Prologo



Dias atuais

Era incrível como reluzia a lua cheia naquela noite tão fria iluminando a, anormalmente agitada, cidade da Luz. Podia-se ver, desde o Arco do Triunfo ou as amplas janelas do museu do Louvre, como dezenas de helicópteros militares dirigiam-se a um ponto em comum. Todos que observavam esse fato apontavam assustados, murmurando entre si o que estaria acontecendo. Enquanto que muitos que preferiam o abrigo de seus lares, devidamente aquecidos, não despregavam os olhos dos plantões dos tele-diários, que começavam a pipocar pelos canais, interrompendo sua programação normal para cobrir o que estava acontecendo na antes calma Paris.

Pela tela de qualquer TV podia-se ver como os helicópteros das emissoras se arriscavam a seguir de perto os militares, apontando o zoom de suas lentes para seu aparente destino.
A catedral de Notre Dame repousava vigorosamente ao lado do rio Sena, como sempre foi, mas com a diferença de que, naquela noite, brilhava à luz de refletores da polícia local e, pelo que podia-se notar, também a Interpol e o exército Francês.Cerca de duzentos homens cercavam a catedral gótica entre carros, vans, helicópteros, holofotes e um tenso clima que prendia ainda mais a atenção aos tele-espectadores.

Porém, sua excitação não durou muito. Repentinamente, a imagem transmitida de Notre Dame foi substituída por uma mensagem que notificava problemas técnicos. Indignados, claro, todos queriam saber o que estava acontecendo e mudavam incansavelmente de canal, mas nenhum parecia ter escapado da epidemia de problemas técnicos. Pelo visto o governo não queria compartilhar esse fato com sua população. As áreas residenciais próximas ao ponto turístico eram abrupta e apressadamente evacuadas pela polícia local, a ordens militares. Tampouco queriam testemunhas.

Isso intrigou particularmente ao tenente Meyer, responsável por todos os policiais locais ali presentes. Após receber tal ordem de um capitão com uma expressão de alarme e pânico refreado e repassá-la às pressas a seus homens, tentou manter-se próximo a área rodeada, sem tirar os olhos da construção, como se soubesse que algo logo iria acontecer. Ignorando todo aquele tumulto causado pelo ensurdecedor barulho de helicópteros voando demasiado baixo, homens disparando ordens a todos os cantos, motores rugindo e civis indagando a exclamações o que estava acontecendo ali, ele prendeu a respiração, sentindo um frio na espinha que lhe indicava que algo não ia bem.

E, realmente, não ia. Com os olhos arregalados, os joelhos cedendo automaticamente para agachar-se e seus dedos firmemente envoltos à sua pistola, já apontada para o chão, ele viu como a parede, incrivelmente esculpida que compunha o Portal do Julgamento, a mais nova entrada da Catedral, explodia em vários pedaços que voavam uns quantos metros antes de se espatifarem no chão. Mas ninguém se importou realmente com isso. Os muitos pares de olhos estavam fixos no grande vulto que voava como um projétil entre a nuvem de poeira que o acompanhava como a cauda de um cometa até ser freado pelo choque contra um holofote, literalmente explodindo-o também, fazendo com que várias fagulhas e um molesto som elétrico invadisse o ambiente.

Todos estavam mudos, engolindo em seco, trocando olhares perplexos com um companheiro. Indiscutivelmente aquilo que atravessara (mais bem destruíra) aquela resistente parede era o corpo de um homem. Um homem que agora, segundo a lógica, jazia dentro daquele holofote destruído e levemente consumido por pequenas chamas. Ninguém ousou aproximar-se durante uns minutos, até que certo individuo do exército ordenou a seus homens que se aproximassem. Com ar relutante, porém obedientes, eles deram uns passos vacilantes aos restos do holofote, mas estancaram ao notar que algo lá dentro de movia.

A mandíbula de Meyer estava tão rígida que imaginou estar prestes a parti-la. Podia ver, a uma distância considerável, como um homem que trajava uma roupa particularmente formal e elegante, embora tão destruída quanto o aparelho de onde levantava (o que combinava mais com seu rosto), se levantava e saltava para o gramado dos jardins da Catedral, empapado de seu próprio sangue, que escorria de vários cortes e hematomas espalhados por seu corpo maduro e forte.

