Capítulo Um: A amizade.



Sete anos e três meses.

Minha mãe me fez levar aquele bolo enorme aos novos vizinhos.

Antes, fizera um comentário que me pareceu um tanto malvado. Ela havia dito que o bolo era algo essencial. Principalmente, por causa do tamanho daquela família.

Bom, não é todo dia que você vê nove pessoas morando em uma casa. Pessoas normais não têm sete filhos. Era o que mamãe dizia, enquanto tentava não parecer tão escandalizada com tudo aquilo.

Então, eu tive a oportunidade de conhecer os vizinhos que iriam morar na casa mais estranha da minha rua.

Com a enorme caixa na mão, eu tentei, em vão, abrir o pequeno portão branco.

Até que eu vi a menina ruiva parada na janela, me encarando.

Achei isso meio idiota da parte dela. Quero dizer, ela me viu quase morrendo para abrir aquele portão. Ela me viu parado em frente da casa esquisita dela e... simplesmente não fez nada.

Qual era o problema dela?

“Olá.”-disse uma mulher ruiva, um tanto gorda, ao abrir a porta. Ela foi até a frente da casa, mas não abriu o pequeno portão.-“Quem é você?”

“Draco Malfoy.”-respondi.-“A minha mãe... ela me mandou entregar isso.”-eu estendi a enorme caixa, fazendo-a passar por cima do portão branco.

A mulher pareceu surpresa. Acho que de onde ela vinha, as pessoas não faziam gentilezas desse tipo.

É, isso explicaria muita coisa sobre a menina parada na janela.

“Bom, meu nome é Molly Weasley.”-disse a mulher, enquanto pegava a enorme caixa.-“Obrigada, querido, mas o que é isso?”

“Um bolo.”-respondi, lentamente.

A mulher abriu um sorriso.

“Bom, acho que você gostaria de um pedaço, certo?”-ela sugeriu, abrindo o portão e me convidando a entrar.-“E tenho certeza que os meus filhos... adorariam você.”

É.

Eu não teria tanta certeza disso.
----------------------------------
Sete anos e cinco meses.

Mamãe quase pirou quando viu o estado das minhas roupas. Ela disse que um jovem rico como eu (JOVEM. Pelo amor de Deus, eu tinha sete anos nessa época) não podia se dar o luxo de sujar as roupas.

Mas eu não tivera culpa. Gina Weasley me convencera que jogar beisebol com os seus irmãos seria uma boa idéia.

E eu simplesmente concordei. Não era sempre que me convidavam a jogar beisebol.

Não era muito popular no meu bairro. Sempre fui visto como o cara rico que não dava muito papo para as pessoas, mas aquilo estava mudando desde que eu começara a ser amigo de Gina Weasley. Desde que eu começara a concordar com as suas loucuras.

Você vai notar que em várias épocas da minha vida... eu simplesmente concordei com ela.

Acho que eu odiava vê-la chorando por minha causa. Odiava desapontá-la.

Enfim, quando entramos no campo, eu percebi que aquilo não era uma boa idéia. Eu usava as minhas melhores roupas e aquilo era lama pura.

Acho que roupas bonitas e lama não combinam de jeito algum.

E junte beisebol e um jogador inexperiente e você vê no que eu me meti.

“Gina... acho que a minha mãe está me chamando.”-foi o que eu falei.

“Você está com medo dos meus irmãos, Draco?”-ela perguntou, o tom não era de preocupação.

Gina Weasley estava tirando uma da minha cara.

E eu não suportava isso. Ou melhor, até hoje eu não suporto isso.

“Lógico que não.”-eu respondi, de maneira arrogante. Igual ao meu pai.

“Então, venha jogar.”-ela desafiou.-“Se você não está com medo, o que te impede?”

Dei o meu melhor sorriso a Gina.

“Nada.”

Ela sorriu, mas eu ainda via que não acreditava em mim.

“Bom, então, vamos ver se você consegue rebater.”

E Gina foi até um dos seus vários irmãos.

Percebi que Rony Weasley, aquele que tinha a minha idade, não estava ali. Lembrei que eu tinha que perguntar o que acontecera a ele, mas isso não seria possível agora já que Gina trazia o meu taco.

