Recepção macabra



CAPÍTULO 25 - Recepção macabra

Harry observou com prazer que tanto Padma como Laurie levaram um tremendo choque ao ouvirem sua voz. Olharam para ele com olhos arregalados, e estavam completamente pálidas.
-Nunca estive tão satisfeito, sabiam? – falou Harry, sentindo um gosto de triunfo. – Pegar as duas pessoas de quem mais desconfiava numa conversa bastante reveladora... Um assunto, aliás, que também me interessava muito. Mas que as duas fizeram questão de mentir...
Padma e Laurie se entreolharam.
-Bom, agora só faltava vocês duas desmentirem! Vão dizer o que agora? Que o Potter tem problema de audição? Que vocês estavam falando sobre isso por brincadeira? Talvez pensem que seja fácil, não é? Mas posso lhes garantir que não é. Mas não é mesmo. O Potter, quero dizer, o insosso do Potter, como você, Laurie, fez questão de me chamar, pode não ser um gênio, mas também não é tão bobo.
Hermione, com a varinha apontada para as duas, observava em silêncio, atenta.
-Mas claro que vocês me consideravam um verdadeiro babaca! Claro, porque a Srta. Laurie Sawyer, após contar aos amigos que vira Padma com uma faca, no interrogatório me diz que tudo não passou de uma brincadeira! Ela só estava brincando... Pensou que o idiota do Potter cairia nessa facilmente... Mas não...
Ele aproximou o rosto das garotas, com uma fúria nos olhos. Falou, devagar, com a voz carregada de raiva:
-E agora, constatando essa cena, me digam... Quem é o idiota aqui?
Laurie baixou a cabeça. Padma continuou com o olhar firme nos olhos de Harry.
-O que estão esperando para começarem a explicar? Desmintam agora! Eu ouvi falar sobre galeões, parecia que Laurie estava fazendo uma chantagem com você, não é, Padma? Como eu imaginei, desde o dia do interrogatório. E que confirmei ao ver Laurie gastando galeões à vontade no Três Vassouras... Mas, já que vocês me disseram sempre que não havia chantagem alguma, me expliquem agora onde estou errado...
As duas ficaram em silêncio. Após alguns instantes, Harry sorriu.
-Não tem como mentir agora, não é? – disse, com a voz zombeteira. – Não tem como negar... Agora que está confirmado que houve chantagem, também é confirmado que, na noite do assassinato de Dino Thomas, Padma Patil segurava uma faca nas mãos... Será que pode explicar agora o que fazia com a faca, Padma? Foi cortar batatas?
Padma, muito sem graça, ainda o olhava nos olhos. Suspirou e respondeu:
-Deixe-me ir embora, Potter... Por favor.
-Responda! – irritou-se Harry. – A faca que carregava nas mãos foi encontrada por alguns alunos em sua mala, e a faca estava suja de sangue. Confesse, Padma! Você usou a faca para matar Dino!
Padma tremia muito. Lançou um olhar de esguelha para a varinha de Hermione, que permanecia em posição de ataque. Depois se voltou para Harry. Com uma varinha apontada para ela, não havia como fugir.
-Você vai se arrepender pelo que está fazendo, Potter – falou ela, com a voz fria.
