Matéria de Primeira Página

Matéria de Primeira Página



Pela primeira vez em muito tempo, Ron sabia exatamente que dia era quando acordou. Era o domingo no qual ele, Harry e Hermione receberiam Xenófilos para contar sobre o tenebroso ano que tiveram. Obviamente Harry era o foco principal da entrevista, mas os outros dois concordaram em participar e contribuir no que fosse possível como uma forma de mostrar solidariedade ao amigo. Quando Ron olhou para a cama de Harry esta já estava vazia. Ele tateou sobre a mesinha de cabeceira e trouxe para si o relógio que ganhara dos pais no seu último aniversário – 9:15. Não restava muito tempo. “Tanto faz. Não seria mais fácil nem se eu tivesse a droga de um mês inteiro para me preparar!”


Foi com certa impaciência que o garoto se trocou para descer. Provavelmente ele foi o último a acordar e teria que encarar todos na mesa do café da manhã justamente quando mais queria ficar sozinho. Ele não se sentia pronto para conversar sobre tudo que acontecera. “Muito menos conversar sobre isso com o doido do Xenófilos Lovegood!”


- Está do avesso. Para surpresa de Ron, e de todos presentes, quem falou foi Jorge. – A sua camiseta. Ela está do avesso. – o irmão repetiu com simplicidade, segurando a colher displicentemente sem perceber que todos os olhares caiam sobre ele.


- Ahn, - Ron demorou um bocado até processar a informação. Era a primeira vez desde que estavam em casa que Jorge lhe dirigia a palavra. – Oh, sim obrigado.


Realmente ela estava do avesso, mas isso não importava agora. Ron se sentou em frente ao irmão e o observou voltar para sua tigela de cereais explosivos e pegar o jornal para ler. Jorge parecia quase normal, não o normal que ele e Fred costumavam ser mas o normal que a maioria das pessoas é, o que já era alguma coisa. -Suco? – Gina lhe empurrava a garrafa de suco de abóbora com um sorriso no rosto. A irmã provavelmente estava empolgada com a decisão do namorado chamar o Pasquim já que todo dia ela reclamava dos fotógrafos rondando o terreno assim como se chateava com as especulações que o Profeta fazia a respeito de Harry. Ron encheu seu copo com suco sem dizer nada.


– Que horas ele ficou de chegar? – ela continuou.


- Dez e meia. – foi Hermione quem respondeu antes de se virar para Harry. – Você já sabe o que vai dizer?


Ao lado de Gina o amigo tinha os cabelos mais bagunçados que o normal e a julgar pela cara amassada, não havia acordado tão antes de Ron assim. - Vou contar o que ele precisa ouvir. Como Voldemort dividiu sua alma em pedacinhos e a espalhou por aí, o que fizemos para encontrá-los e destruí-los....qualquer coisa que explique que deu muito trabalho fazer o que fiz e que contei com o apoio de vocês. Enfim, que eu não sou o herói sobrenatural que eles esperam que eu seja. Inevitavelmente nessa hora, Ron olhou para Hermione para que eles pudessem trocar aquele olhar que sempre acontecia quando o amigo começava com esse assunto.


- Ok Harry, mas você pretende contar sobre Dumbledore, dizer que ele já sabia de tudo? Vai contar sobre as Relíquias Mortais? Porque as pessoas vão querer saber o que foi feito delas. – A garota insistiu.


- Não, eu não pretendo contar sobre as relíquias.Iria gerar muita confusão. Agora quanto ao Dumbledore, eu preciso contar que foi ele quem me instruiu sobre as Horcruxes e que uma delas ele próprio quem destruiu. As pessoas precisam saber que se hoje isso está terminado é graças a ele! – Harry deixara o café da manhã de lado e falava com veemência, Ron pôde ver uma veia pular no pescoço do amigo. – E Snape! Quero deixar bem claro que ele esteve ao lado de Dumbledore o tempo todo, mesmo depois de sua morte. Que há dezessete anos trabalhou do nosso lado.


