Capitulo 8
Os jardins de Ketchley exalavam um perfume suave, numa doce promessa de verão. Por toda a parte, as flores começavam a desabrochar, colorindo os gramados onde Draco exercitava sua última aquisição, uma égua jovem e rebelde.
Gina observava o treinamento a distancia, apoiada a uma cerca. Apesar do noivado com Draco, não tinha perdido o terror que sentia por cavalos, e achava que jamais perderia.
— O que achou do novo animal?
Os pensamentos de Gina estavam tão distantes que ela não percebeu a aproximação do noivo. Levantou a cabeça, assustada, ao ouvir a voz dele.
— Já terminou?
— Por enquanto – Draco sorriu e acariciou o rosto dela.
Draco Malfoy tinha mais ou menos trinta e cinco anos, altura um pouco acima do normal, loiro, bonito, enfim, um dos melhores partidos da região. Gina tinha orgulho de ter sido escolhida por ele. Conheciam-se há muitos anos, mas só há dois anos tinham começado a namorar.
— Você está tremendo! – comentou Draco, abraçando-a. — Devia aprender a montar em vez de ficar aí parada como um ratinho assustado.
— Gostei da comparação. – Gina riu e acrescentou, tremendo: — Estou morrendo de frio. Faz meia hora que estou esperando.
— Desculpe, mas não imaginei que você viesse aqui hoje. Pensei que estivesse trabalhando.
— Eu devia estar – admitiu Gina, dando o braço a ele.
Ela e uma colega de escola tinham sociedade em uma loja e Gina adorava o trabalho.
— Então qual é o problema? Não me diga que é Potter outra vez!
Draco não tinha gostado muito da idéia da sra. Weasley ter um inquilino em casa, mas depois de duas semanas já quase não pensava mais no assunto. A atitude de Gina, contudo, o preocupou e ele quis uma explicação.
— Eu... bem, acho que você precisa saber. Harry Potter vai se mudar lá para casa daqui a uma semana.
— Não sei o que deu na sua mãe – a expressão de Draco revelava desaprovação. – Afinal o homem nem se comprometeu seriamente a comprar King’s Green.
— Acho que é exatamente isso que atrai mamãe – murmurou Gina, pensativa. — Ela vive fazendo planos para quando vender a casa, mas no fundo está detestando a idéia de sair de lá. Afinal, ela vive lá há quase vinte e cinco anos.
— Será que ela não percebe que Potter não tem nada a ver com Thrushfold – exclamou Draco, irritado, abrindo a porta da casa para a noiva. — Maldito londrino! O que é que ele sabe de King’s Green e das suas tradições?
O que diria Draco se soubesse que Harry Potter conhecia as tradições de King’s Green melhor do que eles pensavam? Gina não tinha mencionado a conversa com Harry a fim de esquecer o que havia acontecido, mas não conseguia se livrar de uma pontada de culpa por estar enganando o noivo.
Encontraram a sra. Malfoy no vestíbulo. Era uma mulher bonita e atraente, de mais ou menos cinqüenta anos. A família Malfoy era quase tão antiga quanto os Weasley, e a união dos dois jovens era aguardada com ansiedade pelas duas famílias.
— Venha se aquecer um pouco aqui na sala – disse a sra. Malfoy depois de beijar a futura nora. — Você está gelada, Gina. Draco, não podia ter largado um pouco aquele animal para cuidar da sua noiva?
— Não, eu... – Gina não queria ser a causa de uma discussão familiar. — Foi culpa minha. Eu é que quis ficar vendo. É lindo!
O calor que vinha da lareira estava delicioso, e Gina se aproximou para se aquecer. Um rapaz se levantou e sorriu para ela. Era o irmão mais novo de Draco, Vincent, que foi saudado com incontida alegria por Gina.
— O que você está fazendo aqui? Pensei que estivesse no Vietnam, ou na Tailândia, ou em qualquer lugar.
— Consegui duas semanas de férias – explicou Vincent, que era jornalista. Ele se aproximou da cunhada e beijou-as nos lábios. — Humm, seus lábios estão gelados. Mas felizmente existe uma mulher ardente por trás deles.
Draco passou o braço pela cintura de Gina, num gesto possessivo de quem não gostou do comentário. Os dois irmãos nunca haviam sido muitos amigos, e Draco jamais conseguia perceber quando o irmão só queria provocá-lo.
