Sala atrás da Tapeçaria

Sala atrás da Tapeçaria



Quando tudo na sua vida parece estar perfeito, cada peça do quebra cabeça finalmente encontrando o seu lugar correto em cima do tabuleiro, tudo se encaixando perfeitamente, todas as vírgulas e acentos corrigidos no texto deixando-o no final de tudo perfeito. Isso não deveria te deixar feliz?
Talvez pra muitas pessoas seja o auge da felicidade, talvez para pessoas normais isso se chame felicidade, ter finalmente tudo o que sempre quis, sempre sonhou e batalhou para conseguir. Com certeza isso é a felicidade para qualquer pessoa normal, então por que não me sinto feliz?
Sinto apenas um vazio muito imenso e intenso aqui dentro do peito. Eu encontrei todas as respostas para as perguntas que eu possuía, coloquei todos os pingos nos “is” e consegui tudo que eu mais queria, por que não me sinto feliz?
A resposta parece estar na frente do meu nariz, consigo sentir seu cheiro, sua presença, mas não consigo vê-la, toda vez que parece que estou chegando perto ela simplesmente se esvai.
A única resposta que consigo chegar realmente é preocupante, gostaria de ter outra explicação, outra razão ou sei lá, menos essa que tenho agora. Chegar à única conclusão que cheguei para a minha questão é perturbador, por mais que eu seja bruxa e no mundo dos trouxas isso já seja algo “incomum”, pelos menos pra eles, no meu mundo eu sou perfeitamente normal. Pelo menos era o que eu achava.
Era pra mim ta com um sorriso de orelha a orelha, mas eu não estou, minha boca nesse momento se resume numa linha reta um pouco acima do meu queixo. Meus olhos deveriam estar brilhando e não com as pupilas dilatadas transmitindo tristeza a qualquer um que eu olhe, também deveria estar dando pulinhos e ouvindo sininhos, mas adivinhe, estou sentada em um dos cantos mais escondidos da biblioteca e a única coisa que escuto é madame Pince ralhando com os alunos que estão conversando alto.
Vamos encarar os fatos já que não está adiantando as desculpas que estou tentando arranjar pra não encarar a minha única resposta para a única pergunta existe. Apesar de que até minhas desculpa, e olha que eram bem esfarrapadas, já me abandonaram. Talvez se eu disser em voz alta eu aceitaria melhor o fato do que apenas escrevendo.
...
Ta bom, eu abri e fechei a boca umas duas vezes e como já deve imaginar nada saiu. Até a voz falha nessas horas angustiantes, tudo te abandona, tudo o que sobra é papel e caneta, mas nesse caso: pergaminho, pena e tinteiro, afinal não estou mais no meu quarto escrevendo sobre como foi na minha escola de trouxas.
Já chega disso tudo, admita logo de uma vez, será mais fácil de aceitar e se conformar, afinal pior não pode ficar. Isso, enfie isso em sua cabeça Hermione, pior não pode ficar e o que há de mais em ser anormal.
Eu Hermione Jane Granger em plenas faculdades mentais cheguei a seguinte conclusão a minha única sobrevivente pergunta : “ Eu não sou normal”.
Pronto, até que não foi tão ruim, não caiu nenhum dedo ou nenhuma unha, nada me aconteceu. Até me sinto melhor, acho que estou começando a escutar os sinhôs, isso é um bom sinal não?
Ta, quem estou tentando enganar, não há o porquê mentir para meu próprio bloco de anotações, admitir que eu seja uma aberração, algo fora do padrão não é nada animador. E realmente isso não é um bloco de anotações é um diário, mas quem precisa saber disso? Todos acham que é um bloco de anotações, pois “ a sabe tudo da Granger não deixa passar nada” como diz minhas queridas amigas de quarto.
As pessoas tendem sempre a julgar o livro pela capa, criaram uma imagem de mim realmente muito diferente do que realmente sou, apenas Harry e Ron me conhecem, sabe que sou uma garota como outra qualquer e não apenas a Sabe-Tudo como todos me conhecem. Será que tudo acha mesmo que sou apenas uma “cdf”?
Levantei o olhar do caderno e viu um garoto passando por ali, quantas vezes ela já tinha passado mesmo? Era quinta ou sexta vez se não me engano.