- Certo amor, você vai poder dizer tudo isso logo mais. Tenho certeza que o Lovegood vai querer escrever tudo que você contar. – Gina, ainda com um sorriso no rosto, segurava o braço do namorado como quem tem a intenção de interromper.


- Ai dele se não escrever. – Ron resmungou para si mas soube que foi ouvido por todos.


- Ele vai. – Harry respondeu com firmeza enquanto se levantava. Deu um beijo no topo da cabeça de Gina, que permaneceu sentada, e se retirou da cozinha. Quando Ron subiu as escadas de volta ao seu quarto encontrou o amigo com uma aparência mais arrumada que a anterior tentando assentar os cabelos com as mãos, o que o fez lembrar de vestir a camiseta do lado certo.


- Jorge pareceu melhor esta manhã – Harry se virou para ele desistindo dos cabelos. – Ele veio me perguntar se podia assistir a entrevista.


- E o que você disse? – Ron conseguiu responder enquanto lutava para sair da gola da camiseta. - Ué cara, disse que sim. É bom que ele demonstre interesse em alguma coisa, não?


- É, talvez. “Ou talvez não. Talvez isso só lhe traga lembranças indesejadas, só faça com que ele pense mais em tudo o que aconteceu e em Fred....Talvez não esteja pronto.Eu não estou.” Ron se sentou na beira da cama e se concentrou em calçar seus tênis.


- Tá tudo ok? – Harry o olhava com desconfiança por cima dos óculos.


- Claro. – ele mentiu.


- Hum, tá certo então. Mas relaxa cara, não vai ser tão ruim assim – o amigo não pareceu muito seguro. – Luna vem também, você sabe ela sempre anima o ambiente.


Ron riu. Era verdade, ele costumava se divertir com a garota, gostava o jeito estranho de Luna. Sempre moraram tão perto e sempre soube que ela era amiga de Gina mas só nos últimos anos de escola é que ficaram amigos, quando ela entrou para a AD e os acompanhou até o Ministério no quinto ano. De repente isso pareceu para Ron ter sido há tanto tempo atrás.


- Eles chegaram. – Era Hermione, ela estava parada na porta do lado de fora de seu quarto.


Os Lovegood se levantaram de suas poltronas quando os três chegaram na sala e eles puderam ver por inteiro as vestes de um magenta nada discreto que o pai de Luna usava quando este se aproximou para cumprimentar, com sua mão cheia de anéis, Harry, Hermione e por último Ron.


- Ah, eu estava aqui mesmo dizendo à sua mãe que não me canso de olhar para a maravilhosa infestação de gnomos que vocês possuem!


Ron tinha a sensação de que não importaria quantas vezes visse Xenófilos, nunca se acostumaria com a imagem dele. Olhou para o sofá, viu sua mãe concordando com a cabeça enquanto forçava um sorrisinho amarelo.


- Ron não os acha maravilhosos, papai. - Ah, oi Luna. – ele sorriu para a amiga que também sorria.


- Porque vocês todos não se sentam? – a sra.Weasley havia se levantado e seguia em direção à cozinha. – Mais tarde eu trago um chá, fiquem a vontade. – Ela passou por Ron e colocou a mão em seu ombro.


– Eu vou estar no meu quarto, eu prefiro. Qualquer coisa me chame. Os três se acomodaram no sofá enquanto os Lovegood retomavam seus lugares na poltrona.


- Então Harry, antes de mais nada eu queria dizer que me senti muitíssimo honrado em ser o primeiro jornalista a ter uma matéria com você


- O primeiro e o último. – o garoto o cortou.


- Oh, sim. Claro. – Xenófilos pareceu sem graça.


- Escolhi o senhor porque tenho certeza que irá ser fiel ao meu depoimento na sua matéria.


- Ah, quanto a isso não tenha dúvidas meu jovem. – ele pareceu mais animado agora. – Seus amigos irão participar? – ele agora apontava para Ron e Hermione.


- Assim como participaram da minha jornada. – Harry falou com simplicidade. Nessa hora Gina chegou acompanhada de Jorge que se instalou no braço do sofá ao lado de Ron.


– Perdemos muita coisa? – Ron fez que não com a cabeça.


