Conversas



CAPÍTULO 7


 


Hermione estava exausta. A noite passada tinha sido cheia, e uma vez que Remus tinha partido, ela teve problemas para dormir. Mais tarde, teve pesadelos. Pesadelos que a fizeram gritar dormindo, ou pelo menos ela acha que ouviu gritos. Ela não se lembrava dos sonhos, apenas de que Remus Wulf estava neles.


 


Essa manhã, ela havia implorado para Franklin permitir que ela ficasse em casa, mas ele recusou. Agora aqui estava ela, na propriedade de Remus. Forçada na companhia de dois homens a quem desprezava quase com igual fervor, e no estábulo de Lorde Wulf. O lugar onde uma mulher havia morrido.


 


Hermione não sabia se eram esses pensamentos negros que a faziam ficar nervosa, ou se era simplesmente se ver forçada a acompanhar Lorde Penmore que estava fazendo seus nervos ficarem a flor da pele. O Visconde não era menos sutil em seus lânguidos olhares para ela hoje do que nas duas ocasiões anteriores em que se encontraram. Franklin estava se comportando ainda mais estranhamente do que o normal essa manhã.  Seu irmão de criação tinha arranhões no rosto. Hermione não tinha visto Lydia hoje. Ela teve um mau pressentimento sobre isso... um pressentimento muito ruim.


 


- Ah! Aqui está você, Lorde Wulf!


 


Hermione espiou por sobre o cavalo que estava admirando. Remus estava de costas para ela, encarando os dois homens. Seu casaco abraçava seus ombros largos, era confeccionado para mostrar seu físico impressionante. Ele usava calças justas, enfiadas em longas botas negras, ambas chamando a atenção para suas longas pernas musculosas. Remus Wulf era um homem impressionante – indo ou vindo.


 


Uma pequena chama se acendeu em sua barriga e se espalhou pelas regiões baixas. Maldito seja o homem, como ele podia afetá-la quando nem mesmo a estava olhando? E como ela deveria tratá-lo, considerando o fato de ele ter entrado sorrateiramente em seu quarto e a beijado a noite passada?


 


- O que você está fazendo aqui, Chapman?


 


Dificilmente esse era o modo de um negociante tratar um possível cliente, pensou Hermione. Não se precisava ter uma grande inteligência para se perceber que Remus não gostava de seu irmão de criação, e vice versa.


 


- Vim como convidado de Penmore – Franklin respondeu – Minha irmã e eu.


 


Já que Franklin a havia apontado com a cabeça, Hermione ficou esperando que Remus olhasse para ela. O que ela não antecipou foi o repentino calor que reluziu nos olhos deles quando seus olhares se encontraram e se fixaram. Eles ficaram parados se encarando por um tempo desconfortavelmente longo.


 


- Eu já atrelei os cinzas em minha carruagem, Penmore – disse Remus, finalmente desviando o olhar dela. – Presumi que você iria querer testá-los antes de tomar a decisão final.


 


O homem repugnante acenou concordando, seu papo balançando com o movimento. – Uma idéia muito feliz, Wulf. Talvez a jovem senhorita e eu possamos passear juntos. Ele sorriu libidinosamente para Hermione.


 


- Não permito que mulheres cavalguem quando testamos animais – Remus interviu, lançando ao visconde um olhar maldoso. – Muito perigoso. Presumo que você queira que eles dêem tudo de si, para ver do que eles são capazes?


 


Penmore franziu os lábios; então concordou. Ele se voltou para Franklin:


 


- Mas você vai comigo, não vai, Chapman? Quero ter uma segunda opinião e não vejo motivo para que você deixe de me acompanhar, a não ser que não esteja  inclinado a me fornecer uma.


 


- Não seria apropriado deixar Hermione sozinha – disse Franklin – Esperarei aqui pelo seu regresso.


 


- Não me importo de ficar sozinha – Hermione disse – Ela ansiava por alguns minutos sem Franklin respirando em seu pescoço. E apesar do medonho pensamento sobre assassinato que insistia  em permanecer em sua mente, ela adorava o cheiro do estábulo e esfregar os narizes de veludo dos cavalos. Ela se lembrava do interior e isso trouxe um forte sentimento de saudades.


- Tenho certeza de que Lady Hermione ficará bem – Remus disse aos homens. – Mas se quiserem vir um outro dia, Penmore, eu compreendo. Talvez os animais ainda estejam disponíveis.


