O Regresso [100%]




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Eram 7 da manhã quando um táxi para em frente a uma moradia, que tinha a tabuleta de vendida à sua entrada.

Era um bairro sossegado. Sem qualquer tipo de problemas, os seus habitantes eram maioritariamente pessoas idosas ou trabalhadores que não passavam grande tempo em casa. Era um bairro que se poderia considerar de classe média/alta.

Um bairro sossegado até àquela manhã, pois mal o táxi chegou, trouxe consigo toda a agitação que não assombrara o bairro durante anos a fio.

O taxista saiu do seu táxi e dirigiu-se até à porta bagagens de onde tirou várias malas.

A porta do táxi abriu-se e de dentro saiu uma bela mulher. Tinha cabelos negros, feitos a partir de caracóis perfeitos. Uma pele branca que contrastava com os seus cabelos e os seus lábios carnudos e vermelhos. Os olhos eram de um azul cor do céu e eram destacados pelo vestido de igual tom, que a mulher usava. Tinha um corpo com curvas magnificas capaz de fazer inveja a qualquer mulher e despertar desejo em qualquer homem. Os traços do rosto eram perfeitos e exóticos.

A mulher sorriu, e deu uma pequena volta sobre si mesma, o facto de serem sete da manhã não deveria estar a incomodá-la muito. O taxista olhou-a com um misto de desejo, cobiça e fascínio.

A mulher sorriu.

- É linda Annya.- Murmurou para alguém que deveria estar dentro do carro.- Saí daí de dentro e vem ver a nossa casa!

Passados alguns segundos uma outra mulher saiu do carro.

Era extremamente parecida com a primeira, podia-se até pensar que era gémea desta, tinha um corpo igualmente invejável, e as expressões eram igualmente perfeitas e exóticas. Uma pessoa que olhasse para as duas iria pensar que realmente eram gémeas, mas havia algumas diferenças. Os cabelos de Annya eram igualmente negros e sedosos, mas eram lisos e chegavam-lhe um pouco abaixo dos seios. Mas sem dúvida que a maior diferença das duas se encontrava nos olhos, enquanto os de Rachel eram azuis, os de Annya eram de um verde magnifico, e apesar de terem uma enorme vida, por vezes podia notar-se nestes uma certa frieza. Além disso a segunda tinha um aspecto mais jovial que a primeira, tinha uma aparência de ter uns dezassete ou dezoito anos, enquanto que a primeira aparentava ter uma idade que rondava os vinte.

O taxista olhou para a segunda, o seu olhar de cobiça e desejo não se desvaneceu.

Annya lançou um grande suspirou e deu de ombros. Rachel olhou-a com tristeza.

- Não gostas?- Perguntou. Annya começou a pegar em algumas malas lançando um meio sorriso ao taxista que a ajudou a acartar estas.

- Não é nada disso.- Respondeu.- Não gosto de estar cá, em Inglaterra, tu sabes disso.

Rachel lançou um sorriso e acartou umas outras malas.

- Quando vires a casa vais mudar de opinião.- Respondeu sorrindo.

Annya revirou os olhos. Ao passar uma pequena porta, que era cercada por um muro de sebes que rodeava a casa, abriu a boca surpresa.

A casa era sem dúvida magnífica. Era, ao contrário de todas as do bairro, de uma arquitectura moderna. Era branca, com traçados geométricos, tinha dois andares. No primeiro, as paredes eram repletas por grandes janelas, no segundo andar via-se janelas mais pequenas. Não tinha telhado.

O jardim era igualmente bonito e digno de admiração, apesar de pequeno, tinha a erva bem aparada. Junto às sebes haviam diversos canteiros com lírios brancos que davam um cheiro agradável ao jardim.

Rachel sorriu ao ver o olhar surpreendido da filha.

- Eu bem te disse.- Sussurrou. Annya olhou-a com raiva.

- Só porque a casa é gira não significa que vá gostar de Londres, mãe.- Murmurou.

Rachel pagou ao taxista que ainda olhava para as duas, e para a casa, com uma enorme admiração.

Ao pagar ao taxista e ao ver que este se tinha ido embora e que se encontravam sozinhas, Rachel pegou na sua varinha e com um gesto fez as malas levitarem e entrarem em casa.

- Que lata!- Annya murmurou com raiva.- Podes usar magia em frente de muggles e eu tenho que ficar quieta a ver. Vida injusta.

Rachel riu-se.

- Não vejo aqui nenhum muggle.- Disse apontando em seu redor.- E que eu saiba ainda és menor, por isso não te queixes, quando tiveres dezassete anos podes fazer magia, segundo as regras daqui.

