PRÓLOGO
Mary subiu aos tropeços em cima de uma grande pedra na beira de um precipício e olhou admirada para a paisagem a sua volta. Antes só havia visto o grande e árido deserto do oeste americano em filmes, e nunca poderia ter imaginado que um dia o teria sob os seus pés. Mas lá estava ela, diante daquela imensidão de tons alaranjados, contrastando com um céu azul de nuvens dispersas.
- Que enorme! – ela exclamou – Até onde o horizonte alcança só tem PEDRAAAA! – ela gritou a última palavra, deixando a sua voz reboar pela grande planície seca.
- Nada mal para a nossa primeira viagem juntos, não acha? – perguntou Doumajyd, também subindo na pedra para poder observar.
- Por que esse sorriso bobo? – ela perguntou séria, deixando totalmente de lado o seu deslumbramento com o novo cenário – Não estamos em um passeio! Será que dá para você parar de agir como um despreocupado?
- Mas eu não estou despreocupado! – retrucou o dragão no mesmo tom.
Mary respirou fundo e esticou os braços, os levantando o mais alto que podia, para se espreguiçar. Estavam viajando há horas sem parar, e o lugar bonito apenas coincidira com a decisão de darem uma pausa.
- Se nós viéssemos aparatando, pela rede de Pó de Flu, por um portal ou mesmo de avião já teríamos chego... – ela reclamou o que parecia um assunto já discutido outrora.
- Eu já disse que não podemos ser anunciados! Temos que chegar sem ninguém saber... – ele desceu da pedra grande e se sentou em outra menor ao lado – Se temos que procurar entre os trouxas é melhor não usarmos meios mágicos. E eu definitivamente não ando naquela coisa de novo!
Mary sabia que ele estava certo. Eles, na condição de estrangeiros, deveriam comunicar ao Ministério da Magia se resolvessem viajar pelo país usando meios mágicos. Inevitavelmente essa informação vazaria para a imprensa e, no mesmo instante em que aparatassem na cidade, provavelmente seriam emboscados por uma avalanche de jornalistas. Meios trouxas e discretos de locomoção eram a única opção que tinham. Porém, suas opções eram reduzidas, já que Doumajyd ficara em pânico na viagem de Londres até Nova York e seria praticamente impossível convencer o dragão a entrar novamente em um avião. Por isso lá estavam eles, atravessando um continente em um conversível vermelho último modelo... Mesmo com as palavras ‘discretos’ não se encaixando naquela escolha, segundo Mary.
A surpresa de Mary com o carro de cinema só foi superada quando Doumajyd anunciou, orgulhoso, que ele mesmo iria dirigir. E, ao longo da viagem, o medo dela com a condução duvidosa do dragão foi aos poucos sendo trocado pelo pensamento de como ele ainda conseguia a surpreender, mesmo o conhecendo há tantos anos. Ele dirigia muito bem e confessou ter aprendido por causa de situações inevitáveis, como aquela.
Aliás, o carro de cinema, conseguido com um conhecido confiável, segundo Doumajyd, não parecia ser exatamente um carro usado por trouxas. Mesmo não parecendo, em um dia de viagem eles já haviam feito a metade do caminho, coisa que um carro normal não poderia fazer. Mas, mesmo com essa suspeita, Mary fingiu não ter percebido. Do contrário, demorariam o triplo de tempo para chegarem ao seu objetivo.
- Ei... – Mary se sentou ao lado do dragão na pedra, achando justo contar para ele o que a estava incomodando, já que era um problema dos dois – E se... E se voltamos de mãos vazias? O casamento já era, não?
- Não só já era como eu vou ser amaldiçoado e morto pela minha mãe. – ele respondeu desanimado, e então ficou de pé em um pulo, como se dissesse que ainda era cedo para pensar no que aconteceria caso não conseguissem – ...Vamos continuar! Temos que chegar antes que escureça!
De volta ao carro e a estrada, Mary conferia o mapa do estado de Nevada enquanto Doumajyd dirigia e resmungava:
- Temos que pegar aquele desgraçado... – ele lembrou de algo de repente e se virou para ela perguntado – Você trouxe a foto, não é?
