reconhecer quem o chamava, sorriu.


 


- Lily Potter? – indagou ele, olhando a menina de cima a baixo. – É você?


 


- Sou eu! – respondeu ela, afetada. Hugo revirou os olhos. Lily estava adorando o fato de Vincent parecer tão impressionado ao vê-la.


 


- Quanto tempo! – exclamou Vincent.


 


- Dois meses não é muito tempo – retrucou Hugo, aproximando-se mais dos dois. Vincent olhou-o de relance, mas foi como se seu olhar nunca tivesse se desviado de Lily.


  


- Ah, esse é o Hugo. Você se lembra dele, não é? Ele é irmão da Rose... – falou Lily.


 


- Ah, claro. Oi – disse Vincent, sem realmente olhá-lo. – Mas e então, Lily? Tudo bem com você?


 


- Tudo, tudo – respondeu ela. – Hoje James recebeu os N.I.E.M.’s dele.


 


- E conseguiu o que tanto queria?


 


- Sim, sim. Vamos fazer uma festa surpresa para ele.


 


Assim que escutou Lily mencionar a festa, Hugo percebeu a intenção: ela convidaria Vincent. E, pelo silêncio que se seguiu, era exatamente isso que ele queria que acontecesse.


 


- Fica o convite, se você não tiver nenhum compromisso – disse ela, torcendo as mãos pelas costas.


 


- Não tenho nenhum compromisso, na verdade – respondeu Vincent, prontamente. – Seria muito bom ir.


 


- Ótimo – assentiu Lily, soando mais satisfeita do que gostaria. – Mas não mencione nada para o James, caso vocês se falem nesse meio-tempo.


 


- Claro.


 


Hugo olhava de um para o outro, por cima das sacolas, mexendo apenas os olhos. Observou em silêncio, enquanto Lily informava o dia, o local e a hora, lembrando-se de que fora ela mesma quem sugerira que a festa fosse “só para familiares”.


 


- Está combinado – confirmou Vincent. – Nos vemos lá.


 


- Certo. Acho que já vamos indo – falou Lily, sorridente. – Até mais!


 


- Até. – Vince deu-lhe um breve aceno.


 


Hugo deu as costas antes que fosse obrigado a se despedir também. Olhar para aquele idiota e ver o sorriso abobalhado que Lily dirigia a ele era torturante demais. Não agüentava ficar ali nem mais um segundo.


 


- Muita coincidência, não é? – Lily nem percebeu o quanto o primo estava descontente com a situação. Andava ao lado dele, quase que aos pulos. Hugo percebeu que ela estava toda inchada e altiva, ao contrário da Lily de sempre, que costumava andar tranqüila e relaxada. Era como se apenas Vincent merecesse sua postura e cuidado.


 


- Acho que já podemos ir voltando, não? – perguntou ele, sentindo as costas doer pelo peso das sacolas.


 


- Já? – falou Lily.


 


- Não sei como vamos voltar pela lareira com tudo isso. Talvez precisemos de mais de uma viagem, e minha mãe prefere que eu volte antes que escureça.


 


Antes que Lily pudesse contrariá-lo novamente, Hugo se encaminhou para a lareira por onde chegaram ao Beco Diagonal. A menina parou, no meio do caminho, e colocou uma mão sobre a testa.


 


- Esquecemos o presente – lembrou ela. – Quer ir voltando com essas sacolas? Eu compro o livro num instante, e volto sozinha.


 


Hugo apenas meneou a cabeça e entrou na lareira, rapidamente esvaecendo em meio às chamas esverdeadas.


 


Lily crispou os lábios, num sinal de compreensão. Geralmente, Hugo faria de questão de acompanhá-la ou perguntaria mil vezes se ela tinha certeza que ficaria bem, sozinha. Agora, porém, ele demonstrava abertamente que estava chateado. E ela bem sabia o porquê.


 


Mas aquilo não era o que importava agora. Ela tinha encontrado Vincent Hogan, mais lindo do que nunca, e o veria novamente em dois dias. Talvez, fosse ter sua grande chance. Hugo aceitaria com o tempo que qualquer expectativa que possivelmente ele houvesse criado em relação à prima, era inviável.


 


Ao menos, era por isso que ela torcia.


 


<hr>


 


- Digamos que, levando em conta os seus dotes artísticos, essa faixa está mais do que suficientemente boa.


 


Albus olhou de esguelha para Rose, que fitava a faixa que ele acabara de terminar, não parecendo muito satisfeita, mas conformada.


