Maldito Tri-pé



   Não tive uma boa noite de sono, não é para menos, dormir no salão comunal não foi uma boa idéia, ou melhor, ficar estudando até de madrugada e cair no sono sem perceber talvez não tenha sido uma boa idéia para começo de conversa.


   Éh... foi péssima, eu me sinto péssima.


   Acordei com o burburinho que encheu a torre conforme o pessoal foi levantando. Ninguém teve a decência de vir me acordar, apenas riam da cena. Que cá entre nós estava lamentável.


   Subi correndo pro quarto e tomei banho com água fria pra espantar o cansaço, tinha que estar bem disposta, hoje provavelmente será a prova da McGonagall e essa não será moleza com certeza.   Ela nunca dá um descanso e não será hoje que irá mudar.


   O café já deve estar terminando, tenho que devolver o livro que terminei de ler e correr pra aula de aritmância, é bom que essa seja as primeiras aulas, me ocupará a cabeça.


   Até mais tarde.


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  Minha manhã começou com surpresas, não sei se é boa ou não, moralmente não é algo que eu vá aceitar, afinal eu estou namorando e levo muito a sério isso, nosso ... Tá eu não sei como terminar a frase, mas isso não é a palavra certa, nem nosso relacionamento, afinal as coisas realmente estão frias, já não tem mais o nosso, agora é apenas...  difícil aceitar...


  Hoje de manhã corri para pegar o final do café e ir ao armário antes da aula começar, quando cheguei encontrei Harry e o time da Grifinória todo na porta, isso incluí Ron que me cumprimentou dando um beijo na bochecha, como nos velhos tempos, quando éramos apenas amigos ...isso mesmo , AMIGOSS...


  Cumprimentei todo o time que ia saindo para o campo, Ron ficou para trás.


  — Harry conseguiu o campo hoje – ele olhava para todos os lados menos pra mim, senti um nó na garganta, ele estava muito estranho – Vamos treinar a manhã toda.. e... te vejo no almoço.


  O nó na minha garganta não me deixava falar, não saia som algum da minha boca, por mais que eu quisesse. Continuamos ali na porta parados feito dois de paus, num silencio desconcertante.


  — Hermione agente precisa conversar . – O nó na minha garganta apertou ainda mais, ele olhava pro chão, alguma coisa mais interessante no piso ou nos seus tênis. 


  — .. almoço – foi a única coisa que conseguiu sair da minha boca, nem sei se ele escutou, já estava longe quando eu consegui reunir as letras e formar a palavra.


  Algo não estava me cheirando bem e não era o mingau. Por falar em mingau... Ecaaa, não suporto...!


  Encontrei Gina acenando da mesa pra mim sentar com ela e Luna, que pra variar estava perdida em algum outro mundo, ela estava com o cotovelo apoiado na mesa e a colher suspensa no ar e olhava para cima... em resumo: DI-LUAAA.


  Acenei de volta para Gina e dei meia volta, já não queria mais comer, tenho certeza que naquele momento nada me desceria garganta abaixo, o nó não deixaria.


  Desta vez não encontrei Nevil na salinha, deixei minha mochila no sofá e fui pro armário com o livro na mão, minha vontade era correr até o campo de quadribol e perguntar pro Rony o que estava acontecendo, o porque dele estar tão distante, o que havia acontecido com agente. Eu suspeito do que ele quer na hora do almoço, algo que Lilá me disse outro dia: “ Me tirou o Ronron pra entregá-lo de bandeja pra uma avoada” ...  do que ela estava falando eu não sei, mas agora isso não me sai da cabeça.


  Parei no meio do corredor da sessão de feitiços, havia um envelope junto com um bilhete levitando a altura dos meus olhos, olhei para todos os lados, mas tudo se encontrava no mais perfeito silêncio, cobri o espaço que faltava e peguei o envelope junto do bilhete.


  “ Desconhecida...


Vejo que é uma aluna assídua da Trelawney, acertou em cheio em relação a minha mochila. Perdi mais algumas coisas realmente, mas nada de muito importante.


Fez muito bem em devolver minhas coisas, apesar de que não ter pedido sua opinião sobre meu trabalho, sua ajuda foi de ótima serventia. Como agradecimento espero que aceite meu convite para o baile da Lufa-Lufa de amanhã, os detalhes você encontra no convite.


                                                                                                                                  Até breve.


Ps: Não estranhe o vestido, o tema é Século XIII e espero que seja maior de 14, ou será barrada pelo feitiço da porta.”


  Eu terminei de ler o bilhete e o re-li novamente, sujeitinho arrogante, eu não tinha obrigação nenhuma em devolver as coisas dele, ele que fosse mais cuidadoso com seus pertences.