Sentaram-se todos em volta da lareira, e a sra. Malfoy foi preparar um café. Quem falou mais foi Vincent, descrevendo Bangcoc com detalhes, para delícia de Gina, que adorava histórias exóticas. Quando o assunto voltou às generalidades a sra. Malfoy mencionou a mudança de Harry Potter.
— Harry Potter! – exclamou Vincent, incrédulo. — O Harry Potter! E vem morar em Thrushfold? Deus nos ajude!
— Vincent! – A mãe olhou para ele com ar de reprovação – Isso não é da sua conta.
— Mas eu o conheço – protestou Vincent. — Trabalhamos juntos. Diacho, que ótima notícia! Onde é que ele vai ficar?
Draco estava impaciente.
— Gina já explicou. O sujeito vai alugar um quarto em King’s Green.
— Pode-se chamar isso de alugar quartos, Draco? – perguntou Gina, triste, e Vincent caiu na gargalhada.
— Vincent! – exclamou a mãe.
— Ele está pensando em comprar King’s Green, no fim do verão. Até lá, a mãe de Gina vai permitir que ele use a biblioteca.
Houve uma pequena trégua entre os dois irmãos, e o assunto Harry Potter foi cuidadosamente evitado por Gina e pela sra. Malfoy daí para a frente.
Mais tarde, quando Draco foi levar Gina até o carro, voltou ao assunto:
— Talvez sua mãe mude de idéia a respeito de Potter – disse ele, enquanto a ajudava a entrar no automóvel. — Quer que eu fale com ela?
— Você não conhece mamãe – comentou Gina com uma careta. — Quando mete uma coisa na cabeça...
— Você sabe que meu pai está disposto a...
— Não adianta, Draco. – Gina sacudiu a cabeça, triste. – Mamãe é independente demais para aceitar ajuda de seu pai.
— Bem... – Draco se inclinou e beijou-a com carinho. — Então até a noite. Não esqueça do jantar com os Harvey.
— Não vou esquecer. Até a noite.
No caminho de volta a King’s Green Gina pensou na coincidência desagradável de Vincent conhecer Harry Potter. E se Potter contasse ao cunhado o incidente com ela?
Já era quase meio-dia quando chegou em casa. Por causa das árvores copadas do caminho que levava até a frente da casa, demorou a ver a Ferrari verde estacionada na porta. Percebendo que aquele era o carro de Harry quis dar meia volta e retornar a Ketchley, mas nesse instante o próprio Potter apareceu na porta. Sem outra alternativa, diminuiu a velocidade, estacionou ao lado da Ferrari e desceu.
— Bom dia. – Gina usou o tom mais formal possível, enquanto ele respondia com um olá. — Não esperávamos vê-lo até a próxima semana, sr. Potter. Tia Margot está com você?
Harry sorriu com ironia e sacudiu a cabeça. De jeans e uma camisa esporte aberta no peito, estava ainda mais atraente e perigoso que antes. Gina pensou que ele fosse fazer algum comentário irônico, mas estava enganada. Sem dizer nada, ele abriu a porta da Ferrari e retirou uma pilha de livros.
— Decidi adiantar a mudança – respondeu, apontando para os livros. — E sua mãe gentilmente me convidou para almoçar.
— Ah! – sem saber o que dizer, Gina mordeu o lábio, pensando que a mãe podia muito bem ter telefonado para a casa de Draco para preveni-la.
Então entrou em casa sem olhar para trás e encontrou a mãe, que vinha saindo da biblioteca.
— Já esvaziei as duas últimas prateleiras, Harry – disse com entusiasmo, mas parou no meio da frase ao ver a filha. — Gina! Pensei que fosse almoçar na cidade.
Gina cravou as unhas nas palmas das mãos e respondeu com impaciência.
— Não, mamãe. Eu disse que ia ver Draco, e que voltaria para o almoço.
— Santo Deus, disse mesmo? – perguntou a sra. Weasley com o ar mais inocente deste mundo. — Bem... – sorriu. — Não tem importância, tem?
E se afastou sem dar a filha chance de responder.
— Já esvaziei as prateleiras, Harry – Gina ouviu a mãe repetir, e sentiu o sangue ferver de raiva.
Ignorando o visitante, subiu para o quarto e se estendeu na cama. Aquele homem significava problemas, sabia disso desde o início, e não se conformava em ver a mãe tratá-lo com tanta familiaridade.
Continua....
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