- Cada vez dás-me mais razão para odiar isto.- Annya começou a dirigir-se até à porta de entrada.- Como se eu não soubesse usar magia correctamente, sei desde os meus cinco anos.

Rachel revirou os olhos.

- Que exagero.- Respondeu.- Acho que fazem bem, podes ter um corpo desenvolvido, mas de mente...não diria o mesmo.

Annya mostrou-se ofendida.

- Mãe!- Disse.- Eu sou bastante inteligente e poderosa. Era a melhor na minha turma. E olha que eram todos muito bons, mas claro que eu era a melhor.

- Se fosse a ti não tinha tantas certezas. Anny.- Murmurou Rachel rindo-se e entrando em casa.

Annya olhou-a com raiva.

- Odeio quando me chamas isso, mãe.

Rachel riu-se.

Entraram na primeira divisão da casa. A sala de estar/jantar. Esta era moderna e bem decorada. O chão era feito de mármore preto em contraste às paredes brancas. Tinha uns sofás brancos a meio desta, de frente para o plasma, para um leitor de CDs e para uma porta CDs preto. Havia uma estante, de madeira escura, encostada a um canto da sala, passando despercebida, perto desta havia um havia um armário com o mesmo tom de madeira, e com uma altura idêntica, tinha só uma porta que ocupava quase o todo o centro do armário, era feita de vidro fosco, deveria ser o armário onde se guardavam as bebidas e os copos para estas. Uma mesa, que dava para umas oito pessoas, encontrava-se junto às janelas, próximo da porta de entrada, tinha as pernas feitas de ferro pintado de preto e o tampo desta era de vidro transparente, escuro, as cadeiras eram do mesmo conjunto, feitas com o mesmo material das pernas da mesa, só que com um assento de esponja e tecido preto. No centro da mesa havia uma jarra de porcelana, branca. Debaixo dos sofás havia um tapete, em forma de círculo, branco, que impedia que os pés tocasse no mármore frio e escuro.

Rachel aproximou-se das janelas e puxou umas cortinas pretas, para impedir que os vizinhos as pudessem ver. Depois sorriu perante a cara de surpresa que a filha fazia ao ver a sala.

- E ainda é só a sala.- Murmurou.

Annya sorriu.

- Ali- Rachel apontou para uma porta branca situada na parede do seu lado direito- é uma das casas de banho. Por ali- disse apontando para um buraco na parede da frente, que era preenchido por umas escadas de vidro transparente e preto- são as escadas que levam ao segundo andar, onde se encontram os quartos e a biblioteca/escritório, e ali- disse apontando para a parede esquerda que continha uma arcada que levava a uma outra divisão da casa- é a cozinha.

Annya assentiu e Rachel puxou-a para a última divisão de que falara.

O chão da cozinha era igual ao da sala. Esta tinha uma mesa branca a um canto, que tinha duas cadeiras, que também conjugavam com a mesa. O frigorífico, fogão e todos os electrodomésticos, estavam encostados no lado direito da cozinha, e eram rodeados por bancadas igualmente pretas.

As janelas estavam abertas trazendo muita luz para a cozinha.

- Então que achas?- Perguntou Rachel com ânsia na voz.

- Bem é uma cozinha, o que se pode esperar de uma cozinha?

Rachel fez um ar desanimado.

- Sabes mesmo ser animadora, Annya!- Disse irónica.

- Tu sabes que eu odeio isto, mãe.

- Ainda não viste nada, como podes odiar Londres?- Perguntou Rachel um pouco incrédula.

Annya deu de ombros mais uma vez e dirigiu-se para a sala, Rachel seguiu-a.

- Mostra-me lá o quarto.- Disse Annya tentando animar a mãe que logo esboçou um sorriso de alegria ao ver o interesse da filha.

Rachel puxou Annya pelas escadas a cima. Esta resmungou baixinho.

- Anda. Não sejas preguiçosa.- Disse Rachel respondendo às implicações desta.

Chegaram a um corredor escuro, não iluminado, tinha quatro portas laterais, duas de cada lado, e uma de frente.

- Aquela- disse apontando para a da frente- é a do escritório, esta- disse apontando para uma do seu lado direito- é a da outra casa-de-banho, todos os quartos têm uma casa de banho. Aquela ali- disse apontando para uma outras portas do seu lado direito- é a do quarto das visitas. Esta- disse apontando para uma porta perto de si, e à sua esquerda- é a do teu quarto, a outra é a do meu.

Rachel sorriu satisfeita quando acabou de falar, mas este logo se desvaneceu ao ver o ar desinteressado de Annya.

- Mostra-me então o meu quarto.- Disse Annya tentando mostrar-se interessada, o que não enganou Rachel, que deu um longo suspiro e dirigiu-se até à porta mais próxima de si.

