Magia e paixão



CAPÍTULO 37 - Magia e paixão


-A Poção do Amor? – perguntou o Professor Salles, perplexo ao ouvir o pedido de Úrsula.


                -É, professor... – confirmou a garota, enrolando um dos cachos de seus cabelos dourados.


                Mas o Professor Salles não olhava mais para ela. Seus olhos fitavam o pequenino Flitwick, que apenas sacudiu os ombros ante o seu olhar. Salles olhou novamente para Úrsula, o rosto com uma expressão serena.


                -Escute... Eu não posso passar a receita da Poção do Amor para você. Lamento, mas não posso...


                -Por que não? – perguntou Úrsula, tentando manter o máximo de controle.


                -A Poção do Amor é muito delicada... Ela trata dos sentimentos de um ser humano. Mexer com os sentimentos de uma pessoa é algo muito grave.


                -Mas você já ajudou o Professor Flitwick! – disse Úrsula, alteando a voz. – Já preparou uma Poção do Amor para ele, que, como o próprio diz, o ajudou muito!


                -Querida, tente compreender – disse o Professor Salles – que essa poção é tão grave que não é encontrada em qualquer livro de Poções. Sabe por que? Imagine se todas as pessoas que não fossem correspondidas preparassem a poção para que a outra pessoa começasse a gostar dela. Seria muito ruim. A poção é arriscada. Se preparada de qualquer jeito, cria excessivas doses de amor, chegando até a um amor doentio, onde a pessoa que a tomou começa a viver somente para o outro. Essa poção é rara, mas existem casos de bruxos que a prepararam, deram para a outra pessoa beber, erraram na dose dos ingredientes, e criou um amor tão doentio na outra, que chegou a se cansar. E, ao se cansar, o apaixonado se suicidou, pois não podia viver sem aquele amor...


                -Mas, se o senhor preparasse, as doses seriam corretas...


                -Dumbledore me estuporaria se eu passasse a Poção do Amor para uma aluna adolescente que está apaixonada. Quanto ao meu amigo Flitwick, só preparei a poção para ele com o consentimento da mulher. Ela gostava dele, mas tinha receio de namorar alguém, digamos, sem muita altura.


                Ele deu uma risadinha, assim como o professor de Feitiços.


                -Com a poção, que foi dada na dose normal, ela quis viver o amor que tinha por Flitwick intensamente, sem se importar com qualquer opinião. A poção serviu para aumentar o amor que já existia... Entenda, querida: aumentar o amor que já existia é uma coisa, criar o amor através da poção é outra bem diferente.


                Úrsula fechou a cara e, sem dizer qualquer palavra, se afastou lentamente.


                Não iria desistir tão facilmente de sua cartada final. Ela prepararia a Poção do Amor de qualquer jeito.


                Subiu as escadas, para ir até seu dormitório, mas não desistiria assim... Aguardaria algum tempo até o professor se mandar, e então iria até a sala de Poções.


                Acharia a receita da poção sozinha.


 


* * *


 


                Harry e Gina saíram da ala hospitalar de mãos dadas. Os olhares curiosos dos alunos que estavam dentro do castelo os acompanhavam.


                -Acho que o nosso namoro substituirá a morte de Jennifer no assunto mais comentado do dia – falou Harry, olhando carinhosamente para a garota.


                -Não importa. É bom mesmo que todos possam saber que nós nos amamos – disse Gina, com um belo sorriso.


                Estavam quase no Saguão de Entrada quando Rony apareceu. O garoto subitamente parou, deixou a boca abrir de espanto e finalmente murmurou:


                -Eu... Não acredito!


                Harry e Gina apenas sorriram em resposta.


                -Nossa... É incrível... Vocês estão... Juntos? – perguntou, a garganta seca.


                -Sim, estamos – confirmou Gina.


                Rony aproximou-se e abraçou Harry, dando os parabéns. Fez o mesmo com a irmã, dando um beijo nas bochechas coradas da jovem.


                Harry estava um tanto abismado. Nunca imaginou que a reação de Rony pudesse ser tão boa. Achava que o amigo iria ficar com raiva e ciúmes. Mas não: aceitava e ainda os cumprimentava pelo namoro!


                -Nossa... Obrigado, Rony – falou Harry, não se contendo.


