Capitulo 19
Nos dias que se seguiram, Gina esperou numa ansiedade dolorosa que Hermione viesse lhe dizer que tinha saído com Harry outra vez. Mas a amiga não veio, e ela se atormentou pensando que talvez eles tivessem saído sem o conhecimento dela. Harry parecia concentrado no trabalho, mas podia ter saído de casa numa de suas ausências.
Foram dias terríveis, em que ela se viu envolvida nas malhas das próprias incertezas. Quando estava com Draco, conseguia se convencer de que estava tudo bem, de que o casamento deles seria feliz e bem-sucedido, como sempre tinham imaginado. Mas, quando estavam separados, era assaltada pelas dúvidas, ficava angustiada e se atormentava com a idéia de que Draco não suportaria uma esposa neurótica.
Se ao menos pudesse conversar sobre suas dúvidas com o noivo, talvez conseguisse encontrar uma solução. Mas cada vez que tentava falar com Draco era friamente convencida a mudar de assunto, e pouco a pouco foi percebendo que entre eles não havia compreensão mútua.
Na semana seguinte, Gina saiu do trabalho mais cedo, um dia, para fazer algumas compras, cortar o cabelo e apanhar alguns catálogos que havia prometido a Draco. Como o dia estava quente e ensolarado, não havia muito movimento na cidade, e assim ela conseguiu se livrar cedo de todos os compromissos.
Foi para casa bem devagar, procurando não pensar no tormento em que havia se transformado sua volta para casa todos os dias. Quando desceu do carro, teve a impressão de ouvir vozes, mas o relincho de Horácio apagou todos os outros sons, e Gina se virou para o animal, cheia de admiração.
— Sei que você é bonito – disse ao animal, mantendo uma distância prudente entre eles. — Mas não gosto de cavalos. Você é grande e agressivo demais para mim.
Horácio sacudiu a cabeça, fazendo esvoaçar as crinas brilhantes, e Gina sentiu um ridículo sentimento de ternura.
— Sei que isso não é bom – continuou Gina, fechando a porta do carro e guardando as chaves no bolso. — Não sou sua amiga, por isso não adianta fingir que sou. Guarde suas boas vindas para seu dono. Ele gosta de você. Eu não.
Horácio continuou parado, olhando para ela com aqueles olhos tristes e suaves que a haviam assustados tanto na primeira noite. Sem perceber, Gina deu uns passos na direção dele.
— Está com muito calor? – perguntou, sem se embaraçar por estar falando com um cavalo. Percebeu que ele agitava a cauda para espantar as moscas e, de repente, imaginou se Harry tinha dado água ao animal.
Horacio não se mexeu quando ela chegou mais perto. Gina, consciente de que nunca tinha estado tão próxima de um cavalo em toda a sua vida, sentiu orgulho de si mesma. Afinal, estavam separados pela cerca e Horácio não poderia fazer nada contra ela. Pensando como seria bom poder dizer ao noivo que tinha acariciado um cavalo, estendeu a mão devagar e tocou de leve o pêlo macio do focinho do animal.
Foi um momento estranho, de imensa satisfação, em que todas as dúvidas e medos desapareciam como por encanto. Não se sentiu assustada, apenas feliz, e deu um suspiro de alívio.
A beleza do momento foi interrompido pelo som das mesmas vozes que tinha ouvido antes. Uma das vozes pertencia a uma mulher, que falava alto e em tom de acusação. Virou-se, perplexa, e viu Margot Urquart aparecer na porta da casa. Foi um choque. Margot era a última pessoa que ela esperava ver por ali, e já ia virar o rosto quando percebeu que a mulher estava carregando a máquina de escrever de Harry. Antes que Gina pudesse se recuperar do espanto, Margot jogou a máquina no pátio com toda a força. Harry apareceu e parou na porta sem dizer nada. Foi então que aconteceu.
Assustado pelos gritos e pelo barulho da máquina batendo no chão, Horácio levantou as patas dianteiras e relinchou forte, mas Gina, chocada demais com a cena, nem teve tempo de se apavorar.
— Agora você vai ter que voltar para Londres – gritava a mulher, histérica. — Vai precisar ir até o apartamento para buscar outra máquina, porque duvido que aqui em Malverley consiga encontrar outra tão sofisticada como aquela!
Gina parecia pregada no chão. Não gostaria de presenciar o resto daquele espetáculo, mas Margot parecia cega e surda aos sentimentos das outras pessoas, e talvez fizesse coisas ainda piores se visse Gina.
Harry, imóvel na porta, as mãos nos bolsos, ouvia em silêncio.
O ruído de um carro se aproximando chamou a atenção de Gina, que se virou para ver quem era. A Ferrari de Harry contornou os canteiros e parou ao lado do Alfa. Um homem estranho desceu sem cumprimentar ninguém e olhou para Margot, furioso.