— Ei Nevil – eu o chamei.
— O.. olá Hermione – disse ele confuso – o que faz aqui escondida? Por que não está em sua mesa?
— Como assim minha mesa? – quem estava confusa agora era eu – Ninguém tem uma mesa particular aqui Nevil.
— Realmente não – ele coçava o queixo enquanto escolhia as palavras – Mas todos respeitam sua mesa, bom a mesa que fica isolada perto da seção de feitiços e poções. – Terminou ele sorrindo – Nunca reparou?
— Não, nunca havia reparado – Aquilo era verdade, nunca reparei que os alunos não usavam a mesa por minha causa, apenas achava que não gostavam da localização. – Mas então, o que está procurando?
Neville Longboton abriu um largo sorriso e sentou-se na mesa junto comigo, ele não é muito bom em quase todas as matérias, apenas em Herbologia, é até muito melhor que eu, ninguém o supera e professora Sprout nem consegue esconder o orgulhe que sente tendo-o como seu aluno. Como disse antes, não sou uma “sabe-tudo”.
— É sobre a tarefa de poções – ele parecia muito desanimado – sabe como não me dou bem com poções. – dessa vez seu sorriso desapareceu.
Não que Nevil não se dê com poções, apenas que ele morre de medo do professor. Ele fica branco que nem será quando Snape chega perto de seu caldeirão durante a aula, tenho certeza que isso que o atrapalha, porque ele conhece muito bem as ervas.
Como sempre pegando no pé da nossa turma, há um mês Snape passou como tarefa uma poção que nós só a estudaríamos no próximo ano e não no quinto. Era pra entregar um frasco com a poção Polissuco que será avaliada e a nota que receber será a nota final. Aquilo foi realmente injusto, além de não estudarmos a poção e sendo matéria só do próximo ano, valia nota final. Qual será o problema dele contra Grifinória?
— Então – ele me pareceu meio aflito – qual o problema com a poção?
— Como você sabe falta apenas três dias para a entrega e para ficar pronta – ele estava começando a ficar nervoso – e por mais que eu tenha seguido o que diz os livros sem mudar uma virgulazinha, não consigo atingir o tom que diz ficar quando está quase pronta.
Ele suspirou e se encolheu na cadeira na minha frente, em cima da mesa na sua frente havia um grosso livro de poções que eu conhecia muito bem. Andei com ele em baixo do braço por um bom tempo quando estava no segundo ano, além do livro tinha um pedaço de pergaminho cheio de manchas e anotações, deve ser por isso que ele havia passado por aqui tantas vezes, vinha buscar informações, apesar de que aquele livro que estava na mesa continha tudo que ele necessitava, o que será que deu errado?
— E que cor está sua poção – ele se afundou mais na cadeira com minha pergunta.
— Vermelho berrante – Arregalei os olhos com o que ele me falou, o que agora espero que ele não tenha notado – O livro diz que o vermelho iria ficar apenas por dez minutos e logo após ficaria vinho e depois ficaria azulada, não sei o que fiz de errado, já olhei diversos livros pra ver se acho meu erro e nada.- ele olhava para seus próprios dedos em cima da mesa.
A poção deveria ficar vinho na etapa final e não vermelho, logo após acrescentar nissuriku e cozinhar por três horas começando mexer pra direita com três voltas e o restante do tempo pra esquerda a poção estará terminada e atinge o tom de azul, quando você colocar o cabelo da pessoa a poção mudar de cor conforme a essência da pessoa. Mas porque a poção de Nevil ficara vermelho berrante?
— Se você quiser, eu posso da uma olhadinha e te ajudar – ele deu um pulo da cadeira que me assustou – Só se você quiser é claro.
— Por favor, Hermione é claro que eu quero – ele parecia que ia chorar de tão feliz – eu não sabia mais o que fazer e como não há outro professor de poções pra pedir ajuda eu já estava me conformando em tirar um zero.
— Então vamos ver sua poção – Disse animadamente pra ele, ele olhou meu caderno como se falasse “não está ocupada” – Oh não, eu já terminei, não se preocupe.