-Não terá tempo, Padma – rebateu Harry, com furor.
-Será que não, Potter? – falou, perdendo o controle e beirando o histerismo. – Como você provará que a faca realmente estava comigo? Apenas com uns testemunhos de quinta categoria? Você não tem como, Potter! Não tem como provar nada!
-Pode ter certeza, Padma, que vou empenhar muito para encontrar as provas. Não irei sossegar enquanto não colocar você atrás das grades.
-Não irá conseguir... Você não tem a faca... Não tem nada que leve a mim... Eu não matei ninguém...
E, descontrolada, se virou e saiu, correndo, pelo corredor. Harry abaixou o braço de Hermione, que já ia reagir à saída da garota.
-Deixe ir. Já consegui tudo o que precisava.
Laurie Sawyer, que permanecera quieta, embora muito nervosa, perguntou, hesitante.
-Será que... Também não posso ir?
-Não – falou Harry, pedindo para que Hermione levantasse a varinha na direção da garota. – Primeiro, responda algumas perguntinhas.
Laurie engoliu em seco.
-Já sabemos que você realmente viu Padma saindo do salão comunal com uma faca nas mãos. Existe algum detalhe que você ainda saiba?
Laurie enrolou as tranças nervosamente. Começou a bater os pés.
-Nada – respondeu, com a voz firme.
-Não existe nada que você, no tempo que fez a chantagem, observou de suspeito na Padma? – antes que a garota pudesse responder, Harry acrescentou: - É melhor dizer a verdade. Se Padma for realmente a assassina, poderemos encontrar algo que a incrimine, e sua vida também será salva.
Laurie, puxando uma das traças com força, falou, pensativa:
-Nada mesmo... Não podia ficar conversando muito com ela. Só falava o essencial.
-Você acha que ela é a assassina?
-É o óbvio, não é? – respondeu Laurie. – Uma faca na mão... O problema será como você conseguirá arranjar as provas de que precisa. Pelo que entendi, ela já deve ter cuidado de sumir com a faca.
-Pode ir, Laurie – disse Harry. – Obrigado. E tome muito cuidado. Fazer chantagem com certas pessoas pode significar sentença de morte.
Laurie balançou a cabeça em sinal de compreensão, depois saiu rapidamente. Hermione baixou a varinha e a guardou no bolso interno das vestes.
-Parece que agora temos alterações para fazer no pergaminho – falou ele, suspirando.
-Sim. Ainda bem que eu o trouxe. Pode deixar que, quando eu chegar no dormitório, anotarei tudo o que descobrimos em relação a Padma Patil.
-Obrigado Mione – agradeceu ele e, hesitante, apontou para o corredor. – Vamos?
Uma sensação desconfortável pairava pelo ar. Harry queria deixar bem claro a Hermione que os assuntos entre eles limitavam-se a tudo relacionado às reuniões dos suspeitos e a resolução do caso Michael Evans. Ainda não se conformava com a atitude da amiga, e queria deixar bem claro para ela a sua opinião.
Quando chegou ao dormitório, Harry deitou-se e olhou para a cama de Rony. Imóvel. Cobriu-se, ajeitou o travesseiro e em três minutos já estava dormindo.

