Miss Reynolds
CAPÍTULO 9 - Miss Reynolds
Com as dúvidas pipocando em sua mente, Harry demorou para adormecer naquela noite. A terrível insônia só terminou duas horas depois que ele havia deitado. Porém, nem os sonhos aliviaram o garoto. Sonhara, ou melhor, tivera um pesadelo em que o assassino, oculto na penumbra dos corredores de Hogwarts lhe perseguia.. Quando o alcançara, o assassino parou o corpo bem próximo do de Harry, e, envolto numa névoa escura, lhe disse:
“Você não irá interromper o ciclo. O ciclo tem que continuar”.
Aí, como num flash-back, Harry viu um amuleto com a inscrição da Marca Negra, que era justamente o amuleto que Michael Evans havia sido aprisionado. Com um estampido, o amuleto se espatifava, e Harry acordou assustado, transpirando e tremendo de pavor.
-Harry? O que houve? – perguntou Rony ao amigo.
Harry precisou de alguns instantes para se acalmar e recuperar o fôlego. O susto e o pesadelo foram demasiado grandes e reais para ele se recuperar rapidamente. As mãos suadas tremiam compulsivamente.
-Eu.. tive um pesadelo... Rony...
-Não sei porque, mas eu detesto os seus pesadelos, Harry... – murmurou Rony. – Talvez seja porque geralmente eles não são simplesmente pesadelos.
-Você acha que é um sinal? – perguntou Harry ao amigo, com os olhos arregalados.
-Ah, geralmente o que você sonha é um sinal, não é? Principalmente o que é relacionado ao Você-Sabe-Quem. Aliás, se eles estão continuando, você deveria comunicar ao Professor Dumbledore. Quem sabe novas aulas de Oclumência não fariam bem a você. E...
-MAS É CLARO!
O grito de Harry havia saído tão agudo que Rony deu um pulo da cama. Quando se dirigiu ao amigo, Rony conservava uma expressão de assombro.
-O que é, Harry? Ficou maluco?
-Você é brilhante, Rony! Mas... é claro... como não havia pensado nisso antes.
-O que? Você quer ter novamente aulas de Oclumência? Bom, eu não sei se daria, o Snape já era, a não ser que...
-Não é isso. O Baker me contou que a lenda de Michael Evans dizia que a alma dele havia sido aprisionada num amuleto pelo Voldemort. O Voldemort havia escondido o amuleto em algum lugar aqui da escola. Provavelmente, amaldiçoar esse amuleto já estava planejado por Voldemort para o futuro, caso ele precisasse se infiltrar em Hogwarts.
Rony ficou pensativo.
-O que está querendo dizer?
-Que a pessoa que encontrou o amuleto, e que agora está com a alma de Michael Evans, não encontrou simplesmente por acaso. A pessoa deve ter recebido ordens explicitas de Voldemort!
-Seria algum Comensal da Morte?
-Provavelmente não. Para se infiltrar tão facilmente em Hogwarts, ou é filho de algum Comensal...
-Malfoy – murmurou Rony.
-...ou tem algum forte ligação com algum... – continuou Harry. – Ou talvez seja... não se esqueça que temos professores na lista de suspeitos, mas a única que podemos considerar é a Profa. Reynolds.
-A professora não tem nada a ver com isso. Isso é feitio do Draco. Só pode ser. Lúcio Malfoy é assim com Você-Sabe-Quem. Voldemort diz a Lúcio sobre o amuleto, Lúcio fala a Draco, Draco o encontra no local dito pelo pai, e agora é Michael Evans.
-Não tome conclusões precipitadas, Rony – falou Harry. – Temos que ir com calma. Por enquanto, já disse, temos que desconfiar de todos que estão naquela lista.
-Você não acha, Harry, que... Deveríamos conversar com o Professor Dumbledore... Ou com alguém da Ordem da Fênix... Sobre o Michael?
-Acho que não seria uma boa idéia, Rony – falou Harry com convicção. – Eles querem nos manter afastados dessa história. A proibição de retirada do livro sobre lendas, na biblioteca, demonstrou que o diretor quer abafar esse caso.
-Mas, o Lupin, ele...
-Eu gosto muito do Lupin, Rony, mas duvido que ele não acabaria contando ao Professor Dumbledore. Michael é muito perigoso. Ele iria querer nos proteger.
Rony pareceu pensar por um momento mas, após alguns instantes, balançou os ombros e suspirou.