Nós saímos da biblioteca e ele parecia uma criança que acabou de ganhar doce, ele não andava e sim dava pulinhos enquanto percorríamos os corredores do castelo. A felicidade dele era tanta que contagiou e até me fez esquecer por um momento meu vazio, afinal: “EU ESTAVA FELIZ”.
É difícil não gostar de Nevil, ele é muito legal não sei como não tem tantos amigos. Fomos o percurso todo conversando bobagens, parecia que ele não conversava com alguém há tempos, não parava de falar e me fazer rir, muitas coisa que ele dizia eram engraçadas por mais que fossem suas experiências desastrosas, eram engraçadas não tinha como não rir e além do mais ele mesmo ria.
Ele estava fazendo sua poção numa pequena sala pertíssimo das masmorras, a sala era abafada havia apenas duas janelas e ficavam muito perto do teto que por sinal era muito alto, me lembrou muito uma torre a sala. Não sei o porquê de Nevil escolher aquela sala abafada e calorenta, apesar de tudo ele havia se instalado muito bem ali.
Seu caldeirão estava no centro da sala com a poção cozinhando, tinha uma grande mesa ao canto com vários livros espalhados em cima e algumas cadeiras, perto da mesa uma prateleira com vários frascos com ingredientes acredito eu e por último um sofá e muito confortável, diga-se de passagem.
Joguei minha mochila no sofá e fui dar uma olhada na poção e vou-te dizer: vermelho berrante era elogio pra cor que estava, nunca tinha visto um vermelho tão vivo igual aquele. Só que o cheiro estava muito forte, provavelmente ele havia exagerado no hemeróbios, pois o cheiro era irreconhecível.
— Então – apesar de tentar parecer calmo, eu podia ver aflição em seus olhos – está muito mal?
— Relaxe Nevil, não está tão mal – espero que tenha acreditado – nós iremos descobrir o que você errou, oks?
— Agora que você disse estou mais aliviado – disse ele enquanto vasculhava a mesa a procura de algo.
— Hãn... Nevil – Aquele cheiro estava me impreguinando toda, me dá enjôo só de lembrar – me passa um pote – dei uma boa mexida na poção e a consistência estava um pouco pesada, o que confirmava minhas suspeitas – Brigada... então porque escolheu esta sala, o castelo tem tantas e justo vizinha do Snape?
Logo após me passar o pote ele caiu sentado na cadeira com a minha pergunta, não sei o porquê de ter o afetado, ele tinha ficado branco passando depois pra vermelho e apertava os dedos em cima da coxa num movimento de puro nervosismo.
— É..é q-que – ele suava enquanto tentava falar, o que estava acontecendo, por acaso ele havia cometido algum crime meu Merlin – a-aa sa-la é-é
— Nevil você está me assustando – ele gaguejou tanto pra fala de uma sala. Coisa boa não devia ser – o que tem essa...
Tranquei na hora quando ouvi aquela voz, estava de costa pra porta com o pote em cima do caldeirão e a outra mão com a concha tirando um pouco da poção. Como ele havia achado a sala? Ela ficava lado das masmorras não vou negar, mas mesmo assim a porta da sala ficava atrás de uma tapeçaria.
— O que pensa que está fazendo? – o pote que estava na minha mão quase escorregou pra dentro do caldeirão quando ouvi o professor Snape gritando – Detenção, sábado a tarde. – Eu podia ouvir seus passos se aproximando e uma morte se aproximando com brutalidade.
— Eu espero que ninguém mais queira mostrar sua incapacidade nesta sala – prendi a respiração, ele com certeza estava falando comigo, achando que eu tava pegando poção do Nevil pois não consegui fazer a minha, como iria me explicar sem deixar Nevil numa fria? – Vamos começar a aula, com sua permissão é claro Sr. McMine.
Espera ai, não tinha ninguém ali com esse nome, apenas eu e Nevil e os passos de Snape passou por mim e continuou, mas ninguém passou por mim apesar de que eu ainda escutava os passos se afastarem.
— Mione se acalme – disse Nevil tranquilamente sentado na cadeira – é por isso que escolhi essa sala, achei-a sem querer sabe. – ele realmente estava muito tranqüilo, como podia? Eu estava escutando a voz do Snape ainda – Ela é mágica, não é nenhuma sala precisa, mas é bem útil.
