Cativeiro
No porão de uma antiga casa em Belfast, Irlanda do Norte, Nagini passeiava vagarosamente pelo carpete rubro puído que envolvia o minúsculo aposento. Uma poltrona postada de costas para a porta abrigava um corpo, onde apenas o topo de sua cabeça podia ser avistado. A mão cadavérica da criatura acariciou firmemente a cabeça da cobra que se prendia subindo pelo braço da poltrona. Num quadro com furos de cigarro e um macha vermelha em seu meio, uma mulher gorda e desgrenhada cantava uma antiga ópera, deixando o som da música invadir o ambiente.
A porta abriu-se com relutância revelando Yaxle que entrou segurado o braço de Hermione. Ao seu lado, Mac Nair trazia Lupin com um visível corte no supercílio, onde um rastro de sangue marcava seu rosto. Greyback entrou logo atrás e postou-se a frente deles.
A mão instintivamente parou de acariciar a cobra e com a outra, ergueu um copo de rum que bebia. A chama do fogo na lareira iluminava o líquido avermelhado do copo, permitindo que o reflexo dos visitantes pudesse ser observado pelo senhor.
- Cadê o garoto? – a voz calma de Voldemort fez um vento gelado invadir os corpos dos Comensais parados na porta. Greyback curvou-se ligeiramente antes de pegar a palavra.
- A mulher, meu senhor, ela garantiu que sabia onde encontrar Thamam, o amuleto que o senhor tanto deseja.
Voldemort apertou o copo estourando-o pela força.
- Incompetente! – disse entre dentes. Ele se levantou e virou para o lobisomem, seus olhos azuis penetrando nos olhos do animal. – Ela disse isso? Ela disse onde encontrar “Thamam”?
- Ela disse que sabia encontrá-lo, meu senhor.
- Sabia encontrá-lo... – ele agarrou-o pelo pescoço e ergueu do chão – Você acha que sou estúpido? Ela é minha filha, meu sangue. Ela sabe exatamente como enganar idiotas como você! – Voldemort atirou Greyback como se fosse um objeto qualquer. O homem bateu fortemente contra a parede oposta do lugar caindo perto de Nagini. Bastou algumas palavras para a cobra agarrar Greyback e apertá-lo com força. Voldemort sorria, seus dentes pontiagudos mostrando toda a maldade e o prazer de ver aquele homem sendo morto aos poucos por seu precioso animal. Ele voltou-se para os dois comensais que permaneciam parados com os prisioneiros.
- E então? O que trouxeram? – ele avalia Hermione dos pés a cabeça, mas sua avaliação é interrompida pelos gritos de Greyback. – SILÊNCIO! – ordena. – Leve-os para as celas. Depois decido o que faremos com eles.
Os comensais se retiraram. Voldemort voltou sua atenção para a cobra que se deliciava com a comida que havia sido lhe oferecida.
Os homens levaram Lupin e Hermione por uma escadaria de pedra que dava a um nível subterrâneo. Nas paredes, archotes fracos iluminavam o corredor frio e poeirento, onde baratas corriam pelas paredes e ratos caminhavam calmamente pelo chão. Ao final dele, uma porta revelava mais uma sala escondida. Eles entraram. Nela, pequenas celas suspensas no ar podiam ser vistas pairando sobre um imenso tanque com água. Com um aceno das varinhas, duas celas vieram ao encontro dos comensais. Yaxle abriu a porta da cela e jogou Hermione dentro como se fosse um saco de batata. MacNair fez o mesmo com outra cela. E ambas voaram até o lugar suspenso acima do tanque.
Sem dizer uma palavra. Eles se afastaram e fecharam a porta, deixando-os apenas com a iluminação de umas poucas velas que dançavam pelo aposento.
Hermione sentou-se no canto de sua cela olhando pro nada. A imagem de Greyback sendo devorado por Nagini passava diante de seus olhos repetidas vezes. Os gritos ainda ecoando em sua cabeça. Lupin aproximou-se o máximo das grades, tentando chegar o mais perto possível de Hermione.
- Você está bem? – ela não respondeu continuou com o olhar vago, lágrimas começaram a correr por seu rosto sujo. – Sinto muito Hermione.
De repente a porta abriu-se chamando a atenção dos dois. Voldemort entrou na sala sorrindo satisfeito, como se acabasse de ganhar o primeiro lugar no torneio Tribruxo.
- Remo, não havia o reconhecido quando chegou. Espero que se sinta em casa. – as duas celas flutuaram até Voldemort. – Faz tanto tempo que não nos encontramos... Quando foi a última vez que nos vimos mesmo? Ah sim, foi no dia que minha mulher foi morta. Mas vamos ao que interessa. Você quer sua liberdade e eu quero a minha. Me diga pra onde levaram o garoto. Me diga onde está Potter e eu lhe agradecerei com toda pompa e circunstância de que merece. Caso contrário, serei obrigado a matá-los. Como pode ver estou tentando facilitar as coisas pra nós dois. Se você colaborar comigo, estará seguro, será recompensado, e quem sabe ganhe o perdão de meu precioso diamante por ter matado sua mãe.