- Luna! – Gina foi abraçar a amiga e depois de cumprimentar o sr. Lovegood foi se sentar no tapete aos pés de Harry.


– Então?


- Ham, vejamos...- Xenófilos remexeu na sua bolsa parecendo um pouco desconfortável com a quantidade de gente na sala, provavelmente ele esperava uma conversa mais íntima com Harry. Mas Ron sabia que a experiência do amigo com Rita Skeeter o deixara muito cauteloso em relação aos jornalistas. – Querida, você pode segurar isso aqui pra mim. – ele passou para a filha o que pareciam ser dois tubérculos mal cheirosos e continuou revirando a bolsa que parecia não ter fim como a bolsinha de contas de Hermione. Depois de muito procurar ele emergiu das profundezas de sua bolsa um grande rolo de pergaminho e uma pena que mais parecia ter sido arrancada de um pavão. – Pronto!


- Ahn, por onde eu devo começar? – Harry parecia desnorteado.


- Oh, certo. Deixa eu ver...pelo que sei, vocês não chegaram a começar o ano letivo em Hogwarts... certo? Os três concordaram com a cabeça. - Então você já sabia que iria atrás d´ Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado? O que você pretendia fazer?


- Na verdade eu sempre soube que um dia teria que ir atrás de Voldemort. – o garoto deu ênfase nessa última palavra. – Era só uma questão de tempo. - Harry lhe contou tudo sobre a Profecia e explicou como Dumbledore lhe passou as informações a respeito das Horcruxes antes de morrer enquanto um Xenófilos impressionado registrava tudo com sua pena mágica no rolo de pergaminho.


- E como vocês descobriram as outras Horcruxes?


- Bom, Dumbledore já tinha procurado por um medalhão, mas o que nós achamos foi o falso então eu tive que procurar o verdadeiro. Ele também havia me dito que era provável que houvesse outros objetos valiosos pertencentes ás casas de Hogwarts assim como o medalhão que pertencia a Sonserina. E é por isso que nós voltamos para Hogwarts no final das contas.


- Nossa! Incrível, realmente assombroso. E quando você encontrou esse medalhão, como fez para destruí-lo?


O estômago de Ron embrulhou. Lembrava exatamente quando e como havia destruído o medalhão, uma de suas piores lembranças por sinal. Fora na noite em que encontrara Harry se afogando naquele poço congelante do qual ele o salvou contente por estar de volta e por poder ajudar o amigo. Apesar do susto, tudo teria ficado bem se Harry não tivesse insistido na idéia de que Ron era quem deveria destruir a Horcrux. Ele sabia que não ia ser fácil, já havia sentido o poder do objeto quando o carregou no pescoço. Conhecia a influência que aquele pequeno pedaço de Voldemort exercia sobre ele, as coisas que ele lhe fazia pensar, as inseguranças que plantava no seu coração. Quando Harry abriu o medalhão foi como se houvesse aberto uma porta para o lado mais negro de Ron e todos os pensamentos dos quais o garoto se envergonhava foram expostos de forma cruel naquela noite na floresta. Sentiu-se fraco, pequeno e impotente ao ouvir seus maiores medos na voz de Tom Riddle que saía das bocas dos corpos-bolha de Harry e Hermione, o que só contribuiu mais para seu constrangimento e humilhação. Harry foi o único a presenciar a cena e quando voltaram para cabana nenhuns dos dois contou o ocorrido a Hermione, como uma espécie de acordo subentendido entre os dois. Até agora, os detalhes daquela noite haviam sido um segredo dele guardado com o amigo e sinceramente ele esperava que continuasse assim.


- Na verdade, quem o destruiu foi Ron. – quando Harry disse isso, Xenófilos se virou na direção de Ronald com uma expressão de surpresa um tanto ou quanto cômica. O garoto foi pego de surpresa quando todos os olhares caíram sobre ele fazendo com que se limitasse a concordar com a cabeça.


- Então, Ronald nos conte como foi! – Luna pareceu excitada com a história que viria a seguir e se endireitou na poltrona de um modo que ficasse completamente virada para o amigo.