Pelo que ele falou a sala deixava você participa de qualquer aula que você escolhesse, havia uma grande parede vazia no lado direito da sala, era só você chegar perto e pensar na aula de quem você queria assistir e pronto. A parede ficava parecendo um fino véu, era como se eu estivesse assistindo a aula do canto da sala, simplesmente incrível.
—... eu também fiquei bem assustado – ele continuava sua narração e eu apenas capturava algumas frases - ... aqui posso assistir qualquer aula e de qualquer turma e ... – eu podia ver e ouvir tudo que os alunos diziam ou faziam. Será que daria pra ver outras coisas?
— Bom é isso – parecia que ele tava terminando, então voltei minha atenção pra ele – Gostou? – não sei o que ele viu no meu rosto, mas ele sorriu triunfante – Ele não pode nos ver, mas podemos vê-lo. E podemos ver qualquer parte do castelo.
— Podemos ver qualquer coisa? – Meu coração transbordava de esperança enquanto ele pensava, finalmente ele acenou com a cabeça afirmando que sim – E-eu p-posso t-tem-tentar? – Ele abriu um sorriso e acenou novamente.
— Claro que sim, é só pensar na aula que você quer ou algum lugar do castelo – ele estava do meu lado agora com os olhos fechados.
A cena através do véu mudou, mostrava agora o salão comunal da Grifinória, muitos alunos vagando sem rumo por ali, alguns sentados no sofá perto da lareira e outras nas mesas.
— Viu só. É bem simples – disse ele confiante olhando pra mim.
Eu estava nervosa, a dupla de gnomos que moravam no meu estomago estavam pulando agora, eu não sabia se daria certo, mas queria tentar. Se não desse certo tudo bem, eu iria vê-los em breve não?!
Então fechei os olhos e pensei neles, na nossa casa, o jardim, mas principalmente em seus rostos. Quando abri os olhos não via mais Hogwarts, mas sim minha casa.
Meus pais estavam agachados no jardim, e mamãe plantava algumas flores e papai a ajudava, pareciam tão bem e felizes. Como era bom vê-los, estava morrendo de saudades deles, dos dois, de seus sorrisos, do abraço carinho do papai e dos olhos radiantes que mamãe tem.
— Não sabia que podia mostrar fora do castelo também – Nevil havia quebrado o silêncio que havia se posto na sala. – São seus pais?
— Sim – eu estava com a voz embargada pela emoção – minha mãe adora seu jardin. Se um dia chegar em casa e não o encontrar lindo e cheio de flores, pode saber que algo aconteceu a minha mãe. – lembrava do pai lhe dizendo isso.
— Jhon será que ela vai gostar? – perguntou minha mãe enquanto aparava uma roseira – Ela já não é mais nossa menininha.
— Claro que ela vai gostar – ele se agachou perto dela e a abraçou – E Hermione sempre será nossa menininha, nem que ela fique com um metro e noventa ou vire uma bruxa muito poderosa que seu cabelo mude de cor – ele deu um beijo na testa da minha mãe antes de continuar – ela sempre será nossa menininha.
— Eles te amam muito – dessa vez era Nevil que estava com a voz embargada.
Sim, eles me amavam e eu amava muito eles. Não sei o que seria de mim sem esses dois. Eles continuaram a cuidar do jardim e trocaram de assunto, começaram a falar de tia Ines.
Então voltei a fazer o que estava fazendo, peguei o pote e coloquei em cima da mesa, precisava testar algumas coisas. Corri pra estante de ingredientes que estava muito bem composta.
Nevil ficou lá por vários minutos ainda observando meus pais, fiquei curiosa pra saber o que de interessante ele via ali. Mas logo depois lembrei o que havia acontecido aos pais de Nevil graças a Lestrange, aquela infeliz.
Talvez eu devesse chamar Nevil para passar uns dias em casa durante as férias, meus pais o acolheriam muito bem, Harry e Gina já iriam e Ron, bom esse não tinha como não ir, afinal estávamos namorando.
Ron e Hermione, isso era música para meus ouvidos.
Com pensamentos assim comecei a trabalhar animadamente na poção de Nevil, apesar do cheiro horrível que saia do pote a cada nova adição que fazia eu sorria, um sorriso de orelha a orelha.