“Bom, rebata e corra, Malfoy.”-ela disse, jogando o taco para mim.

Eu meio que afundei quando ela me entregou.

Ah, Deus, aquilo era pesado demais.

Eu jamais conseguiria segurar aquilo direito.

Então, você pergunta como Gina Weasley não tinha nenhuma dificuldade.

E eu respondo que quando você tem seis irmãos mais velhos que simplesmente te fazem de capacho, você acaba desenvolvendo forças ocultas.

Ah, cara, por que eu não tinha um irmão mais velho?

“Você não conseguirá rebater se você ficar desse jeito.”-disse um garoto ruivo que tentava não rir da minha falta de força.-“Além do mais, Gina te entregou o taco mais pesado.”

E nisso, eu fiquei bem bravo.

Qual é? Ela me fazia pensar que eu deveria ter comido todo aquele espinafre que eu simplesmente jogava pela janela enquanto mamãe não via.

“Tente esse.”-disse aquele garoto ruivo, me entregando um outro taco.-“Acho que esse é bem melhor, não?”

E era.

Assim, um tanto mais confiante – e com uma raiva assassina, eu fui até o lugar onde eu rebateria.

Vi um dos seus irmãos, que eu ainda não sabia o nome, segurando a pequena bola branca. Gina estava próxima a segunda base e era do time adversário ao meu.

“Vamos lá, Draco.”-disse Gina, com aquele sorriso minúsculo no rosto.-“Vamos ver o que você é capaz.”

Apenas segurei o bastão com mais força.

Concentrei-me apenas na bola que ainda estava na mão de seu irmão.

Ele jogou a bola.

E eu simplesmente rebati.

No momento seguinte, comecei a correr que nem um desesperado. Pisei no quadradinho da primeira base, mas antes que eu pudesse chegar à segunda, Gina Weasley se chocou contra mim.

Antes, eu corria.

No instante seguinte, eu estava tossindo lama.

“Você está fora.”-ela disse, se levantando toda feliz.

Só que eu só consegui entrar em pânico.

Eu conseguia imaginar a minha mãe – a louca por limpeza- surtando completamente ao ver o estado das minhas roupas.

Entenda que eu tampouco ajudei.

Continuei deitado no meio de toda aquela lama.

Simplesmente fantástico.

“Gina.”-eu sibilei.-“Minha mãe vai me matar.”

Ela só olhou um instante as minhas roupas.

“Draco.”-ela falou, se agachando e estendendo a sua mão.-“Nós estamos no meio do jogo. Ele não pode ficar simplesmente interrompido porque Vossa Majestade não quer sair do caminho.”

Pouco me importei com os seus irmãos que nos olhavam com curiosidade – aquele que me ajudara com o taco parecia, além disso, um tanto apreensivo.

“Saia do meu caminho.”-eu falei, ignorando completamente a mão estendida.-“Não quero jogar mais com você e com a sua família maluca. Por sua causa, a minha mãe vai me matar. Por sua causa, você está me entendendo?”

OK.

Acho que aquilo foi um tanto cruel.

Não se deve gritar para uma menina de seis anos que ela é maluca. E que a sua família é completamente maluca também. Ah, sim, também a acusei de meu assassinato e mesmo que aquilo seja metafórico, eu sei que ela se sentiria culpada.

É Gina Weasley, afinal.

Sem a mão de Gina, eu me levantei.

E eu vi a sua expressão mudando conforme as palavras eram lentamente absorvidas.

Ela não sorria mais.

Ela não olhava para mim.

Ela apenas... chorava.

-------------------------------------------

Sete anos e seis meses.


Eu não a via há um mês. Acho que a culpa grudava em mim. A culpa e a vergonha por acusá-la daquele jeito. Não conseguia sair de casa.

Ela tampouco me visitara. Gina sequer se aproximou da minha casa. E eu sei que ela não bateria na minha porta.

Mamãe estava feliz. Ela acreditava que o fato de ter feito amizade com a menina Weasley me fizera irresponsável, mas desde aquela época, eu não acreditava muito nisso.