- Hum, eu não fiz nada de mais, só enfiei a espada naquela coisa. – Ron sentiu que suas orelhas pegavam fogo agora. Olhou para Harry com a esperança de que o amigo o pudesse tirar dessa.


- Espada?! – Mas de que espada vocês estão falando? – Xenófilos pareceu confuso.


- Ahn, ok. – Harry interveio. – Houve uma noite depois do Natal em que estávamos acampados em uma floresta e eu fui atraído para fora da barraca por uma corsa prateada. – Xenófilos arregalou seus olhos ligeiramente estrábicos, mas o garoto o ignorou.- Eu resolvi segui-la por entre as árvores e acabei sendo levado para um poço com a superfície congelada, só que quando olhei de perto vi que no fundo desse poço tinha uma coisa.Era uma espada, a espada de Godrico Gryffindor.


- A espada de Gryffindor?! – nesse momento a pena colorida parou no ar. - Sim, eu já havia visto antes então tive certeza de que era ela, assim como tive certeza de que a mesma pessoa que me enviou a corsa foi quem colocou a espada no poço.Por isso eu mergulhei para pegá-la e é aí que o Ron entra – Harry apontou para o garoto que estava visivelmente desconfortável afundado no sofá entre Hermione e Jorge. – Eu estava sendo estrangulado pelo medalhão em meu pescoço quando Ron apareceu e me tirou de lá. Se não fosse por ele eu tenho certeza de que não teria sobrevivido.


Enquanto Harry explicava a participação de Snape e a forma como ele os ajudou, Ron foi sugado por lembranças que se reproduziam em sua mente como um filme, reforçadas pela precisão de detalhes que o tempo ainda não havia apagado. Durante os últimos dias, desde que chegara em casa, o esforço de Ron em não se lembrar foi tão grande que imagens como as que lhe viam agora só apareciam em seus pesadelos. Tentou se apegar à voz do amigo que soava didática enquanto seguia narrando como encontraram as Horcruxes restantes e a forma como eles as destruíram, mas não funcionou. Mais uma vez ele estava lá, completamente perdido naquele porão sentindo o desespero tomar conta dele enquanto os gritos de Hermione o feriam de uma maneira que ele desconhecia até então.Ela havia sido entregue nas mãos de Bellatrix Lestranger e Ron não conseguiu fazer nada para impedir, agora ele e Harry estavam amarrados em um porão sem saída, completamente desarmados enquanto a garota era torturada no andar de cima.A impotência de sua situação fez com que Ron perdesse completamente o controle, era difícil raciocinar corretamente tendo que ouvir repetidas e repetidas vezes o sofrimento de Hermione. A dor o atingia como um soco no estômago, o deixando sem ar e completamente vazio por dentro. Não importava quantas vezes o garoto gritasse o seu nome a plenos pulmões, nada pararia Bellatrix assim como nada aliviaria seu sofrimento. Nunca antes em sua vida, contando com todos os riscos que ele passara ao lado de Harry, o medo da morte fora tão real dentro dele. Naquele porão ele soube que abriria mão de qualquer coisa por Hermione, nada mais importava além da vida dela. - Eu vou preparar um chá pra gente. – Foi a primeira coisa na qual ele conseguiu pensar para sair da sala. Sentia-se sufocado pelas lembranças, ainda tão recentes, da mansão dos Malfoy.


***


Ela entrou na cozinha e o encontrou de costas para ela, se apoiando com as mãos na bancada da pia, os braços esticados e a cabeça baixa.


- Ron? – Ele não respondeu, continuou imóvel como se não notasse a presença dela. – Ronald, você está bem?


Hermione avançava pela cozinha com cautela, falando baixo, receosa com a reação do garoto. Parou a não mais do que um metro de distância dele. - É o Harry? Ele disse ao Xenófilos alguma coisa que você não tenha gostado? – ela continuou, não muito certa do que estava dizendo. Poderia ter dito qualquer coisa na verdade, sua única intenção era fazer o garoto quebrar o silêncio que ele estava cultivando no ambiente.