  — ... não pedi sua opinião sobre o meu trabalho.. – quem ele pensa que é?


  Coloquei o livro sobre oclumência no lugar e voltei para a salinha, sentei na mesa e respondi o bilhete no próprio verso..


  “ Desconhecido...


Me ofende dizendo que freqüento tal aula, ainda mais sendo a professora tão... nem tenho palavra para descrever.


Quanto a sua mochila, era só somar 2 + 2. Seja mais cuidadoso com suas coisas, nem sempre lhe devolveram o que é seu.


E sim, sou maior de 14, porém não pretendo ir ao baile com você.


 Tenha um bom dia.


                                                                                                                                       ...”


 


  Peguei a varinha e toquei o papel três vezes, na terceira ele começou a se dobrar e no final havia uma borboleta de papel em cima da mesa.


  — Entregue para o dono dessa letra – a borboleta começou a bater as assas e levantar vôo – e não deixe ninguém perceber. – peguei o convite e o joguei de qualquer jeito dentro da mochila, depois dou pra alguém que vá querer.


  Ela saiu voando pela janela que ficava la em cima perto do teto e eu pela porta, rumo a primeira aula que correu muito bem, me ocupou a mente todo o tempo e nem sequer pensei no temido almoço.


  Eu não queria ir almoçar, apesar que minha barriga roncava de fome, ultima aula antes do almoço, aula de DCAT, nada empolgante, pra falar a verdade nem prestei atenção ao que o professor falava, minha cabeça estava longe, estava no almoço.


  Ohh Merlin que não seja o que eu estou pensando.


  Eu estou ficando apavorada com esse pensamento, por mais que as coisas não estejam boas entre agente, podemos dar um jeito de melhorar, de quebrar a rotina, ele não pode jogar tudo pro alto na primeira dificuldade... não. Não pode..


  No meio da confusão de pensamentos e sentimentos mal notei o passarinho de papel em cima da minha mesa, era aquelas dobraduras japonesas, desde quando estaria ali? Olhei para os lados e todas as cabeças estavam olhando para o professor, todos muito atentos, a aula pelo visto deveria estar sendo interessante.


  Desdobrei o papel e adivinha... é, ele mesmo.. o DESCONHECIDO.


  “ Desconhecida.


Me faz rir falando desta maneira da querida Trelawney, apesar dos pesares, ela deve ter suas qualidades.


Pode deixar, vou cuidar melhor do que é meu. Agora vejo quanto faz falta a minha pena de repetição rápida, o professor Bins é muito rápido para se acompanhar, nunca fiz uma anotação tão ruim quanto a que estou fazendo...


Aposto que se assustou com o tema do baile e com o tamanho do vestido, afinal hoje em dia tudo é muito curto, não que eu esteja reclamando, estou apenas comentando.


                                                                                                                                    Até breve”


 


  Ele está confiante de que eu vá no baile com ele... Até breve...espero que esteja sentando, para não se cansar.


  Kkkkkk.... eu sou má as vezes.


  — Tsc.. tsc – é o professor que estava do meu lado no momento. – Senhorita, a classe foi dispensada, isso inclui você também.


  Senti minhas bochechas esquentarem e meus gnomos suando frio dentro da minha barriga, isso significava que o que tanto temi, estava se antecipando.


  Juntei minhas coisas e sai da sala, fui para o salão principal, que estava quase vazio para meu alivio, a distração da manhã passou e a angustia voltava. Me sentei ao meio da mesa, como de costume e esperando..fiquei ali sozinha com meus pensamentos um bom tempo até que...


  Meu coração estava parando, alguém me ajudasse a respirar.


  O time inteiro da Grifinória entrava no salão, todos estavam bem animados, exceto os três que vinham mais atrás: Harry, Ron e Gina. Todos suados e sujos, mas não acho que a bochecha vermelha da Gina e o fino traço no lugar da boca de Harry sejam por causa do treino e sim de raiva. Os dois transbordavam raiva visivelmente.


  Como gostaria de não estar lá e que eles não estivesse se aproximando cada vez mais do lugar onde estava sentada... mas Hermione, você querendo ou não, eles vieram.


  Aceite os fatos!.... Eu não quero aceitar.


  Uma briga de vozes começou dentro da minha cabeça, mas logo foi interrompida pelo trio que chegou do outro lado da mesa.


  — Ronald ... – Gina estava bufando do seu lado


  — Cala boca Ginevra – a Ruiva ficou mais furiosa ainda ao ouvir o seu nome. – Hermione..