-Tudo bem. Você decide. Bom, acho melhor descermos para o café. Não estou afim de ouvir as reclamações da Hermione.
Os dois se trocaram e desceram as escadas em direção a sala comunal. Ao chegarem na sala comunal viram que ela estava vazia, como era normal para o horário avançado, exceto por Hermione que estava sentada na poltrona em frente a lareira, com a cabeça apoiada nas mãos e Bichento no colo.
Rony e Harry aproximaram-se intrigados. Rony deu um cutucão nas costas da amiga, que levou um grande susto, fazendo com que Bichento pulasse apavorado de seu colo.
-Calma, Mione, somos nós! – apressou-se Rony em tranqüiliza-la.
-Nossa... eu me assustei – respondeu a garota, tentando se acalmar.
-Por que ainda não foi tomar café? – perguntou Harry.
-É que eu... resolvi esperar por vocês... é, foi isso... Bom, mas já que estão aqui, podemos descer agora, não é?
Sem dizerem mais nenhuma palavra, os três saíram da sala comunal velozmente. Após descerem a escadaria de mármore, Harry avistou logo em frente, num canto do Saguão de Entrada, duas pessoas que ele pensava que jamais veria conversando um com o outro. Os cabelos ruivos de Gina Weasley contrastavam com o forte dourado dos cabelos loiros de Draco Malfoy.
-Parece que Draco está enchendo sua irmã, Rony – alertou Harry para o amigo, ao ver que este estava até mais abismado do que ele.
-Eu... vou lá acabar com ele! – vociferou Rony, mas foi interrompido por Hermione, que o segurou pelas vestes.
-Você não acha que a conversa dos dois está... humm... animada demais para uma briga?
Harry observou novamente com mais atenção, assim como Rony. Realmente, parecia ser uma conversa “entre amigos”. Embora mantivessem uma pequena distância, as vozes dos dois se misturavam com pequenas risadas.
Harry olhou para Rony e Hermione. Os dois pareciam atônitos ao ver tal cena, mas não ousavam se mexer. Harry, no entanto, sentiu um furor crescer dentro de si, como se um raio percorresse velozmente as suas veias, e bombeasse com furor seu coração.
“Não vou deixar Draco provocar Gina”, pensou e, quando percebeu, já estava descendo rapidamente os degraus da escadaria de mármore, em direção ao casal que, devido à animação da conversa, nem percebeu a chegada do garoto enfurecido.
Harry segurou o ombro de Draco, e, imediatamente, virou-se para trás para ver quem o segurara. Mal teve tempo de ver o rosto pálido de Harry, que se transformara num forte escarlate, quando o garoto o empurrou de encontro a parede.
-O que você pensa que está fazendo?
-Mas... eu... – murmurou Draco, com dificuldade para falar, já que Harry segurava com força a gola de suas vestes.
-Veio provocar a Gina, não foi? – continuou Harry, a voz liberando todo o furor de suas veias.
-Eu só... estava conversando... um pouco.. com ela...
-Por favor, Malfoy! Eu sei que você não é capaz de articular mais de duas palavras com alguém da Grifinória! O que você estava dizendo pra ela? O que?
Harry sentiu uma mão o puxar para trás. Imaginou ser Rony ou Hermione, mas ouviu a voz de Gina, soar altamente.
-Harry, por favor, largue o Draco!
Harry afrouxou as mãos e Draco tombou no chão com um baque, não pelo pedido de Gina, e sim pelo impacto de ouvir uma frase daquela vinda da garota. Esperaria ouvir “Draco, solte o Harry”.
Depois de alguns segundos de hesitação, Harry perguntou para a jovem enfurecida:
-Mas o que foi?
-Ele só estava conversando comigo... Só isso.
O queixo de Harry foi para o chão. Depois, de repente, uma forte gargalhada saiu de sua boca, assustando a todos ao redor.
-Você está tentando me dizer que ele estava conversando normalmente com você?
-Estava! Ele é muito simpático, se quer saber.
Harry olhou indignado para ela, depois olhou novamente para Malfoy, que estava se levantando, mas que logo foi encostado novamente contra a parede por Harry.
-Qual é o seu plano? – perguntou Harry com voz fria. – O que tem por trás disso? Quais são as suas intenções em conversar com Gina?
Draco demorou um tempo para responder. Quando falou, sua voz saiu fraca:
-As melhores possíveis, Potter.