Além do mais, qual é a graça de simplesmente se manter... impecável? Eu parecia um pequeno adulto.

Pensando que eu deveria me libertar novamente, eu saí de casa. Usava as roupas que mamãe queria doar aos pobres.

Se eu usasse roupas velhas, era o que eu pensava, talvez ela nem se lembre da nossa briga.

Inocente?

Desesperado?

É, eu era totalmente aquilo.

Abri o pequeno portão branco e entrei na casa.

Fiquei feliz ao ver que ele continuava daquele mesmo jeito. Nada parecia ter mudado.

Exceto quando eu bati na porta e vi Rony Weasley me encarando.

E ao contrário de mim, ele não estava feliz.

“O que você quer, Malfoy?”-foi o que ele perguntou.-“Você quer se assegurar que ela está completamente triste?”

“Eu poderia falar com ela?”

“Quer nos chamar de malucos de novo?”-ele praticamente berrou.-“Porque eu já sei o que você falou.”

“Eu... não quis dizer aquilo.”-balbuciei.-“Eu apenas vim pedir desculpas.”

Ele não queria acreditar em mim.

“Além do mais.”-completei, atrevido.-“Isso não é da sua conta.”

Percebi que não devia ter falado isso, quando Rony Weasley simplesmente me empurrou.

Caí de costas.

Aquilo não iria ficar assim, foi o que eu pensei.

Então, eu me levantei e fiz o mesmo com Rony, só que ele, ao contrário de mim, não caiu.

Agora de ‘estou aborrecido com você, Malfoy’, Rony Weasley parecia... furioso.

E foi quando eu vi o punho do ruivo vindo em direção ao meu rosto.

OK.

Imagine dois garotos magrelos de sete anos.

Um loiro tentando parar o sangramento do nariz. E, ao mesmo tempo, tentando se esquivar dos socos do ruivo.

Era aquela bela briga de garotos.

E eu estava perdendo. Perdendo de um jeito bem vergonhoso.

“Rony!”-disse Gina, escandalizada. Ela estava ao meu lado, tentava de algum jeito puxar o irmão.-“Rony, pare!”-ela gritou, novamente.

Só que era em vão.

Então, ela se foi. Gina voltava para dentro de casa, gritando pela mãe.

“Ronald Weasley!”-eu pude escutar a senhora Weasley (Molly, eu tinha que lembrar de chamá-la de Molly, mas será que ela gostaria de ser chamada de Molly depois do que eu fizera?) berrando irritada.-“Solte-o imediatamente.”

Só depois de escutar o grito da mãe, Rony parou de tentar me matar.

Ele me soltou. Eu ainda estava com a mão no meu nariz.

“Oh, querido.”-ela falou, completamente chocada.-“Ronald, vá para o seu quarto.”-e nisso, a sua voz mudara.

OK.

Ela realmente poderia assustar qualquer um com aquele grito histérico.

“Venha, Draco.”-ela disse, de maneira mais suave (poderia ser a mesma pessoa?).-“Sente-se no sofá e levante a sua cabeça.”

Imediatamente, fiz o que ela ordenou.

Gina sentara-se ao meu lado, apenas a observei por alguns momentos.

Eu a vi mais triste. E isso me deixou triste.

“Oi.”-falei. Péssima idéia porque tudo doía.

Oh, Deus, por que quando eu preciso de um irmão mais velho... Você apenas dá as costas?

Fechei os olhos.

E foi aí que eu senti a mão de Gina sobre a minha.

Só com esse gesto, eu já sabia: nós éramos amigos novamente.


CONTINUA...


Escutando Wish you were here – Pink Floyd

N/A: Olá pessoas!

Normalmente, vocês não me veriam tão cedo com uma nova D/G, mas eu tive a minha pequena crise de insônia e... acabou surgindo isso que vocês acabaram de ler. Na verdade, a idéia era que fosse uma one-shot, mas achei melhor dividir nesses três capítulos pequenos.

Então, por favor, me digam o que vocês acharam, OK?

E eu prometo não demorar muito com o próximo.

Beijos,

Anaisa

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.