Goodbye Yellow Brick Road.



Essa sou eu, Sofia Blaine, quinze anos, em pé, olhando para meu boletim de final de ano letivo, contemplando minhas boas notas, como em todos os anos anteriores. Tentei até sorrir, mas, pareceu desnecessário, já que naquele momento não faria a mínima diferença se minhas notas eram ou não as maiores de todo o quinto ano. Na minha cabeça ainda ficava a música que meu pai e minha mãe, quando vivos e casados cantavam um para o outro. “Hold me Tight” dos Beatles. Romântica a ponto de me frustrar um pouco mais naquele momento. Eu estou aqui, escrevendo em uma máquina de escrever trouxa que eu ganhei de minha avó. Porque parece certo escrever e eternizar isso. É por isso e porque me tranqüiliza e me faz chegar a talvez uma conclusão sensata que eu escrevo. Para explicar o que se passa na minha cabeça, tenho que voltar até o começo do ano letivo, exatamente um dia antes de eu, Patrick, Alexander e Sabrina pegarmos o Expresso Hogwarts. Aliás, um dia antes de pegarmos o Expresso, nem da existência de Sabrina nós três sabíamos, o que tornou tudo mais difícil, porque nós não pudemos nos preparar para a intrusa que modificou tanta coisa na nossa atmosfera familiar.

Tudo começa quando eu e meu vizinho e amigo de infância Patrick estamos vendo filme na casa dele. Um dos meus filmes preferidos por sinal, “O Mágico de Oz”.
- Adoro esse filme. – Eu disse sorrindo, meio abobalhada, bem mulherzinha, como Patrick gostava de falar.
- Por quê? – Ele me perguntou.
- A idéia de “Lar” e que não há lugar como ele me dá segurança. – Eu disse me levantando da cama dele e calçando meu all star branco.
- Porque você está calçando seu tênis? – Pat me perguntou desligando a televisão.
- Vou para casa. – Eu disse me levantando da cama. – Está tarde.
- Dorme aqui. – Patrick disse me jogando um travesseiro, que eu, por um milagre consegui pegar.
- Não. – Eu disse como se ele fosse entende o porquê sem que eu lhe explicasse.
- Por quê? – Ele perguntou.
- Nós temos 15 anos agora. – Eu disse.
- Eu sei. – Ele me respondeu.
- E eu tenho seios agora. – Eu disse um pouco envergonhada. – E você tem “pipiu”.
- Eu percebi que você tem seios e eu tenho “pipiu” desde sempre. – Ele disse antes de rir da expressão que eu usei para seu... “Pipiu”.
- Você não tem permissão para perceber que eu tenho seios Patrick. – Eu disse tentando não rir, porque realmente não tinha graça.
- Claro que eu posso, mesmo porque eu não sou cego. – Ele disse me deixando nervosa e me fazendo pular em cima dele e lhe encher de socos.
- Seu babaca! – Eu disse brava e em cima dele. Ao perceber que estava em cima de Patrick e que isso não era conveniente para uma mocinha de quinze anos eu desci, arrumei meu short e camiseta.
- Sofia! – Patrick disse bravo comigo. Ou tentando ficar bravo comigo, na verdade isso era algo que ele custava a conseguir, apesar da minha insistência em irritá-lo desde que nos conhecemos. Nossas discussões duravam quinze minutos e ficávamos cerca de dez minutos sem falar um com o outro. E depois tudo ficava bem com os esforços de Alex para que nós dois, cabeças duras da turma fizéssemos as pazes.
- Não é certo. Nenhuma menina de quinze anos dorme no quarto de outro menino de quinze anos sem nenhum parentesco ou relacionamento. – Eu disse tentando (e não conseguindo) ser clara.
- Nós somos praticamente irmãos. – Patrick disse tentando soar óbvio.
- Praticamente não nos torna irmãos. – Eu disse.
- Nós temos um relacionamento de amigos. – Ele retrucou.
- Relacionamento que permite duas pessoas de sexos opostos dormirem juntas no mesmo quarto só há um Patrick. – Eu disse nervosa.