Pode ouvir alguém perguntar atrás dele, com um megafone, se ele estava bem. Não houve resposta. Ele apenas pareceu estalar seu pescoço com um movimento e olhou demoradamente para a lua, movimentando rapidamente sua boca, murmurando alguma coisa. Depois de alguns segundos um estrondo saiu de dentro da catedral assustando a todos, fazendo com que uma expressão de intensa má-vontade se estampasse em sua face. Como se não tivesse acontecido nada há pouco, começou a correr com uma velocidade absurda até o imenso buraco que se formara na fachada da catedral e irrompeu por ela, fora do alcance dos olhares chocados.

Meyer, forçando-se a recuperar-se do choque, começou a cambalear em direção ao capitão que lhe dera as ordens mais cedo. O militar agora olhava atentamente para os lados, procurando alguma coisa. Ignorando sua desatenção, o tenente colocou a mão em seu ombro e o obrigou a virar-se, olhando em seus olhos perplexos e sobressaltados. Com a garganta seca, ele apenas conseguiu murmurar o que tinha a dizer.

- Quem demônios... – Pigarreou rapidamente, tentando aclarar a voz, sem sucesso – é aquele cara? O que está acontecendo aqui? – Seus olhos pareciam ter assustado ao seu superior, quem pareceu relutante em responder.

- Não é da sua conta, policial. – Recuperou-se de seu assombro, voltando a ter a expressão dura - São informações confidenciais de segurança nacional, as quais nem mesmo eu tenho acesso. Agora, peço que me deixe trabalhar – Ao dizer isso, começou a correr em busca daquilo que procurava. Meyer só percebera agora o tumulto que havia se tornado aquilo após o silêncio boquiaberto de todos. Os superiores bradavam ordens e, soldados e agentes corriam para todos os lados, obedecendo-as. Todos pareciam saber o que fazer, pareciam estar cientes do que estava acontecendo.

- Então por que porra eu não posso saber também?! – Pensou alto o tenente, fechando a cara e preparando-se para voltar à área residencial, a fim de ajudar na evacuação.

Mas não pode dar mais de cinco passos antes de ser interrompido pelo ultimo que imaginara ser possível. Após um novo estrondo e um som de pedras caindo e esfarelando-se com o choque a sua frente pousaram, fazendo o solo tremer ligeiramente, dois homens. Ambos se encaravam com olhar assassino e um sorriso selvagem. O primeiro homem era aquele que acabava de “reviver” dentro do holofote, agora com a roupa ainda mais rasgada, exibindo seu dorso, mas aparentemente com menos ferimentos que antes. O outro era um homem muito parecido com o primeiro, mas tinha um aspecto muito mais descuidado e brutal. Estavam agachados a frente do tenente Meyer, recém chegados do ar, ignorando sua presença.

Mas para Meyer era simplesmente impossível ignorá-los. Estavam rosnando! Grunhindo um para o outro, mostrando seus dentes (demasiados grossos para um ser humano normal ) com aqueles sorrisos diabólicos. Meio espantado, meio abalado pelo tremor de terra, ele cai sentado no chão, trêmulo, enquanto não tirava os olhos dos dois, que permaneceram imóveis por um bom momento.

- Você viu, Leo? – Disse o segundo homem com uma voz rouca e que parecia mais um latido – A lua veio nos ver. Hoje deve ser um grande dia. – E gargalhou após dizer isso. Uma gargalhada insana e assustadora. O outro se limitou a fitá-lo, com um pouco de desprezo desta vez.

– Então? O que é que há? – Continuou ele, depois de uns segundos sem resposta – Está com vergonha do público? – Mais alguns segundo sem resposta verbal – Ok... Começo eu, então!

O que ocorreu a seguir foi tão surreal e rápido que pareceu uma ilusão. Em poucos segundos, a musculatura daquele homem começara a mudar tão bruscamente que Meyer achou que ia explodir de sua pele. Grossas camadas de pelos negros começavam a brotar de todo seu corpo, deixando-o ainda maior. Sua cabeça mudava por completo; uma fuça canídea terrível agora substituía o rosto sombrio de segundos atrás. Seus olhos adotavam um tom de vermelho que se destacava de forma surpreendente em meio aquele mar negro. Uma criatura mítica acabava de se revelar a frente de Meyer e tudo o que ele conseguia fazer era esforçar-se ao máximo em parar de tremer.

