Capitulo 10



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Começou a chover assim que chegaram a Malverley, e Gina ainda se perguntava se o que estava fazendo era certo. Apesar da aparente cordialidade de Harry, ainda não confiava nele.


 


No entanto, o passeio pelo jardim de King’s Green tinha transcorrido sem incidentes. Harry tinha demonstrado um inesperado interesse pelas plantas e pela horta, chegando até a conversar longamente com o sr Hetherington, o jardineiro, marido da governanta. Gina e ele não falaram muito, e o pouco que falaram foi sobre assuntos impessoais, como a terra, a casa, as plantas.


 


Harry parou o carro na praça do mercado, em Malverley, e se virou para Gina.


 


— E então? Qual é o melhor lugar para se tomar chá? Você deve saber melhor do que eu.


 


Gina se ajeitou no assento, nervosa, e deu de ombros com indiferença.


 


— Há o Green Maple, o Embassy, ou o bar local, se preferir.


 


— Embassy? – sorriu com ironia. — Não, honestamente, esse lugar não tem nada a ver comigo. Não conheço o Green Maple, mas acho que o bar local deve ser interessante.


 


— Eu... bem.. – começou Gina, sem saber se ele falava a serio ou não.


 


— Que ar solene – Harry brincou, passando os dedos de leve pelo rosto dela. — Que espécie de sujeito é o seu noivo? Não se diverte com ele? Nunca dão risada nem dizem tolices?


 


Gina levantou a cabeça e não respondeu. Ele fez uma careta de desanimo e desceu do carro.


 


Malverley era uma cidade pequena, onde  quase todos conheciam Gina por causa da loja que ela e Hermione dividiam. De repente, ela lembrou que dificilmente passaria despercebida ali e que seria muito desagradável se o passeio dos dois chegasse aos ouvidos de Draco.


 


O bar estava lotado de estudantes, que geralmente se reuniam ali depois das aulas. O ambiente, apesar de pesado de fumaça, era agradável e descontraído. Gina, que nunca havia entrado lá, olhou em volta com curiosidade. Sentaram-se numa mesinha de canto.


 


— Café ou chá? – perguntou Harry. — Se fosse você, tomaria café, porque o chá de lugares como este costuma ser horrível.


 


—  Está bem. – Gina procurou se acalmar depois que ele saiu para pedir o café, mas era difícil permanecer indiferente ao grupo de adolescentes que olhava para ela e fazia comentários ruidosos.


 


Para seu alívio, os garotos logo perderam o interesse por ela depois que Harry voltou com as xícaras fumegantes. Pegou com a mão um pouco trêmula a xícara que ele ofereceu. 


 


— O que há de interessante para se fazer num lugar como este? – perguntou Harry, distraído.


 


— Pouca coisa – admitiu Gina. — Há um cinema e um teatro, que funciona durante os meses de inverno. Um rinque de patinhação...


 


— E a vida noturna?


 


— Acho que há algumas discotecas...


 


— Mas você nunca esteve lá.


 


— Numa discoteca, não. As vezes vou a festas, mas essa cidadezinha não é como Londres. Se gosta de vida noturna e lugares sofisticados, Malverley não é o lugar certo para você.


 


— Eu disse que gosto? – ela teve que reconhecer a contragosto que não. — Perguntei por simples curiosidade. – fez uma pausa. — Você parece tão... inexperiente.


 


— Inexperiente! – Gina ficou indignada.


 


— Inexperiente, sim. – repetiu Harry. — Intocada por mãos humanas.


 


— Está sendo insolente, sr. Potter – respondeu, furiosa, afastando a cadeira, mas ele a agarrou pelo braço e não deixou que se levantasse.


 


— Por quê? – perguntou, olhando bem dentro dos olhos dela — Por que sou insolente? Não acha que foi um elogio a referencia à sua... inocência?


 


— Não do jeito que falou, sr. Potter. E que fazer o favor de soltar meu braço?


 


— Só se prometer que não vai embora – respondeu, suave.