Patrick caminhou até mim e olhou nos meus olhos me desafiando. Eu adorava os olhos de Patrick, eles eram verdes, mas se olhasse bem dentro deles, veria que em volta de sua pupila, dentro da íris, havia um circulo cor de mel.
- O que? – Eu perguntei.
- Não adianta Sofis, eu não quero fazer sexo com você. – Ele disse caminhando para a cama e se sentando.
- Eu não quero fazer sexo com você também! – Eu disse nervosa. – Você é muito babaca Patrick Sawyer!
- Eu não diferencio meus amigos por sexo Sofia. – Ele disse. – Eu dormir na mesma cama que você é a mesma coisa que dormir com o Alex. Só melhor porque você é menor e mais cheirosa. – Patrick sorriu, o que desencadeou meu sorriso.
- Nossa amizade antes dos hormônios que estão entrando em ação?! – Eu perguntei lhe estendendo a mão.
- Sempre Sofi. – Ele disse tirando sua camiseta e se deitando em seu lado da cama.
Eu tirei os sapatos e fiz o mesmo. Ele apagou a luz e me disse “Boa noite”. Eu disso “Boa noite” para ele também.
E me senti segura. Realmente segura, Patrick me dava essa segurança e liberdade de ser a Sofia perto dele. A Sofia que fala, briga, grita, chora, ri, dança e se sente livre. Eu dormi mais confortavelmente lá do que nos dias anteriores na minha cama, no meu quarto, já que havia dias que só conseguia dormir três horas por noite. Eu dormi bem e sentindo o cheiro de Patrick, que era um perfume novo que eu o havia ajudado a escolher para ele usar no quinto ano e arranjar uma namorada em Hogwarts...

***

Eu acordei com o barulho da porta do quarto se abrindo e a luz sendo acesa. Era a mãe de Patrick , Karen, que se assustou com a presença de dois corpos na cama do filho, onde deveria haver apenas um. A minha sorte foi que eu me lembrei que estava na casa do Patrick, se não ela ouviria, sem querer alguns palavrões. Eu me levantei enquanto Patrick reclamava da luz direta nos olhos.
- Olá Sofia. Bom dia! – Karen disse tentando (e não conseguindo) não parecer surpresa.
- Bom dia Karen. – Eu disse bocejando e calçando meu sapato de forma rápida e não desesperada, já que tinha em mente que não deveria demonstrar que estávamos fazendo algo errado, como o Pat havia me dito na noite anterior. – Bem, vou para a minha casa e nos vemos daqui a pouco?
- Sim, você e o Alex vão comigo para a Estação não é? – Pat disse ainda deitado.
- Sim, vamos. Não se esqueça. – Eu disse caminhando para a janela para fazer meu trajeto diário até minha casa.
- Sofia? – A Senhora Sawyer havia me interrompido. – Use a porta apenas dessa vez.
- Ah, claro. – Eu disse caminhando para fora do quarto e descendo as escadas.
Sai da casa correndo, fui até a casa de minha avó, com que moro, e subi nas caixas que ficavam sob a minha janela e pulei para meu quarto, já tirando a camiseta dos Rolling Stones e o short e entrando no banheiro.
Minha avó abriu a porta do quarto nesse exato momento.
- Oh querida, já está entrando no banho! Achei que estava atrasada de novo! – Minha avó disse, achando que eu havia acabado de levantar... Da minha cama.
Eu ri e entrei no banho. Sai de cabelos molhados e alma lavada. Até senti que não havia mentido para minha avó. Na verdade que aquela mentira tinha menos importância que eu imaginava que tinha (que já era pouca). Vesti um short preto e a camisa social branca de uniforme, assim seria mais fácil na hora de ter de colocar o uniforme. Calcei um par de sapatos pretos sem salto, tentei secar meu cabelo o máximo possível para não molhar a camisa branca. Desci as escadas pensando o que minha avó teria feito de café da manhã, o último que eu tomaria com ela durante alguns meses. Iria para casa apenas no Natal, e isso demoraria alguns meses.