                -Talvez vocês não esperassem essa reação – disse Rony, como se estivesse lendo a mente de Harry e Gina. – Mas vale lembrar que o meu curto namoro com a Mione também foi um pouco “estranho” de início. Eu queria que todos aceitassem, você, Harry. Você, Gina. Assim, acho que vocês também esperam um apoio.


                Harry sorria para o amigo.


                -Vim atrás de vocês para irmos almoçar. Mas... Bom, posso ir de “vela”?


                Os três gargalharam. Iam começar a caminhar a curta distância até o Salão Principal quando o Professor Dumbledore, para espanto do trio, chegou até eles, com o olhar assustado.


-Sr Potter e Sr Weasley – falou baixinho, ao chegar bem próximo. – Preciso falar urgentemente com vocês.


-Sobre o que? – atreveu-se Rony a perguntar.


-É sobre a amiga de vocês, a Srta. Granger – ele baixou mais a voz, o que fez Harry, Rony e Gina a perceberem a gravidade da situação antes que ele completasse. – Ela fugiu de Azkaban.


 


* * *


 


                Embrenhando-se nas masmorras, Úrsula chegou na sala de Poções.


                A porta estava aberta, deixando o ar frio dos corredores adentrar a sala. O local estava completamente deserto. Úrsula, ansiosa, seguiu rapidamente para as prateleiras de livros.


                Sabia que não teria muito tempo. O Professor Salles nem tinha fechado a porta, e ela acreditava que logo ele retornaria. Porém, sabia que não seria tão fácil achar a receita da poção. Como o próprio professor dissera, a Poção do Amor não era encontrada em qualquer livro.


                Abriu dois grossos exemplares, olhou bem o índice, e nada da Poção do Amor. Ia abrir o terceiro, já entrando em desespero, quando sua atenção foi voltada para um grosso volume encadernado em couro que estava sobre a mesa do professor.


                Abandonou o livro que tinha nas mãos e dirigiu-se até a mesa. Abriu rapidamente o livro, colocando o dedo sobre a folha do índice, e acompanhando cada tópico. Eram vários. Úrsula limpou o suor da testa com a outra mão. A receita precisava estar naquele livro.


                O índice era separado por palavras em negrito. Úrsula chegou nesta parte e leu:


                “Poções Proibidas”


                A primeira poção dessa lista era a Poção do Amor.


                Úrsula acompanhou a linha com o dedo e viu o número da página. Velozmente, folheou o livro e, ao alcançar a parte de “Poções Proibidas”, leu o aviso:


                Essas poções foram separadas por apresentarem sérios riscos ao serem preparadas sem responsabilidade. O único bruxo que pode ler as Poções Proibidas contidas neste livro é Pablo Salles. Se você não for Pablo Salles, é aconselhável que...


                -Que se danem esses avisos! – vociferou Úrsula, virando a página e dando de cara com a Poção do Amor.


 


                POÇÃO DO AMOR


 


                Ingredientes:


                -3 pétalas de rosas (cortadas em pedacinhos)


                -Uma colher de mel.


                -Três gotas de chocolate líquido.


                -Uma lágrima da pessoa que prepara a poção.


                -Um fio de cabelo da pessoa que beberá a poção.


 


                Misture todos os ingredientes. Deixe a poção cozinhando durante meia hora. Após esse tempo, acrescente sua lágrima e o fio de cabelo da pessoa que tomará a poção. Mexa bem, e pronto! A Poção do Amor foi finalizada!


 


 


                -Não é tão difícil assim – murmurou Úrsula, os olhos vidrados encarando a receita da poção. – Só um idiota para errar numa poção dessas.


                Olhou ao redor. O Professor Salles devia ter todos os ingredientes ali dentro. Remexendo nas prateleiras lotadas de vidros com substâncias, Úrsula encontrou tudo o que precisava. Só ficou faltando uma pétala de rosa.


                A garota guardou todos os vidros em sua mochila e saiu da sala rapidamente. Por sorte, não havia nem sinal do Professor Salles pelas masmorras.


                Ofegante, Úrsula chegou ao Saguão de Entrada, onde havia poucos alunos que ainda iriam entrar no Salão Principal para almoçar.


                Discretamente, a garota se aproximou das portas da escola e seguiu ao jardim.


 


* * *


 


                Harry, Rony e Gina já se encontravam no Salão Principal. Dumbledore resolvera deixar a conversa para depois, dizendo que não tinha detalhes ainda sobre o que acontecera.


