Hermione X Úrsula



CAPÍTULO 30 - Hermione X Úrsula

Hermione permaneceu ali, em pé, observando o namorado conversando com Úrsula. Seu queixo estava caído, e ela não conseguia fechar a boca. Estava chocada. Pensara tanto sobre o assunto, e nunca imaginou que a resposta para tudo era tão simples e tão óbvia. Sentiu raiva de si mesma. Como não tinha pensado nisso?
Todas as frases jogadas por aquela doce garota de catorze anos, de cabelos loiros e cacheados, sempre presente nos momentos mais difíceis, tentavam, mesmo que indiretamente, afasta-la de Rony.
Hermione também sentia uma espécie de nojo crescendo dentro dela.
A mesma garota que ofereceu um ombro amigo para Gina, no dia do flagrante, foi a que colocou o nome da garota naquela entrevista terrível. Como ela foi capaz de tamanha frieza? O que existiria no lugar do coração daquela garota?
Rony se despedia de Úrsula naquele instante e começava a tomar o caminho inverso ao de Hermione. Mione saiu do transe no momento em que viu o grande suspiro de Úrsula ao observar o garoto se afastando. O calor da raiva descongelou os seus membros, e ela começou a se encaminhar em direção à jovem.
Úrsula estava de costas e nem percebeu a aproximação de Hermione. Suspirou novamente e, quando se virou, deu de cara com Hermione, que a olhava com um falso sorriso.
-Como vai, Úrsula? – perguntou, afavelmente, usando da mesma falsidade que a garota sempre utilizava.
-Olá, Hermione – cumprimentou Úrsula. – Você me assustou. Estava distraída.
A simpatia que a voz da garota trazia causou ainda mais revolta em Hermione. Mione nunca tinha imaginado que pessoas como ela existissem de verdade. Pessoas capazes de sorrirem enquanto na verdade querem destruir. Pessoas que se fingem de amigas, mas são os maiores inimigos – “melhor alguém que demonstra a inimizade do que um inimigo que se disfarça de amigo”, ela ouvira isso em algum lugar, e agora percebia que era a mais absoluta verdade.
-Rony já foi? – perguntou Mione, sorrindo.
-Ah, acabou de ir. Como vai o namoro de vocês?
-Muito bem – respondeu Mione. – Estamos muito felizes. Acho que é algo pra vida toda. Quero casar com Rony, ter filhos, construir uma família. Um sonho que vai se realizar.
-Fico feliz por vocês – disse Úrsula, os olhos cintilando de bondade e sinceridade.
Hermione não conseguia acreditar. Era falsidade demais.
-Jura? – perguntou Mione, com a voz carregada de cinismo. – Pensei que você não estava gostando muito do meu namoro com o Rony...
Úrsula franziu as sobrancelhas.
-Quem disse um absurdo desses? – indagou, como se estivesse inconformada. – Sempre torci muito por vocês dois.
Hermione deixou cair a máscara. Fechou a cara e encarou Úrsula, com o ódio que escondera até o momento finalmente se revelando.
-Claro que você sempre torceu – debochou Mione. – Só se foi para eu e o Harry, e não o Rony, ficarmos juntos. Por isso falou para Harry que eu e ele formávamos um belo casal.
Úrsula ficou pálida. Olhava para Hermione com espanto.
-O que você quer dizer com isso? – perguntou.
-Você sabe muito bem o que quero dizer. Tire esse sorriso cínico do rosto, Úrsula. Derrube essa máscara. Revele a verdadeira cobra que você é. Comigo, não precisa mais fingir.
-Mas, eu não...
-Eu já sei de tudo – falou Mione, ainda a encarando sem tirar os olhos.
Úrsula desmanchou o sorriso. Empalideceu ainda mais. Um gostinho de alegria brotou dentro de Hermione. A garota havia sido desmascarada, e seus planos tinham ido por água abaixo.
-Por que essa reação? – provocou Hermione. – Será que você só consegue agir por baixo do pano? Está tão pálida... Ah, se você soubesse como está pálida. É melhor se recuperar. Já imaginou se o Rony vê você nesse estado deplorável?
-Como... descobriu? – perguntou Úrsula, pasma.
-O motivo até que foi difícil de eu descobrir, mas o resto... Faz tempo que percebi que todos os acontecimentos pareciam, de alguma forma, relacionados ao seu nome. Você, Kevin Wallace e Draco Malfoy. Eu só não conseguia encontrar o motivo.
Úrsula estava calada, só ouvindo.
-Fui muito burra... Muito mesmo. O motivo era simples! Porém, um pouco difícil de ser encontrado, pois eu não sabia qual dos três era o cérebro de tudo. Não conseguia encaixar as peças do quebra-cabeça.
-Que peças? – indagou Úrsula, quase num sussurro.
-Os seus comentários em relação a eu e Harry; o conselho que deu à Gina, que parecia leva-la aos braços de Draco Malfoy; Kevin Wallace ter vindo me paquerar, aliás no mesmo dia que Draco começou a ir atrás de Gina; o alarme dado em Hogsmeade sobre um possível ataque, que eu vi de dentro da loja de penas que foi você quem deu; o apoio à Gina, oferecendo emprego aos Weasley. E outros pormenores. Mas não vinha na minha mente o motivo. O porquê. Até que eu vejo você conversando com Rony. Só foi juntar cada acontecimento que o quebra-cabeça estava montado. Em todos os instantes, seu objetivo era afastar eu e Rony!