* * *

No café da manhã do outro dia, Dumbledore deu batidinhas em seu cálice e chamou a atenção de todos no Salão Principal para dar um aviso:
-Quero lhes anunciar que hoje, durante a tarde, o novo professor que integrará o nosso corpo docente chegará aqui em Hogwarts. Antes que me perguntem, o professor, amigo do nosso Professor Flitwick...
O baixinho acenou para os alunos.
-... tomará o cargo do Professor Snape, no ensino para o preparo de Poções. Tive o cuidado de conferir o histórico desse professor, e as referências são excelentes. Ele vem do Brasil...
Harry e Rony sorriram. Teriam outro contato com pessoas estrangeiras...
-...por isso, estará muito exausto pela viagem que fez. Assim, eu conversei com os professores, e decidimos que as aulas da tarde serão canceladas para a realização de uma recepção calorosa e um grande banquete em homenagem a ele.
O salão inteiro prorrompeu em aplausos.
-Espero que recebam bem o nosso novo professor. Obrigado pela atenção.
Dumbledore sentou-se novamente. Os alunos começaram a lotar o Salão de cochichos. Harry e Rony estavam, apesar de eufóricos com o contato com uma nova cultura, preocupados com o caráter do professor – torciam muito por ele se parecer o mais distante possível de Snape.
-Tenho que respeitar a memória do professor Snape, mas... As aulas dele eram praticamente insuportáveis! – exclamou Rony.
Olhou para a outra ponta da mesa. Hermione os observava. Ao perceber o olhar de Rony em sua direção, a garota baixou a cabeça e voltou a comer.
Rony, se enfurecendo, limpou a boca e se levantou, virando, com a pressa, um copo de suco de abóbora que estava em sua frente. Saiu sem nem cumprimentar Harry, que observava a cena com os olhos arregalados.
Rony saiu do Salão Principal, atravessou o Saguão de Entrada e saiu para os jardins. Ao pisar os pés na grama, sentiu a primeira corrente de ar frio estremecer-lhe o corpo. Escondeu as mãos nos bolsos das vestes, para esquenta-las, quando sentiu uma pontinha de ar quente sussurrar em seus ouvidos:
-Será que não posso ajudar esse pobre rapaz?
A meiguice e doçura da voz foram reconhecidas por Rony. Ao virar-se, deparou com quem esperava encontrar: Úrsula Hubbard. Os cachos dourados esvoaçavam por causa do vento, e um sorriso despreocupado tomava conta de sua boca.
Rony suspirou e respondeu:
-Acho que você não pode me ajudar, Úrsula. Só se você pudesse voltar no tempo e modificar o que aconteceu.
-Sei do que você está falando – disse Úrsula, baixando os olhos. – Foi muito ruim o que aconteceu. Gina me contou. A situação da sua família, e tudo...
Rony olhava para o céu, pensativo.
-Mas quem disse que não posso ajudá-lo? – perguntou ela. – Já avisei para Gina. Meu pai possui uma loja no Beco Diagonal, a Utensílios Hubbard, onde ele terá o imenso prazer em empregar tanto o seu pai como os seus irmãos!
Rony tirou os olhos do céu e olhou para o rosto radiante que o fitava ansiosamente. Ele não podia acreditar no que tinha acabado de ouvir.
-Você... Vai nos ajudar mesmo, Úrsula? – perguntou, incrédulo.
-Claro! Afinal, para que servem os amigos?
-Obrigado Úrsula – agradeceu o garoto, abraçando a jovem com força. Úrsula sentiu o coração batendo forte. Parecia um sonho. Os braços de Rony a envolveram com uma intensidade que a fez ficar com as pernas bambas de tanta emoção. O calor que irradiava do corpo dele a aquecia, a protegia.
Quando Rony se afastou, tinha novamente a expressão de melancolia.
-Mas o que você tem? – perguntou Úrsula. – Parecia tão feliz! É algo que eu possa ajuda-lo?
-Não, nesse assunto você não pode, Úrsula – suspirou ele. – Não tem como me ajudar. Só se você fosse capaz de mudar a personalidade e a cabeça de uma pessoa...
A felicidade de Úrsula desapareceu com a mesma facilidade com que surgira. Não podia acreditar... Mas é claro que só podia ser por causa de Hermione... Uma ira acendeu-se dentro dela. Será que já não fizera o suficiente? Sabia que Rony não voltaria a falar com Hermione, mas Úrsula queria que ele a esquecesse para sempre. Queria que ele a amasse, não a Hermione.
Tentou manter a calma. Tudo estava dando certo. Não perderia o controle na final do campeonato...
Com as mãos, levantou lentamente a cabeça de Rony. Fitou-o nos olhos, com o olhar compreensivo de uma amiga.
-O que a Hermione fez foi realmente muito grave. Sei o quanto está triste, mas você não pode deixar sua felicidade de lado por causa disso. No começo será difícil, mas uma hora você conseguirá superar. Ocupe sua mente com outros assuntos, outras coisas... Você verá que logo a tristeza vai passar. Não está tudo se resolvendo? Sua família já terá emprego garantido! Só falta uma nova amiga para você.
Pegou as mãos de Rony e juntou-as com as suas.
-Será que eu não posso ser essa amiga? – perguntou, como se hesitasse.
-Como não poderia? – perguntou Rony, sorrindo. – Você já é minha amiga. Tem feito coisas surpreendentes por mim e por minha família. Aliás, faz coisas surpreendentes para todos. Sempre disposta em ajudar... Nós já somos amigos.
Rony abraçou-a novamente. Úrsula, passando a mão pelas costas do seu amado, esboçou um sorriso de satisfação. Rony Weasley já estava em suas mãos.