- Não, não é nada disso. – Ele olhou para o teto por um tempo antes de se virar. – Eu só vim preparar um chá para nós.


- Hum...você vai precisar de água então. – ela reparou que Ron não havia sequer separado uma panela. Com um movimento silencioso da varinha, trouxe a chaleira para si e em seguida a encheu com a água que fez jorrar a partir de um segundo movimento. – Pronto.


Ron continuou em silêncio assistindo a panela flutuar de volta para o fogão, que ascendeu assim que ela chegou. Seus orbes azuis percorreram todos os cantos daquela cozinha desde que Hermione entrara, todos menos um. Ele parecia estar evitando um contato visual com a ela, Hermione sentia isso enquanto observava a dureza no olhar do rapaz, assim como o vinco marcado entre as sobrancelhas ruivas. Parecia que ele se fechava justamente quando mais precisava de ajuda, assumia um ar impaciente e duro para evitar que ela ou Harry se aproximassem. Ela queria poder ajudar, se sentia capaz de resolver os problemas dele quase sempre, era um defeito que ela possuía.Sabia disso. Talvez se metesse demais, como quando usou feitiço para confundir o goleiro que competia com ele nos testes para o time da Grifinória, mas ela sentia esse impulso de protegê-lo toda vez que ele demonstrava insegurança assim como ele a protegia de diversas situações. Ron se julgava muito mais fraco do que era na verdade, sempre se deixando abater por sua falta de confiança em si mesmo, o que instigava Hermione a se empenhar no desafio de provar pra ele o contrário. Ela avançou com calma na direção dele e tocou seu braço.


- Ei. – ele levantou os olhos para ela. – Você não precisa voltar pra sala...Harry já está terminando e ele não vai precisar mais da nossa ajuda.


O olhar dele não foi normal, pareceu tão angustiado que ela sentiu como se tivesse perdido alguma coisa na conversa. - Não faz diferença.– o garoto passou uma mão nos cabelos, desviando o olhar para um ponto imaginário. – Não importa onde eu esteja, eu fico tendo esses pesadelos enquanto estou acordado, revivendo coisas que eu quero evitar.


- Ron, seja lá o que for...já passou. – ela segurou os ombros do garoto tentando fazer com que ele olhasse pra ela. – Nós estamos bem e não imp


- Aquela noite, na mansão dos Malfoy, eu queria ter feito alguma coisa...eu queria. – ele não olhava para ela, parecia mais uma vez evitá-la. – Eu queria ter ajudado, ter impedido...eu não, eu não fiz nada e eu sinto tanto... - para o horror de Hermione, o garoto parecia prestes a desabar na sua frente.


Quanto mais ele falava, mais sua voz falhava e ele gaguejava enquanto se curvava cada vez mais sem olhar para ela.


- Eu tive tanto medo...e não, não havia nada que eu pudesse fazer...eu não conseguia, eu..


Hermione podia sentir a respiração dele ficando cada vez mais densa. Ela apertou o ombro largo do garoto enquanto pensava em algo para dizer, mas nada saía. Permaneceu lá parada na frente dele, tomando fôlego e abrindo a boca para soltar palavras que não lhe ocorreram no momento. Depois de terem saído da casa dos Malfoy tudo aconteceu de maneira tão rápida, um episódio atrás do outro, mantendo a atenção dos dois sempre em outros problemas que não os deles própios de uma maneira que eles não tiveram muito tempo para conversar sobre nada disso. Ron a havia tirado de lá e aparatado com ela para a casa de Gui, onde Fleur cuidou de suas fraturas e ferimentos, disso ela lembrava bem. Quando Ron a procurou depois, tudo o que ele quis foi se certificar de que ela estava bem. Não disse muito, só a abraçou e a ajudou na hora de descer as escadas. Agora, com o garoto trazendo o assunto a tona ela pode se lembrar dos momentos horríveis que passara nas mãos de Bellatrix. A verdade é que Hermione não pensou muito nisso, uma vez que tudo estava acabado. Tudo pareceu muito pior na voz de Ron, era terrível pensar no quanto isso o afetou no momento e ainda afetava agora, mesmo sendo só uma lembrança. De forma inocente, a garota atribuiu todo o pesar de Ron à morte do irmão, como se isso anulasse todas as outras angústias pelas quais ele havia passado. Hermione se sentiu mal por não saber o que dizer, passou as mãos pelos cabelos ruivos tentando assim trazer ele para si mas o garoto permaneceu curvado olhando para os próprios pés.