Levantando-se por completo, a criatura olhou para a lua e, com um tom de voz agudo e ensurdecedor, uivou. Um uivo que ressoaria por toda Paris. Um uivo que acabava de amedrontar todo um batalhão de agentes de segurança internacional. Todos inúteis perante uma ameaça como aquela.

Não demorou a que o outro o imitara. Transformou-se rapidamente em uma criatura exatamente igual, a não ser por sua pelagem marrom-escurecida que brilhava magnificamente sob as luzes dos holofotes, agora voltados para lá, quase cegando ao tenente. E finalmente, com um rugido que amedrontaria ao mais prepotente dos leões, pulou encima de seu inimigo negro, abocanhando com avidez o lado esquerdo de seu corpo, fazendo com que Meyer recebesse um banho de sangue daquela criatura, agora com uns dois metros e meio.

Grunhindo de dor, o monstro negro pegou impulso com a perna esquerda e saltou, agarrando o outro com firmeza e levando-o, ainda sendo mordido, para o alto. Era incrível como aquelas criaturas tão grandes podiam saltar tão alto e tão longe. Ambos foram parar encima do teto da catedral de Notre Dame, fazendo sua estrutura bambolear perigosamente. A criatura negra começou a golpear a cabeça do outro com selvageria, enquanto seu sangue ainda jorrava da ferida cada vez mais aberta pelos grossos e afiados dentes de seu inimigo.

Após vários golpes, por fim forçou-o a soltá-lo. Aproveitando-se da oportunidade, fez um movimento mais aberto e dedicou-lhe um soco monstruoso desde cima, fazendo o telhado ceder sob sua potência. Ambos desapareceram novamente dentro da construção gótica.

O tenente, após relaxar ao perder o contato visual com aqueles monstros, deixou-se deitar no chão de concreto, o suor frio molhando seu uniforme. “O que eram aquelas criaturas? Então é isso o que estão tentando esconder...? Não, não, isso é impossível! Tem que ser mentira! Um terrorista... Alguma coisa!” As idéias confusas giravam por sua mente, deixando-o enjoado. Constantemente sua espinha era atacada por aquela tão familiar e desconfortável sensação. Seus devaneios foram interrompidos quando um chamativo helicóptero rosa choque se destacou em meio daqueles corvos negros da Interpol e começou a pousar consideravelmente próximo dele, fazendo seus cabelos esvoaçarem, seus olhos arderem com a poeira levantada e vários militares se deslocarem, com medo de serem atingidos pela bamboleante cabine do helicóptero.

Quando tocou o chão, dele saltaram quatro pessoas: Dois homens vestidos como clássicos “gângsters” do inicio do século passado, que levavam à mão duas armas de um calibre elevado (modelos desconhecidos por ele) e que ladeavam os outros dois, uma mulher estonteante, (que teria excitado ao pervertido de Meyer se não houvesse tanta tensão sem seus músculos) vestida como uma empresária bem-sucedida que ajudava a um velho vestido com os tradicionais trajes de bispo. Apesar da idade avançada desse último, seus olhos eram sombriamente determinados ao olhar a um ponto além de Meyer.

Os quatro recém-chegados foram prontamente saudados por um homem corpulento e bigodudo que, segundo sua farda, era um coronel e, provavelmente, máxima autoridade ali no momento.

- Irmão Francesco! Agradecemos a vossa agilidade em responder ao nosso chamado! – Exclamou o coronel bigodudo para o bispo, tentando fazer com que sua voz superasse o irritante estrondo das hélices que ainda giravam.

- Nós já estávamos a caminho bem antes de sua chamada, coronel – Exclamou com uma voz estranhamente vigorosa e rude o bispo – Agora, poderia fazer-nos o favor de especificar a situação?

- Ambas as criaturas estão confrontando-se dentro da Catedral de Notre Dame com uma selvageria brutal, danificando consideravelmente a estrutu...

