Capitulo 14



Era impossível, claro. Ninguém podia esquecer que a antipatia velada entre Harry e Draco tinha se transformado em conflito aberto. As esperanças da sra. Weasley de que Draco se tornasse amigo do hóspede foram por água abaixo, e Gina passou a evitar qualquer menção ao outro homem quando estava na companhia do noivo.


 


Não que Harry se intrometesse na vida dela. Ao contrário, desde aquele dia desastroso, tinha pouco contato com ele. Harry não apareceu mais para o café da manhã, e como Gina sempre almoçava na cidade, só o jantar representava algum problema. Mas até isso Harry preferiu evitar, e começou a tomar as refeições na biblioteca. Era conveniente para todos. Só de vez em quando Gina ouvia música vindo da biblioteca e concluía  que ele estava descansando um pouco, mas geralmente o único ruído era o da máquina.


 


Ficou sabendo por Draco que Vincent tinha ido embora e se sentiu um pouco triste porque o cunhado não tinha ido se despedir dela. Mas, depois de tudo, talvez tivesse sido melhor assim. E, depois, estava sempre muito ocupada, agora que Draco tinha recebido a chave da nova casa.


 


Passavam a maior parte das noites na casa, escolhendo cores e tirando medidas para as cortinas e tapetes, mas Gina já não conseguia mais se entusiasmar tanto com os preparativos para o casamento. Não que duvidasse do amor que sentia por Draco, vivia se repetindo, mas se ressentia das exigências dele e começava a achar que o relacionamento deles carecia de atração física. Não conseguia se livrar da lembrança das suas reações aos beijos e às carícias de Harry. E embora condenasse a sexualidade aberta do escritor, não podia negar que ele despertava nela sensações físicas violentas.


 


 


Fazia três semanas que Harry estava morando em King’s Green e naquela noite tinha jantado com elas pela primeira vez. Pelas roupas que estava usando, parecia pronto para sair, o que ficou confirmando quando a sra. Weasley perguntou a  que horas ele pretendia voltar para casa.


 


— Não vou demorar muito – garantiu, sorrindo.


 


Gina pensou, indignada, que ele estava ali para trabalhar, e não para ficar toda hora saindo. Ela morria de curiosidade para saber onde Harry ia, mas não teve coragem de perguntar, nem a ele nem à mãe.


 


Sentindo-se especialmente deprimida, foi para casa de Draco, onde tinham combinado se encontrar. Dali foram para a casa nova e, pela primeira vez, Gina não sentiu o orgulho de proprietária quando cruzaram os portões de ferro.


 


Lá dentro estava quentinho, apesar do frio que fazia fora. A decoração era um pouco antiquada, mas Draco pretendia contratar uma firma para transformá-la ao gosto deles. Gina se esforçou para prestar atenção ao que o noivo estava dizendo.


 


— Que cor você prefere para a sala de jantar? O azul é um pouco frio, não acha?


 


Gina suspirou  e tirou o casaco. Estava agitada e inquieta e sem a menor vontade de discutir cores. Hermione tinha sugerido que agora, com um lugar onde pudessem estar a sos, Draco talvez se mostrasse mais efusivo, mas ele parecia totalmente indiferente, como sempre. Era irritante e frustante e Gina se perguntava se o noivo teria tanto medo assim de demonstrar os próprios sentimentos.


 


— Estive falando com Martin Coverdale e ele disse que pode nos vender um conjunto de jantar a preço de custo – continuou Draco, ignorando a falta de interesse da noiva. — É muita gentileza dele, não acha?


 


— Será que não podemos falar de outras coisas? – exclamou Gina, levada pela emoção. — Quero dizer... – ajeitou o cabelo, nervosa. — Por que não falamos de nós? Nós! Nossos sentimentos um pelo outro... Por que não esquecemos um pouco as cores e os móveis?


 


— Pensei que essas fossem nossas preocupações fundamentais no momento... – Draco se admirou, perplexo e ofendido.


 


— Mas não deviam ser. – Gina suspirou. — E nós, Draco? Por que não falamos de nós, do nosso relacionamento? Por que nunca fazemos nada a respeito?


 


— Fazer? Mas fazer o quê? – protestou, um pouco embaraçado. — Nós nos amamos, você sabe disso.


 


— Amamos mesmo?


 


— Que pergunta! Claro que nos amamos, Gina. Não sei o que está acontecendo com você.


 


— Hermione diz que falta alguma coisa no nosso relacionamento.


 


— Hermione acha, é? – Draco condenou a opinião da outra moça. — Com certeza ela sabe tudo na vida. Só fico imaginando onde é que ela consegue tanta informação. Sem dúvida com John Fleming, não é?


 


— Você sabe disso? – Gina se assustou.


 


— Metade de Malverley sabe. Os dois não são as pessoas mais discretas do mundo.


 


— Eles se amam.


 


— Amam! – Draco riu com desprezo. — Duvido que os dois saibam o significado dessa palavra.


 


— Pelo menos eles mostram o amor que sentem um pelo outro. Não tem medo de demonstrar suas emoções ou perder o controle uma vez ou outra.