Harry soltou Draco, mas continuou fitando os olhos cinzentos do garoto. Com o dedo indicador levantado, apontou-o para o rosto pálido de Malfoy, deixando a outra mão sobre a varinha, para o caso do garoto reagir.
-Escute o que eu estou te dizendo: a mim você não engana. Sei que não falaria com Gina apenas por amizade. Se você fizer algum mal para ela, eu te mato.
-Só quero ver, Potter – sibilou Draco, passando a mãos nos cabelos loiros.
Harry lançou mais um último olhar enfurecido, depois deu as costas e saiu. Caminhou alguns instantes sem olhar para trás. Depois, ouviu os passos rápidos de Rony e Hermione, que tentavam acompanha-lo.
-O que você disse para o Draco? – indagou Mione.
-O essencial.. – e, antes que um dos dois perguntasse o que seria, ele completou: - Que eu acabaria com ele se ele tentasse fazer algum mal para Gina.
-Ah, sim – murmurou Hermione, sarcástica. – Está com ciúmes?
Harry estancou tão de repente que Rony trombou com ele. Virou-se e olhou indignado para Hermione, que o olhava com um leve sorriso.
-O que você disse?
-Ah, nada demais... É que... Foi só uma impressão que tive... – gaguejou Hermione, perdendo um pouco do sorriso ao ver o rosto de Harry. – Por favor, Harry, não grite comigo, eu...
-Você está dizendo que estou com ciúmes de Gina? Isso é um absurdo!
-Foi só uma impressão, Harry, eu...
-Pois guarde as suas impressões para si mesma! Eu já disse diversas vezes que não gosto da Gina! Não mesmo!
E virou-se novamente em direção as portas de entrada para o Salão Principal, que estava apinhada de alunos que já saíam do café da manhã e que pararam para observar a confusão.
No meio de todos eles, uma garota de cachos dourados chamada Úrsula Hubbard sorriu ao ver tal cena.
* * *
-Bom dia turma! A partir da aula de hoje aprenderemos sobre as ações defensivas contra maldição.
Harry, Rony e Hermione se entreolharam. Era um tema muito interessante, onde talvez pudessem encontrar a chave para encerrar o massacre que começava a se abater sobre a escola pela maldição de Michael.
Dino Thomas ergueu a mão no ar.
-Sim, Dino, pode perguntar.
-Miss Reynolds, por que teremos que aprender maldição, sendo que já estudamos o assunto na quarta série?
-Ah, eu sei que vocês já tiveram um aprendizado sobre Maldição Imperdoável. Mas a maldição que trataremos agora será aquela que é lançada sobre determinados objetos, como espelhos, anéis ou amuletos.
Harry cruzou novamente o olhar com os amigos. Depois se virou novamente para a frente, onde Miss Reynolds estava em pé, encostada sobre a escrivaninha.
Jane Reynolds era uma mulher alta e magra, de uns quarenta anos, que tentava ser elegante. Por conta de suas extravagâncias, costumava usar vestes muito brilhantes, geralmente vermelhas, e colocava na cabeça chapéus enormes, de preferência de um forte escarlate, para combinar com o vestido.
As variações de humor de Miss Reynolds eram constantes. Um dia, estava muito simpática e engraçada. Em outros, estava com um péssimo humor, que chegava quase a arrogância de Umbridge. Na classe, porém, fosse qual fosse seu humor, exigia respeito e obediência, e, nem se o aluno tivesse passando mal, mesmo de verdade, sem usar os kits Mata-Aula de Fred e Jorge, comprados pelos alunos no Beco Diagonal, não saía de forma alguma da sala. Quem conseguia, era considerado um vencedor.
Naquele dia, Miss Reynolds parecia meio nervosa. Passou pela cabeça de Harry que o nervosismo da professora talvez fosse por causa de seu nome aparecer na lista de Michael Evans como suposta vítima.
-Bom, hoje começaremos falando sobre o que é uma maldição.
“Uma maldição pode ser lançada diretamente contra a pessoa, como as Imperdoáveis, ou sobre objetos. A maldição lançada sobre objeto é muito difícil de ser lançada, exigindo demasiado poder para tanto. E, vale lembrar, uma maldição sobre objetos só pode ser lançada por um bruxo de coração duro, frio. Maldição não é coisa para bruxos do bem”.
Harry, que escutava tudo com absoluta atenção, pensou por alguns instantes o quanto Voldemort era cruel, frio e maligno, e que por tal motivo teve forças de lançar a maldição de Michael sobre o amuleto.