                Porém, o que disse fora suficiente para deixar Harry, Rony e Gina perplexos, principalmente Rony, que não conseguia nem comer.


                -Onde será que ela se meteu, Harry? – perguntou o garoto, aflito. – E o que ela tem na cabeça para fugir? E Dumbledore ainda disse que foi uma fuga em massa com diversos Comensais!


                -Participar dessa fuga não combina com a Hermione – falou Harry, mordendo um pedaço de torta.


                -Sempre ouvi falar que ficar preso em Azkaban mexe com a mente da pessoa... Talvez ela estivesse se sentindo muito mal lá dentro e, não agüentando a pressão, participou da fuga – sugeriu Gina.


                -Não sei não – disse Harry. – A pressão lá ainda é grande, mas deve ser bem menor sem os dementadores. E outra: acho que a Hermione não é uma garota de se deixar abater facilmente.


                -Então, se não fosse o desespero, o que a levaria a participar da fuga? – perguntou Gina, olhando para Harry.


                -Não sei... Deve haver algum outro motivo...


                -Hermione fugindo no meio de vários Comensais da Morte... – falou Rony, com um tom de indignação. – Imaginem a cena? Acho que ela pirou mesmo...


                -Ou continua tão esperta como sempre foi – falou Harry, sorvendo um grande gole de suco de abóbora.


 


* * *


 


                Úrsula colheu a pétala que faltava em uma das rosas espalhadas pelo jardim. Guardou-a no vidro das outras pétalas e correu para dentro do castelo


                Voltaria para o dormitório e usaria seu caldeirão para preparar a poção. Não teria muito trabalho; o dormitório, no domingo, era vazio.    


                Subiu até a torre da Grifinória. Não havia ninguém. Seguiu até o dormitório, abriu a porta e o encontrou igualmente deserto. Fechou a porta atrás de si.


                Abriu suas coisas e apanhou o caldeirão. Ajeitou-o no chão, ao lado de sua cama.


                Apanhou o papel onde escrevera o modo de preparar a poção. Espalhou os ingredientes no chão e começou a coloca-los dentro da água quente que já começava a fumegar no caldeirão.


 


* * *


 


                Hermione estava numa colina, junto com os inúmeros Comensais.


                Seu disfarce já tinha ido por água abaixo. Aproveitando um momento de distração dos enormes servos de Voldemort, afastou-se e aproximou-se das árvores frondosas que ficavam ao fundo do local. Escondeu-se por trás de um dos troncos – sem precisar encolher-se, afinal os troncos eram realmente grandes.


                Escondida via os movimentos agitados dos Comensais, que se organizavam em um círculo. Pareciam muito ansiosos. Alguns tinham movimentos estranhos, profundamente afetados mentalmente, provavelmente por causa de Azkaban.


                Hermione sentiu-se aflita. Não sabia onde se encontrava, não tinha nenhuma idéia. Nunca vira aquele lugar antes. Devia estar a quilômetros e quilômetros de distância de Hogwarts.


                Se os Comensais tocassem em outra Chave de Portal para serem transferidos para Hogsmeade, onde o ataque ocorreria, ela estaria perdida, num local que desconhecia.


                Um forte estalo foi ouvido por Hermione. Os Comensais se agitaram ainda mais.


                E, entre dois deles, ela viu, no centro do círculo, com o coração aos pulos, Lord Voldemort em pessoa.


 


* * *


 


                -Como vai, Úrsula? – perguntou Rony, quando ela chegou até o garoto, no momento em que ele, Harry e Gina saíam do Salão Principal.


                -Muito bem! – exclamou a garota.


                “Preciso pegar um fio de cabelo dele... Apenas um fio... Mas como?”.


                Ela já havia terminado de colocar todos os ingredientes. Segundo a receita, devia aguardar cerca de meia hora para acrescentar os ingredientes principais: uma lágrima sua e um fio de cabelo de Rony.


                Enquanto elaborava planos mentalmente, perguntava ao garoto:


                -Quer dizer que a temporada de quadribol foi realmente cancelada?


                Nem ouviu a resposta de Rony. Seus olhos passavam rapidamente pelos cabelos vermelhos do garoto, e depois voltavam a fitar os seus olhos. Olhos lindos... Que derretiam o coração de Úrsula...


                -...e esta foi a decisão – Rony finalizou, e foi somente isso que Úrsula ouviu, pois, neste exato instante, seu plano tinha sido concretizado em sua mente.


