Falling Down.



Acordar do lado do Patrick nunca foi tão fácil. Parecia que eu estava no lugar certo e mais seguro do mundo. Eu acordei antes dele e ele segurava a minha mão. Eu me levantei e fui para meu quarto.


Lá as meninas ainda dormiam. Decidi tomar um banho e tentar dormir mais um pouco, afinal era sábado. Antes disso fui atrás dos elfos para tentar convence-los a me alimentar. Não foi muito difícil e, a comida estava ótima.


Voltei para meu quarto e me sentei na cama. Todas as meninas ainda dormiam, para a minha alegria. Eu me deitei na cama e fiquei olhando o teto. E me questionando:


O que é que havia acontecido?


Será que o Alex estava sabendo?


Será que isso iria acabar com a nossa amizade?


Eu havia beijado meu melhor amigo e eu não tinha idéia do que aquilo poderia virar.


Eu resolvi pensar nas opções.


Por um motivo inexplicável eu queria tentar.


Eu sabia que aquilo estava fadado a dar errado. Daí eu tentei, de todas as formas que eu conhecia, me convencer que era errado pensar no Pat daquela forma. Era... Incestuoso.


“Incesto é pecado. Eu acho. Deve ser em algum país católico, disso eu tenho certeza!”


Mas era por pouco tempo que esse argumento era válido.


“Eu não sou a irmã do Pat. Eu sou a amiga, a melhor amiga, a pessoa que conhece ele melhor que a mãe dele. Se brincar eu passo mais tempo com ele do que ele passa com a mãe dele.”


Esse é o problema. Eu o conhecia bem demais. Eu passava tempo demais com ele. E era bom passar tempo demais com ele. Ele era meu amigo e aquele beijo iria estragar tudo.


Eu queria mesmo era entender porque eu havia beijado o Pat. Honestamente, acho que se eu não tivesse de malas praticamente prontas isso não teria acontecido.


É, nós ficamos com medo e pensamos “Porque não?”


Eu queria mesmo era tirar a culpa que eu estava sentindo por ter gostado daquele beijo. Mesmo sabendo que se nós dois não estivéssemos completamente bêbados não haveria ocorrido nada. Mesmo lembrando que ele havia beijado uma menina antes de mim. Eu não conseguia entender porque... Pela primeira vez eu não sabia o que Pat estava pensando. Eu comecei a ficar nervosa, ansiosa, insegura e tudo mais.


A única solução era eu conversar com ele. E eu não queria demorar muito, por isso eu troquei de roupa, colocando uma calça jeans, moletom cinza e sapato de boneca preto e fui decidida em direção ao quarto dele.


Quando ia bater na porta do dormitório masculino, Alex abriu a porta.


- Alex! – eu disse feliz em ver meu amigo. – Bom dia!


- Bom dia Sofia. – Alex disse. – Eu ia te chamar para ir comigo e com o Pat comer algo...


Quando vi lá estava ele: Pat. Tudo o que eu queria e não estava pronta pra ver.


Travei. Fiquei parada, estática, até meio zonza. No dia anterior, no qual pela primeira vez eu o havia visto com outros olhos eu havia achado ele lindo. Ou até mais que isso.


Desejei que o efeito fosse momentâneo. Que como a Cinderela, no outro dia ele voltasse a ser quem era antes do baile. Doce engano. Patrick continuava lindo, para que a cada segundo mais. Lindo o suficiente para me fazer entrar em órbita. Perfeito o suficiente para me fazer ficar sem reação, sem palavras.


- Sofia? – Alex me chamou de volta a realidade.


- Oi? – Eu perguntei piscando os olhos diversas vezes como se saísse de uma hipnose. O que não era necessariamente uma mentira.


- Você está bem? – Alex me perguntou.


- Sim, sim. – Respondi.


- Vamos comer então. Eu estou morrendo de fome. – Alex disse.