- AH! – foi o que ela respondeu.
- Você esqueceu?!
Ela apontou para frente apavorada e isso fez com que o dragão lembrasse da lição mais básica de se dirigir um carro: olhe sempre para frente. No instante em que ele voltou os olhos para a estrada se deparou com um grande caminhão de carga vindo na sua direção, e tudo o que ouviu foi o lamento de Mary ao seu lado:
- INACREDITÁVEL!
***
Durante todo o tempo em que passei naquele castelo, sempre imaginei que a minha vida seria diferente quando me formasse.
Eu seria uma bruxa livre, mesmo sendo uma sangue-ruim. Teria superado essa minha situação depois de conviver por tanto tempo com o desprezo da escola, e seria capaz de atravessar todas as dificuldades depois disso, porque nada seria pior... Bom, não aconteceu exatamente como previ, mas minha vida mudou muito.
Quatro anos depois de sair de Hogwarts lá estava eu: uma uase formada no curso de Direito na Academia Bruxa, noiva do herdeiro da maior e mais poderosa família bruxa da atualidade... Nada poderia ter mudado mais a minha vida.
Para conseguir ter uma rotina normal de estudante na Academia, precisei ficar sobre um encantamento de proteção, que não permitia que as pessoas me reconhecessem como a noiva de Christopher Doumajyd... E não é preciso dizer que esse encanto foi quebrado várias vezes pelo descuidado do Chris, o que causava uma grande dor de cabeça para o seu secretário, Richardson, que muitas vezes perdia dias inteiros de trabalho obliviando as pessoas que estivessem envolvidas. No mais, minhas notas estavam ótimas e meus projetos eram bem vistos pelos meus mestres... E, incrivelmente, eu até não era mais importunada por ser um sangue-ruim.
As únicas pessoas que foram permitidas saber sobre a minha situação, além das nossas famílias, eram os Dragões, Vicky e a professora Caroline... E por falar neles, muita coisa também havia mudado na vida deles.
Nissenson ocupara o lugar do seu pai e viajava freqüentemente pelo mundo por causa das suas poções. Seus dois primeiros livros científicos sobre o assunto fizeram um sucesso estrondoso e causaram uma revolução na área. Fiquei sabendo que um terceiro livro está a caminho, mas nada foi oficialmente confirmado. Já que ele se tornou um bruxo importante, conseqüentemente também se tornou um bruxo muito ocupado.
MacGilleain conseguiu superar a fama de bruxos das trevas ligada ao passado da sua família e se tornara um auror, um dos melhores da nova geração. Inclusive havia rumores de que, com mais um pouco de experiência, ele poderá se tornar o Chefe dos Aurors, o mais novo de que se tem notícia. Atualmente ele está trabalhando em missões no exterior, muitas delas secretas e por isso seu paradeiro nunca é certo.
Hainault, porém, parece ser o único que não progrediu nesses anos, depois de terminar a Academia. Mesmo não falando muito sobre si mesmo, há algumas coisas eu consegui captar sobre a sua situação. Seu pai lhe deu um prazo para que ele decidisse o que quer fazer: seguir com os negócios da família ou escolher seu próprio caminho... Apesar de manter a tranqüilidade de sempre, é visível que Hainault está passando por uma fase difícil.
Vicky se formou um ano depois de mim e decidiu não freqüentar a Academia. Segundo ela, ser habilitada para usar mágica era o suficiente para fazer o que queria, e não necessitava de uma instrução acadêmica para isso. Hoje ela e a Professora Caroline são sócias de uma loja que vende os mais variados e incomuns doces mágicos em Londres, e já ultrapassaram até mesmo a fama da centenária Dedosdemel.
E sobre o Ilustríssimo Christopher Doumajyd?... Bom, acho que nada pode explicar melhor a sua posição atual no mundo mágico do que quando ele resolveu fazer um certo anuncio oficial para a Sociedade Mágica... O anuncio que foi o começo de tudo...
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