  Eu tentei segurar, mas uma lagrima já me acariciava o rosto, limpei-a antes que eles  vicem.


  —  Rony não faz isso... – Harry falava entre dentes – Vai se arrepender de..


  O resto eu não ouvi, não ouvia mais nada, Harry confirmou minhas suspeitas e angustias.


  O chão sumiu sob meus pés.


  Tudo acontecia em câmera lenta, Harry bufando de um lado e Gina gritando do outro, não entendia muito bem o que ela falava e nem queria...a voz de Ron foi a única que fez algum sentido no meio do meu transe.


  — Hermione, você escutou? – ele puxava meu diário, olhei pra ele – vou-tomar-banho, te-encontro-no-jardim-daqui-meia-hora.  Afirmei com a cabeça e ele saiu do salão como entrou: com os outros dois lhe falando ao pé do ouvido.


  O Ron que estava até aquele momento na minha frente estava decidido, não importava o que dissesse pra ele, não mudaria de idéia. É, dessa vez nem Merlin vai poder me ajudar.


  Tanto tempo esperando por aquele ruivo e nosso namoro durou o que: uns nove meses? Vida injusta, maldita Lilá, maldita Parvati, todas malditas... ai que raivaa.


  O salão começou a encher, olhei para os que entravam, todos tão felizes, levando suas vidas como se nada importasse, nada acontecesse. Como gostaria de ser um deles, mas não! Eu sou a Granger, a que se mente em problemas desde o seu primeiro ano escolar, só pode ser carma. 


  Resolvi sair dali, tanta alegria incomoda sabe.


  Comecei a jogar minhas coisas dentro da mochila, quando estava terminado vi o bilhete do Desconhecido e resolvi responder, quem sabe ele não estaria ali, não sanaria minha curiosidade. Doce ilusão...


   “Desconhecido


Se viajar e viajar na imaginação lhe é considerado qualidade, é, ela tem uma.


Pelo visto você é um preguiçoso isso sim, o Bins não fala rápido, você que não deve estar acostumado com os ditados. Hoo tadinhoo. Escrever com as mãos não lhe arrancará os dedos.


Não, não me assustei, já vi poucas e boas para me assustar facilmente. E nem olhei o convite, vem vestido?


                                                                                                                                             ...


Ps: Não se preocupe, eu passo o convite pra alguma outra garota, assim não vai ficar sem compania.”


  Acho difícil me assustar ultimamente, depois do Fofo, dos Dementadores, do Prof. Lupim e etc. acho que nada  me assustará tão cedo.


  Dei os três toques da varinha e a borboleta de papel já saia voando, juntei o resto das minhas coisas e a segui de longe com os olhos, ela ia em direção a porta, saindo do salão, eu fui atrás, quando tava chegando na porta trombei com um primeranista baixinho, nem tinha o visto, o moleque foi ao chão.  Ajudei-o a se levantar e pedi desculpa, ele balançou a cabeça e saiu correndo, voltei a procurar a borboleta e não a vi mais.


  Sai do salão e olhei em volta e nada, ela já tinha sumido, ali perto encontrei a Luna e o Malfoy, ele parecia nervoso, algo bom não era.


  — Deixa ela em paz Malfoy. – Foi a primeira coisa que me veio a cabeça.


  —Isso não é da sua conta Granger. – Ele estava com as mãos nos bolsos e uma expressão nem um pouco amistosa, também o que se esperar daquela doninha – E vai embora você também Di-Lua, já falei que não é da sua conta.


  — Mas meu pai me falou que elas são raras e dão sorte pra quem as encontrarem – Ela se aproximou do aguado que recuou um passo em resposta – Eu quero...


  — Você não quer nada! – Ele ia ficando mais nervoso,  o que ele tinha que a Luna tanto queria? Ou será que ele pegou algo que era dela, só poderia ser. – Você está atrapalhando meu almoço, desencana garota.


  — Malfoy o que tem nos bolsos? – Ele olhou pra mim perplexo.


  — Ta insinuando que roubei algo dessa aí Sangue-Ruim? – Seus olhos faiscavam – Se esqueceu de que sou um Malfoy? Não preciso roubar nada, posso compr...


  — Tá, ta, já sei. – Pelo visto o orgulho da doninha estava falando mais alto que o ódio – Sua família é rica e poderosa eblábláblá... mas você está na escola e como monitor não pode abusar do poder sobre os alunos. Portanto ou mostra o que tem nos bolsos e prova que não pegou nada da Luna ou eu chamo a McGonagall, o que vai ser?


  Nossa, me senti muito bem com isso, o loiro me crucificava com os olhos, provavelmente passava varias maneiras de me matar ou me torturar até a morte por sua cabeça, sua boca era uma linha fina, eu me divertia vendo o assim.  Me senti tão bem naquele momento.