- Limite-se a dizer onde estão agora, coronel! – Agora quem falava era a mulher. Sua voz era de uma autoridade indiscutível e chegou a intimidar até mesmo ao coronel.

- Q... Queiram acompanhar-me – gaguejou – temos um aparelho de raios X que nos informará em tempo real sua localização dentro da catedral.

- Não será preciso. – Disse com uma voz seca um dos “gangsters” antes de desatar a correr, seguido por seu parceiro. Após correrem juntos uns cinqüenta metros, separaram-se, cada um perdendo-se entre as centenas de pessoas às costas de Meyer.

Como se tivessem previsto os movimentos das duas criaturas, logo após terem partido, outro som ensurdecedor de semi-demolição encheu os ouvidos de todos e ambos apareceram “voando” por cima de suas cabeças até pousar no telhado de uma casa da área residencial ao lado da catedral. A pelagem do monstro marrom estava manchada de um vermelho brilhante, sangue que brotava de sua cabeça. Já o outro possuía o ferimento no lado esquerdo do abdômen e um profundo corte que atravessava verticalmente seu olho direito. Apesar disso, ambos trocavam golpes furiosos com ainda mais precisão e poder, saltando de um telhado a outro, aumentando o estrago já provocado.

Meyer desviou ligeiramente seu olhar fascinado da batalha e pousou-o no bispo. O velho agora estava ajoelhado no chão, de cabeça baixa e mãos unidas. Rezava com uma concentração incrível, ignorando como gritavam os homens uns para os outros que não disparassem, transmitindo as ordens de seus superiores. Parecia que aqueles recém-chegados sabiam o que fazer.

A resposta a esse pensamento veio quase imediatamente. Uma exclamação de surpresa escapou das dezenas de bocas ali presentes, todos olhando para o lado contrário que olhava Meyer, o qual acompanhou com o olhar até a parede leste da construção, onde estavam agora os dois monstros. Porém não lutavam. Um (o de pelagem marrom) estava tombado no chão, inerte. O outro girava a cabeça de um lado para o outro, parecendo ignorar que seu inimigo estava morto. Procurava alguém. Por acaso havia sido um terceiro quem matara aquela criatura?

Quando um fio fino de um sangue vermelho-prateado começou a escorrer de debaixo do corpo flácido, pôde-se ouvir um tiro, aparentemente vindo de lugar nenhum e, ao mesmo tempo, de todos os lugares possíveis. Mas, com um salto em um ângulo estranho, a criatura que aparentava ser um monstruoso lobo negro, escapara do disparo. Ao pousar e olhar a um lado, em sua rude e canina face, esboçou-se um sorriso vitorioso e ele correu nessa direção. Podia-se ouvir agora como o bispo rezava num latim rápido e fluente, em voz alta. O monstro, atropelando e golpeando vários soldados e agentes da INTERPOL, abria caminho até sua verdadeira presa. A alcançou em instantes em meio à multidão; agarrando o tronco de um homem, abocanhou sua cabeça e fechou sua mandíbula em torno de seu frágil pescoço. Mastigando e jogando para o ar o corpo vestido com uma roupa de gangster manchada de sangue, ele exclamou ao vento em alto e bom som, misturando-o com um fantasmagórico uivo:

- VENI, VIDI, VICI!

BANG! Sua peluda nuca explodira em vários pedaços vermelhos que choveram no gramado ao receber o impacto da bala de prata disparada pelo outro gangster, encima do telhado de uma das casas mais próximas. Seu corpo caiu pesadamente no chão, causando um último estrondo que parecia fechar aquele traumatizante espetáculo. Ambas as criaturas estavam mortas, o padre parara de rezar... Mas um ar de tensão continuava a rondar as cabeças de todos. Ninguém falava nada, apenas assistiam como, lentamente, o assustador corpo daquela criatura negra como a noite voltava a ser o de um humano caucasiano comum.