 


— Mesmo que eu prometa, que garantia você tem de que eu não vou mesmo? – perguntou, irritada com a confiança dele.


 


— Acho que você não mentiria para mim. – Soltou o braço de Gina, que lutava para recuperar o autocontrole.


 


— Você não tem o direito de dizer essas coisas – declarou, afastando a xícara. — Se não se importa, quero ir para casa. Vai me levar ou é melhor eu chamar um táxi?


 


— Eu levo você – concordou Harry com um suspiro. — Mas, posso primeiro terminar meu café?


 


Gina não respondeu. Ficou onde estava, muito rígida, as mãos cruzadas no colo.


 


— Entendi bem o que sua mãe disse? – perguntou Harry de repente. — Você tem uma loja aqui em Malverley?


 


— Em sociedade com uma amiga – explicou Gina depois de hesitar um pouco.


 


— Não sei por que, mas imaginava que você fosse uma dessas damas ricas e desocupadas.


 


— Que faz obras de caridade e visita os pobres? – retrucou, ofendida pela suposição.


 


Ele riu, sem se deixar abater pela ironia.


 


— E onde fica essa loja?


 


— Se vier morar aqui, você logo vai descobrir.


 


— Já que vou mesmo descobrir, por que não me diz agora?


 


Gina suspirou


 


— Na Arcada.


 


— Onde fica isso?


 


— Do outro lado da praça.


 


— Quem é a sua sócia?


 


— Uma amiga minha, Hermione Granger


 


— Srta. Granger? – Harry sorriu com malícia.


 


— É.


 


— Interessante.


 


— Por quê? Que interesse isso pode ter para você?


 


— Ora... quero conhecer a cidade. Sabe como é... fazer amigos e influenciar pessoas.


 


Gina olhou pela janela, irritada. Estava estranhamente deprimida, uma depressão totalmente desproporcional às circunstâncias. O que estava acontecendo? Por que se deixava provocar por aquele homem?


 


— Está bem... vamos!


 


Quando Gina tornou a se virar, encontrou-o já de pé. Vestindo o casaco apressadamente, ela disparou para a porta na frente dele. Ele a alcançou e, por um instante, seus corpos se tocaram. O pequeno contato foi suficiente para trazer de volta a lembrança do incidente na biblioteca. Pelo sorriso irônico de Harry, ela percebeu que ele estava pensando exatamente a mesma coisa, o que a deixou ainda mais furiosa.


 


— Muito bem – comentou Harry, sério, assim que saíram. — Pelo menos três pés pisados, algumas costelas roxas, sem mencionar as xícaras derramadas no caminho. É, acho que você vai ser muito bem-vinda aqui da próxima vez.


 


Gina não conseguiu ficar séria e caiu numa gargalhada incontrolável. Era como se toda a tensão da última meia hora explodisse naquele acesso de riso.


 


— Eu disse alguma coisa engraçada? – perguntou Harry, fazendo-se de inocente.


 


Ela não respondeu. Só sacudiu a cabeça e continuou rindo até não agüentar mais. Quando perceberam a chuva, já estavam ensopados.


 


— Você está ficando ensopado – exclamou, limpando as lágrimas.


 


— Você também. Venha, vamos para o carro. Detestaria que você morresse de pneumonia por minha causa.


 


— Sou mais forte do que pareço – gabou-se Gina.


 


— É mesmo? – ele perguntou, cético.


 


Já dentro do carro, Harry tirou o casaco e ajudou Gina a fazer o mesmo.


 


— Obrigada – disse ela. — Pelo menos está quente aqui dentro. Que tempo maravilhoso.


 


Harry pegou o casaco de Gina e colocou-o no banco de trás, junto com o dele.


 


— Para um fazendeiro a chuva é sempre bem-vinda – reprovou-a.


 


— Eu sei... – Gina parou de falar assim que percebeu que ele estava brincando. — E depois eu não sou obrigada a gostar da chuva, sou? E pelo seu bronzeado acho que também não deve passar suas férias neste país.