  Afinal, pimenta nos olhos dos outros é refresco!!


  Haa.. eu merecia um pouco de diversão, ele sempre se divertia me fazendo passar por ridícula e me atormentando. Hoje é a minha vez de fazê-lo provar do próprio veneno.


  E pra minha surpresa depois de alguns minutos o Malfoy tirou a mão do bolso e me mostrou a varinha e alguns pergaminhos, me entregou tudo e voltou as mãos aos bolsos puxando-os para fora da calça, mostrando que não tinha mais nada.


  — Satisfeita ? – Seus olhos brilhavam ao ver minha decepção, eu achei que ele ia querer ver a McGonagall – Não peguei nada da pirralha e não vou me meter em encrencar por pouco caso. – Apareceu um pequeno sorriso no canto da boca dele. Doninha imprestável!!!


  Olhei os pergaminhos e pra minha surpresa eram anotações de aulas e até tinha runas.


  — Você faz Runas? – Devolvi as suas coisas e ele as colocou no bolso novamente.


  — Você não é tão inteligente quanto parece – Agora ele ria abertamente, do que ele estava rindo? – Estudo runas desde o começo do ano e adivinha: mesma turma que você vassoura.- aquele desgraçado deu bastante ênfase no vassoura, olhou pra mim e depois pra Luna – Ta andando muito com essa daí, vai vira Di-Lua também sangue-ruim.- Quem ele pensa que é pra falar assim? Abusadoo! Mau caráter.


  E assim seguiu pro salão rindo, aquela doninha sabe mesmo como me irritar. Eu não vou virar di – lua de jeito nenhum, aquele asqueroso, queridinho do seboso, filhote de cobra, mini comensal...@#$#%#@#@#$#$%#!@#!


  — Ele é um sortudo por ter achado uma...- Luna pensava em voz alta, e pra variar eu não sabia do que ela estava falando.


  — Ele te fez alguma coisa Luna? – interrompi ela e meu momento “ elogios a doninha”.


  — Quem? O Malfoy? – Ela levantou as sobrancelhas, como se estivesse espantada com a pergunta, afirmei com a cabeça. – Não, ele não é mau.


  — Agente ainda está falando do Malfoy? – Como ele podia falar isto de tal ser? Só podia ser a Luna mesmo.


  —Não acredito que Draco seja mau -  ela sorria pra mim enquanto falava tal asneira – O pai dele é, mas ele não, já o viu fazer alguma coisa além de ser arrogante e mal educado com as pessoas? – Bom, ele mandou matar o bicuço e... – Ele so aproveita a fama sombria que tem o sobrenome dele, por que ele mesmo nunca fez nada demais, até você já fez coisas pior que ele.


  Eu não acreditava que estava sendo comparada com o filhote de comensal. Aquela menina so podia ter batido a cabeça.


  — Eu nunca fiz nada pior que a doninha!!!


  — Nós invadimos o ministério, fugimos da escola, sem falar da AD... Draco nunca fez nada.


  — Que você saiba!!!


  Deixei ela falando sozinha, não podia deixar ela continuar a colocar o loiro aguado num pedestal e me deixar de vilã da história. O que ela comeu esta manhã lhe afetou ainda mais ou  foi aqueles bichos inimagináveis que ela fala que existem estão atrapalhando-lhe o cérebro.


  Sai com tanta raiva de perto da Di-Lua que quando dei por mim já estava nos jardins. Haaa os jardins, como gosto deles. Tão belos e acolhedores, ninguém pra perturbar, tudo em paz, só a natureza agindo.


  Neste momento eles estão vazios, todos estão lá dentro almoçando. Um silêncio acolhedor, consigo escutar os pássaros, o vento batendo nas arvores e tem até mesmo um sereiano na água, parece um homem, se não fosse os olhos meios puxados e pretos poderia facilmente se passar por um humano. São criaturas fascinantes e infelizmente perigosas, segundo os livros são muitos sabias, não tanto quanto os centauros, mas possuem segredos e magias muito poderosas.


  Seria legal aprender coisas novas, quem sabe eles não possuem a ajuda da qual necessitamos nesse momento, algo que nos possa ajudar nessa guerra louca.


  — Você tem algo que possa nos ajudar? – Sua cabeça saiu um pouco mais da água, agora eu podia ver não só os olhos, mas o nariz e boca também. – Ajudar nesse guerra... – parecia que ele se aproximava - ... uma solução pros meus problemas já estava bom pra começar. – Ele nada respondeu, mexeu a cauda e de repente mergulhou e não voltou.