 


— E você acha  que eu tenho? – perguntou Draco, frio.


 


— E não tem? Você nunca me beija como se não quisesse me deixar mais. Parece que não se importa.


 


— Nunca passou pela sua cabeça que faço o possível para me controlar? E que respeito você acima de tudo? – perguntou Draco, profundamente irritado.


 


— Eu... ah... não sei – murmurou Gina, em dúvida.


 


Ele colocou o caderno de anotações na escada e se aproximou dela, decidido. Abraçou-a sem delicadeza e beijou-a com violência, deixando-a completamente desconcertada. Não que nunca a tivesse beijado antes. Mas jamais a beijara daquele jeito rude e sem ternura.


 


A medida que os beijos se tornavam mais exaltados e exigentes, Gina começou a perceber que aquilo era desejo, o desejo que pensava que o noivo fosse incapaz de sentir. Mas o estranho era que, com ela, acontecia o contrário. Sentia-se fria como gelo, incapaz de corresponder ao fogo daquela paixão. Estava cansada quando ele finalmente a soltou.


 


— E então? – perguntou Draco, com ar triufante. — Está satisfeita agora? Eu desejo você, Gina, nunca duvide disso. Mas estou preparado para esperar até o momento em que terei o direito de tomar o que é meu.


 


Gina tremia de repulsa. Mal conseguia olhar para ele.


Será que ele pensava que aquela demonstração grosseira de egoísmo podia satisfazê-la? Dando as costas ao noivo, esfregou os lábios com as costas da mão.


 


— O que foi? Deixei você embaraçada? – perguntou Draco, cheio de autoconfiança. — Foi você quem quis, Gina. Sou um homem, não uma máquina. E você é muito bonita, não se esqueça.


 


— Eu... é melhor irmos embora – gaguejou Gina.


 


— Por quê? – Draco deu uma gargalhada divertida. — Não se preocupe, sei me controlar. Que tal estudarmos a planta da cozinha? Aqueles azulejos vermelhos são bonitos, não acha?


 


Gina precisou se esforçar para manter a tranqüilidade durante o resto da noite e ficou feliz por ter ido até Ketchley em seu carro, assim não precisaria suportar a companhia do noivo até em casa. Só a idéia de Draco ter direitos exclusivos sobre o seu corpo a enchia de repulsa.


 


Ao cruzar o portão de King’s Green, olhou no relógio. Era pouco mais de dez e meia, e ela deu um suspiro de alívio. Felizmente Draco não gostava de altas madrugadas e tinha concordado em deixá-la ir para casa.


 


Estacionou o carro no pátio do fundo, e ficou surpresa ao ver que a Ferrari já estava de volta. Então ele não tinha ido a Londres, senão ainda não estaria em casa. Mas onde teria ido? Aparentemente, não tinha amigos por ali. E, mesmo que tivesse, não seria normal voltar tão cedo. Necessitando se acalmar um pouco antes de entrar, Gina resolveu dar uma volta pelo pátio do estábulo.


 


Chegou até a cerca, cruzou os braços sobre ela e descansou o queixo nas costas das mãos. Não devia ter encorajado Draco a tentar um contato físico maior com ela. Hermione estava errada, afinal. Algumas pessoas precisavam estar casadas para ter um relacionamento sexual gratificante. E, sem dúvida, Draco não teria se mostrado tão insensível se ela não tivesse dado a impressão de estar querendo seduzi-lo. Mas e se o problema fosse com ela? E se fosse fria?


 


Estava tão concentrada naqueles pensamentos que teve um choque ao sentir uma coisa fria no rosto. Deu um grito de terror, caindo da cerca, e só então é que percebeu que a coisa fria que tinha tocado seu rosto era o focinho de um cavalo.


 


Sentiu uma pontada na perna, no mesmo instante em que ouvia o ruído de passos que se aproximavam. Era Harry, que a luz do luar parecia mais atraente do que nunca, embora seus olhos brilhassem de raiva.


 


— Que diabo você está fazendo? – perguntou, ajudando-a a se levantar, mas sem demonstrar a menor simpatia. Depois foi até a cerca e acariciou o animal para acalmá-lo. — Gritar desse jeito! – exclamou, tentando se controlar. — Pensei que alguém tivesse atacado você.


 


— Não se importa nem um pouco comigo? – protestou Gina, igualmente furiosa. — E esse animal, de onde veio? Não temos cavalos em King’s Green. É seu? Não tem o direito de trazer um cavalo para nosso estábulo sem nos pedir permissão!


 


— Eu tive permissão. Sua mãe disse que não havia problema. Pensei que ela tivesse falado com você.


 


— Mas não falou.


 


— Estou vendo. Desculpe, mas não pensei que você fosse perambular por aqui a esta hora da noite. Onde é que está aquele seu maldito noivo? Pensei que você e ele fossem passar a noite juntos.


 


— O nome dele é Draco Malfoy, como você está cansado de saber, e passamos a noite juntos. Ainda não notou que já é noite?