Era bom estar trabalhando, manter a cabeça ocupada e longe de pensamentos frustrantes. Como minha poção já estava pronta e perfeita, é como diz o ditado trouxa: “A prática leva a perfeição”, fazer a poção Polissuco pela segunda vez não foi tão difícil, como agora estando mais velha e sabendo algumas coisinhas as mais, pareceu ser mais fácil a bendita poção.
Estava difícil pensar, por mais que eu tentasse me manter concentrada no que estava fazendo, não dava. Estava quente de mais e minha cabeça parecia que iria estourar, nem a masmorra do Snape é tão quente quanto aquela sala, se Snape ficar sabendo disso ficará com uma fúria que nem Merlin iria querer ficar perto, pois o querido professor de poções tem a aula e sala mais desagradável para tal. Com tantas salas no castelo, ele escolheu a pior para sua preciosa aula.
Aquele seboso, estava me sentindo mal só de pensar que estava pior que ele no exato momento. Apesar do meu cabelo estar preso como sempre em um coque apertado, e metade do meu uniforme já estar em cima do sofá, eu estava suando muito. Já tinha aberto uns dois botões do uniforme e estava pensando em tirar aquelas meias enormes que vinham até o joelho.
Não pense besteira, eu não estava fazendo um streep ou algo do gênero, é que eu já estava me sentindo dentro do caldeirão cozinhando junto com a poção em vez de estar do lado da prateleira a uma boa distância do caldeirão.
Resumindo: TAVA MUITO QUENTE!!!
Apesar de seu estar toda molhada e grudenta e me sentindo muito desconfortável naquela sala ao contrário de Nevil que parecia muito bem, tirando apenas o cabelo todo molhado também de suor provavelmente.
— Nevil agora que sei o porquê da sala – comecei a procurar um ingrediente na prateleira – ainda não sei o porquê de você estar fazendo a poção aqui. É pra não ficar caminhando de um lugar pra outro? – Não achava de jeito nenhum o que estava procurando, tinha que estar aqui em algum lugar, afinal ali tinha de tudo.
— Não, não é por isso – ele brincava com um vidro em suas mãos – é que estou assistindo as aulas do sexto ano, eles estão aprendendo a poção, é como se eu fizesse junto com eles.
Ahh calor que não me deixa raciocinar. Eu tinha virado uma mangueira humana, escorria suor pelas minhas mãos, o meu coque já estava praticamente solto e molhado e a blusa do uniforme estava colada nas costas. Esses eram motivos que eu acreditava serem muito fortes para não se ficar aqui muito tempo, então porque Nevil não fez a poção em outro local e voltasse só quando tivesse a aula?
— Mas você não poderia vir aqui só no horário das aulas? – não conseguia achar o ingrediente que eu queria, só podia ser o calor – Como agüenta esse calor? Eu estou praticamente derretendo!
Ele sorria abertamente, como conseguia se sentir tão à-vontade com aquele calor? Será que falamos mesmo a mesma língua?
— Eu preferi ficar aqui para fazer a poção, caso desse algo errado com a poção ou ela explodisse, não iria machucar ninguém - como disse não tinha como não gostar de Nevil – e quanto ao calor, pelo que percebi desde que a encontrei, o ambiente é você quem faz.
O que ele queria dizer com aquilo, eu não queria estar nesse forno que estou agora. Pelo visto ele achou que eu entenderia com aquela simples frase “ o ambiente é você quem faz”, mas eu não entendi e fiquei olhando pra ele esperando a continuação. Ele demorou um pouco pra entender o porquê deu estar olhando pra ele.
— É que – ele parecia não saber como explicar – por exemplo: nós estamos no inverno certo, frio, muito frio. Quando entro na sala imagino um local mais quente e aconchegante e a sala fica assim – ele ficou olhando pra mim com a pergunta clara “entendeu?” – Você deveria estar com mais frio que eu, pra ter imaginado esse forno e olha estou tendo um trabalhão imaginando a neve caindo lá fora, mas seu pensamento é mais forte que o meu. – ele ria como se pedisse desculpa.
— Então é como se fosse a sala Precisa só que em miniatura?
— Não, é bem diferente – ele olhava a sala ao redor – A sala Precisa te dá tudo que você necessita, está não, está sala parece mais um mini biblioteca com recursos para aulas práticas. – ele se levantou e encaminhou até um armário enorme que não tinha visto antes. – Veja só dentro desse armário, venha não tenha medo.