  Acho que eu que estou ficando louca, um sereiano como professor ou ficar esperando que eles sejam amigáveis, hunff... seria o mesmo que ver Dumbledore e Valdemort tomando uma cerveja amanteigada no três vassouras...


  Hermione você está precisando de terapia.


  — Te achei.


  Ron chegou, até mais tarde.


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  Aula de runas nunca esteve tão chata como hoje. Talvez seja eu que esteja chata, quebrada e desmoronando e não a aula que nada tem haver com meus dissabores vividos.


  Meu carma arrebentou hoje, no sentido literal da palavra. O dia começou péssimo e só piorou no decorrer das horas e olha que ele nem terminou, só estou na segunda aula depois do almoço, tem mais três ainda e o resto da noite, que tem ronda.


  Ele deve ter acordado e pensado: “ vamos fazer uma festinha na vida da Granger hoje, ela anda muito quietinha pro meu gosto”


  Só pode ser isto, as coisas estavam bem e começam a desmoronar tudo em um único dia, é muita coisa pro meu alicerce...


  ONDE FOI PARAR MEU ALICERCE??.... me sinto no fundo do poço...sem nada pra me sustentar.


  Nós éramos o apoio um do outro, um sistema isolado que se ajudava em qualquer momento. Como disse: éramos.


  Harry anda tão absorto em seus próprios problemas e pensamentos que nunca sabemos onde realmente está. Ron... bom .


  Nossa conversa na beira do lago foi vazia. Acredito que ninguém nunca levou um fora tão frio quanto o que eu levei.  Ele chegou e sentou do meu lado.


  — Agente era mais feliz naquela época. – Qual época ele falava, eu não sei, mas eu estava feliz até ele começar a ficar estranho. – Tudo tão mais fácil.


  — É, as coisas agora são maiores e mais problemáticas. – Eu olhava pra ele, ele olhava o lago, algo distante, algo que eu não enxergava.


  — Éramos mais fortes também, era mais fácil lidar com as coisas e com nossos pesadelos.


  —Nós sustentávamos uns aos outros. – Ele confirmou com a cabeça e continuou olhando o horizonte.


  — Verdade, éramos o banquinho de três pés. – Ele parecia tranqüilo enquanto falava, e eu ia ficando mais nervosa – Mas então nós dois juntamos  nossos lados e deixamos Harry com um peso maior.


  Ele parou de falar e eu nada disse para preencher o silêncio, comecei a olhar para o horizonte também. Quem sabe algo ali me tranqüilizasse ou fizesse meu peito parar de doer.


  — Harry não agüentou o peso então apareceu a Gina, fazendo nosso banquinho ficar normal, com quatro pés. – Ele suspirou, parecia escolher as palavras – Só que por mais que fossemos quatro, não éramos tão forte quando éramos três. Entende?


  — E-e-eu acho que sim – Eu já sabia onde ele queria chegar, mas eu queria sair correndo dali, o nó na minha garganta tinha voltado, mais forte e apertado.


  — Harry percebeu primeiro que nós que por mais que Gina se juntasse, ela não agüentaria o tranco, pelo menos é o que ele acha – Ele deu um meio sorriso com o que disse. – Então ele a afastou antes mesmo de deixar ela se aproximar mais.É, eu sei que ele gosta dela, apesar deles nunca tiverem tido nada mais sério... ainda.


  — N-n-não podemos passar a vida to.. – minha garganta doía, as lagrimas me turvava a visão, eu queria sair dali, mas nem falar eu conseguia, quanto mais andar -..da vivendo apenas em função da guerra, temos que viver também.


  — Só que do jeito que estamos Hermione, vamos despencar a qualquer momento. – Já despenquei Ron, só você não viu ainda – Harry não agüenta tudo sozinho, ele está apoiando a mim, a você e se esquecendo dele mesmo.


  — Não use Harry como desculpa. – isso saiu entre dentes, com raiva até.


  As lagrimas começavam a secar, conseguia ver o ruivo ao meu lado nitidamente. Como ele usava nosso melhor amigo como desculpa pra terminar comigo? Eu não estava acreditando no que estava acontecendo.


  — Eu acredito que devemos voltar a ser o que éramos – Pela primeira vez ele olhava pra mim, não via nada em seu rosto, estava vazio, assim como eu por dentro – será melhor pra todos nós.


  Silêncio, ficamos nos encarando por um bom tempo. Nenhum dos dois quebrou o contando visual. Por mais vazio que ele estava, eu não enxergavam dor alguma nele, nem arrependimento.  Era só isso: VAZIO.