Eu não tive nem a coragem de olhar para Patrick depois do meu transe. Fomos pedir comida aos elfos. Alex e Patrick comeram um bolo com suco enquanto eu encarava a xícara de café que eu havia pedido. Alex comentara da festa de ontem e eu tentava não falar muito.


- E essa foi a última vez que eu vi vocês. – Ele disse. – Antes de vê-los dormindo profundamente no quarto.


- Que? – Eu disse. – Quando?


- Na hora que você nos deu a bronca. – Patrick disse.


Fiquei quieta. A voz dele me silenciou automaticamente.


- Agora sério. O que é que está acontecendo? – Alex perguntou.


- Nada. – Dissemos juntos.


- Claro que está acontecendo alguma coisa. – Alex disse. – Eu exijo saber.


- Não aconteceu nada Alex. – Eu disse. – Pare de paranóia. Está tudo bem entre todos nós.


Eu estava quase convencendo Alex quando...


- É. – Patrick estragou tudo com um “É.” Completamente irônico.


- Certo, eu estou indo treinar quadribol. Nesse tempo vocês dois conversem sobre o que quer que seja que está acontecendo. Eu não quero nem saber, eu estou cansado de tentar resolver as briguinhas de vocês dois. – Alex disse se levantando. – Boa sorte. E paciência.


- Pra quem você está desejando sorte e paciência? – Perguntei.


- Para os dois. Vocês são insuportáveis. – Ele disse sorrindo e me fazendo revirar os olhos.


Ele saiu e eu e Patrick ficamos sentados encarando o chão, em silêncio.


- Quanto tempo ele gasta para treinar quadribol? – Patrick perguntou.


- Uma hora. Em média. – Eu disse.


- Então melhor a gente conversar logo. Pelo que eu conheço, nossa discussão sobre qualquer assunto demora um bom tempo. – Ele disse.


- Eu não considero isso como uma discussão. – Eu disse.


- Nem eu. Aliás, eu acho que pela primeira vez que nós vamos concordar em algo. – Ele disse.


-Mesmo? Que milagre. – Eu disse. – Então...


- Então... – Ele repetiu.


- Ontem foi... – Eu ia dizer "perfeito" quando ele me interrompeu.


- Um erro. – Ele me disse me fazendo sofrer instantaneamente e tentar não demonstrar minha dor. Aquelas palavras me feriram na alma. Respirei fundo e tentei fingir que, desde o princípio concordava com ele.


- Você é meu melhor amigo. É errado. – Eu disse sorrindo.


- Exatamente! – Ele disse. – Não sei o que eu estava pensando quando... Você sabe, eu te beijei.


Ele abaixou o olhar ao dizer isso. Quando ele fazia isso significava que ele estava mentindo, eu o conhecia muito bem!


Eu sorri e disse:

- Não precisa se preocupar. Nada mudou, você ainda é meu melhor amigo, e só isso. E nunca vai deixar de ser. – Eu disse sorrindo, como se tudo aquilo fosse verdade.


- Que bom, eu não sabia mais o que dizer. – Ele falou sorrindo e olhando nos meus olhos. – Eu não quero que nada fique estranho entre a gente.


- Não vai. – Eu disse sorrindo. – Mas agora eu vou para meu quarto, tenho uma tarefa que ainda não terminei, e ainda estou de ressaca por causa de ontem!


- Ok, vou procurar o Alex então. – Ele disse.


E cada um de nós partiu em uma direção. Assim que vi que o havia perdido de vista eu comecei a correr. Eu não sei para quem corria, mas sabia que corria para longe dele. Eu precisava chorar e era obvio que não poderia fazer isso na frente dele. Mas embora soubesse que poderia ainda assim trombar com ele nos corredores, não consegui segurar e soltei minhas lágrimas. Corri para meu quarto, deitei-me na cama, com a cara no travesseiro e tentei chorar baixinho. Foi a primeira grande dor que ele me causou.

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