 


Penmore franziu os lábios novamente. Ele se virou para Franklin – Vamos lá, Chapman. Ela ficará bem aqui, enquanto o resto de nós dará um pequeno passeio. Eu rasgarei suas dívidas da véspera se você me fizer esse favor.


 


O visconde havia feito uma proposta que Franklin não podia recusar. Ele aceitou. – Muito bem, então. Vamos logo para retornarmos rapidamente.


 


Quando os homens saíram do estábulo, Hermione queria gritar de alegria. Finalmente, um tempo sozinha, quando não estava fechada em seu quarto. Ela poderia respirar novamente; ela poderia girar com abandonamento. Talvez ela pudesse roubar um dos finos cavalos de Remus e fugir. Ela acalentou a idéia apenas por um momento. Ela não tinha para onde fugir. Ela não tinha dinheiro com ela, nenhuma comida, nenhuma roupa extra. Se ela realmente desejava escapar, ela devia planejar melhor.


 


Ela se voltou para o animal que estava acariciando, atraída pelas linhas belas da égua Árabe, sua crina sedosa e seus lindos olhos castanhos, Hermione desejou ter seu cavalo com ela em Londres. Ela adorava cavalgar quando estava no interior e sentia falta das saídas diárias.


 


- Você tem bom gosto para cavalos


 


Alarmada, ela se voltou rapidamente. Remus a estava observando.


 


- Pensei que você conduziria a carruagem – ela disse – quer dizer, eu presumi...


 


- Penmore e seu irmão também. – ele comentou com um meio sorriso. Meu condutor é perfeitamente capacitado para mostrar os animais de modo mais vantajoso. Não vi razão para acompanhar dois homens cuja companhia me dá nos nervos. Franklin ficou zangado.


 


- Não permita que eu atrapalhe seus afazeres – ela disse – ficarei bem aqui sozinha.


 


- Está com medo?


 


- Medo?


 


Ele andou em direção a ela e se recostou contra a cocheira próxima à égua. Um lindo garanhão castanho colocou a cabeça para fora do portão e tocou o pescoço de Remus com o focinho. Hermione sentiu uma estranha necessidade de fazer o mesmo.


 


- De ficar sozinha comigo? – ele especificou.


 


- Deveria ter? – ela desafiou.


 


Ele deu um sorriso diabólico. Ele se tranqüilizou após um momento.


 


- Quero dizer, aqui. Onde uma mulher morreu.


 


De repente um calafrio atravessou o ar. Hermione estremeceu:


 


- Onde você a encontrou?


 


Remus apontou com a cabeça para  um local no final do estábulo onde ainda estava escuro.


 


- Lá no fundo. Não posso mais instalar os cavalos lá, agora. Parece que eles sentem o cheiro de sangue.


 


Ela estremeceu novamente.


 


- Você a conhecia?


 


Voltando o rosto para a cocheira em que estava recostado, Lorde Wulf acariciou o focinho do castanho.


 


- Seu nome era Bess O`Conner, e não, eu não a conhecia. Ela era uma prostituta, ninguém importante, ou tenho certeza de que se teria feito muito mais para encontrar seu assassino.


 


- Como ela chegou aqui? – Hermione caminhou até o centro do estábulo e observou a longa fileira de cocheiras.


 


- Não sei. Eu cheguei em casa após uma saída noturna. Tinha dispensado os funcionários do estábulo para um casamento. Um dos cavalariços se casou aquela noite. Fui guardar meu cavalo e ouvi um gemido. Foi quando a encontrei.


 


Hermione esfregou os braços:


 


- Ela lhe disse algo?


 


Quando ele não responde, ela o olhou. Ele parecia perdido em pensamentos. Como se percebendo que era observava, se endireitou e se afastou do cavalo.


 


- Não. Ela havia sido espancada. Tentei descobrir algo sobre ela logo depois que aconteceu. Queria muito encontrar o homem responsável pelo seu sofrimento. Queria muito fazê-lo sofrer também.


 


A paixão em sua voz fez com que Hermione acreditasse nele. Nesse momento ela pensou que o homem responsável pela morte de Bess O`Conner tinha muita sorte por Remus não saber quem ele era.


 


- Hermione!


 


Ela pulou e se voltou rapidamente para ver Franklin e Penmore parados na entrada do estábulo. Seu coração disparou contra o peito e ela imaginou que a cor sumiu de sua face. Seu irmão de criação estava lívido.


