Nem Tudo Mudou
Casinha arrumada! Estranhamente bem arrumada.
Severus acabara de sair da lareira da cozinha de uma casinha bem composta, sem fazer nenhum barulho (como resultado da imensa prática em muitos anos como espião), olhando bastante espantado em seu redor. Estava muito espantado e quem o conhece há anos sabe que ele não se espanta com qualquer coisa.
Passa-se alguma coisa. Esta não pode ser a casa onde está o Desastre Ambulante! Impossível… não pode dar um passo sem quebrar alguma coisa, não pode ser esta a casa.
Olha pela janela e apercebe-se de que seria ali mesmo que ele próprio se esconderia do mundo se algo semelhante lhe tivesse acontecido. É este o lugar. Os primeiros raios de sol ainda estão preguiçosos em abraçar os cumes altos das montanhas.
Com o seu instinto apurado, sobe pelas escadas e abre a última porta do pequeno corredor do piso superior. Quase que fica petrificado.
Tonks ainda estava dormindo entre os suaves lençóis da cama, abraçada a uma almofada, chorando levemente. Os seus cabelos tinham-se tornado negros, mas o sol matinal a bater neles dava-lhes um leve toque do antigo rosa que antes se exaltava.
O primeiro impulso que durou um segundo era o de a acolher como a uma criança perdida, abraçando-a e dizendo-lhe que tudo se iria compor. Mas ela era adulta, ele também, e nada iria ser como dantes.
A mera presença de Severus fez com que a alma solitária há seis meses se sentisse aprisionada o suficiente para acordar.
Os olhos cinza brilhando devido às lágrimas conjuntas com os raios solares fez Severus ficar sem fala durante um momento, o suficiente para ela retorquir:
- Severus, que eu saiba existem portas para serem batidas antes de se entrar!
- Bom dia para si também. Como não obtive qualquer resposta sua a demonstrar sinais de vida da sua parte, vim cá para me certificar de que ainda poderia recolher alguns ossos seus para levar aos demais…
- Sempre com o melhor sentido de humor da história, não é mesmo Sev?
- Nunca me chame Sev, Nymphadora!
- E nunca me chame Nymphadora!
Olharam-se duramente durante alguns instantes antes de Severus dizer revirando os olhos:
- Deixemo-nos de criancices! Eu vim cá mesmo para a levar… a bem ou a mal. Precisamos de si em Grimmauld Place…
- Pensei que o Harry e a Ginny se tinham mudado para lá.
- O Potter e a Weasley júnior quiseram ter a amabilidade de nos deixar continuar a ter lá as reuniões, já que desta vez eles também participam. E por Merlin, lave essa cara!
- Qual é o seu problema com as lágrimas Sev? Severus? – apressou-se em acrescentar.
- Já passou tempo suficiente para esquecer a morte daquele lobisomem miserável! É altura de ir em frente, não há nada a fazer… e agora, se tiver a gentileza, vá lavar essa cara para estar minimamente apresentável quando chegarmos.
- Mas vais obrigar-me a ir contigo? Eu não vou, pensei que a minha falta de resposta fosse suficiente para indicar isso. Mas como TU és uma cabeça dura, não consegues perceber a necessidade que eu tenho de estar aqui assim, para meu próprio equilíbrio.
- Já notei, não vi nada partido nem danos irreparáveis por aqui quando cheguei – provocou Severus – Como conseguiu não tocar em nada todo este tempo?
- E como consegues ser sempre tão insuportável?
- Faz parte do meu encanto.
Tonks fez cara de tédio.
- Como é que me conseguiste encontrar?
- Eu tive realmente muito trabalho para isso, mas lembrei-me de uma prática muggle de colocar um localizador na coruja que foi ter consigo.
- Que esperteza rara… e afinal para quê mais reuniões?
- Eu também não sei bem, mas suspeito. Agora, vá lavar essa cara, coma uma maçã e vamos logo.
- E vais ficar aí especado a olhar? Preciso de privacidade! Sabes o que isso significa? Pri-va-ci-da-de? – provocou Tonks.
Minutos depois, Tonks tinha descido para tomar o pequeno-almoço quando Severus – que a esperava na cozinha - agarra o braço dela e não se importando com as suas investidas para se livrar dele, aparata – juntamente com ela – directamente em Grimmauld Place.
(continua...)
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