* * *

Após as aulas da manhã, os alunos almoçaram com a ansiedade a mil, graças ao banquete inesperado e a chegada do novo professor de Poções.
Harry saía do almoço no Salão Principal ao lado de Rony quando Christian Baker o chamou discretamente, ao lado da escadaria de mármore.
-Harry! – chamou o menino, fazendo sinais com as mãos. – Harry... Venha cá!
Harry pediu para Rony aguarda-lo e foi ao encontro de Christian. O jovem, Harry notou, parecia agitado, ansioso. Olhava para as portas do Salão Principal. Após fiscalizar, voltou os olhos para Harry e começou:
-Eu tenho algo a lhe dizer. Mas é claro que eu não podia dizer na frente dos outros... Sei de um dos meus amigos que está tendo, sim, um comportamento diferente nos últimos tempos.
Harry animou-se. Finalmente estava colhendo algo de sua teoria.
-É uma mudança simples, mas bem significativa, suponho – fiscalizou mais uma vez as portas do Salão. Ao constatar que nenhum de seus amigos saíam, Christian continuou, falando bem rápido: - Sabe a Jennifer? Pois é... A Jennifer, antigamente, era uma pessoa muito... Como posso dizer? Reservada, talvez essa seja a palavra... Então, ela era uma pessoa reservada. Daquelas que dificilmente abrem a boca para conversar, sabe? Mas, de uns tempos pra cá, ela sempre expõe suas idéias, fala apelos cotovelos. E tem idéias até. No dia da morte de Dino, eu também fiquei curioso para ver se havia mesmo uma faca nas malas de Padma. Como já lhe disse, encontrei Jennifer, que tivera a mesma idéia... Fiquei muito surpreso. Essa atitude era de uma audácia que não compactuava com o comportamento reservado de Jennifer. Arriscar-se a ir ver se tinha uma faca mesmo, nas coisas de uma suspeita... Muita audácia!
Harry escutou cada palavra com atenção. Ao fim, tinha a testa franzida e uma das mãos no queixo.
-É uma mudança muito significativa, Christian – disse ele. – Uma pessoa que é reservada, retraída, de repente mudar dessa forma... É muito estranho...
-É. Mas, por favor, Harry, se for interrogar a Jennifer, por favor, não diga que fui eu quem lhe contou isso... Pode comprometer a nossa amizade. E eu gosto muito dela.
-Pode deixar – respondeu Harry, sorrindo. – Obrigado pela informação, Christian. Eu já estava desanimado. Ninguém tinha se pronunciado na última reunião... Ah e qualquer coisa que souber venha me contar. Venha contar ao “famoso Potter”, como você gostava de me chamar... Aliás, por que parou?
-Porque eu vi que atrás do famoso Potter existe uma ótima pessoa – concluiu Christian, sorrindo, apertando a mão de Harry e voltando ao Salão Principal.
Harry foi até Rony e contou-lhe tudo o que Christian tinha relatado. Rony acompanhou tudo atentamente.
-Que bom que temos uma nova informação – falou Rony, entusiasmado. – Você deve estar contente, não?
-Mais ou menos, Rony – respondeu Harry, para espanto de Rony.
-Mas... Por quê?
-Parece até que a cada pista as coisas se complicam mais! Padma Patil é uma grande suspeita, por causa da faca. Já estava quase certo de que ela era a assassina. Draco Malfoy e Kevin Wallace também nunca conseguem se explicar. E, agora, vem uma nova suspeita, e, posso lhe garantir, entrou para o ranking dos principais: Jennifer Yumi que, segundo o seu amigo que a conhece desde o primeiro ano, mudou de personalidade de uma hora pra a outra, como se não fosse mais a mesma – e sim Michael Evans. Estamos dando voltas, Rony. Quando aparece uma resposta quase certa, aparece outra também viável!
-Não esquente a cabeça, Harry – pediu Rony. – No final, tudo vai dar certo.
-É o que eu espero – disse Harry. – Só espero que, para que o final chegue, não precise morrer todos os nomes que estão naquela lista.