 


- Já voltaram? – perguntou Remus. Ele se dirigiu ao meio do estábulo, se colocando diretamente entre Hermione e os dois homens. – Estava mostrando os cavalos a lady Hermione. . Ela parece ter gostado muito da jovem égua árabe. Gostaria que eu a selasse para sua irmã testá-la?


 


O rosto de Franklin ficou roxo.


 


- Você nos enganou propositadamente. – ele acusou. – Pensei que você conduziria a carruagem. Se eu soubesse que você não nos acompanharia, jamais teria permitido que Hermione ficasse aqui, e você sabe disso!


 


Remus não se acovardou pelo tom raivoso de Franklin, não do modo como Hermione fez. Mas então, Remus nunca tinha estado do outro lado das mãos dele.


 


- Lady Hermione não sentiu medo algum por ficar alguns minutos sozinha em minha companhia, como você pode facilmente perceber.


 


- Essa não é a questão – Franklin rosnou.


 


Remus levantou uma sobrancelha. – Não é? Então qual é, Chapman?


 


Seu irmão de criação se dirigiu ameaçadoramente em direção a Remus.


 


- Se alguém os tivesse visto aqui sozinhos, poderia levantar suspeita. Penmore planeja fazer uma oferta por ela. Ele não iria querer uma mulher cujo nome tivesse sido arrastado na lama.


 


Obviamente nem um pouco intimidado por Franklin, Remus dirigiu o olhar ao visconde:


 


- É verdade, Penmore? Você planeja fazer uma oferta por Lady Hermione? A mesma que irá fazer pelos cavalos?


 


Penmore parecia estar se divertindo durante o confronto. Agora ele tornou-se sério.


 


- Veja o que fala, Wulf! Meus planos para Lady Hermione dizem respeito a seu irmão de criação e eu.  – O homem levantou uma sobrancelha. – Planeja fazer uma oferta por ela?


 


Os olhos de Hermione viajavam de um homem a outro durante a discussão. Agora seus olhos pousaram em Remus, e por um breve momento ela desejou que ele dissesse “Sim”.  Por que ela desejava isso ainda não estava muito claro para ela. Bem, além do óbvio. Um deus alto e loiro em contrapartida a um visconde baixo, rechonchudo e careca. Mas Hermione sabia em seu coração que havia mais do que desespero guiando-a para tal decisão. Respeito? Armando olhou para além do visconde, e até mesmo essa opção foi tirada dela.


 


- Foi o que pensei – Penmore bufou. – Você sabe muito bem que não deve ficar se atirando para senhoritas bem nascidas. Nenhuma mulher quer um louco para marido, ou passar seus maus traços para os filhos. Podemos ir resolver a venda dos cavalos, agora?


 


Quase partiu seu coração perceber que as palavras de Penmore haviam alterado um pouco da postura arrogante de Remus. Parecia que ele ficou envergonhado. Mas rapidamente encobriu qualquer sinal de fraqueza que pudesse ter mostrado alterando suas belas feições em uma máscara de indiferença.


 


- Se todos me seguirem até a residência, pedirei que sirvam chá a Chapman e Lady Hermione, enquanto discutimos a venda – disse Remus.


 


Franklin deu um passo a frente. 


 


- Não considero sua residência um local apropriado a minha irmã de criação. Esperaremos por você na carruagem, Penmore. Poderíamos atravessar a curta distância  para casa se não fosse por Hermione. O forte orvalho estragaria seus sapatos.


 


Remus olhou para Hermione:


 


- É uma proposta apropriada, Lady Hermione? O ar está muito úmido. Presumo que estaria muito mais confortável em minha sala de visitas, bebendo um chá quente.


 


Mas que droga! Hermione tinha a impressão de que ele a estava jogando contra Franklin de propósito. Talvez em retaliação por ela ter testemunhado sua fraqueza. Agora ela era obrigada a mostrar a dela.


 


- Ficarei bem na carruagem – ela disse, recusando-se a encará-lo.


 


- Tolice – Penmore disse finalmente. – Chapman, guarde esse seu ressentimento contra Wulf para outra ocasião, e entrem os dois na casa. Eu não quero ser apressado na negociação por estar preocupado com sua irmã me aguardando. Esperava poder conversar com ela sobre certo assunto depois de ter terminado aqui e tenho outro compromisso que devo atender logo depois.