Sai de perto da prateleira e me encaminhei para o armário, meu queixo caiu, pisquei várias vezes para o que estava vendo e não acreditando no que tinha a minha frente. Era além das palavras, nem nos meus melhores sonhos eu tinha visto um armário daqueles.
Era como se tivessem aberto as portas pra um enorme galpão separado por seções: Transfiguração, Defesa Contra as Artes das Trevas, Herbologia... Eram tantas as seções e tantas as coisas que eu não conhecia que comecei a pensar em mudar para aquele local. Será que me acostumaria a dormi no sofá?
— Incrível não? – era muito mais que incrível em minha opinião – A seção de Herbologia é fascinante, fui tirar umas dúvidas com professora Sprout e tiver que falar que estava usando a sessão reservada da biblioteca sem autorização – ele parecia envergonhado pela mentira – Mas ela acreditou e conversou com a Profª. McGonagall, que me concedeu um passe livre a biblioteca, apesar de que nunca o uso, tudo que preciso se encontra aqui.
O que qualquer um precisa-se se encontrava ali, parecia o galpão de perdidos e achados dos grandes aeroportos ou da alfândega dos trouxas, com a diferença da arrumação. Era imenso apesar do tamanho das portas, pareci que se abria pra uma nova localização e não um armário dentro de Hogwarts.
— Eu não sei como nunca acharam essa sala – ele olhava a sessão de Herbologia – um tesouro desses e perdido por tanto tempo – Eu tenho certeza que os marotos a encontraram.
Lembrete: Consultar o mapa do Harry para ver se consta a sala.
— Talvez alguém que já tenha se formado a tenha usado também – eu não sabia pra onde olhar.
— Pode ser, mas todo o tempo que passo aqui, ninguém nunca apareceu – eu apareceria todos os dias – nem mesmo a noite sabe.
— Pera ai – olhei para ele incrédula – você fica até depois do horário permitido aqui? – ele apenas confirmou com a cabeça – E como nunca foi pego?
Ele sorri novamente e triunfante.
— A sala possui passagens, descobri-as em escorregões – o que ele queria dizer com isso? Ho calor que não me deixa pensar. – A primeira da em um quadro que fica a cinco passos do retrato da Mulher Gorda, é só você – e se encaminhou para perto da prateleira de ingrediente e passou a mãe na lateral – passar a mãe em cima desse símbolo estranho aqui marcado na madeira e pronto.
De repente a parede ao lado da prateleira começara a tremer e aos poucos aparecer uma porta grande e quadrada, era como se a parede estive cuspindo fora a porta porque se entalou com ela ao comê-la.
— E a outra é aqui – ele se aproximou do sofá e pegou um copo vazio que tinha em cima de uma mezinha – “Aguamenti” – E apontou para o copo que se encheu de água no mesmo instante. – Veja como é mais simples ainda.
Ele se encaminhou até o outro lado do sofá que não tinha mesinha e jogou a água do copo na parede e então ficou olhando pra mim. Eu olhei pra ele e então pra parede molhada ao seu lado. Nada havia acontecido, continuava cinza da cor das outras.
Espera um momento, ele havia acabado de molhar a parede e ela estava seca, mas como? Olhei pra Nevil pedindo explicações, mas ele apenas se afastou como se disse: “vá em frente e veja você mesma”.
Quando cheguei a frente da parede podia ver que apesar de parecer normal, ela parecia que se desmancharia a qualquer momento, como se não fosse solida. Cheguei mais perto e pude constatar que vinha um cheiro maravilhoso da parede? Não podia ser verdade, paredes geralmente não tem cheiros tão bons.
— Essa passagem dá na cozinha – ele parecia que sabia o que estava pensando – o cheiro é muito bom – ele passou a mão na barriga em sinal de fome – não precisa ter medo, a parede é só aparência, na verdade ela não existe.
— É apenas camuflagem – ele passou pela parede e depois de alguns segundos voltou com uma jarra de suco e bolinhos – Mas como você descobriu as passagens?
O suco estava tão bom, suco de abóbora e geladinho desceu muito bem, com o forno que parecia aumentar cada vez mais, bebi três copos de suco que nem percebi.