* * *

Quando Christian retornou ao Salão Principal, Laurie, Jennifer e James não desconfiaram que o garoto saíra para falar com Harry, e não para falar com uma amiga, como havia dito. Porém, sua saída e retorno não passaram despercebidos pelos olhares astutos de Draco e Kevin.
-Pelo que vejo, alguém foi falar porcaria pro Potter – resmungou Draco. – O que será que ele queria dizer para o Harry?
-Por que, isso lhe preocupa, Draco? – perguntou Kevin, com olhar de desconfiança.
Draco encarou-o com olhar de extremo furor.
-Eu já não lhe disse para não ficar desconfiado de mim! – rosnou. – Que droga! Já lhe disse mais de mil vezes que eu não sou essa joça desse assassino! Tenho coisas mais interessantes a fazer do que ficar estraçalhando os outros com uma faca, ou outra coisa qualquer...
-É que às vezes você parece muito... preocupado.
-E não tenho que ficar? Harry é o pupilo do Dumbledore. O aluno preferido. Se o Potter começa a suspeitar de mim ou de você, e vai contar ao barbudo, estamos ferrados. Ele pode tirar da cabeça dele algo para incriminar ou eu ou você.
-Quem não deve não teme, Draco – zombou Kevin.
-E você? – falou Draco, olhando-o com raiva. – Tão suspeito quanto eu! Saiu na noite da morte do Dino. Teve um momento que nos separamos. Eu não sei o que você pode ter feito durante esse tempo. No dia em que a Chang bateu as botas também! Você pode muito bem ser o assassino.
-Ou você! – rebateu Kevin.
-Agora chega, Wallace, por favor – pediu Draco. – Estamos nos mantendo bem até agora. Acho que até somos os suspeitos menos prováveis. Não quer que o Potter encontre algo para nos incriminar, quer?
Draco não percebera, mas Charles Sheppard, sentado a uma distância pequena, absorvera cada detalhe que ele e Kevin conversaram um com o outro.