 


Hermione olhou para Franklin. Seu irmão franziu as sobrancelhas para o visconde, mas depois de um momento acenou em concordância. Hermione pensou que era estranho. Ela sabia que o irmão devia muito dinheiro ao homem, mas assim mesmo, ela não pensava que seu irmão pudesse ser tiranizado por alguém. Ele era o tirano. E repentinamente sentiu que ela era o espinho que todos usavam para ferir os egos masculinos uns dos outros.


 


Ela deveria ter se retirado e recusado o chá oferecido por Remus, simplesmente porque se recusar a ser a fonte de fricção entre os homens presentes, mas ela sentia curiosidade em ver sua casa.  Ela tinha muita curiosidade a respeito de tudo sobre Remus Wulf, percebeu. Penmore se aproximou dela e ofereceu-lhe o braço rechonchudo:


 


- Vamos?


 


Embora preferisse não tocar no homem, Hermione tinha muita boa educação para recusar. Ela percebeu o olhar de nojo de Remus quando ela segurou no braço de Penmore. Ela também percebeu o fato de que não foi Remus o primeiro a se oferecer para acompanhá-la a casa.


 


- O caminho para a casa é pedregoso. – Remus parou repentinamente em frente a eles – Devo conduzir Lady Hermione, uma vez que estou familiarizado com o terreno. Devo me assegurar de que ela pise com cuidado.


 


Ele não deu tempo de Penmore argumentar retirando sua mão do braço dele, colocando-a  no próprio, começando a sair do estábulo. – Por aqui.


 


Hermione sentia o olhar fumegante de Franklin em suas costas enquanto se dirigia a casa. Ela estava surpresa por sentir qualquer outra coisa além do braço musculoso de Remus debaixo de sua mão. Surpresa por ainda conseguir pensar claramente com seu perfume fazendo-a ficar consciente dele. Sândalo.  Isso ela percebeu, mas era só o que ela identificava que não era do próprio cheiro de Remus.


 


Quando chegaram a porta principal da casa um serviçal imediatamente abriu-lhes a porta, como se ele estivesse posicionado ali simplesmente esperando pela volta de Remus. Não demonstrou surpresa pelo fato de Remus ter convidados. Ele não revelava nenhuma emoção, de qualquer modo. Remus os conduziu para dentro da casa.


 


A decoração não era o que Hermione esperava. Para um homem falado e misterioso, não havia gatos pretos vagando pelos corredores, nenhuma teia de aranha pendurada no teto, nenhum esqueleto esperando para saltar dos armários, pelo menos nenhum que ela visse.


 


- Hawkins, acomode meus convidados no salão da frente – disse Remus ao mordomo. Penmore me acompanhará ao escritório.


 


Hawkins respondeu com um aceno. Remus seguiu pelo corredor com Penmore, e Hermione e Franklin foram conduzidos para uma sala na frente. Um fogo vivo brilhava na lareira. O salão era decorado com bom gosto. As poltronas eram de veludo e confortáveis, os tapetes imaculados, e as obras de artes estonteantes. Particularmente um retrato que se erguia acima da larga lareira. Hermione foi atraída pela pintura.  Que era da família Wulf não havia dúvida. Ela reconheceu Remus imediatamente, um menino, rapidamente chegando à idade adulta. Havia quatro meninos, de fato, cada um mais estonteantemente lindo do que o outro.


 


- Estranho como todos eles parecem normais – Franklin estava parado ao lado dela.


 


- Talvez eles sejam perfeitamente normais  - disse Hermione. – Só porque os pais, quero dizer, talvez os irmãos não tenham sido afetados.


 


- Duvido seriamente de que esse seja o caso, e obviamente eles sentem o mesmo. Você ouviu Penmore; eles fizeram um juramento de não se casarem. Por que eles fariam isso, a não ser que queiram ter certeza de que a maldição termine com eles? Então novamente, quem sabe? Talvez tenham sido esses rapazes de aparência inocente que levaram os pais a loucura.


 


Era difícil de acreditar que aqueles anjinhos loiros que a olhavam pudessem ter culpa de algo.  Eles pareciam perfeitos... talvez perfeitos demais.


 


- Onde estão os outros irmãos? – ela se viu perguntando.


 


- Partiram.


 


Ela se voltou rapidamente para ver Remus parada atrás deles, parecendo deslocado segurando um serviço de chá de prata.