Da escada senti o cheiro de panquecas e café, o que me fez sorrir. Comi rápido, sabia que havia demorado muito no banho e que não seria bom para eu atrasar (de novo) Patrick e Alex. Beijei a bochecha enrugada da minha avó e ela me desejou boa viagem e juízo.
Minha avó já havia descido a minha mala com magia, o que me poupou um grande esforço físico. Puxei a mala até a porta e vi Alex na porta da casa dos Sawyer. E isso iria me poupar mais esforço físico ainda.
- Alex! – Eu o chamei balançando os braços.
Ele se virou e olhou em minha direção. Eu apontei para a mala e ele veio caminhando em minha direção. Ele também já usava a camisa branca de uniforme, que contrastava bem com sua pele negra. Ele cheirava a loção pós barba, o que me fez rir, pois eu sabia que ele quase não tinha barba. Fiquei quieta, ele e o Pat estavam fazendo um grande esforço para atraírem meninas. Eles não se conformavam de nunca terem beijado de língua. E eu já. Tecnicamente.
- Você é uma folgada. – Alex disse sorrindo com seus dentes brancos.
- Eu sei. – Eu respondi enquanto ele levava minha mala para frente da casa do Pat. Eu parei para admirar a casa de Patrick, onde eu havia brincado durante anos, corrido de um lado para o outro, quebrado vários vasos. A casa grande, branca, com um jardim lindo que eu apanhava flores para enfeitar nossa cabana. Alex e Patrick odiavam eu tentando enfeitar a nossa cabana, pois eles queriam que fosse algo mais... Másculo?! Sim, era essa a palavra que eles usavam. E embora eu lhes dissesse que eu era tão máscula quanto eles, eles reclamavam das flores na cabana.
- Há quanto tempo nós não vamos até a cabana? – Eu perguntei nostálgica.
- Crise de nostalgia? – Alex perguntou encostando-se ao carro dos Sawyer.
Droga, ele me conhecia muito bem.
- Não... E sim. – Eu disse, vencida. – Era mais por curiosidade, mas não significa que eu não sinta saudades.
- E eu não digo nada. Isso também não significa que eu não sinta saudades. – Alex disse para mim. Eu sorri em resposta.
Patrick abriu a porta da casa e saiu dela mexendo em sua câmera. Não prestou atenção nem em mim, nem em Alex.
- Hei! – Eu disse brava.
- Ah, oi. – Ele respondeu ainda atento apenas a sua máquina.
- Que absurdo, seja mais educado! – Eu disse lhe dando alguns tapinhas.
- Ai ai Sofia! – Ele disse bravo. – Minha câmera estragou, eu não posso levá-la para Hogwarts assim. Eu vou enlouquecer.
- Fato. – Alex disse. – Eu arrumo isso lá.
Alex era bom em concertar coisas com feitiços.
- Certo. – Patrick finalmente sorriu para nós. – Meus pais já vêm. Eles estavam me irritando com uma discussão. Querem viajar no Natal. Eu disse que prefiro ficar e comer a ceia na sua casa. – Ele disse apontando para mim.
- Se você já se convidou né... – Eu disse me encostando ao carro.
Os pais de Patrick saíram da casa discutindo a viagem. Ela queria sol, ele queria neve.
- Eu quero ficar aqui. – Patrick reclamou enquanto entrávamos no carro. Nós três no banco de trás
Alex foi entre eu e o Pat, para evitar brigas e discussões desnecessárias. Eu encostei a cabeça no vidro e fechei meus olhos. A discussão de Neve ou Sol dos pais de Patrick me fizeram criar uma leve dor de cabeça, então decidi ficar quieta.
- O que você tem? – Alex perguntou ao perceber que havia ficado 10 minutos calada.
Eu apontei para a minha cabeça.
- Dói? – Ele perguntou.
Eu balancei a cabeça em afirmação.
- Coloque a cabeça no meu colo, é mais confortável que encosta-la no vidro. – Alex disse e eu logo obedeci.