* * *

Enquanto o Salão Principal era decorado, os alunos tiveram a tarde livre. Harry e Rony mantinham-se o mais longe possível de Hermione. A jovem, isolada, passou horas na biblioteca, tendo como únicos companheiros, os livros.
A temporada dos jogos de quadribol começaria dentro de algumas semanas. Por isso, aproveitando o tempo livre, os times das casas revezaram-se nos treinos. Harry e Rony treinaram durante uma hora, e, depois, passearam pelos terrenos do castelo.
Por volta das quatro horas, uma sineta tocou de dentro do castelo. Os estudantes correram para a escola, ansiosos. O banquete estava pronto, e o novo professor de Poções estava para chegar em qualquer momento.
Os alunos se amontoavam nas escadas de entrada do castelo, à espera do professor. Dumbledore e todos os professores estavam à espera assim como os estudantes.
De repente, um ruído de galopes sobressaltou a todos.
Pelo caminho, vinha, em alta velocidade, uma carruagem dourada, puxada por belos cavalos brancos. Todos acompanharam a chegada da carruagem com atenção. Quando se aproximou o suficiente da multidão que aguardava, os cavalos frearam bruscamente, mantendo firmes os cascos no chão.
Uma névoa de poeira levantou-se do chão. Quando a poeira esvaiu-se, todos se viram de frente com um bruxo não muito alto, magro, com sobrancelhas finas. Usava vestes douradas, que cintilavam à luz do fim de tarde. Tinha um sorriso radiante, cabelos despenteados e arrepiados e trazia, enrolado nos pulsos, fitas prateadas.
Ele abaixou-se numa reverência e cumprimentou, com entusiasmo, o diretor.
-A vinda foi um pouco cansativa – contou ele após os cumprimentos. – A temperatura no Brasil estava muito quente. Viemos debaixo d´água por uma boa parte. Depois de atravessarmos o oceano, aproveitamos uma grande camada de nuvens na costa européia e voamos por ela. Finalmente, ao nos aproximarmos, as nuvens se dispersaram e fomos obrigados a vir por terra. Mas até que não foi tão ruim vir por terra... Uma boa dose de Poção da Velocidade e eles começaram a correr como nunca!
Dumbledore sorriu e, virando-se para os alunos, colocou uma das mãos sobre o ombro do bruxo e os apresentou:
-Caros alunos, este é o novo Professor de Poções, o Sr. Salles.
-Salles? – perguntou o próprio professor. – Ah, claro, esqueci! Aqui vocês chamam uns aos outros pelo sobrenome... Claro... É que não é costume dos brasileiros, sabe?
-Alunos – corrigiu o diretor. – Este é Pablo Salles.
O professor fez sinais característicos com a mão, como se os cumprimentasse. Harry sentiu-se aliviado. O Professor Salles parecia ser bem mais simpático do que Snape. Harry pensou se não seria agora que teria prazer em estudar Poções.
Todos entraram novamente no Saguão. O Professor Salles conversava animadamente com Flitwick. Realmente eram grandes amigos.
-Ele sabe falar inglês perfeitamente! – exclamou Rony, admirado. – Nem parece que vem de outro continente, de outro país!
-Falaram que ele era muito inteligente – comentou Harry. – É poliglota, fala diversas línguas.
-E deve ser um ótimo professor também! Puxa, Harry, finalmente teremos alguém bacana nos ensinando Poções...
-Harry! Harry! – chamou-o James Smith, ofegante.
-Mas o que…?
-Não sei... Christian é que me mandou procurá-lo... É que a Laurie desapareceu durante à tarde. Estamos muito preocupados, nem vimos a chegada do novo professor...
-Por favor, acalme-se – pediu Harry, ao ver que o rapaz parecia muito nervoso. – Vocês não dizem que é do feitio dela fazer essas brincadeiras?
-Eu sei, mas... Dessa vez é diferente! Ela parecia muito nervosa antes de desaparecer. Murmurou sem parar: Estou sendo seguida... Vigiada... Em todo o tempo... Depois, sumiu e não apareceu até agora. Pode até ser uma brincadeira, mas... Ela pode estar em perigo.
Harry olhou para Rony.
-Temos que ir atrás da Laurie – disse Harry ao amigo, depois se virou para James. – Teremos que sair sem chamar a atenção.
-Não podemos esperar o banquete?
-Acho que pode ser depois, não, James? – Harry olhou para o garoto.
-Mas não podemos esperar muito – alertou o garoto. – É a vida de Laurie que está em jogo e... Ai! –James mexeu a mão próxima à orelha.
-Que foi James? – perguntou Harry, espantado.
-Nada... – falou ele, intrigado. –Bom, então, até daqui a pouco, Harry. Vou avisar aos outros. Tchau.
James despediu-se, tentando abrir caminho na multidão que lotava o Saguão de Entrada para entrar no Salão Principal. Harry e Rony, com dificuldade, atravessaram o Saguão e entraram no Salão. O Salão estava decorado em homenagem ao professor. Alguns enfeites verde-e-amarelo pendiam do teto, dando um colorido especial ao Salão. As travessas já estavam postas, embora ainda vazias. O Professor Salles parecia apreciar cada canto do Salão.