 


- Lorde Gabriel e Lorde Jackson vivem na propriedade de campo. Isso evita que se metam confusão. Por favor, permitam que lhes sirva.  Ele indicou um sofá de veludo. – Penmore está analisando uns documentos. Hawkins não está acostumado a servir convidados, então eu mesmo o farei.


 


Enquanto Franklin manteve sua posição, esnobando a generosa oferta de Remus, Hermione se sentou. Havia algo particularmente encantador em ver um homem se passando por criado. Embora as mãos de Remus fossem grandes, seus dedos longos e finos, ele manuseava as delicadas xícaras de porcelana com grande gentileza.


 


- Foram apenas dois – ela disse. – Você não tem três irmãos?


 


Por um momento, a dor brilhou em seus olhos. – Steling, o caçula, saiu de casa alguns anos atrás.


 


- Ele era o sensato, se você quiser saber. – disse Franklin.


 


- Com tudo o que vocês têm pendendo sob suas cabeças, não sei por que vocês todos não desaparecem da sociedade também. Ninguém iria sentir a falta.


 


Remus o olhou enquanto servia a segunda xícara de chá – Eu não estou interessado em saber sua opinião. Ele ainda insultou Franklin ao beber do chá que tinha acabado de servir ao invés de oferecê-lo ao convidado.


 


Franklin soltou faíscas, então marchou em direção à porta que conduzia a saída do salão – Venha Hermione. Não ficarei aqui sendo insultado por tipos como esse. Esperaremos por Penmore na carruagem como tinha sugerido anteriormente.


Colocando a xícara de lado, Hermione se levantou. Ela sabia que não devia discutir com Franklin.


 


- Muito obrigada pela hospitalidade – disse a Remus.


 


Ele pegou-lhe a mão e corajosamente a trouxe aos lábios, dando-lhe um beijo morno contra o pulso.


 


- Embora seu irmão de criação não seja bem vindo nesta casa, você está convidada a vir a hora que quiser.


 


Seus olhos a queimavam. Ela percebeu que ele não estava sendo educado, mas sim relembrando o beijo que trocaram na noite passada. O beijo que nenhum deles deveria pensar hoje. A enraivecia que ele pudesse lembrá-la da intimidade que partilharam, mas anteriormente ele não caíra na armadilha de Penmore sobre cortejá-la seriamente.


 


Hermione retirou a mão de seu aperto.


 


- Não contaria com isso – ela disse com rigor, depois se afastou dele.


 


- Oh, mas eu conto, ela o ouviu dizer, tão macio e baixo que ela soube que suas palavras foram dirigidas apenas aos seus ouvidos.


 


Um calafrio lhe percorreu as costas, um que não tinha nada a ver com a friagem do ar. Ela correu para acompanhar Franklin no corredor, onde Hawkins, como se tivesse aparecido no ar, segurava a porta para eles.


 


Franklin imediatamente começou a interrogá-la tão logo subiram na carruagem.


 


- O que aconteceu quando Wulf e você ficaram sozinhos nos estábulos?


 


- Nada – ela respondeu. – Ficamos vendo os cavalos.


 


- Vocês estavam falando sobre alguma coisa quando eu cheguei. O assassinato que aconteceu lá. O que ele sabe sobre isso?


 


- Hermione deu de ombros. – Não muito. Ele não conhecia a mulher. Não tem idéia de como ela foi parar lá. Ele me disse que está procurando pelo assassino.


 


Franklin esfregou o rosto. – Por tudo que sei, ele é o assassino. De fato, estou apostando que ele é culpado, Ou ele ou um dos seus irmãos selvagens. Novamente, devo insistir para que você se mantenha longe dele, Hermione. Qualquer associação com ele poderá prejudicar sua reputação. Penmore pode até dizer que não se importa com o que a sociedade pensa, mas acredite, ele se importa.


 


Hermione olhou para a janela para esse dia de garoa. Ela não via sinal de Penmore. – Sobre Penmore – ela disse. – Eu não me importo com ele, Franklin. Eu não gosto do modo como ele me olha. Como se eu fosse um porco gordo no açougue.


 


Seu irmão de criação suspirou. – Eu já lhe disse, sua opinião sobre ele não me interessa. Penmore está interessado, e enquanto ele estiver interessado, você fingirá que está interessada nele. Ele pode parecer uma pessoa alegre, mas não é. Ele é um homem acostumado a conseguir o que quer, sem se importar com o que destrói em troca. Tenho dívidas muito altas com ele. Por mais que me deixe doente, devo fazer o que ele quer.