A última frase saiu com uma alteração evidente. Mione olhou para os lados. Se fossem pegas ali, provavelmente o resultado não seria nada bom. Pegou Úrsula pelo braço com força e as duas dobraram dois corredores.
-Como se atreve? – vociferou Úrsula, soltando o braço.
-Espera que eu ainda não terminei.
-Dá pra parar de encher?
-Deixe terminar de relacionar os fatos – continuou Mione, ignorando os comentários de Úrsula. – Você queria conquistar Rony. Primeiramente me empurrando para Harry. Depois, colocando Kevin para me paquerar. E, finalmente, colocando meu nome naquela droga de entrevista, onde “eu” acabava com o nome da família Weasley, ganhando o total desprezo deles.
-Isso – murmurou Úrsula, com desgosto. Não podia acreditar que seu plano brilhante havia sido descoberto por mais uma pessoa além do falecido Rogério Davies.
-Como você foi capaz de tudo isso, garota?
-Por amor – falou Úrsula, histérica. – Por amor ao Rony.
Houve um momento de silêncio.
-Com Draco atrás de Gina você provocava a ira de Harry, algo que o Malfoy adora. O dia do flagrante serviu para afastar Harry e Gina também.
Úrsula bateu palmas.
-Parabéns, Granger – elogiou, com extrema ironia. – Você descobriu tudo. Infelizmente, não posso acrescentar pontos para a Grifinória pela sua extrema inteligência.
Hermione a olhou com desprezo.
-Eu tenho nojo de você. É tão sórdida que é capaz de brincar com as terríveis armações que provocou. Você, Draco e Kevin não prestam. Aliás, onde é que entra o paspalho do Kevin nessa história? Ele... Mas é claro. O dia do ataque.
Um flashback penetrou a mente de Hermione. O ataque no corredor... A voz que chamava por seu nome... De repente, o assassino a ataca... Mas o assassino usava uma máscara diferente. Quando ela estava sendo estrangulada, Kevin Wallace surge do nada e a salva heroicamente.
-Foi por isso que o assassino estava agindo de forma diferente e com outros trajes – raciocinou Mione, em voz alta. – Por que ele não era o assassino. E sim... Malfoy! Tudo faz sentido. Foi por isso que Kevin deixou ele escapar antes que tirasse a máscara. Era tudo um plano para que, depois disso, eu começasse a se interessar pelo Kevin... Ah, como fui idiota!
De repente, Hermione ouviu a risada fria de Úrsula.
-Viu como eu tenho uma mente brilhante? – perguntou Úrsula à garota, com o sorriso de ponta a ponta, cheio de loucura.
-Você é um perigo – murmurou Mione. – Você não pode ficar à solta. É uma ameaça pra qualquer um.
-CALA A BOCA! – berrou Úrsula. – Foi tudo por amor. Por amor ao Rony. E quer saber do que mais? Faria tudo outra vez. Por que eu o amo. Por ele, sou capaz de tudo.
Dessa vez, foi Mione que empalideceu.
-Até de matar? – perguntou, com a voz fraca.
Os olhos sinistros de Úrsula batiam de encontro aos seus. Mione sentiu um pavor crescer quando uma idéia passou pela sua cabeça. Se Úrsula confirmasse, ela não teria dúvidas de que as fronteiras de maldade daquela garota não tinham fim.
-Você não matou o Rogério Davies, matou?
Antes que Úrsula respondesse, Mione já obteve a confirmação. As pupilas de Úrsula se dilataram, como se as palavras de Mione tivessem despertado a lembrança de algo terrível que cometera, e o qual ela tentava esquecer.
Hermione estremeceu.
-Eu não acredito – suspirou. Bem que eles tinham constatado que o crime não tinha sido obra de Michael Evans.
Úrsula estava caída sobre o chão de pedra. Passava as mãos pelos cabelos, despenteando-os, numa espécie de fúria. Quando levantou o rosto novamente, seus olhos estavam inchados e deles brotavam lágrimas.
-Por que você me lembrou disso? – vociferou ela, balançando Hermione, que a esta altura estava com medo de Úrsula. Ela fora capaz de matar Rogério. Por que não a mataria também? Mas, por mais que o medo a dominasse, uma pergunta tentava escapar-lhe pelos lábios. Ela não iria conseguir se controlar...
-Por que matou ele? – perguntou Mione, receosa. – Não me diga que...
-Sim, foi por causa do Rony – os olhos de Úrsula ganharam um brilho vago. – Rogério sabia de tudo. Ele sabia que eu tinha dado a entrevista em seu nome, e me ameaçou. Não podia dar o que ele pedia, então, então... Foi o impulso... O ódio... O medo de perder o Rony para sempre... Tudo isso me levou a empurra-lo. Ele perdeu o equilíbrio... Despencou... Mas eu não queria mata-lo. Não queria...
Novo momento de silêncio. Hermione estava tremendo de pavor. Rogério fora assassinado porque colocara os planos de Úrsula em risco. E ela também estava colocando...
-Você está louca – murmurou Mione, sem conseguir se conter.
Úrsula sobressaltou Hermione com a perda de controle. Sua voz saiu num tom agudo, que beirava a histeria.
-SIM! ESTOU LOUCA! LOUCA PELO RONY! LOUQUINHA!
Ela fitou Hermione com os olhos desvairados e a encarou ameaçadoramente, soltando cada palavra lentamente:
-Louca... para... destruir... você.