  Um barulho na água desviou nossa atenção, olhamos o lago e nada vimos.


  — Não estou falando que devemos viver apenas em função disso, é só.. -  por um momento a cor visitou suas bochechas, deixando-as vermelhas - ... que devemos viver sem esquecer quem somos e nossos lugares no banquinho. Será melhor assim, sem ninguém se sobrecarregar com peso a mais.


  — Você quer dizer que devemos seguir em direções opostas, mas estar sempre ali para não cair tudo?


  — Você entendeu. – Ele sorria, enquanto eu me despedaçava por dentro, ele SORRIA.


  Hoo Merlin como queria pular dentro daquele lago e não voltar mais. Que tudo se danasse!


  Quanto tempo ficamos calados? Eu não sei.


  Acho que queríamos consolarmo-nos de algum modo, mas não sabíamos qual. Então ficamos em silêncio sentados um ao lado do outro. A velha camaradagem de sempre, por um momento foi bom sentir aquilo de novo.


  — Desde quando ficou tão inteligente? – minha voz saio embargada, fraca, que por um momento achei que ele não tinha escutado.


  Ele passou o braço sobre meus ombros, deu um pequeno abraço e ria ao responder.


  — Convivência Mione.


  Ele se levantou olhou mais uma vez o horizonte e se virou pra mim.Por um momento cheguei a pensar: Lute Hermione, não o deixe ir embora assim, resista garota!


  Mas quando olhei seu rosto, era o mesmo Ron decidido do café, nada do que eu dissesse o convenceria a voltar atrás. Por mais que ele quisesse voltar a ser o que éramos, não seria a mesma coisa, todos nós havíamos mudado.


  Naquele momento eu percebi, a ficha finalmente havia caído.  O jogo pra mim havia acabado.


  Uma lagrima acariciava meu rosto.  Eu tinha tentado não deixá-las cair, mas uma quebrou as regras e caia sem medo.


  Ele segurou meu rosto com uma das mãos e me deu um demorado beijo na testa, sinal de respeito. Depois voltou pro castelo.


  Eu estava em frangalhos naquele momento, meu peito doía, era como se tivesse um grande buraco , lugar onde havia um coração.


  O sereiano tinha voltado a superfície e me observava novamente. Olhei pra ele e levantei o braço esquerdo, como se fosse comemorar alguma coisa...


  — VIVA O MALDITO TRIPÉ!!!- eu gritei com todas as minhas forças, queria extravasar minha dor, minha angustia... de algum modo.


  O sereiano apenas bateu a cauda na água, provavelmente não entendo nada. Afinal quem entenderia?


  Eu me senti um pouco melhor naquela hora, isso aliviou um pouco a minha tormenta. Corri para o castelo, primeira aula seria da Minerva.


  Mais uma surpresa no dia.


  Não teve prova e nem teria, ela vai usar um dos trabalhos como avaliação, já que não daria tempo de fazer a sua prova em uma única aula e tem que entregar as notas no domingo. A sala vibrou de alegria enquanto eu me afundava no banco. Estudei tanto pra essa prova, várias noites mal dormidas estudando e pra que? Pra isso: prova cancelada.


  Como eu disse, o dia ta uma m-a-r-a-v-i-l-h-a.


  Durante a aula Harry olhava pra mim a todo momento, esperando alguma coisa, quando falava era sempre com muita cautela. Ele já sabia o que iria acontecer, pelo visto só não sabia como reagir ou como eu reagiria.


  — Para com isso Harry. – sussurrei.


  — Você está bem? – ele sussurrava também, McGonagall explicava alguma coisa, na qual não prestávamos atenção.


  — Viva o maldito tripé! – sussurrei sorrindo pra ele, pela cara dele, não era o que ele esperava.


  — Pare de gozações Mione – o que ele esperava: estilo Lilá Brown aos prantos?


  — Relaxa Harry, uma hora sara.


  — Demora .. – ele suspirou e foi nele que vi a dor que eu sentia - .. e dói mais do que se imagina... só piora.


  Talvez Ron tivesse razão, era melhor voltarmos a ser o apoio um do outro.  Harry sabia pelo que eu estava passando e sentindo, tudo pelo que ele passou com a Cho e depois o padrinho e agora descobrindo que ama a Gina, tinha-o feito crescer.


  O sofrimento transforma agente. – Snape disse isso durante uma aula, quando Simas estourou sua poção e queimou a mão.


  Nunca pensei que um dia concordaria com o ranhoso.


  Realmente as coisas estão mudando e numa velocidade muito grande. Tenho que começar a tomar mais cuidado para não tropeçar no meio da correria.