 


- Quando você me elogia desse jeito, eu nunca sei se devo agradecer ou te ofender de volta – retrucou ele. Ela riu do comentário.


 


- Você sabe que eu estou só brincando, não é? A minha faixa não está, assim, muito profissional, também.


 


Repentinamente, com um ruído surdo, Hugo apareceu na lareira da sala-de-estar, carregando nove pesadas sacolas consigo. Albus estranhou a ausência da irmã.


 


- Não me diga que ela foi esquecida no Beco Diagonal pela segunda vez – falou ele, olhando em volta como se Lily fosse surgir milagrosamente em algum canto do local.


 


- Não – disse Hugo secamente. – Você quer saber da história, Albus? Rose? Os dois estão prontos para escutar o que vem a seguir? Ótimo. – Ele tomou fôlego. – Nós estávamos no Beco Diagonal, tranqüilos e felizes, fazendo as compras dessa lista que, diga-se de passagem, Rose, está bem exagerada. Mas enfim, para que tentar consertar o irremediável, não é? Pois bem. Nós estávamos na parada final, na Floreios, quando, de repente, Lily avista aquele tal de Vincent Hogan, aquele amigo da James que se acha o último feijãozinho do pacote...


 


- Ele é – disse Rose, pensativa. Albus revirou os olhos para ela, mas Hugo ignorou-a.


 


- Como eu estava dizendo, aquele que se acha a última bolacha do pacote, o Vincent. Então ela vai até ele, e ele nem disfarça o quanto está admirado com a presença dela ali. Lily agiu do mesmo jeito, e eu fiquei lá, com a maior cara de otário, segurando as três míseras sacolas que estavam com ela, além das outras seis que eu fiz questão de carregar antes. Foi uma droga.


 


Hugo suspirou novamente, como se não tomasse um ar há cinco minutos. Albus e Rose se olharam, sem saber o que dizer.


 


- Hugo... – começou Rose. O garoto, porém, interrompeu-a de pronto.


 


- Não, deixa pra lá. Vou para o meu quarto.


 


Cabisbaixo, o garoto foi subindo as escadas, a passos lentos. Rose e Albus ficaram em silêncio até escutarem o barulho de uma porta se fechando. Aos sussurros, Albus falou:


 


- Não entendi muito bem por que ele está tão chateado.


 


Rose piscou e respondeu também num murmúrio:


 


- Por qual motivo você acha que ficaria chateado, caso visse uma garota conversando com o cara pelo qual ela é apaixonada?


 


- Bem... - Albus pareceu refletir por alguns instantes. – Eu ficaria chateado caso gostasse dessa garota.


 


Rose lançou-lhe um olhar furtivo, e o rapaz arregalou os olhos.


 


- Mas Hugo e... Eu nem...


 


Antes que ele se recuperasse do choque, Lily surgiu da lareira, mal cabendo em si de felicidade. Deixou sobre a mesa o livro que comprara para James e, tomando fôlego do mesmo jeito que Hugo fizera, ela falou:


 


- Vocês estão prontos para escutar o que vem a seguir? Ótimo. Nós estávamos no Beco Diagonal, tranqüilos e felizes, fazendo as compras dessa lista que, diga-se de passagem, Rose, está bem exagerada. Mas enfim, nós estávamos na parada final, na Floreios, quando, de repente,  eu vi Vince Hogan ali por perto. Aquele amigo muito lindo do James, do qual nós falamos mais cedo, sabem? Pois é, ele estava lá e nós conversamos e eu acabei chamando-o para a festa.


 


- O que não faz uma mudança de tom – comentou Rose num sussurro para Albus, lembrando-se de Hugo contando a situação nas mesmas palavras. Lily olhou de um para o outro, sentindo sua animação murchar. Não houve conselhos por parte de sua prima nem piadas de mal-gosto por parte de seu irmão. Ela realmente esperara algo mais vivaz do que aquilo.


 


- É só isso que vocês têm a dizer? – perguntou.


 


- Você não disse que não era, de jeito nenhum, apaixonada por esse Vincent? – perguntou Albus, dando um olhar enviesado à irmã.


 


- Em primeiro lugar, convidá-lo para a festa não quer dizer nada – retrucou ela. – Em segundo lugar, esqueça o que eu disse, estou apaixonada mesmo. Agora, se me dão licença, vou para a minha casa. Tenho muito o que resolver.


 


Instantes após Lily sair pela porta, Albus se dirigiu para Rose e disse:


 


- Essa festa vai ser longa. Bem longa.


 


<hr>


    


Teddy e James haviam estado em silêncio por vários minutos, antes de Victorie chegar.


