O roubo
Sem entender o que estava acontecendo, Mary olhou em volta assim que a pressão de Doumajyd sobre ela diminuiu, indicando que não haviam mais cacos de vidros voando contra eles. A primeira coisa que ela viu foi que todas as luzes do lugar haviam sido apagadas e que os pedaçinhos de vidros reluziam no chão com a luminosidade fraca que entrava pelas janelas de onde eles foram tirados. Então ela se voltou para o dragão, que olhava fixamente para frente e foi quando notou que havia mais alguém lá com eles. Alguém com vestes negras, que não podia ser visto direito por causa da escuridão.
Tudo isso aconteceu muito rápido e quando Mary compreendeu que aquilo era um ataque o vulto correu para a porta, levando algo consigo.
- Ele pegou – ela começou a murmurar para Doumajyd.
- A Sorriso da Deusa! – ele completou, pulando por cima do sofá no mesmo instante e correndo atrás do vulto, com varinha em punho.
Mary se levantou para seguir o dragão, mas voltou a cair sentada no sofá, como se tivesse levado um choque. Sua perna havia sido atingida por um dos estilhaços grandes da janela e só com o movimento brusco foi que percebeu o ferimento.
Ela se apressou em executar um feitiço provisório para estacar o sangue, já que cura não era a sua especialidade mágica, e então também saiu em busca do ladrão, mancando pelo caminho.
***
Não foi difícil descobrir para onde perseguido e perseguidor tinham ido pelo hotel. Nos corredores haviam marcadas por todas as paredes, causadas por feitiços de ataques. Ao ver aquilo o coração de Mary acelerou ainda mais, e ela correu, agüentando a dor na perna ferida. Sabia que o dragão não era exatamente um bruxo fácil de ser derrotado, mas o modo como foram atacados deixou bem claro que aquela pessoa também não era um bruxo qualquer, e sabia muito bem o que estava fazendo para chegar ao ponto de explodir uma suíte do maior hotel de Hogsmeade.
Ela saiu dos corredores, desceu pelas escadas e chegou ao hall do hotel, onde ninguém, além dela, parecia notar os lugares chamuscados depois de terem sido atingidos. Passou por um salão de festas vazio e entrou na cozinha, onde também todos trabalhavam normalmente, mesmo com várias panelas e caldeirões enfeitiçados voando de forma errante por eles, procurando por alvos para atacarem. Então seguiu pela área de serviço sem ser impedida por ninguém, e subiu as escadas de emergência até o final dela, que dava para o terraço do edifício. Ao abrir a porta e sair no ar frio da noite, algo bateu com força logo ao seu lado, e ela viu Doumajyd escorregar pela parede, com um filete de sangue escorrendo pela boca.
- CHRIS! – ela correu até ele.
Mas o dragão se levantou sem a ajuda dela, meio tonto, segurando o lado esquerdo do corpo, onde visivelmente tinha quebrado alguma coisa com o impacto, e gritou com raiva:
- QUEM É VOCÊ, DESGRAÇADO?!
Mary olhou para frente e viu o bruxo que os havia atacado, de pé na bancada do edifício. O capuz dele havia caído e agora ela podia ver bem o rosto dele. Não era alguém que ela já vira antes e muito menos parecia ser algum conhecido de Doumajyd. Ele sorria de forma sarcástica, segurando o baú com a tiara em um das mãos e a varinha na outra, como se perguntasse para o dragão se aquilo era tudo que ele tinha para enfrentá-lo.
- Isso é uma coisa muito importante! – disse Mary tentando usar um meio que ela tinha certeza que o noivo não havia tentado – Por favor, nos devolva!
O bruxo riu, achando uma graça imensa no pedido dela e então olhou para baixo pela borda da bancada.
- Não vá pular na nossa frente! – Doumajyd adivinhou as intenções dele relembrando de um antigo trauma seu.
E então ele pulou, sem demonstrar medo algum do que estava fazendo.
Mary e Doumajyd correram até a borda e pararam na bancada, olhando para baixo ofegantes, mas não havia nada lá. Tanto o bruxo quanto a tiara haviam sumido em pleno ar.
- Mentira. – foi tudo o que Mary conseguiu pronunciar.
***
- O que significa isso? – perguntou Doumajyd abobado, olhando por toda a extensão da suíte onde Mary e seus pais estavam hospedados.