 


— Esse bronzeado é de quase um ano atrás, trazido do México. E não foram férias. Eu estava fazendo uma pesquisa, na época, e posso garantir que trabalhar com aquele calor não foi nada fácil.


 


— México? Parece excitante. Ficou lá quanto tempo?


 


— Três meses – deu de ombros. — Foi... interessante, mas acho que você não teria gostado.


 


— Por que não?


 


Antes de responder, Harry enxugou uma gota de chuva que escorria do cabelo dela.


 


— Coisas relacionadas com a agricultura mexicana. Acho que você não ia se interessar pelo assunto. Não tem nada a ver com Malverley ou o... Embassy...


 


— Você está brincando comigo outra vez! – reclamou Gina, ofendida.


 


— Não, não estou – respondeu Harry, estranhamente suave.


 


— Não sou ingênua como você pensa. Sei muito bem o que se passa no resto do mundo. Só porque parecemos muito burgueses e muitos chatos para você, não quer dizer que somos avestruzes.


 


— Não acho você chata de maneira alguma.


 


Depois de acender um charuto, Harry deu a partida no carro e contornou a praça antes de tomar a direção de King’s Green. A chuva já estava quase passando, mesmo assim ele dirigiu devagar.


 


— Onde vocês pretendem morar depois de casados? – perguntou inesperadamente, e Gina hesitou um pouco antes de responder.


 


— Draco está comprando uma casa em Ketchley, não muito longe da casa dos pais. Não seria razoável morar longe do haras. E, depois Malverley não é tão longe de lá.


 


— Quer dizer que pretende continuar trabalhando depois de casada?


 


— Em principio, sim – admitiu Gina, aborrecida com tantas perguntas. — Com certeza o senhor não desaprova, não é, sr. Potter? Hoje em dia isso é comum.


 


— Talvez. E não tem medo de que outras circunstâncias alterem os seus planos?


 


— Se está se referindo a um bebê, não. Draco e eu achamos melhor esperar alguns anos, e... bem, quando chegar o momento eu pensarei no caso.


 


Falar daquelas coisas com estranhos não era costume de Gina, que ficou embaraçada e procurou mudar de assunto.


 


— Quanto tempo você leva daqui até Londres?


 


— Depende – Harry deu de ombros. — Mais ou menos umas duas horas. Mas para atravessar o centro de Londres leva-se o mesmo tempo. Você nunca vai a cidade?


 


— Algumas vezes – Gina se colocou na defensiva. — Mamãe e eu, às vezes, vamos fazer compras. E, antes de ficar noiva de Draco, eu ia de vez em quando com Hermione ao teatro e ao cinema.


 


— Humm – Harry não pareceu impressionado. — Mas com Draco, não.


 


— Draco não gosta de Londres, sr. Potter – irritou-se com a suposição dele. — Nem todo mundo gosta.


 


— Claro, concordo – Harry levantou a mão num gesto de desculpa. — Só queria saber uma coisa.


 


— Que coisa?


 


— O tipo de relacionamento que você tem com seu noivo.


 


— O tipo de relacionamento... – a voz de Gina sumiu. —Acho que não entendi.


 


— Não tem importância. É aqui a entrada para a estrada de King’s Green? – perguntou Harry, olhando para a janela.


 


— O quê? Ah, claro, é – passou a língua pelos lábios secos. — O que tem meu relacionamento com Draco?


 


— Esqueça – Harry suspirou. — Nem conheço o homem! — Saiu da estrada e entrou no portão de King’s Green. — Ainda bem que a chuva está passando. Quer apostar que vou pegar chuva no caminho outra vez?


 


— Harry...


 


Ela usou o primeiro nome dele sem perceber, e só reparou no deslize quando viu o sorriso irônico dele.


 


— O que é, Gina? – perguntou, com falsa seriedade.


 


— Você gosta de me provocar! – exclamou, zangada. — Por que não respondeu à minha pergunta? Eu já respondi a sua.