-Lá não temos um Salão tão grande e arejado – comentava o professor, se referindo à escola brasileira. – Temos que utilizar feitiços condicionadores de ar, já que o Brasil possui um calor terrível... Ainda bem que ficamos numa região que, pelo menos no inverno, possui um friozinho que chega a lembrar os países europeus...
-Não sabia que existiam lugares frios no Brasil – comentou a Professora Sprout.
-Mas não é frio o ano todo – respondeu o professor. – É que, no Sul, temos um inverno pra lá de rigoroso. Nossa escola está instalada em Florianópolis. É um lugar formidável.
Harry e Rony se acomodaram na mesa da Grifinória, aguardando o início do banquete comemorativo. Os professores se dirigiram até a Mesa Principal, acompanhados do novo professor, que ainda conversava sem parar.
Dumbledore fez um sinal com as mãos e as mesas encheram-se de comida. Tortas, bolos e uma incrível variedade de doces assolaram cada canto das mesas. Harry e Rony degustavam cada iguaria com imenso prazer.
Quando se lambuzava com a torta recheada de chocolate, coberta com creme de chantilly e cerejas, Harry teve sua incrível satisfação pelo banquete cancelada.
Nesse momento, Laurie Sawyer entrou no Salão. Estava pálida, e profundas olheiras se formaram debaixo de seus olhos. Sua aparência era péssima. Os cabelos desgrenhados, a boca arroxeada. Cambaleava, quase caindo.
Harry sobressaltou-se quando viu que os olhos da garota o fitavam. Com a voz fraca, ela murmurou:
-Harry...
A garota caiu ao chão, finalmente chamando a atenção de todos no Salão. O silêncio estabeleceu-se. Harry se levantou e aproximou o rosto da garota.
Uma mancha rocha cercava um furo em seu pescoço. A garota abriu uma das mãos. Um dardo negro, com a ponta respingando sangue misturado com outro líquido. Veneno.
Através dos olhos de pânico de Laurie, Harry percebeu que a garota queria dizer algo, mas não tinha forças para falar. Quando seus olhos começaram a revirar, a mão de Laurie levantou-se, depois despencou. Seu braço tombou com força no solo.
Seus olhos fecharam-se. Estava morta.
Harry, assustado, levantou-se. Olhou ao redor. Todos os alunos o olhavam com espanto. Olhou para a Mesa Principal. O Professor Dumbledore, com um sinal, pediu para que Filch retirasse o corpo da jovem.
Harry, pálido, em pé, no meio das atenções, observou o zelador carregar o corpo sem vida da jovem, que lhe tentara dizer alguma coisa. Harry pensou no que Laurie queria lhe dizer. Não havia como saber. Por poucos segundos, ele estivera a par da resposta para todos os enigmas. Poderia saber quem era o assassino...
Harry lembrou-se de algo que incomodora o ouvido de James no Saguão. Só podia ter sido o dardo. O enigma feito ao lado do nome de Laurie veio em sua mente: Seu corpo será tomado pelo veneno, após a picada cheia de dor. Tudo batia. Laurie só podia estar no meio da multidão, no Saguão, na hora em que recebeu a picada envenenada do dardo. Depois de envenenada, ela não conseguiria andar muito. Só se estivesse por perto.
Voltou para o seu lugar, inquieto com os olhares e recomeçou a comer. O resto dos estudantes fez a mesma coisa, embora sem o mesmo entusiasmo. Alguém acabara de morrer ali.
Dumbledore continuou a conversar com o Professor Salles, após pedir desculpas pelo desagradável incidente.
-Lamento muito – falou o diretor. – Preparei essa recepção e esse banquete para o senhor, em sua homenagem, é claro, mas também na tentativa de animar os alunos. Não esperava que tal acontecimento pudesse ocorrer.
-Fique sossegado – pediu Salles. – Tudo vai acabar bem.
A tensão dominava cada um no Salão. No entanto, Úrsula Hubbard sentia-se muito bem disposta. Olhava para Rony. Seu Rony... Mal via a hora de ouvir a voz dele novamente... Ela nem ligava para a garota morta. Seu mundo girava ao redor de Rony. Somente Rony.
Tomou mais um gole de suco de abóbora. Depositou o copo na mesa. Naquele instante, quando apanhava outra bomba de chocolate, algo bateu com força dentro do seu suco, respingando o líquido.
Úrsula franziu a sobrancelha ao ver que se tratava de um aviãozinho feito de papel. Apanhou o papel molhado e abriu-o, pensando tratar-se de uma brincadeira idiota de Draco ou Kevin.
Mas não era. O conteúdo do bilhete fez seu estômago despencar e seu sangue gelar.
Com letras irregulares e enormes, havia um aviso em apenas duas palavras, mas que já fora suficiente para deixá-la em pânico:

EU SEI

Úrsula arregalou os olhos, embranquecendo. Olhou para os lados, apavorada. Passou os olhos por cada um dos rostos das mesas. Quando passou pela Corvinal, viu Rogério Davies, que a olhava com um enorme sorriso desdenhoso nos lábios.

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