- Ora, então vocês vieram para a cozinha! Disse para me chamar Ronald – a Sra Weasley irrompera pela porta, assustando a garota que se distanciou na hora uns dois metros de Ron.


- É, pois é...nós resolvemos preparar um chá. – Hermione lutava contra o próprio nervosismo mas se sentiu aliviada por recuperar a voz. - Diga ao Harry que fui lá pra cima. – Ron grunhiu com uma voz empastada para Hermione enquanto saía como uma flecha da cozinha. A Sra. Weasley olhou o filho ir embora com as sobrancelhas levantadas e se virou para a garota.


- Bom, eu vou fazer uns biscoitos. – e acrescentou antes que Hermione pudesse oferecer ajuda. – E você querida, porque não sobe e vá ver o que ele tem han? A garota bateu de leve na porta mas não esperou para entrar. Ron estava de pé ao lado da janela e permaneceu imóvel enquanto ela caminhou até parar de frente para ele. - Quando eu estava lá, com Bellatrix, eu sabia o que devia fazer, entende? – ela esperou a reação do garoto, mas ela não veio. Ron permaneceu quieto e ela continuou antes que perdesse a coragem. -O mais importante quando se está sob o Cruciatus não é a dor física...é horrível mas você deve evitar pensar na dor para que ela não domine sua mente. Porque se isso acontecer, você pode enlouquecer. – o rosto dele endureceu para a paisagem da janela quando ela disse isso, mas Hermione estava disposta a só terminar quando tivesse dito tudo que pretendia. - Você precisa se esforçar para se distanciar da dor, e para isso é recomendável pensar em algo no qual você possa se agarrar. Alguma coisa que faça você querer resistir. – ela respirou fundo. - E eu fiz isso, Ron. Eu pensei em você. O olhar de Ron se perdeu quando ela disse isso, estava fora de foco e não mirava nada em especial. Hermione tomou isso como um bom sinal e se aproximou dele, sentindo a respiração lhe apertar as costelas. Demorou um pouco antes que conseguisse continuar. - Foi isso que eu fiz, e foi assim que eu resisti então não venha me dizer que não me ajudou porque você não tem idéia de como você me ajudou, Ronald. – ela não queria que isso tivesse soado como uma bronca ou algo do tipo, mas quando se deu conta, apesar de sua voz falhar ela já apontava o dedo para o peito do rapaz. Ele repetiu o mesmo olhar que havia lhe lançado antes na cozinha e Hermione sentiu que quem fraquejava agora era ela. Uma vez que já havia dito tudo que queria que ele soubesse não lhe restava mais nada além de encarar os olhos fundos de Ron enquanto sentia o ar faltar no pequeno espaço que restava entre eles. A garota se encontrava tão absorta naquele olhar que não percebeu quando ele se aproximou ao mesmo tempo em que a trazia para si pela cintura. Só se deu conta quando sentiu a respiração quente dele disputando ar com a dela enquanto seus lábios se encaixavam. Ele a inspirou fundo e a envolveu em um abraço completo fazendo a pensar que podia ceder completamente porque estaria segura. Uma sensação de alívio tomou conta de Hermione, que no momento não se preocupava com mais nada, ela apenas se ateve nos braços largos que a envolviam enquanto o beijo dele a explorava com uma intensidade arrebatadora.


 


---------------------------- N/A: Gente! Boas Novas! Devido aos emails e a atenção de vocês à minha fic(muito obrigada!!!), eu resolvi voltar a a escrever. O capítulo Cinco - Casa dos Granger, já está em andamento e assim que estiver pronto ele vêm pra FeB! à todos os meus leitores, mais uma vez, muito obrigada pela atenção!


Beijos, da autora mais relapsa do FeB. x

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