— Santo Deus – murmurou, mal podendo acreditar no que via. — Foi você quem fez isso? Que diabo deu em você? Não a teria trazido se suspeitasse que estava assim descontrolada.
— Não se preocupe, James. – foi Harry quem respondeu, dando uma olhada na direção de Gina. — Tem cigarros? Ótimo. Vamos entrar e tomar um drinque. Acho que faria bem a todos nós.
— Mas que diabo, Harry...
O homem ia protestar, mas Margot o interrompeu.
— Não pense que vai me deixar assim, Harry Potter. – gritou, cega de fúria. — Vou acabar com você antes disso!
— Nunca prometi nada a você, Margot – disse Harry, com calma. — Pelo amor de Deus, não faça isso com você mesma!
— Comigo? Não me envergonho do que fiz. Mas você... você vai se arrepender!
— Pelo amor de Deus, Margot! – desta vez foi o outro homem que perdeu a paciência, e Gina percebeu que devia ser James Stanford, o editor de Harry. — Não percebe que está fazendo uma cena ridícula? Controle-se, mulher!
— Você... você é um idiota tão grande quanto ele, Santford! – gritou Margot com desprezo. — Vocês são muito amigos, não é? Talvez deixe de ser amigo deste idiota quando souber que sua mulher daria tudo para ser amante dele!
Perplexa, Gina queria fechar os ouvidos para não ouvir mais tanta baixeza, mas a curiosidade foi mais forte e ela continuou ali parada, ouvindo fascinada as revelações.
Não havia raiva no rosto do homem, quando respondeu com triste resignação:
— Conheço as faltas de Jô tão bem quanto você, Margot... vivo com ela há quase vinte anos. Não tente acabar com a nossa amizade, porque não vai conseguir. Guarde suas acusações para quem precise delas. Eu não preciso.
Os dois homens deram as costas à mulher e entraram em casa. Margot, ao contrário, correu para a Ferrari. Mesmo que Gina quisesse impedi-la de fazer o que planejava, não teria tido tempo. Num instante a Ferrari passava por ela a toda velocidade.
Harry e James escutaram o barulho do motor e saíram de novo, bem a tempo de ver o carro desaparecer entre as arvores que margeavam a estrada.
— Eu.. não pude impedir – explicou Gina, sentindo que precisava dizer alguma coisa, e Stanford respondeu com um gesto de impotência.
— Nem seria aconselhável tentar – garantiu James, o rosto tenso. — Diabos, Harry, o que é que eu posso dizer?
— Maldita... cadela! – explicou Harry, passando a mão nervosamente pelo cabelo. — Onde será que ela foi?
— Você acha que... Londres? – Stanford suspirou. — Santo Deus, desculpe, Harry. Nunca vou me perdoar se ela destruir aquele carro.
— Não foi culpa sua – respondeu Harry. — E não seja tão mercenário. O carro não tem importância. O perigo é ela se machucar. – sacudiu a cabeça. — Venha, vamos tomar uma cerveja. Vai acalmar você.
Pela primeira vez desde o começo do incidente os olhos de Harry e os de Gina se encontraram. Foi Harry quem falou primeiro, apontando para o outro homem.
— Meu editor, James Stanford. James, esta é Gina Weasley. Minha... ah... filha da dona da casa.
— Muito prazer. – Stanford não se mostrou muito efusivo, preocupado com o possível destino de Margot.
Gina ia entrar quando sentiu que Harry a segurava pelo braço.
— Você tocou Horácio – disse em voz baixa. — Eu vi.
— Graças a você – respondeu Gina, perturbada pelo contato inesperado. — Acha que eu poderia ter impedido Margot de sair daquele jeito? – perguntou, aborrecida por se sentir tão abalada a um simples contato da mão de Harry.
— Acho que eu devo... cumprimentar você – respondeu Harry, irônico. — O amigo Malfoy vai ficar feliz ao saber que você não tem mais medo dos amigos de quatro patas.
— Espera que eu agradeça a você?
— Já aprendi a não esperar nada de você – respondeu Harry, suave. — Fui um idiota em não perceber que você tem tanto medo de demonstrar seus sentimentos quanto tinha de Horácio.
— E o senhor não é um idiota, não é, sr. Potter? – Gina puxou o braço. — Muito pelo contrário.
Harry sorriu, e Gina se sentiu ainda mais perturbada por aquela ausência de agressão; muito mais que pelos costumeiros ataques de raiva. Ele parecia determinado a não discutir com ela.
Felizmente Santford resolveu voltar a si e decidiu aceitar a cerveja que Harry tinha oferecido. Os dois foram para a biblioteca. Gina sem saber o que fazer, resolveu ir até a cozinha tomar um chá.
(...)
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