                -Era só isso que eu queria saber – disse ela, forçando um sorriso. Olhou para Gina e Harry: - E parabéns pelo namoro! Já fiquei sabendo e estou muito feliz.


                Deu um beijo no rosto de Gina e apertou a mão de Harry.


                -Até mais – despediu-se e, na hora em que ia sair, fingiu tropeçar. Estendeu bem as mãos como se procurasse apoio, e dirigiu os dedos para os cabelos de Rony.


                O garoto afastou a cabeça no mesmo instante, abaixando-se para segura-la.


                Úrsula sentiu uma raiva tremenda, mas disfarçou e agradeceu:


                -Obrigada... Como sou desastrada!


                Ajeitou as vestes e se afastou, com o ódio fulminando. Precisava de um fio...


 


* * *


 


A voz fria de Voldemort falou por um grande período de tempo. Ao terminar, Hermione estava a par de todo o plano. Agora sim necessitava muito de encontrar Harry e Rony, avisar a todos em Hogwarts e em Hogsmeade o que estava reservado para eles.


                Mione também sabia onde estava. Não era tão longe de Hogsmeade e Hogwarts quanto imaginara.


                A saída daquele lugar também já era de seu conhecimento. O grande problema era que Voldemort e os Comensais planejavam sair dali apenas no momento do ataque. E ela precisava sair dali antes.


                Estudou o local, usando sua mente assustada. Por entre as árvores, poderia chegar até a saída. O difícil seria alcança-la sem que ninguém percebesse – afinal, a saída, que era uma pequenina passagem, apesar de ficar um pouco abaixo da colina, estava no campo de visão dos Comensais.


                Hermione, aflita, percebeu que não tinha escolhas...


                Neste momento, Voldemort começara a falar com seus Comensais. Abaixada, se protegendo pelos arbustos e pelos troncos das árvores, foi avançando sorrateiramente, em direção à passagem que levava a saída.


                Examinava cada pedaço de terra que seus pés pisavam. Um pequeno barulho e a atenção dos Comensais e de Voldemort iriam na sua direção.


                Desviava dos galhos que quase batiam em sua cabeça, examinava o chão, ficava de olho no grupo horrível que os Comensais e Voldemort faziam... Apesar da aflição, tinha que permanecer atenta.


                Um monte de craques fez seu coração disparar. Hermione espiou por entre os ramos de um arbusto, e viu, já a uma pequena distância, novos Comensais que chegavam para se juntar ao grupo. Junto deles, estava Lúcio Malfoy e Belatriz Lestrange.


                Hermione aproveitou o momento em que Voldemort e os outros observavam a chegada de mais Comensais e avançou rapidamente. Faltava apenas mais um pouco...


                E chegou. Teria que sair só por um momento do meio das árvores para alcançar a pequenina saída.


                Olhou novamente para o grupo sobre a colina. O círculo de Comensais havia aumentado consideravelmente.


                Seus olhos fitavam aquele grupo de vestes negras, passando por vários rostos encapuzados, e encontraram os olhos de Belatriz Lestrange olhando em sua direção.


                Hermione perdeu o equilíbrio e caiu para trás com o susto. Levantou-se rapidamente e olhou novamente. Belatriz ainda a encarava, com um sorriso malicioso nos lábios. Ela estava bem diferente daquele terrível incidente no Departamento de Mistérios – mas a maldade continuava presente.


                Belatriz colocou a mão por dentro de sua roupa para apanhar a varinha. Hermione, sem pensar duas vezes, correu até a passagem que levava à saída. Ouviu a voz de Belatriz ordenar: Avada Kedavra.


                Mione se jogou no chão, e já estava próxima da passagem. A luz esverdeada chocou-se contra uma árvore ao fundo, errando a mira. Hermione arrastou-se mais um pouco e entrou pelo buraco, ouvindo a movimentação entre os Comensais da Morte começar.


                O buraco descia e abria-se um corredor de terra, completamente escuro. Hermione correu pelo corredor, ouvindo as vozes que murmuravam do lado de fora.


                Logo o corredor de terra acabava. Hermione encontrou pedras na parede terra que formavam uma espécie de escada para a saída, logo acima. A garota começou a escalar as pedras. Passos vinham do corredor. Um jato de luz bateu bem próximo ao seu pé.