Hermione olha pra Voldemort, como se as palavras despertassem ela de um sonho. Ele percebe e retribui o olhar com um sorriso frio e cínico.
- Você não sabia? É isso mesmo que você ouviu, fedelha. – ele aproxima-se da cela de Hermione que encolhe-se mais. Ele abre a porta da cela e entra – Ele matou minha mulher, deixando nossa pequena e frágil filha pensando que fui eu o culpado pela sua morte. Como pode ver... – ele abaixou diante da garota e segurou com força sua nuca obrigando-a a olhá-lo. - ... seu amiguinho não é tão inocente quanto pensas. Esse era o maravilhoso plano da Ordem. Seqüestrar a filha, matar a mãe, apagar o rastro. Esses são seus heróis. – ele se levanta. Passando por Yaxle e MacNair ele ordena. – Tragam a garota.
Ele saiu da sala. Os comensais entraram na cela e agarraram Hermione que se debatia desesperada. Lupin sacudia as grades na tentativa frustrada de se libertar.
- NÃO! NÃO! ME LEVEM, SEUS DESGRAÇADOS! VOLTA AQUI E ME ENFRENTE COMO UM HOMEM! DESGRAÇADO! – Hermione chorava, gritava, esperneava, mas os homens eram mais fortes e não demorou a tirarem ela da sala. Lupin ainda gritou por alguns minutos até que sem força deixou-se desabar dentro da cela esperando que a garota retornasse com vida.
Durante todo o tempo, os gritos dela ecoavam em seus ouvidos, enquanto Hermione era torturada em outro lugar naquela casa. Um lugar longe do alcance dele.
Uma hora se passou até que a porta do aposento se abriu. As velas já haviam queimado até o fim, e a luz que penetrou machucou os olhos de Lupin acostumados à escuridão. Ao ver a figura de Yaxle e MacNair trazendo Hermione arrastada, Lupin levantou-se bruscamente e pendurou-se nas grades numa outra tentativa de conseguir se soltar.
MacNair abriu a cela da garota e jogou dentro. Hermione estava totalmente machucada, com escoriações e cortes por todo corpo. Sua roupa manchada estava rasgada em vários pontos e sua respiração fraca revelava que seu corpo havia sido judiado. Ela estava desacordada. Os comensais fechara a porta da cela e suspenderam ambas novamente.
- Hermione! – chamou Lupin. Os comensais haviam saído, porém desta vez deixaram a porta entreaberta e o feixe de luz iluminava os rostos dos dois. Ela abriu os olhos e tentou responder, mas acabou se engasgando com o próprio sangue, tossindo com dificuldade e cuspindo-o no chão da cela. Lupin a olhava com dó e tristeza. Sentia-se totalmente impotente para ajudá-la.
- Eu não disse... eu não contei pra eles. – tossidas, e uma dor forte sobre o peito a faz gemer baixinho.
- Hermione, eu sinto muito. Por tudo.
- Eu não me importo com o que... você e os outros fizeram. Apenas nos tire daqui. – ela esticou o braço entre as grades da cela. Lupin a olhou, a deformação de seu rosto doendo em seu coração. Ele fez o mesmo, e esticando-se o máximo que conseguia, tocou em seus frágeis dedos, segurando sua pequena mão machucada. E assim permaneceram em silêncio, como se dividissem entre si as dores que sentiam. As mãos dadas num sinal de força mútua. Num apoio mútuo.
- Eu sinto muito, Hermione.
- Eu sei.
- Muito tocante. Uma cena realmente encantadora.
Voldemort havia entrado na sala. Atrás de si, velas flutuavam e rapidamente ocuparam lugar pela sala voltando a iluminá-la. Eles soltaram as mãos.
- Vou lhe dar mais uma chance. Me diga o que quero saber e eu os liberto. Simples, não acham?
- Porque quer tanto saber? – perguntou Lupin tentando ganhar tempo.
- Me surpreende que ainda não saibas... ‘professor’. Pelo visto não possui nenhum sentimento pela garota. Se tivesse, não a deixaria sofrer mais... deixaria? – ele ergue a varinha e aponta para Hermione.
- Ele não vai dizer nada! – esbravejou Hermione, agarrando-se as grades pra conseguir levantar.
- É surpreendente a resistência que você tem a dor, senhorita Granger.
- Ele não vai dizer nada!
- Quer apostar?
E num movimento da varinha a cela de Hermione despencou em direção ao tanque ficando totalmente submersa.
- NÃO!
- Diga onde está Potter!
Hermione debatia-se embaixo d’agua tentando se soltar. A necessidade de respirar tomando-lhe o corpo.
- TIRE ELA DA ÁGUA! Por favor.
Outro movimento da varinha e a cela sai da água gelada. Hermione cospe água tentando respirar novamente. Seu corpo treme incontrolável por causa do gelo.
- DIGA ONDE ESTÁ POTTER!
- Não diga a eles.
Lupin olha pra Hermione. O vacilo em responder faz com Voldemort abaixe a cela.
- A Ordem está levando-o para o Largo Grimauld em Londres! – grita Lupin, a cela da garota fica suspensa a dois centímetros da água. Hermione abandona seu corpo ao chão chorando muito.
- Obrigado pela informação.
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