Não havia um caco de vidro fora do lugar onde deveria estar. As janelas estavam perfeitas, todos os objetos que tinham sido quebrados estavam exatamente como sempre foram e as luzes estavam acesas.
-É o quarto certo. – informou Mary em igual estado, olhando para o número na porta.
- O que foi? – perguntou a senhora Weed confusa, olhando em volta.
Eles havia se encontrado no hall do hotel, onde a família de Mary ficara surpresa com os ferimentos dos dois, e os seguiram de volta até a suíte pelo elevador, enquanto eles tentavam explicar o que havia acontecido.
- Está tudo normal aqui, Mary – disse Charles, como se pensasse que a irmã não tinha reparado nesse detalhe.
- Mas não estava! – ela retrucou de forma nervosa – Não sei de onde ele apareceu, mas quebrou todas as janelas!
O senhor Weed verificou as janelas e balançou a cabeça negativamente, indicando que não havia encontrado nenhuma avaria.
- Vocês não sonharam com isso? – sugeriu a mãe, olhando preocupada para a filha, com se ela pudesse estar doente.
- Não tem como ter sido um sonho. – disse Doumajyd, parecendo estar pensando em algo.
- Se fosse um sonho como teríamos isso – ela apontou para os machucados do dragão – e isso?! – para a sua própria perna.
E, enquanto Mary ainda tentava convencer os pais de que tudo aquilo havia acontecido de verdade, Doumajyd saiu de repente.
- Onde você vai? – ela perguntou.
- Não tem como ele ter entrado aqui sem ser notado! – ele respondeu, sem se virar para trás.
E, sem se importar com os seus pais e seus olhares de descrença, Mary o seguiu, ainda mancando.
***
- Me perdoe, mas não compreendo o que está dizendo, senhor Doumajyd. – disse o gerente do hotel educadamente.
- O que estou dizendo é que há pouco tempo esse hotel estava um caos! Alguém invadiu o quarto da minha noiva e fomos roubados! Eu o persegui por esses corredores e destruí todos os lugares por onde passamos! Mas agora tudo voltou ao normal!
- É impossível alguém não ter visto! – acrescentou Mary para ajudar.
O gerente olhou de um para outro e procurou assumir a pose mais profissional possível:
- Desculpe, mas não tenho informação alguma de que algo do gênero tenha ocorrido no Boreal. Também não recebemos nenhuma reclamação dos outros hóspedes.
- MAS NÃO SE PASSOU NEM MEIA HORA! – Doumajyd perdeu o controle e puxou o gerente pelas vestes, quase o tirando de trás do balcão que os separava.
- Chris, se acalma! – Mary tentou controlá-lo, tentando soltar as vestes do bruxo das mãos do dragão.
- Se o senhor teve qualquer aborrecimento, eu peço mil desculpas, senhor Doumajyd. Mas não posso fazer nada a respeito do que afirma ter acontecido quando ninguém mais do hotel viu.
- Não é culpa dele, Chris! – Mary segurou as mãos do noivo com firmeza e Doumajyd soltou o gerente, ainda respirando furioso.
***
- Enfeitiçados? Como alguém pode enfeitiçar todas as pessoas do hotel de uma só vez? – perguntou Mary incrédula, enquanto ela e Doumajyd voltavam para a suíte, tentando resolver aquele misterioso roubo.
- Enfeitiçados ou não, com certeza alguém os mandou ficarem quietos! – quase rosnou Doumajyd.
- Você acha que os funcionários foram mandados fingir que nada aconteceu?
- E só existe uma pessoa que está acima do gerente...
Eles estavam voltando pelo mesmo caminho que acontecera a perseguição e, assim como a suíte, não havia mais vestígio algum de que algo daquela dimensão ocorrera ali.
- Nós sabemos que isso não foi uma ilusão, Mary, por isso não podemos fingir que nada aconteceu. – o dragão chegou a uma conclusão – Diga aos seus pais que estamos saindo daqui imediatamente! Leve-os para casa e espere que eu lhe contate pela esfera.
- Mas-
- Sua casa tem a proteção que colocamos para que o pessoal de imprensa não entre. Deve funcionar contra ataques desse tipo também. Mas mesmo assim vou mandar seguranças ficarem por perto!
- Mas, Chris! E a tiara?!
O dragão parou de andar e a encarou com um olhar determinado, mas ao falar tinha a mesma calma que ele usava para administrar a D&M, de quem sabia o que estava fazendo:
- Eu definitivamente vou recuperá-la.
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