Não demorou muito para a mãe de Pat perguntar o que eu tinha, suspeitando que eu não houvesse dormido na noite passada. Lembro de ter pensando em falar para ela “É, não descansei essa noite por culpa do seu filho que não parava de me agarrar” só para ver a cara dela, mas preferi ficar quieta.
Alex a explicou a minha situação e ela pareceu mais calma.
Não demoramos a chegar à estação. Despedimos-nos dos pais de Patrick e caminhamos para o Expresso Hogwarts. Eu fui à frente, como sempre. Queria chegar logo até nossa cabine. Sim, nossa cabine. Nós íamos nela desde o primeiro ano. Era a cabine número 3.
- Você está muito quieta Sofia. Não gosto disso. – Patrick disse.
- Você gosta, só não está acostumado. – Eu resmunguei. – Você vive me mandando calar a boca.
- Mas você nunca obedece. Eu só falo para te irritar Sofia. – Patrick disse. – Eu até gosto da sua voz.
Eu ri e olhei para ele desconfiada. Entramos na cabine e eu me sentei perto da janela. Alex se sentou ao meu lado e Patrick a minha frente.
Eles foram conversando sobre coisas que não me interessavam e eu fiquei olhando a paisagem que passava rapidamente.
- Sofia, conversa. Sério, você está me assustando. – Alex disse.
- Verdade. Eu estou com medo do seu silêncio. – Patrick completou.
- Estou com um mau pressentimento. – Eu disse. – Não sei como reagir a isso.
- Mau pressentimento? – Alex perguntou me olhando.
- É. Quando você acha que algo ruim vai acontecer. Não sei se é especificamente hoje ou durante o ano letivo. – Eu falei respirando e fechando os olhos e raciocinando com mais calma. – Não é bem um mau pressentimento. É que eu acho que vai acontecer muita coisa esse ano sabe?
- Não, mas seus pressentimentos geralmente estão certos... – Patrick disse.
- É. – Eu disse. – É disso que eu tenho medo.
- Mas nós estamos aqui. – Alex disse. – E duvido que alguma coisa fique 100% ruim se nós estamos com você, certo?
- Certo! – Eu disse sorrindo. – Então os dois garotos da minha vida, quem vai me comprar sapos de chocolate?!
- Eu vou. – Alex disse se levantando.
- Você já percebeu que nós te mimamos demais? – Patrick me perguntou.
- Como se eu não mimasse vocês Patrick... – Eu respondi.
- Você mima a gente?! – Patrick perguntou confuso e se aproximando de mim, como se eu fosse dizer “Tudo bem, é mentira” se ele estivesse mais perto.
- Sim. – Eu respondi olhando ele mais de perto. – Para mim você é o melhor fotógrafo amador e o Alex o melhor jogador de quadribol de toda a Hogwarts. – Eu disse. – Não que vocês mereçam esses títulos, mas é só porque eu gosto de vocês. Não me enche Patrick Sawyer.
- Você é uma mentirosa. – Ele disse. – Você realmente acha isso, e não é porque você gosta da gente.
Era verdade, mas eu não respondi e fiz uma careta para ele. Patrick riu, me conhecia bem demais para saber que aquilo era praticamente concordar com ele.
Alex chegou e dividiu os sapos de chocolate que havia comprado comigo e com Patrick.
Pouco tempo depois chegamos a Hogwarts para minha alegria. Estava com fome de algo, mas não especificamente sapos de chocolate.
Sentamo-nos à mesa da Grifinória, nossa casa. Eu não agüentava mais McGonnagal falando sobre como seria esse ano, demorou a terminar a seleção dos alunos do primeiro ano. Minha fome aumentava e a paciência diminuía. Finalmente fomos comer, o que aliviou um pouco do meu nervosismo. Repito: um pouco.
- Eu vou para meu quarto já. – Eu disse após comer um pão e tomar um copo de suco.
- Já? – Alex perguntou assustado. – Comeu pouco e já vai para seu quarto?
- Sim. Estou cansada e nem um pouco com animo de perder a paciência com pessoas que me irritam, lê-se minhas colegas de quarto. Vou dormir antes de elas me bombardearem com perguntas sobre Alexander Clark o astro do Quadribol. – Respondi tentando ter bom humor.