Miss Reynolds continuou a discursar, e Harry concentrou novamente suas atenções para a professora, tentando absorver o máximo de informação.
-A maldição sobre objetos necessita de grande concentração do bruxo que a lança. Numa noite de lua cheia o bruxo apanha o objeto, e, com palavras mágicas peculiares, contidas em alguns livros como “Maldição – Guia Prático”, que só são encontrados em lugares medonhos, como a Travessa do Tranco, a maldição é lançada sobre o objeto. Existem palavras mágicas especificas para cada maldição que se queira lançar. Se o bruxo deseja aprisionar a alma de alguém dentro do objeto, há uma palavra mágica. Se ele deseja que haja morte para quem pegar no objeto, existe encantamento específico para o caso.
“Isso foi só uma introdução para vocês compreenderem o que é uma maldição. Porém, esse tema não deve ser abordado com profundidade em uma aula. Primeiro, por que só um bruxo de coração duro conseguiria lançar uma maldição. Segundo, porque a matéria foi proibida pelo Professor Dumbledore, e é considerada inadequada. Afinal, estou aqui para lhes ensinar como barrar uma maldição. Não quero, nem o diretor, de criar bruxos das trevas aqui na escola”.
“Bom, vamos agora ao que interessa: como quebrar uma maldição. Uma maldição pode...”.
Porém, naquele momento, quando a professora havia chegado na parte que mais interessava a Harry, Rony e Hermione, o sinal tocou, finalizando a aula.
-Então, deixamos para a próxima aula – disse Miss Reynolds, apanhando um horário em sua mesa e depois sorrindo: - Mas que bom! Temos aula amanhã! Aí continuaremos. Bom dia para todos.
Com a cara fechada, Harry, Rony e Hermione saíram da sala.
-Não acredito! – protestou Rony – Na hora em que poderíamos desvendar a forma de quebrar uma maldição, o sinal toca!
-Não adianta reclamar, teremos que esperar até amanhã, e... Ai!
Hermione foi interrompida por duas mãos pálidas que seguraram suas vestes. Quando ela se virou, viu Kevin Wallace, com os cabelos muito negros caídos sobre o rosto, que era tão pálido quanto a mão.
-O que você quer? – perguntou Hermione, tentando parecer paciente, e vendo que Harry e Rony se afastaram.
-Nada, gata, relaxa... – murmurou Kevin, sorrindo.
-Já estou imaginando o que você quer... – disse Hermione, com desprezo. – Veio me cantar, é isso?
-É que eu nunca vejo você com garoto nenhum, e... Fala sério, acho que os garotos de Hogwarts estão cegos... Você é muito linda, Hermione.
-Obrigado pelo elogio, Wallace, mas tenho que ir – disse, virando-se, mas foi interrompida novamente pelas mãos do garoto.
-Por favor, me ouve... – falou ele, baixando a voz. – Estou... Acho que estou... gamado em você.
Hermione o encarou, depois disse calmamente:
-Lamento, mas sem chance, Wallace. Sem-chance!
-Não gostaria de ir para Hogsmeade comigo, no próximo final de semana? Por favor, diz que sim! – suplicou ele, com voz lacrimosa.
-Desculpe, Wallace, mas... A última pessoa com quem gostaria de sair seria com um Sonserino.
E, nervosa, ela saiu com passos rápidos. Kevin tirou a expressão chorosa do rosto e fechou a cara. Com um olhar feroz, foi em direção a Úrsula, que o esperava num canto.
-Já vi que não conseguiu nada – disse Úrsula, com raiva. – Você é péssimo em cantadas...
-Tenho culpa se a menina é uma fera? Quase nem consegui fazer o convite para ir a Hogsmeade! Olha, esse seu plano não vai dar certo, é melhor desistir...
Úrsula apertou o braço do garoto. Kevin soltou um pequeno grito de dor. Os olhos da jovem estavam vidrados, com uma fúria enlouquecida.
-Você não vai desistir! Vai tentar novamente, está me ouvindo?
-Mas como se ela já disse com todas as letras que “nunca sairia com um Sonserino?”.
Úrsula afrouxou o apertão no braço de Kevin. Um sorriso apareceu em seus lábios. Ela soltou uma risadinha fraca.
-Por que está rindo? – perguntou Kevin.
-Você tentará cantá-la somente mais uma vez. Se não der certo, partiremos para o plano B.
-Que plano B?
-Espere e verá, Wallace – sibilou Úrsula, amarga. – Espere e verá...
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!