 


— Voltar às dez e meia não é propriamente passar a noite, mas se você acha... Bom, mas você não está machucada, está? O que foi que aconteceu? Ele atacou você?


 


— Ele encostou o focinho no meu rosto – confirmou Gina. — Detesto cavalos, sr. Potter. Sempre detestei.


 


—Sua mãe me disse que você tem medo de animais.


 


—De animais, não. Só de cavalos.


 


— É a ignorância que faz você ter medo dos cavalos.


 


— Ignorância? – indignou Gina. Tinham acabado de entrar na casa, e o som do disco que Harry estava ouvindo antes na biblioteca chegou até eles. — Como se atreve?


 


— É isso mesmo – repetiu Harry, sem se perturbar. — Ninguém precisa ter medo daquilo que conhece e compreende. Amanhã vou apresentá-la a ele, e talvez até vocês fiquem amigos.


 


— Duvido – comentou Gina, com uma careta.


 


— Você é quem sabe – respondeu Harry, indiferente, andando em direção da biblioteca. — Por falar nisso, sua mãe saiu. Foi convidada para um jogo de bridge na cidade e ainda não voltou. — Parou na porta e olhou para Gina com ironia — Parece que ela não percebeu que já é tarde!


 


Irritada com a brincadeira, Gina virou as costas e foi para a cozinha preparar uma bebida quente. Não estava com sono, por isso decidiu levar também o jornal para a cama.


 


— Está com fome?


 


— Um pouco. – Ao ouvir a pergunta de Harry, ela parou e olhou para trás.


 


— A sra. Hetherington me levou uma bandeja com café quente e sanduíches, antes de ir para a cama. Se quiser comer comigo, seja bem-vinda – ofereceu, apontando para a biblioteca.


 


— Eu... – Gina hesitou um pouco mas como não estava com sono e tinha medo de ficar a sós com os próprios pensamentos, resolveu aceitar o convite. — Está bem.


 


— Ótimo – foi o único comentário de Harry, que fechou a porta assim que entraram.


 


Gina não tinha mais entrado ali depois que a biblioteca tinha sido ocupada por Harry, por isso examinou tudo com interesse. Em cima da escrivaninha, além da máquina de escrever, havia cadernos de anotações, manuscritos e alguns livros. Ao lado da escrivaninha, blocos de papel em branco, papel carbono, um gravador e várias fitas cassete.


 


— Billy Joel – disse Gina, pegando a capa vazia de um disco. — Draco também... isto é... meu noivo... gosta muito dele.


 


Harry não fez nenhum comentário, só apontou para a bandeja de sanduíches. Gina agradeceu e pegou um sanduíche de peru. Sentou-se ao lado da lareira para comer, mas começou a ficar nervosa quando Harry desligou a vitrola.


 


— Deixe! – protestou, mas ao ver a expressão do rosto dele achou melhor ficar de boca fechada.


 


—Estou com vontade de ouvir outra coisa, explicou Harry, substituindo Billy Joel por um disco dos Carpenters.


 


— E então? – Harry se sentou na beirada da escrivaninha e olhou para ela. — Como passou a noite? Estou enganado, ou você está aborrecida com o seu valioso noivo?


 


— Está completamente enganado – respondeu depressa, estendendo a mão para pegar outro sanduíche. — Draco e eu tivemos uma noite muito agradável, obrigada!


 


—Ótimo. É por isso que está com essa marca feia no pescoço? Ou o Horácio é que é o responsável por ela?


 


Gina levou a mão automaticamente ao pescoço, sentindo a marca que os dentes de Draco haviam deixado. Que vergonha!


 


— Ho... Horácio? – gaguejou, vermelha de vergonha — Quem...


 


— O monstro do estábulo. O velho Horácio.


 


— Ah... – Gina, que tinha perdido completamente a fome, colocou o resto do sanduíche na bandeja. — É esse o nome dele?


 


— É. Não acredito que ele seja capaz de atacar uma dama. Não é do feitio de Horácio.


 


— Ele não me atacou. Isto é... – Meio sem graça, parou de falar e se levantou. — Já vou. É tarde... mamãe já deve estar voltando.


 


— Não é tão tarde assim – disse Harry, colocando-se na frente dela. — E você não estava com tanta pressa alguns minutos atrás. Qual é o problema? Toquei num assunto que não devia?


 


— Não. – incapaz de sustentar o olhar irônico de Harry, Gina abaixou a cabeça. – Obrigada pelos sanduíches, mas preciso mesmo ir...


 


— Se eu soubesse que ia ofender você... – Harry passou a mão na marca do pescoço e Gina se contraiu. — Calma – murmurou, atraindo-a de leve para perto dele. — Dance comigo...


 


Sem forças para resistir, deixou que ele colasse seu corpo ao dela e a abraçasse com força. Aquilo não podia ser chamado de dança... mal se moviam do lugar. Mas, mesmo sabendo que não passava de uma desculpa dele para abraçá-la, Gina não teve coragem de dizer não. Depois do ataque violento de Draco, chegava a ser agradável ser envolvida assim nos braços de outro homem.


 


 Continua....




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