 


Se não fosse Penmore que trouxesse Franklin sob seu controle, Hermione teria gostado da ironia. Agora seu irmão sabia o que era estar à mercê de outra pessoa. Mas ela não podia se alegrar com a situação. Embora ela não conhecesse Penmore muito bem, já desprezava o pouco que sabia sobre ele.


 


O objeto da discussão subiu subitamente na carruagem pela porta aberta.


 


- Bastardo arrogante! – resmungou Penmore sentando-se perto de Hermione, - Consegui os cavalos, mas por um preço bem maior do que havia esperado. Wulf riu de minha proposta e se retirou da sala. Tive de persegui-lo pelo corredor para fechar o negócio.


 


- O homem devia ser escorraçado de Londres – Franklin  concordou. – Ele não devia ficar aqui entre a alta sociedade, lado a lado com todos como se não tivesse nenhuma mancha negra contra seu nome. Já expulsaram homens de maior importância por menos do que essas histórias escuras que flutuam ao redor dos irmãos Wulf.


 


- Mas conhece cavalos – o visconde admitiu rancorosamente, - Não há melhor criador no país. Difícil de enganar nos negócios. Sabia que ele me disse que se souber algum dia que meu condutor  abusar dos cavalos, ele os toma de volta? Os nervos do homem!


 


Embora soubesse que não deveria, Hermione admirou Remus Wulf nesse momento. Defender os pobres animais do mais cruel dos predadores – o homem.


 


- Lhe verei no sarau de Lady LeGrande daqui a duas noite, meu docinho?


 


Levou um momento para Hermione perceber que Penmore estava lhe dirigindo a palavra e que a baba estava escorrendo pelo queixo dele enquanto a media de alto a baixo.


 


- Claro – seu irmão de criação respondeu por ela. – Na verdade, você terá a honra de conduzi-la, comigo junto como acompanhante, é claro.


 


Hermione mordeu a língua para não discordar.


 


Penmore amarrou a cara como sempre – Eu tinha esperanças de passar algum tempo às sós com Lady Hermione – ele disse. – Gostaria de conhecê-la bem melhor.


 


- Você sabe tão bem quanto eu que uma senhorita solteira não deve ser vista em público sem acompanhante – disse Franklin. – Você a terá no tempo devido. Primeiramente, deve cortejá-la. Não se pode saborear a torta antes de pagar ao vendedor.


 


- Por que vocês falam de mim como se eu não estivesse presente? – Hermione não conseguiu mais manter-se em silêncio. – E por que falar de modo que me insulta? Eu...


 


Foi tudo o que conseguiu dizer antes de Franklin se aproximar e estapeá-la. Hermione engasgou e trouxe a mão ao rosto dolorido. Ela olhou imediatamente para Penmore, envergonhada, humilhada, e perguntando-se se ele a defenderia.


 


O homem franziu as sobrancelhas.


 


- Se você for disciplinar sua irmã, Chapman, não bata no rosto. Ela é muito bonita para aparecer com machucados, ao menos machucados visíveis. Controle-se, embora saiba que esse não é seu melhor dom.


 


Ambos trocaram um olhar. Hermione estava tão apavorada por Penmore aceitar o abuso de Franklin para decifrar qualquer significado oculto aí. Seria esse o tipo de marido que ela desejava? Um que ficaria parado observando enquanto outro homem a humilhava? Um que afirmava que bater em mulher era permitido, desde que não se deixasse marcas visíveis? Ela olhou bem para os dois homens.


 


Seus olhos doeram e seu coração se partiu. O que quer que Remus Wulf fosse, ele não era o tipo de homem que concordaria com isso. Ela sabia porque ele a havia perguntado sobre o machucado que ela havia dito ser resultado de sua falta de elegância.


 


E se ele fosse o homem sentado ao lado dela quando Franklin a estapeou? Ela não conseguir imaginar Remus indiferente, como Penmore ficou. Talvez ela devesse ter dito a Remus a verdade quando ele a interrogou sobre a mancha roxa no rosto. Mas o que ele poderia fazer? Ele não era parente, nem mesmo um pretendente. Ainda assim, ela não estava certa de que se tivesse outra chance, não contaria a ele, apenas para ver do que ele era realmente feito.


 


~*~


 


mais um, pra compensar a demora do outro.


comentem, hein? :D

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