* * *

Harry e Rony estavam concentrados nas perguntas de Adivinhação que tinham sobre a carteira.
Rony esquecera a sensação de vazio que sentira ao despedir-se de Hermione. As perguntas absorviam toda a sua atenção – embora Harry fosse o que mais respondia.
Enquanto observava o pergaminho, ouvindo apenas o farfalhar das penas, Rony sentiu um aperto no peito, que subiu até a garganta. Uma leve tontura penetrou sua mente, e ele encostou-se no espaldar da cadeira, passando a mão pela testa.
Harry levantou os olhos e perguntou, preocupado:
-Rony? O que houve?
A Professora Trelawney percebeu o mal-estar do garoto e se aproximou.
-Meu jovem... O que aconteceu?
A sensação passava aos poucos. Rony levantou a cabeça lentamente, massageando as têmporas.
-Não foi nada... Só uma tontura e uma pontada no peito... Mas... Já passou.
-Ah – suspirou a professora. – Isso é normal. Especialmente com as vibrações contidas nessa sala de aula.
Harry a fitou com as sobrancelhas franzidas.
-O que a senhora quer dizer com isso?
-É que essas sensações geralmente ocorrem como sinais de que algo de ruim está para acontecer. Uma espécie de premonição. Geralmente ocorrem quando algo está para acontecer com pessoas muito próximas, como pais, irmãos, ou...
-Namorada? – Rony perguntou. O susto foi suficiente para que os sintomas desaparecessem por completo.
-Sim, claro, por que não? – respondeu a professora. – O elo de ligação pode ser qualquer um, desde que seja muito forte.
-E... Sempre indica algo ruim? – perguntou Rony.
-Sempre. Algo bom não se manifestaria com dores, pontadas, vertigens... Aliás, é um bom tema para uma das nossas próximas aulas e...
Rony levantou-se da cadeira, esparramando os pergaminhos que estavam sobre a mesa, ao pegar impulso.
-Onde pensa que está indo? – perguntou a professora. – Menos cinqüenta pontos para a Grifinória... Digo, cem! – completou, quando Harry levantou-se e correu atrás do amigo.