  Eu preciso de um pouco de ar... esta aula ta chata mesmo.


  Até daqui a pouco.


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   Não sei se tem como piorar.


   É melhor eu ficar de boca fechada, se não é capaz de piorar.


  Apesar de tudo que  ta acontecendo tem um ponto positivo: descobri que o Pirraça não é tão ruim assim, ele me trouxe uma jarra de suco, “ pra alegrar a vida”- como ele disse.


  Me sinto mais alegrinha realmente. Como o ser humano é besta né? Fica sofrendo por qualquer coisinha.


  Acredita que eu estou sofrendo por causa de uma “coisinha” chamada Luna Lovegood?


  Isso mesmo meu caro, a Di-Lua, o tal amor secreto dela, adivinha quem é?


  Isso so acontece comigo, só pode... hunff..


  É o Rony... agora o que a chorona da Lilá disse faz sentido.


  “ Me tirou o Ronron pra entregá-lo a uma avoada.”.... é parabéns Hermione. Troféu joinha pra você!!!!.Depois dessa, to com vontade de me jogar da torre de astronomia.


  Pra falar a verdade to pensando em fazer uma lista com os melhores lugares e jeitos de se matar: Pular da torre de astronomia, me afogar no lago, insultar os centauros, infernizar os hipogrifos... são tantas....


  KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK... Ainda bem que tem bastante alternativas.


  Hum...ic.. ta me dando soluço....kkkkkkkk


  O suco do pirraça ta acabando, será que ele não tem mais? É tão gostoso..kkkkkkkk.. docinho.....cadê aquele fantasma imprestável?


  Kkkkkkkk... ta tudo rodando... até minha letra no pergaminho ta dançando... que legaLL.


 Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk


 


   — Finalmente te achei – o loiro parou atrás da menina sentada na escada, com tudo jogado ao seu lado – Granger o Dumbledore mandou avisar que a detenção é hoje as...


  — Olhaaaa é a doninha-ic – Malfoy parou de falar assim que olhou Hermione de frente – Você é loirooo.. queeem nem ela...kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.. os dois não prestão...kkkkk


  — O que você fez Granger? – O garoto não entendia o porquê de estar nervoso, deveria estar feliz de poder colocar a morena em problemas, afinal ela era monitora e se a McGonagall pegasse ela naquele estado, seria detenção pro resto da vida. – O que andou bebendo?


  — Não, éééé meu... meu suco. – A garota se apoiava na parede para não cair, mas não largava a jarra de vidro. – Não vou dar pra você, vaaai emmboraa.


  — Isso não é suco imbecil! – Draco ia ficando cada vez mais nervoso com os soluços e risadas da morena – É bebida e das fortes, onde arranjou? – perguntou tentando tirar a jarra das mãos da garota, que assim que ouviu a palavra bebida caiu sentada.


  — Foi o pppiirraça que mee deu. – ela balbuciou, parecia uma criança de cinco anos que fez travessuras.


  — Não acredito que você caiu na do Pirraça – O loiro começou a rir dela, que se encolheu e começou a abraçar os joelhos – Ele faz isso geralmente com os primeranistas, mas você,  terminando o quinto ano Granger?


  — EEu não saaabiic..-  ela mal se agüentava e os soluços aumentando – Para deee rirr...kkkkkkkkkkk


  — Isso só pode ser uma piada mesmo, o Blaise tinha que ta aqui pra ver isso.- Ele se divertia com a cena – Só pode ser meu dia de sorte.


  — E o meu de azar, me da mais um pouuUuco.- antes que ele percebesse a garota embriagada já estava virando a jarra garganta abaixo.


  — Ta louca Granger!! – ele tentava fazê-la parar, o porquê nem mesmo ele sabia.


  —Ora, ora, ora, o que temos aqui? – Draco se virou e deu de cara com o fantasma – Um monitor da Sonserina embebedando uma monitora da Grifinória.


  — Isso é mentira! – Malfoy disse se exaltando – Você sabe quem fez isso Pirraça!!


  — KKK.. é, eu sei  - o fantasma ria e dando uma pirueta no ar e parou em frente a garota jogada na escada - .. foi euuu. – Então se virou para o garoto – Mas a única coisa que vejo é um sonserino e uma grifinória em péssimo estado, o que acha que Minerva pensará?


  — Você não vai fazer isso? – O fantasma sorriu travesso – Não teria coragem!!


  — E o que o pequeno Malfoyzinho poderia me fazer? – Pirraça perguntou em tom debochoso.