Meyer se recompôs e olhou novamente para o bispo, o qual voltava a subir em seu helicóptero, olhando com uma leve expressão cansada para todos os homens ali presentes, admirando os corpos. Apenas o tenente olhava para ele, tentava ler aquela enigmática expressão que cobria o fundo de seus olhos. Sua espinha lhe alertava que algo ainda estava para acontecer. Notou que segurava um terço com tanta firmeza que lhe fazia tremer o braço. Ouviu o som de novos motores se aproximando do local. A mulher também subiu no helicóptero e colocou uma mão no ombro do bispo, o qual assentiu com pesar. Enquanto ele cobria o rosto com as mãos, ela falava algo em um walkie-talkie que pegara de seu banco.

“Merda!” pensou Meyer, percebendo por fim sua situação. Desatou a correr em direção do helicóptero. Os motores pareciam estar chegando cada vez mais perto. A mulher percebeu sua ação e olhava com curiosidade para o tenente, que estava bem perto. O som de pneus queimando no asfalto encheu o local, alertando-o. “Merda, merda, MERDA!” amaldiçoando a todos que lhe vinham à cabeça no momento, saltou, visando à entrada para o helicóptero, que estava pousado de costas às ruas e às casas vizinhas da Catedral de Notre Dame.

O som de metralhadoras vomitando suas centenas de balas por minuto foi tudo o que Meyer ouviu e o calor de algumas dessas mesmas balas penetrando seus órgãos vitais foi tudo o que ele sentiu enquanto tocava uma mão no chão do helicóptero, ainda no ar. Pousou dentro do veículo manchando o solo de seu sangue, aos pés do homem de Deus.

Meyer apenas conseguia pensar no que acabava de acontecer, amaldiçoando-se por não havê-lo notado antes e fugido. Era claro que não lhes permitiriam viver após ver algo daquela magnitude. Algo que deveria ser mantido em segredo a todo custo, evitando o pânico internacional. Após terem matado ambas as criaturas, vários agentes especiais chegariam e eliminariam cada alma presente, cada testemunha, evitando mirar, é claro, em seus companheiros, que estariam no helicóptero de uma cor tão chamativa. Os helicópteros que sobrevoavam a área sem duvidas deveriam ser controlados por cúmplices. Logo forjariam a cena do crime, fazendo-a parecer um ataque terrorista ou algo parecido. Um plano simples, um plano clichê, mas efetivo de todas as formas.

Não demorou a que a avalanche de balas cessasse e os ouvidos de Meyer parassem de zumbir. Já deviam estar todos mortos. É claro, deve ter havido alguma resposta, mas estavam todos tão atordoados pela cena que acabavam de presenciar que o último que poderiam esperar era um fuzilamento a céu aberto.

- Todas as testemunhas foram abatidas. – disse uma enérgica e sufocada (talvez por uma máscara) voz desde fora do helicóptero - Meus homens agora procuram por sobreviventes. O que faremos com os “Licantropos”?

- Transfira cada um a um QG da instituição. – Pôde-se ouvir a voz da mulher, agora mais autoritária que nunca – Eles saberão o que fazer com eles. E lembre-se de que não precisa se preocupar com sua vida. Acima de tudo, não retirem as balas de prata de seus crânios, ouviu? – Meyer ouviu um “sim” – Ah, e por certo... Vocês estão deixando um.

Meyer pode sentir a ponta de um sapato feminino cutucar seu rosto, apesar de semi-dormente. Porém não teve disposição para insultá-la mentalmente. Apenas esperou o contato das balas com sua massa cerebral, finalizando sua vida.


...

Ano 2.785, a humanidade sofrera câmbios bruscos durante os séculos que se decorreram desde então. A terra e seus habitantes viviam em paz, a violência era quase nula e as guerras haviam sido extintas há séculos. Desigualdade social já fazia parte dos livros de história, assim como as religiões ou qualquer outro tipo de governo que não fosse claramente democrático. A sociedade vivia num conforto tecnológico que lhes permitiram criar colônias em Marte e Vênus, além de criaturas geneticamente modificadas para a construção de tais colônias. Os desastres ambientais no planeta azul eram cada vez mais amenos e a expectativa de vida humana aumentara bruscamente. Uma sociedade feliz, livre de todas as imperfeições que sempre foram taxadas como típicas da humanidade.

Mas isso estava prestes a mudar.

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