                Era difícil escalar, mas, se ela não se apressasse, morreria ali mesmo. Quando os Comensais chegassem ao fim do corredor e apontassem para cima, não errariam a mira.


                A cabeça de Hermione alcançou a saída. Bastava apenas impulsionar o resto do corpo com os braços...


                Os Comensais alcançaram o fim do corredor.


                Hermione ouvia-os logo abaixo. Seu coração disparou forte. Estava perdida.


-Agora você não me escapa – disse a voz arrogante, que ela reconheceu como a de Belatriz, que parecia fazer questão de mata-la. – Avada...


                Num ato de desespero, Hermione pegou uma enorme pedra que estava junto à saída e jogou-a para baixo, interrompendo a bruxa, que pareceu desmaiar com o baque.


                Hermione tomou impulso e praticamente jogou o resto do corpo, afastando-o do buraco.


                Saiu no meio de uma mata. Outros Comensais deviam estar vindo atrás. Ela sabia o porque; eles não queriam que ela espalhasse a notícia do ataque, e, por lealdade a Voldemort, a perseguiriam até alcança-la. Apesar do cansaço, levantou-se rapidamente e começou a correr pela mata.


                Desesperada, olhou para trás e viu dois Comensais saindo pelo buraco, com as varinhas em punho, os rostos ocultos pelos capuzes.


                Hermione tropeçou numa raiz que cruzava o caminho, e, ao tentar levantar-se novamente, sentiu que seu pé direito estava dormente. Havia-o torcido.


                Tentou fixa-lo no chão, mas uma pontada de dor, que subiu pela sua perna motrou tal coisa ser impossível. Andando apenas em uma perna, continuou a correr – mas sua velocidade estava limitada.


                Sentiu uma mão segura-la pelo ombro e apontar diretamente para seu rosto.


                -Esta na hora de pagar por ser tão intrometida – disse a voz por trás do capuz, que ela reconheceu como sendo Lúcio Malfoy.


                Um raio de luz esverdeada iluminou a mata.


 


* * *


 


                A tarde foi inquietante para Úrsula Hubbard. O pequenino caldeirão com a poção estava sob sua cama, e ela teve que permanecer no dormitório para evitar que uma das garotas sentisse o odor perfumado que emanava dela e fosse bisbilhotar de onde vinha o cheiro.


                Precisava apenas de um fio de cabelo... Após muito tempo, uma idéia brotou em sua mente perturbada, e ela saiu correndo do dormitório.


                Ao chegar na sala comunal, lá estava Rony, ao lado de Harry e Gina.


                -Após eu preparar a poção, nós dois também ficaremos assim juntinhos, meu querido... – sussurrou ela, os olhos vidrados examinando o garoto.


                Foi se aproximando do trio, que estava sentado ao redor de uma das mesas, conversando. Sua idéia era um tanto absurda, mas ela estava disposta a fazer qualquer coisa para conseguir o único ingrediente que faltava para completar a poção. Afinal, depois que Rony a tomasse, ele a amaria para sempre.


                Chegou até o garoto e puxou um fio. Rony, que nem percebera sua aproximação, reclamou.


                -Ai! – e virou-se para trás. Ao ver Úrsula, sorriu. – Por que você...


                -Ah, desculpe, tinha um mosquito aí – falou, retribuindo o sorriso. – Desculpe...


                Subiu às presas as escadas, entrou ansiosamente no dormitório, tirou o caldeirão debaixo da cama e acrescentou o fio vermelho com cuidado.


                A poção borbulhou. Sua tonalidade era vermelha, um vermelho forte, e o cheiro era doce, um perfume delicioso.


                Úrsula despejou uma certa quantidade de poção num cálice e tapou o bocal com uma tampa, guardando-o, em seguida, em sua bolsa. Saiu exasperada do dormitório. Bastava chegar até Rony, e convence-lo a beber a poção.


                O único problema, constatou a garota, é que Rony não estava mais lá.


 


* * *


 


                Harry, Rony e Gina estavam sendo encaminhados por Minerva até a sala de Dumbledore. Harry e Rony seguiram afobados, sabendo do que se tratava a conversa – só podia ser sobre a fuga de Hermione.


                Chegaram na sala do diretor.


                -Com licença – falou Minerva, se retirando em seguida.


                Os quadros ao redor olhavam-nos com interesse. Dumbledore estava em pé, bem atrás de sua mesa.


                -Recebi novas informações, agora detalhadas, sobre a nova fuga em massa de Azkaban.