  Draco ficou furioso, afinal nada que  conheci a poderia acerta o fantasma, já estava morto mesmo. Pirraça percebendo a derrota no garoto, deu um grande sorriso e saiu gritando:


  — MONITOR EMBEBEDA MONITORA!!!  RIVALIDADE SUPERA LIMITES!!SONSERINA ATACA GRIFINÓRIA!!


  Malfoy não pensou duas vezes, assim que o fantasma começou a gritar, juntou todas as coisas esparramadas num aceno de varinha e pendurou a mochila dela nas costas, junto a sua.


  — O qqque peensa que esta fazendo? – Ela perguntou ao sentir-se sendo levantada pelo loiro.


  —Vamos sair daqui, AGORA! – Ela começou a se debater, mas ele era bem mais forte, resultando em esforços inúteis. – Não vou me meter em encrenca por sua causa e nem pegar mais detenção.- Ele parou, respirou fundo e olhou a castanha – Como você vai pra detenção desse jeito espertona?


  — Quee deeetenção? Kkkkkkkkkkkk


  — Para de rir Granger – ele voltou a andar e puxá-la pela cintura – Tem detenção com o Diretor!!! Maldita hora que me mandaram te avisar.


  — Olhaa.. eu sempre achei essas estátuas estranhas – Hermione ia em direção a uma estátua no meio do corredor, desvencilhando-se totalmente de Draco – Por que seráa .. aas mão assic.cm?


  — Não te interessa, vamos embora!! – Ele a puxou novamente pela cintura,  voltando a andar apoiando-a – Já está chegando.


  — Onde está me levando doonii-ic-nha?


  — Fala baixo, ta tendo aula caramba!! – Draco olhava pra todos os lados, enquanto levava a castanha – Não acredito que to fazendo isso e ainda perdendo aula de runas, RUNAS Merlin.


  — Queeem vê pensaa quee você é ssanto e não maatta aula!


  — Não, quem vê, vai achar que nós piramos. – Por mais que ele não quisesse, sorria , pensando na cena como alguém de fora – Eu ajudando uma sangue-ruim e você, a sabe-tudo , caindo de bêbada.


  — Shiiiihiii – Hermione parou e colocou o dedo indicador na boca, ele a ignorou e voltou a puxá-la que ia ficando mais mole conforme andavam, o garoto começava a ficar ofegante. – Porr quee Ruunas?


  — Por que é importante e ... – ele parou e olhou pra ela por um momento – não é da sua conta! – Voltando a arrastá-la pelo corredor.


  Depois de alguns corredores e escadas, pararam em frente a um quadro com um velho e uma luneta.


  — Senha. – pediu ele.


  —Varinha de alcaçuz. – Respondeu Malfoy.


  O quadro deu passagem para uma torre. Draco entrou carregando Hermione, que já estava quase dormindo. Levou-a até um quarto, chegando lá teve dificuldade com a porta, depois de muito trabalho conseguiu fazer a morena rodar a maçaneta e entrar.


  Deitou-a na cama e colocou sua mochila numa mesa que tinha ali perto.


  — Eu vou ali buscar uma coisa, vê se não faz nada – Ela abriu os olhos e ficou olhando pra ele – eu já volto. – ela apenas sorriu e abraçou o travesseiro.


  Saiu do quarto da garota e foi até o seu. Revirou o armário do “confisco”, até que finalmente encontrou o que procurava.


  — Sonserina nunca deixa ninguém na mão. – Disse sorrindo para a pequena garrafa em sua mão.


  Era bom ser monitor daquela casa, sempre apareciam alunos com coisas que não devia para sua idade, o que acabava sobrando pra ele a difícil tarefa de confiscar o objeto. Resultando no armário do “confisco”, como o loiro o apelidara.


  Voltando ao quarto da garota, encontrou-a do jeito que  deixou, abraçada ao travesseiro.


  — Não fizzz nadaa – balbucio ao vê-lo entrar.


  — É parece estar tudo no lugar – disse olhando em volta, e virou rindo pra ela, ao perceber fechou a cara – Toma, bebe isso, vai conseguir ir pelo menos na detenção.


  — MeElhor não beber maasi nada.


  — Só mais isto, vai se sentir melhor.-  Sem paciência, já empurrava a poção na boca da morena, que a bebia a contra-gosto. – Isso, boa menina.


  Ela sorriu de novo e se ajeitando melhor na cama. Draco ficou olhando-a até que adormeceu num sono leve e tranqüilo, como sua vida deveria ser simples e sem problemas, enquanto a dele era um verdadeiro purgatório.  Ao perceber o que estava fazendo, levantou num pulo, limpou a garganta e saiu do quarto batendo a porta.


  Os ventos que entravam pela janela começavam a vir de novas regiões, trazendo consigo novos aromas!

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