— Foi escorregando – ele comia bolinhos enquanto contava as histórias.
Nevil descobriu a passagem para o salão comunal quando havia pisado na barra das vestes e se segurou na prateleira para não cair, foi engraçado escutar a história, afinal quando a parede começou a tremer ele achou que a prateleira estava caindo em cima dele. Já a outra passagem tinha sido descoberta quando ele tropeçou na mochila que estava no chão e estava com um vidro na mão cheio de gosmas de Hermonia, uma planta que se retira a gosma expelida pela folha pra passar em queimaduras, e a gosma saiu voando do vidro e não sujou a parede.
— Foi muito hilário – eu me sentia desidratada, bebi quase toda a jarra de suco – eu não entendia onde havia ido para a gosma, até que tive coragem de toca na parede na qual tinha um cheiro muito bom.
Fiquei imaginando a sena, Nevil medroso do jeito que é. Me fez rir ainda mais.
— Hermione quanto mais você pensa que a sala está quente – ele olhava pra mim com uma cara de pidão – mais quente ela ficará, então pense que está aqueles dias de primavera com brisas suaves e o sol acariciando a pele – eu arregalava os olhos conforme ele ia falando e imaginando esses dias, como era bom – esses dias que todo mundo gosta. Imagina que está lá.
Tá, imaginar não era muito difícil para mim, eu praticamente vivia no mundo da imaginação.
Eu não estava mais naquele forno chamado de sala, estava na beira do lago e apesar do friozinho que ainda fazia o sol estava lá nos saudando, era tão bom. A brisa que vinha da floresta proibida tocando minhas bochechas, eu até podia sentir.
— Muito melhor Mione, como disse seus pensamentos são mais fostes que os meus. Abra os olhos.
Quando abri a sala não estava mais escura e calorenta, pelo contrário, ele estava muito bem iluminada pelo sol que entrava pelas janelas e uma brisa meio gelada brincava dentro sala, deixando a temperatura muito confortável.
— Tem algo mais sobre essa sala para me mostrar?- Eu sorria, a sala não estava mais um forno.
— Não, conheço apenas isso.
Ficamos mais um pouco na sala, quando terminamos de comer já era tarde e nem percebemos já que nas janelas entrava sol. É incrível a sala, tão boa quanto a sala Precisa. Utilizamos a passagem do quadro e saímos muito perto da entrada do salão da Grifinória, quando a passagem havia acabado Nevil parou.
— Noite meu cara amigo Longbottom – a voz vinha de alguém a frente de Nevil, não consegui ver a principio.
— Boa noite Ralfh – respondeu Nevil girando o quadro e dando passagem a nos – está é ..
— Hermione Granger – terminou ele.
A pintura que ocupava o quadro era de um homem com expressões fortes sentado em uma cadeira de balanço. Ele tinha os olhos muito escuros, me deu medo olhar para ele.
— Vocês se conhecem? – Nevil parecia confuso e olhou para mim, apenas neguei com a cabeça.
— Meu caro Sir – ele olhava Nevil agora – Todos conhece essa moça – tanto eu quanto Nevil olhamos para o quando perguntando “ quem é todos?” – Todos os quadros, esqueceram que nos comunicamos? – Ele parecia que explicava algo muito chato a uma criança de cinco anos – Minerva a elogia muito por ser uma ótima aluna e sem contar o fato que sempre está com o garoto Potter.
Nesse momento veio uma menininha correndo e se sentou no colo de Ralfh e olhou para Nevil com um sorrindo radiante.
— Olá Nevil – ela tinha uma voz muito bonita para a pouca idade – Olá Mione – seu sorriso abriu ainda mais se isso era possível – Acho melhor vocês irem, Filth está nesse andar. Boa noite!
Não esperamos ela falar duas vezes e corremos pro quadro da mulher gorda que depois de passar um sermão nos deixou entrar. O salão estava vazio, apenas uns setimanistas estavam estudando nas mesas próximas das estantes de livros.
Eu dei um boa noite a Nevil e subi pro quarto, meu dia foi realmente longo, mas valeu muito a pena, aquela sala é super incrível.
Agora vou tomar um banho e cama, é só o que preciso.

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