                Harry e Rony não tiravam os olhos do diretor. Gina, por sua vez, preferia espiar os rostos curiosos que havia dentro das molduras.


                -Como já havia lhes antecipado, foi uma fuga em massa dos Comensais da Morte que ainda estavam atrás das grades. Sua amiga, Hermione Granger, fugiu da fortaleza junto deles.


                -O que não entendo, professor, é como ela conseguiu se infiltrar no meio deles? – perguntou Harry, ansioso. – E outra – perguntou Harry novamente, sem dar tempo do diretor responder. – No meio de tantos prisioneiros, por que a informação de que a Hermione estava no meio dos fugitivos chegou tão rapidamente  -Eu também achei isso muito curioso de início – falou Dumbledore – , porém, agora já tenho a resposta. Os guardas da prisão, que não eram traidores como os outros e ficaram por lá, foram averiguar as celas depois da fuga, tentando evitar que mais prisioneiros fugissem. Bem, ao chegarem lá, numa das celas havia um velho, Brutus McClaggan, que estava desmaiado no chão, somente usando as sujas roupas de baixo. Os guardas se aproximaram para averiguar seu estado, e, subitamente, o velho acordou. E começou a berrar freneticamente: Aquela maldita garota! Ela fugiu! E me deixou aqui! Milorde... Milorde! Venha buscar seu servo... Venha buscar seu servo!


                “Ao olharem na cela ao lado – a de Hermione – viram que a garota de quem Brutus tanto reclamava era ela. Haviam pensado nessa possibilidade, pois ela era a única garota daquela parte da prisão. Provavelmente, se disfarçara com as roupas de Brutus e se infiltrara com sucesso no meio dos Comensais, já que, segundo os poucos prisioneiros que ficaram lá, eles não deixavam bruxos que não eram Comensais se juntarem ao grupo”.


                -Então a Mione fez bem em se meter no meio deles – falou Rony.


                -Claro que não – retorquiu Dumbledore. – Foi um grande risco para ela. Pelo que podemos perceber, a fuga dela pode ser confirmada, porque não há sinais dela na ilha. Isso significa que ela conseguiu sair dos limites da fortaleza junto dos Comensais. Segundo acabei de saber, havia várias Chaves de Portal nos arredores. Mione conseguiu ir parar no mesmo lugar que os outros prisioneiros. O que temo é que descubram que ela é apenas uma jovem garota infiltrada no meio daqueles bruxos... Temo também que eles tenham se reunido para conversar com Voldemort.


                Rony e Gina engoliram em seco. Harry limpou o suor da testa com a palma da mão.


                -Uma fuga assim, em massa, libertando praticamente todos os Comensais que restavam em Azkaban... Não indica boa coisa. Eles devem ter se encontrado com Voldemort. Imaginem... A Srta Granger no meio daqueles terríveis Comensais, e perto de Voldemort. Completamente indefesa...


                -Não foi muito prudente Hermione ter fugido – reclamou Rony, impaciente.


                -Creio que a Srta Granger era uma jovem muito inteligente e astuta. Talvez ela tenha escapado por algum motivo em especial.


                -O que será, professor? – perguntou Rony, ansioso.


                -Não posso responder. Não tenho a mínima idéia. Mas isso me intriga muito... Se eu tivesse agido mais rapidamente...


                -Como assim – indagou Harry, franzindo as sobrancelhas.


                -Nada, esqueça – falou Dumbledore vagamente, balançando uma das mãos. – Podem ir garotos. Manterei vocês informados sobre qualquer novidade.


                Harry, Rony e Gina saíram da sala, acompanhados do diretor, que disse ter assuntos a tratar com alguns professores. Passaram pela passagem da gárgula. Dumbledore seguiu um caminho, enquanto o trio foi por outro.


                Os três caminhavam em silêncio. Cada um refletia no que o diretor dissera. Hermione podia estar, naquele instante, no meio dos Comensais. Próxima, muito próxima, de Voldemort. Ou, talvez, estivesse morta.


                Quando iam dobrar o corredor, encontraram com Úrsula, que ignorou completamente Harry e Gina, e apenas chamou Rony.


                -Por favor, preciso muito falar com você – disse, numa voz ansiosa.


                Rony olhou brevemente para Harry e Gina, e respondeu para Úrsula.


                -Claro. Vamos... Mas onde?