 


O barulho da fechadura sendo destrancada sobressaltou James, que estivera concentrado em bolar diversos discursos diferentes para quando tivesse que contar a toda a sua família, naquela mesma noite, que era um fracassado. Victorie entrou e sorriu alegre ao vê-lo.


- Oi, James! – disse a moça, indo até ele e abraçando-o. – Tudo bem?


 


Antes que o rapaz respondesse, ela completou:


 


- Imagino que sim, não? Já fiquei sabendo da novidade. Parabéns!


 


James tentou responder algo novamente, mas ficou sem palavras. Ele não acreditava que Victorie já estava sabendo. Para quem mais aqueles quatro haviam espalhado a notícia?


 


- Ah, é. Obrigado, estou mesmo bastante feliz.


 


Pelas costas da esposa, que lhe dava um abraço, Teddy franziu a testa, chocado com o cinismo do rapaz.


 


- Será que você nos daria licença um instante? – perguntou Victorie, puxando o marido pelo braço. – É rápido.


 


James meneou a cabeça afirmativamente, enquanto o casal ia para o corredor do apartamento.


 


Ao se afastarem o suficiente, Victorie olhou para os dois lados, como se fosse possível que alguém mais estivesse por perto, e sussurrou:


 


- Ele não estava aqui quando você recebeu o convite, estava?


 


Teddy piscou diversas vezes, tentando compreender do que se tratava.


 


- Convite?


 


- É – confirmou ela. – O convite para a festa surpresa.


 


“Ah, não”, pensou o rapaz, já imaginando do que se tratava. Ele tentou esboçar um sorriso, mas Victorie percebeu algo diferente:


 


- Por que você não ficou contente com isso?


 


- O quê?


 


A mulher cruzou os braços.


 


- Você não está feliz em ouvir isso. Por quê?


 


- Eu... Por que você acha isso?


 


- Você deu aquele sorriso falso, de quando esconde alguma coisa. O que você está escondendo, Teddy Lupin?


 


- Eu não estou... Eu não tenho um “sorriso da mentira”!


 


- Mentiu de novo! – acusou ela.


 


- Estou doente e cansado, ok? – disse ele, escondendo a boca com o cobertor. – Não está acontecendo nada.


 


Na sala, James ouvia um burburinho exaltado vindo do corredor. Se Teddy contasse a Victorie, ele jurou a si mesmo que o mataria.


 


- Por que James está aqui? – Victorie insistia, ainda controlando a voz.


 


- Ele veio me visitar, oras.


 


- No dia em que ele passou nos N.I.E.M.’s? Se está tudo ótimo, por que ele não está com a família dele?


 


- Nós também somos a família dele.


 


- Não a parte preferida – retrucou ela. – Teddy...


 


- James não conseguiu a pontuação para ser auror, mas mentiu e disse que tinha passado.


 


Victorie soltou uma exclamação e tapou a boca com as mãos, incrédula.


 


- Mas não vá lá tirar satisfações com ele. Eu não deveria ter contado. Você é sádica, me colocou sob pressão!


 


- Lupin, você não está entendendo – disse ela. – Rose, Albus, Lily e Hugo estão mandando convites para a família toda. Eles vão fazer uma festa surpresa, até meus avós já sabem!


 


Teddy suspirou, sem saber muito bem o que fazer.


 


- Você vai ter que dar um jeito de fazê-lo contar a verdade, e logo. Vou deixar vocês sozinhos, mas faça o que eu disse.


 


Victorie voltou até a sala, como se nada houvesse acontecido.


 


- Eu tenho um trabalho para terminar, mas foi bom ver você, James! – Ela puxou Teddy de trás de si e praticamente jogou-o de volta para a sala. – Continuem colocando as novidades em dia!   


 


Ele sorriu e acenou para ela. Teddy se aproximou, encolhido no cobertor no qual estivera enrolado o dia todo.


 


- Surpresa, amigo – disse ele. James olhou-o com desentendimento.


 


- Daqui a dois dias você ganhará uma festa surpresa de toda a sua querida e enganada família.


N/A: Gente, a vocês que comentaram e pediram continuação, MIL DESCULPAS! Eu estava fazendo cursinho pré-vestibular esse semestre e foi uma loucura. Praticamente nada de internet, nem durante a semana e nem nos finais de semana, visto que o meu curso é concorridíssimo na federal da minha cidade. Acabei de entrar de férias e pretendo voltar a me dedicar a fic, pelo menos até o resultado da prova sair. Muito obrigada pelo apoio e pelos comentários. Beijos e torçam por mim!
 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 

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