- Vai lá Sofi. – Patrick disse. – Tente dormir bem porque você quando não dorme bem é um saco. Acredite em mim, eu acordei muitas vezes do seu lado e quando você não dorme bem...
As pessoas ao lado dele olharam para ele e fizeram silêncio. Eu respirei fundo, virei me virei de costas e disse:
- Você devia falar menos. Bem menos...
Fui para meu quarto. Tentei não pensar nas coisas ruins que me aconteceriam naquele ano. Mas a verdade é que a cada segundo que passava mais um roteiro de drama cinematográfico envolvendo a mim e meus amigos surgia na minha mente. Eu finalmente peguei no sono.

Acordei com uma coruja roxa batendo na janela próxima a minha cama. No susto fui correndo para abrir a janela.
A coruja entrou trazendo um convite com uma carta anexada. Era um convite de casamento. Da minha mãe.
O pão e o suco que eu havia tomado quase voltaram. Respirei fundo para não vomitar. Tentei achar uma explicação lógica para tudo que estava acontecendo. Tentei culpar minha intuição. Sabia que algo dramático ia acontecer cedo ou tarde. Esmurrei meu travesseiro antes de abrir a carta com a (possível) explicação da minha mãe para atitude tão precipitada. Não fazia nem seis meses que ela havia encontrado um namorado, algo que eu duvidava que durasse mais que dois meses, como de hábito.
Abri a carta.
Querida Sofia,
Estou te escrevendo para lhe dizer que o Sebastian me pediu em casamento e eu aceitei! O casamento vai ser durante as férias do Natal, para que você possa vir até Paris, onde vamos nos casar, no jardim da casa do Sebastian. Será um casamento simples, mas nós fazemos questão que você venha. E venha para morar conosco.

Parei de ler aí. Como assim morar na França?! Estudar em uma escolha cheia de menininhas falando fazendo biquinho?!
Claro que eu achava a França e seus agregados o máximo, mas não queria morar lá. Não longe da minha avó e dos meus meninos. Beauxbatons?! Aquela escola não era para mim.
Continuei a ler e me torturar:
Falaremos com a diretora de Hogwarts para sua transferência.
- Eu não quero transferência! – Gritei enquanto as minhas companheiras de quarto entravam nele.
Assustei-as. Dobrei a carta, peguei meu roupão e enfiei a carta em seu bolso.
- Os meninos já foram para o quarto deles? – Eu perguntei tentando me acalmar.
- Quais meninos? – Carmem perguntou como se ela não soubesse quais meninos eram.
- Os meus meninos. – Eu disse me controlando para ser educada.
- Eles estavam indo para o quarto quando viemos para cá. – Ela me respondeu sorrindo.
Sorri em resposta, embora quisesse bater nela, por ter me feito demorar um pouco mais para chegar aos braços de algum deles.
Sai do dormitório feminino sem me preocupar com o fato de já estar de pijama. Bati na porta do dormitório masculino do quinto ano, Patrick abriu.
Eu o abracei instantaneamente. Era a segunda vez que ele me via indefesa assim. A primeira foi quando meu pai morreu, há nove anos atrás.
- O que foi? – Ele me perguntou com uma voz calma, mas ao mesmo tempo preocupada.
Eu comecei a chorar, não conseguia dizer nada. Entreguei-lhe a carta. Ele continuou abraçado comigo enquanto a lia.
- Sofia... – Ele me chamou. Suspeitei que tivesse terminado de ler a carta. – Venha.
Ele me pegou no colo e me colocou sentada na cama.
- Cadê o Alex? – eu perguntei.
- Ele está fazendo a ronda. – Patrick disse limpando minhas lágrimas. Ele se ajoelhou de frente para mim e colocou a cabeça no meu colo.
- Ele é monitor? – Eu perguntei ainda chorando.
- Agora é. – Patrick finalmente olhou para mim. – Você não vai.
- Eu não quero ir. – Eu disse.
Patrick me olhava sem entender. Eu, Sofia, indefesa, esperando ele me dar uma solução. Ele que sempre me pedia soluções.