                -Vamos naquela sala ali – falou, apontando para uma porta. – Por favor, é uma emergência.


                -Claro – repetiu Rony.


                -Rony, eu e a Gina vamos dar uma subida. Preciso organizar aquelas “anotações”, sabe? Logo descemos para encontrar com você.


                -Tudo bem – respondeu Rony, logo em seguida sendo puxado para a sala vazia por Úrsula.


                A garota fechou a porta. Rony sentou-se sobre uma das carteiras, enquanto Úrsula ficou em pé, na sua frente, com o rosto aflito e ansioso.


                -Rony, eu... Estou muito nervosa – disse Úrsula, tremendo as mãos.


                -O que aconteceu? – indagou Rony, preocupado ao ver o estado da garota. Úrsula tremia dos pés à cabeça, seus olhos estavam marejados de lágrimas e gotículas de suor cobriam-lhe a testa. Rony tomou a mão dela.


                -Eu... É que... – gaguejou a garota. Lágrimas rolavam pelo seu rosto. – Papai... O meu pai... Está passando por sérias dificuldades... Na loja...


                -Que dificul...? – começou Rony, mas não conseguiu concluir. Naquele instante, Úrsula desmaiou. Rony apressou-se e segurou o corpo molenga da garota. Os olhos de Úrsula estavam fora das órbitas. Tomado de susto, Rony carregou-a até a mesa e deitou-a sobre ela.


                “Isso... Carregue-me meu amado... Comece agora nossa história de amor. Logo ela se iniciará, logo depois de você beber a poção... A poção que nos fará ser um só para a vida toda”.


                Rony, apavorado, começou a dar tapinhas no rosto da garota, esperando alguma reação.


                “Beije meus lábios, meu amor... Assim como nos contos de amor, desperte-me com um beijo apaixonado”.


                Úrsula abriu os olhos lentamente. Rony suspirou.


                -E então? Está melhor? – perguntou, aflito.


                -Um pouco... Mas quero água. Preciso de... Água...


                -Mas onde pegarei água? Terei que sair, e...


                -Não precisa... Tem um frasco de suco aí dentro... Da minha mochila... Acho que já será suficiente... Para me sentir melhor...


                Rony apanhou a mochila de Úrsula e a abriu rapidamente. Não precisou procurar muito; achou o cálice, tirou a tampa e levou até Úrsula.


                -Consegue pegar? – perguntou.


                -Claro...


                “Eu preciso pegar o cálice, Rony, querido... Para fingir que estou bebendo a poção... Você é quem tem que bebe-la até a última gota. Minha paixão é enorme. Não preciso de poção alguma para te amar para sempre”.


                Úrsula segurou o cálice, fingindo um tremor. Sentou-se na mesa e levou o cálice à boca. Fechou os lábios, impedindo a passagem do líquido. Tirou o cálice da boca e o entregou a Rony.


                -Beba mais – falou o garoto, ao olhar a quantidade que ainda restava no cálice.


                -Não precisa – respondeu ela. – Já estou bem... Lamento por isso, Rony. Eu te incomodando... Por um problema meu...


                -Você disse que era algo sobre seu pai e as lojas?


                -Sim... As lojas correm o risco de irem à falência. Quis falar com você porque... Seu pai e irmãos trabalham lá agora, não é?


                O estômago de Rony despencou. Uma queimação subiu pela sua garganta. Após a notícia sobre Hermione, agora acabava de saber que, novamente, sua família corria risco de ir pro buraco.


                Sentiu uma pontada de dor nas têmporas e massageou a cabeça.


                -Rony? – chamou-o Úrsula, fingindo preocupação.


                “Isso... A reação que eu esperava”.


                -Lamento dar-lhe essa notícia... Mas achei que era muito séria, e precisava lhe contar...


                -Você fez bem – mentiu Rony, com a respiração ofegante. – Uma hora eu iria saber...


                Úrsula apanhou o cálice que estava sobre a mesa e ofereceu-o a Rony, com um sorriso.


                -Beba. Fez bem para mim, fará bem para você.


                Rony olhou para o cálice e o pegou. Olhou para o conteúdo. Havia um líquido rosado lá dentro.


                -É um suco de uma fruta típica do México – disfarçou Úrsula, com a primeira desculpa que veio à sua cabeça. – É um calmante natural.


                Sentindo o delicioso perfume que saía do líquido, Rony levou o cálice à boca...

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