Prólogo



Se alguém me contasse o que iria acontecer nos próximos meses, eu não acreditaria. Admito que à medida em que crescemos, passamos a olhar nossos amigos do sexo oposto com outros olhos, mas...


Merlin, porquê tinha que ser justo ele ?


Tudo bem, não quero deixá-los confusos, vamos começar do começo. Um belo dia de sábado, céu azul , pássaros à cantar e lago convidativo. A aula de Herbologia fora cancelada, então hoje eu teria o dia inteiro para vagar por Hogwarts sem me envergonhar de não estar estudando ou algo parecido. Até porque, eu tinha que admitir, ser a primeira da classe era cansativo ― por isso, merecidamente é claro, tirei o dia de folga. Caminhei até o lago, onde sentei e deixei os pés submersos.


A água estava fria, mas não foi isso que me ocasionou um arrepio ― foi a sensação de que estava sendo vigiada. Espiei por cima do ombro, vendo uma silhueta magra e alta à alguns metros. Admito que aquela visão tão bonita iria fazer as garotas suspirarem, mas no meu caso senti medo ― medo porque, sempre que me via, Draco Malfoy procurava um motivo para implicar. E, desta vez, não poderia ser diferente. Ao me encarar com olhos frios e acizentados, saiu de onde estava encostado e veio na minha direção. Suspirei, enquanto voltava o meu olhar para o horizonte, aguardando.


― Seria um milagre? É a primeira vez que vejo a Sangue-Ruim sem um livro nas mãos! Está estudando a água, Granger ? - Perguntou ele, sorrindo cretinamente. Revirei os olhos. Só Merlin sabe o quanto eu odeio esse maldito sorriso.


― Isso não é da sua conta, Malfoy. ― Respondi. Essa não é a resposta mais criativa do mundo, eu admito, mas até então ela servira muito bem. Ele abriu a boca para revidar, mas ao mesmo tempo a fechou. Sentindo que o motivo da súbita educação era algo parado às minhas costas, me virei, deparando com uma Profª McGonagall mais séria do que o normal ― se for possível.


― Sr. Malfoy, poderia me acompanhar ? Tenho uma notícia meio desagradável para lhe dar, e gostaria de fazê-lo na minha sala. ― Disse, e pela cara de Malfoy, provavelmente ela estava lhe lançando um daqueles olhares penetrantes. Depois, se dirigiu à mim. ― Gostaria que a senhorita me acompanhasse também... Temos um assunto pendente. Assenti com a cabeça, confusa. Não fazia idéia de qual assunto ela se referia.


Eu, Malfoy e McGonagall atravessamos o gramado até a sala da mesma. O que poderia resumir daquele cômodo ? Incômodo. Porque o pouco espaço que havia na sala, estava abarrotado de livros de transfiguração. Não que isso me incomodasse de fato, já que livros eram minha vida ― ou, naquela época, eu achava que eram. Mas o lugar tinha um ar estranho ― talvez solitário ou ― ah, eu não sei como explicar. Só era diferente...


― Malfoy, eu sinto lhe dizer que... ― Por um momento, eu pensei que ela fosse fraquejar. Mas depois, ela respirou fundo e completou, solenemente. ― Houve um conflito entre aurores e comensais. Dentre os últimos , 4 foram achados mortos. Seus nomes eram : Lucio e Narcisa Malfoy, Crabbe e Goyle. ― Terminou, num único fôlego. Meu olhar deixou a Profª McGonagall e encontrou o loiro ao meu lado.


Digamos que eu pensava que alguém como Draco Malfoy não teria sentimentos, mas a cena que se sucedeu foi de dar dó. Ele estreitou os olhos e entortou a cabeça, como se dissesse : "Você tá de brincadeira!".


― Eu estou falando a verdade, Sr. Malfoy. Acha mesmo que eu brincaria com tal assunto? ― Perguntou a professora, irritada. O semblante da sub-diretora não dava dúvidas de que não estava brincando, ao mesmo tempo que o de Draco Malfoy parecia acreditar justamente o contrário.


Tive vontade de rir, mas por respeito ― respeito esse que nunca recebi dele, é claro ― fiquei quieta. Enfim, a resposta de McGonagall pareceu acabar com o senhor metido. Sussurrando algo inaudível, ele me lançou um olhar esquisito de 'você-não-está-acreditando-nela,está?' junto com 'suma-da-minha-frente, eu-te-odeio' e saiu à passos largos, batendo a porta às suas costas.


Depois de algum tempo em silêncio, achei que como uma pessoa educada, deveria dizer alguma coisa.


― Eu sei que eles mereciam, mas... É uma pena que as coisas tenham acontecido dessa forma. Para um adolescente de 16 anos, acho que deve ser meio difícil. - Disse, dando de ombros.


McGonagall pareceu ter acabado de lembrar que eu estava ali, e me olhou no fundo dos olhos. Um arrepio me subiu pela espinha ― seria mal pressentimento ?


― Sim, Srtª Granger. E foi por isso que eu te chamei aqui hoje. Embora eu não seja diretora da Sonserina e ele não esteja sob minha responsabilidade, eu tenho dó do Sr. Malfoy. No fundo, eu sinto que ele é uma boa pessoa, apenas influenciada pela má criação. Eu quero sua ajuda, Hermione. ― Me disse, chegando mais perto de mim e tocando meu ombro.― Se nós não o ajudarmos, ele piorará e desta feita poderá ser irreversível. Com a perda dos pais e dos melhores amigos, além da expulsão de Pansy Parkinson de Hogwarts, ele está sozinho. Mais sozinho do que qualquer um aqui já esteve. E preciso que você se torne amiga dele apartir de amanhã.


Ok, é bom rir dos outros. Mas a mesma coisa que aconteceu com Draco, aconteceu comigo ― foi a minha vez de não acreditar nas palavras de Minerva McGonagall. O que há de errado com ela, hoje ? Pirou de vez?


― Como assim ? ― Perguntei, indignada. Depois respirei fundo e prossegui, num tom mais calmo. ― Professora, Malfoy me odeia, tem nojo de mim. Acho que você não poderia ter escolhido uma pessoa pior.


― Não. ― Ela negou, veemente, com a cabeça. ― Eu não poderia ter escolhido uma pessoa melhor. Você não vê, Hermione ? Tendo você como amiga, enxergando todas suas qualidades, todos os preconceitos dele em relação à nascidos trouxas iriam por água abaixo. E, sendo essa a raiz do problema, ele mudaria completamente.― Explicou.


Entendi o que queria dizer, é claro, mas ainda não estava completamente convencida. Ela continuou um pouco mais baixo, com um olhar suplicante.


― Por favor, Hermione. De uma incrível aluna, você se tornou uma amiga, e eu não confiaria em mais ninguém para fazer isso.


Pronto. Inflar o ego e apelar para a chantagem emocional com alguém que não sabe dizer não, é vitória na certa. E desta vez não foi diferente.


― Sim. ― Depois de um minuto que se arrastou por horas, eu só respondi isso, com raiva de mim mesma. McGonagall assentiu com a cabeça, e parecia satisfeita.


― Agora você pode curtir seu sábado, Hermione. O nosso trato só começa apartir de amanhã. Obrigada. ― Disse-me, com uma piscadela. Devolvi um sorriso amarelo enquanto saía da sala e pensava;


Hermione, você é uma completa idiota.

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