Ele me olhou e segurou minha mão.
- Você não vai. Você foi feita para ficar do meu lado e do Alex. Nenhum de nós tem juízo o suficiente para viver sem você aqui. – Ele me disse me fazendo rir.
- Minha mãe é maluca. – Eu disse limpando meu rosto.
- Ela é. – Ele disse rindo. – Ás vezes eu acho que ela é quem em quinze anos e você tem trinta e cinco.
- Explica muita coisa. – Eu falei. – Como ela pode se casar sem se consultar comigo Patrick? E como depois de nove anos ela me quer de novo na vida dela período integral? Ter minhas responsabilidades? Tomar conta de mim?
- Eu não entendi Sofia. – Patrick disse. – Desde que seu pai morreu, eu conto nos dedos às vezes que vi sua mãe. Eu sei que vocês conversavam por cartas, mas a presença física dela devia ser indispensável. E agora isso.
- Eu estou com medo. – Eu disse. – De ter que ir, deixar vocês, deixar minha avó... De não sobreviver lá. Não me encaixar, eu mal me encaixo aqui!
- Sofia, você não vai. – Patrick repetiu olhando fixamente para mim. – Eu não vou deixar, o Alex não vai deixar e sua avó não vai deixar.
- Eu não posso deixar minha avó Patrick. – Eu falei. – Eu não posso deixar ela sozinha...
- Eu sei. – Ele me disse. – E é por isso que sua mãe não vai te obrigar a ir. Sua avó só tem a você e sua mãe não pode te tirar dela. E eu vou aproveitar de uma velhinha para não te perder.
Eu finalmente ri.
- Deita. – Ele disse.
Eu obedeci, deitei-me de barriga para cima. Ele se deitou ao meu lado.
- Odeio minhas premonições. – Eu disse.
- Eu também. – Patrick disse.
- Me distrai. – Eu pedi.
- Eu estou tentando, mas a única coisa que eu consigo pensar é em como eu vou viver sem você. – Patrick falou, me fazendo sentir um aperto no coração.
- Nós temos que parar com as declarações de amor e amizade. – Eu falei. – Não faz nosso tipo, é muito...
- Eu sei, nós não somos pessoas de demonstrações de afeto explícitas. – Ele completou.
- É. – Eu falei. – Mas a gente abre pequenas exceções.
- Sim. – Ele disse.
Ficamos lá, parados olhando para o teto. Mais tarde, os outros meninos do quinto ano chegaram ao quarto. Eu e Patrick continuamos estáticos, olhando para o teto. Alex demorou mais alguns minutos para chegar.
- O que aconteceu? – Ele perguntou quando nos viu sem reação. – Porque nós estamos olhando para o teto?
- Carta. – Eu disse.
- No chão. – Patrick completou.
Alex a procurou e passou os olhos por ela rapidamente.
- Ela está maluca?! – Alex perguntou nervoso. - Então nove anos depois ela quer tirar você daqui?
- É. – Eu disse.
- A gente vai dar um jeito. – Patrick disse.
- Claro que vamos. – Alex se sentou na beirada da cama, com os cotovelos apoiados nas pernas e mão segurando a cabeça.
Depois de certo tempo decidi me pronunciar:
- Acho que ganhei uma coruja roxa.
- Roxa?! – Os dois perguntaram. – Como assim roxa?!
- Boa pergunta. – Eu disse. – E ela foi a única coisa que prestou das coisas que ela mandou para mim.
- Concordo. – Alex disse.
Eu me levantei e disse:
- Pronto. Eu vou para meu quarto. Nós vamos parar com o drama. Ninguém vai me tirar daqui.
- Boa noite. – Alex disse um pouco bravo. Assim que ele ficava quando não sabia o que fazer.
- Boa noite Sofi. – Patrick disse.
- Boa noite. – Eu respondi saindo do quarto.

Naquela noite eu chorei até dormir.
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Gente, é demais pedir comentários?! Quero MUITO saber o que vocês estão achando da fic, então por favor... COMENTEM!

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