* * *

Filch patrulhava tranqüilamente os corredores do castelo, com Madame Nora ao lado, ronronando.
-SIM! ESTOU LOUCA! LOUCA PELO RONY! LOUQUINHA!
Assim que os gritos bateram em seus ouvidos, Filch, acompanhado pela gata de olhos astutos, desceu a escadaria de mármore com passos largos, desejando ardentemente apanhar os alunos que estavam perambulando e gritando pelos corredores.

* * *

Hermione sentia-se encurralada. A garota que mais a odiava estava bem ali, na sua frente, e tinha acabado de ameaçá-la. O cenário não era nada agradável. Os olhos de Úrsula estavam fundidos, com um ar aterrorizante.
Uma risadinha baixa saiu dos lábios de Úrsula.
-Se você soubesse como é engraçado ver você aí toda encolhida e tremendo de medo.
Hermione ouvia calada. As mãos de Úrsula foram até o bolso das vestes, procurando algo. O simples movimento do braço da garota já assustou Hermione, mas não foi comparado ao susto que ela levou ao ver o que Úrsula havia puxado do bolso.
A lâmina brilhou tanto que chegou a ofuscar a vista de Mione.
Uma faca. Das grandes.
Úrsula ajeitou a faca na mão, e segurou-a pelo cabo de madeira, com a ponta levantada para o peito de Hermione.
-Que tal morrer agora mesmo?
A faca se aproximou mais. Hermione sentiu a ponta encostada no peito, na altura do coração. Gotas de suor frio começaram a escorrer pelo seu rosto.
-Me livro de você, e o meu caminho fica limpo para conquistar o Rony. Não esconderei minha satisfação ao ver você mortinha, a faca enfiada dentro do peito, só com o cabo para fora.
Úrsula mexia a faca de um lado para o outro. Hermione fechou os olhos, esperando o pior. Quis gritar, mas o pavor a deixara sem voz.
-Adeus, Hermione.
Mione quase perdia a consciência. Fechou os olhos com força. Úrsula riu, afastando a faca de seu peito.
-Mas como é idiota. Você acha que eu vou te matar? Só temos nós duas aqui, fora da aula. Se encontrarem seu cadáver no meio do corredor, com uma faca enfiada no peito, em quem você pensa que eles vão desconfiar?
Hermione não conteve um suspiro de alívio.
-Eu... Vou indo agora – falou.
Já ia saindo quando a mão de Úrsula segurou ruidosamente seu braço, interrompendo-a. Mione não fez menção de lutar; Úrsula tinha uma faca na outra mão. Não se arriscaria a reagir.
-Abaixa – ordenou Úrsula.
Mione agachou-se, se apoiando pelos pés. Úrsula ainda apontava a faca em sua direção. A garota abaixou-se também, encostando as costas na parede e esparramando o resto do corpo no chão.
-SOCORRO! SOCORRO! – gritou.
Mione a fitou, intrigada.
-Úrsula, o que você está fazendo?
Úrsula lançou um olhar para a ponta do corredor, de onde uma sombra surgia.
-Eu não pude matar você. Mas você tentou me matar.
Úrsula apontou a faca para o próprio braço. A lâmina brilhante e afiada apontada para o próprio corpo.
Hermione estava perplexa, boquiaberta.
Úrsula encostou a lâmina no braço, fazendo um corte lentamente, com uma imensa frieza. O sangue começou a escorrer. Úrsula jogou a faca ensangüentada no chão, entre ela e Hermione. Seu rosto não manifestava sinais de dor; ela apenas trincou os dentes com força. O sangue começou a jorrar, mas ela manteve-se impassível.
-O que está acontecendo aqui? – perguntou Filch, ao chegar no corredor. Olhou para o braço ensangüentado de Úrsula, a faca no chão e Hermione, agachada bem em frente da “vítima”. – Minha nossa... Então... Descobrimos o assassino! Digo, a assassina! Descobrimos!
Mione, com os olhos enchendo-se de lágrimas, voltou-se para Úrsula, que agora a olhava com um sorriso discreto, porém cheio de maldade e malícia.

N/A: Comentem!! Próxima atualização em breve!

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