 


— Você não ia gostar da minha resposta. Está satisfeita?


 


Harry parou diante da porta e Gina se virou para pegar o casaco.


 


— Não. Não sou criança, sr. Potter. Mas, se seus segredos são assim tão importantes, pode guardá-los.


 


— Não são – apertou um botão para travar a porta e impedir que ela saísse.


 


— Muito bem, srta Weasley... Estava curioso para saber que espécie de homem é esse que não procura tirar vantagem das facilidades que essa aliança dá a ele!


 


— As facilidades... – repetiu sem compreender. — Você quer dizer...


 


— Quero dizer que você não dorme com ele... dorme, Gina? Acho isso um tremendo desperdício!


 


— Como... como tem coragem... – Gina mal conseguia falar tanta era a indignação.


 


— Foi você que perguntou – ele lembrou, e desceu do carro.


 


Só muitos minutos mais tarde Gina recuperou o autocontrole e foi atrás de Harry, que já havia entrado na casa e estava parado no vestíbulo com as chaves na mão. Percebendo o espanto dela, explicou:


 


— Sua mãe me deu uma chave. Parece que ela não está em casa. Peça desculpas a ela por mim e diga que estarei aqui na sexta.


 


— Já vai? – perguntou, fria.


 


— Olhe... – disse Harry, sentindo que devia uma explicação a Gina, — não fique com raiva de mim por causa do que eu disse. Não se esqueça de que foi você que insistiu.


 


— Você... você não tinha o direito de... de fazer comentários como aqueles...


 


— Ora, vamos! Tenho direito de ter uma opinião – parou na frente dela e olhou-as com uma inocência perturbadora. — Eu disse que era um desperdício, e é! Você é linda, Gina, e se Draco não vê isso, então ele é mais idiota do que eu pensava. Eu não deixaria você solta por aí sem a minha marca, e o homem que faz isso está procurando problemas.


 


— Não julgue os outros por você. Nem todos são tão  imorais. Eu...eu... Draco e eu temos um ótimo relacionamento. Ele é um homem maravilhoso e eu o amo com ternura.


 


Um beijo ardente e possessivo obrigou-a a se calar. Como da outra vez, ela foi apanhada de surpresa, mas agora não havia raiva nos lábios dele, só sensualidade e desejo. Gina tremeu ao sentir as carícias e o abraçou sem perceber, abrindo os lábios numa resposta intensa ao desejo que também crescia dentro dela. Os seios esmagados contra o peito dele, ela não reagiu quando sentiu as coxas fortes coladas as suas e se entregou à inconsciência daquela paixão toda nova.


 


A razão voltou de repente, e Gina, com um esforço sobre-humano, empurrou-o para longe.


 


— Solte-me! – gritou, desprezando-se e desprezando aquele homem por despertar nela emoções tão intensas.


 


Harry não procurou disfarçar a excitação e olhou para ela com os olhos em chama.


 


— Quer fazer o favor de me deixar em paz? – gemeu Gina, percebendo que era inútil tentar argumentar com ele.


 


— Não me olhe com essa cara de espanto! – exclamou Harry, irritado com a atitude dela. — Não foi assim tão terrível, foi? Garanto a você que foi uma coisa muito natural, especialmente nestas circunstâncias.


 


— Que circunstâncias? – perguntou Gina, sabendo que se arrependeria pelo resto da vida por ter perguntado.


 


— Você vai se casar. Logo vai descobrir. Desde que esse seu namorado não...


 


— Não o quê?


 


— Santo Deus! Você não entende? O jeito como você beija... parece que nunca se excitou antes. Deus tenha pena de você se ele é tão frio quanto parece.


 


— Saia daqui sr. Potter! Saia, está me ouvindo? – estava tão transtornada que nem percebeu que tinha gritado. Sentiu que ia morrer de vergonha quando virou para trás e viu a mãe parada na porta.


 


 


 


Continua....


 


 


 


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