A porta foi abrindo-se lentamente revelando um quarto grande. Tinha um soalho de madeira, e três das suas paredes eram brancas, a quarta, a do lado direito, era de um tom laranja escuro.

Na parede do lado esquerdo havia uma porta que deveria levar à casa de banho. Nesta parede também estava situada uma secretária branca que continha um computador.

Na parede da frente, encostada à parede da esquerda, encontrava-se uma estante de madeira de quatro prateleiras, tinha alguns livros e pequenas molduras com diversas fotos. A única janela do quarto, que se encontrava nessa parede, estava coberta por uns cortinados laranja escuro que se encontravam fechados.

A cama encontrava-se encostada à parede laranja. Era baixa, de casal. Tinha um édredon laranja com várias pequenas figuras, semelhantes a folhas de tons rosa e laranja escuro. O édredon era dobrado até meio, revelando os lençóis brancos. Tinha quatro almofadas, duas filas de duas. Na primeira fila a fronha das almofadas era branca, na segunda fila esta tinha o mesmo padrão que o édredon. Um pouco acima da cabeceira da cama encontrava-se uma pequena estante de parede branca, esta continha também diversas molduras com fotos. Havia também um candeeiro de mesa pousado nesta, tinha uma forma cilíndrica e era de um tom laranja. Ao lado da cama, e encostado a esta, encontravam-se três armários de uma só porta e brancos, dois do lado direito e um do lado esquerdo. A ligar estes, haviam dois armários de parede igualmente brancos só que eram de duas portas. Estes dois armários cobriam um pouco a cabeceira da cama.

Por de baixo da cama havia um tapete laranja que chegava perto da secretária.

No tecto estavam pendurados dois candeeiros vermelhos em forma cone.

- Estou a ver que decoraste o quarto todo, incluindo molduras.- Disse Annya sorriso.

Rachel fez um sorriso desanimado.

- Eu disse-te que havia decorado a casa toda. Só falta mesmo pôr a roupa nos armários e colocar alguns livros e CDs nas estantes.

Annya sorriu.

- Está giro mãe. Tenho que admitir que davas para decoradora.- Rachel sorriu um pouco mais animada.

Aproximou-se de um pequeno banco de esponja azul-escuro, que se encontrava perto da porta, começou a puxar por um puxador de pano e abriu-o, revelando uma espécie de cama.

- É para quando trouxeres amigas.- Murmurou sorrindo.

Annya suspirou.

- Acho que não vou fazer amigas aqui.

Rachel olhou-a com tristeza.

- Não digas isso. Com toda a certeza que vais arranjar muitos amigos, és linda, inteligente e divertida, e por vezes simpática. Que mais precisas.- Disse dando um sorriso encorajador.

Annya suspirou e começou a dirigir-se de novo para a saída do quarto.

- Mostra-me o teu quarto.- Sussurrou.

- Não queres ver a casa de banho?- Perguntou-lhe Rachel.

- Não. Quero ver o teu quarto.- Respondeu-lhe Annya, e dizendo isto dirigiu-se até ao quarto que Rachel lhe havia indicado.

- Annya.- Rachel começou, quando alcançou Annya a meio do corredor.- Eu sei que não gostas disto, mas eu tive que vir. Precisavam de mim.

- Posso saber porque só ao fim de dezasseis anos precisaste de vir?- Perguntou Annya com um olhar inquisidor.

Rachel calou-se e olhou-a tristemente. A memória do que se havia passado à dezasseis anos atrás afectou-a. Fazia muito que não pensava nisso.

- Ele voltou.- Sussurrou.

- Quem? Aquele tipo? Voldemort?- Perguntou-lhe Annya estavam em frente da porta do quarto de Rachel.- Ele voltou à dois anos, porque só agora te preocupaste em vir. Bolas mãe. Eu adorava a Califórnia, e isto é simplesmente tediante.

Rachel olhou-a com uma enorme mágoa.

- Desculpa.- Sussurrou.- Lamento Annya, mas estava na hora de voltar. Eles precisam de mim.

Annya deu de ombros.

- Já vi que vais começar com os enigmas, rara é a questão em que não ponhas um.- Murmurou. A sua mão pousou na maçaneta da porta e girou-a de modo a abrir esta.

A mágoa que existia nos olhos de Rachel aumentou.

Entraram no quarto.

- Vais ver que vais gostar de Londres.- Rachel sussurrou ainda antes de poderem ver o quarto.

Era do mesmo tamanho que o outro.

Tinha as paredes brancas, no chão havia uma alcatifa preta, e tal como o quarto de Annya, na parede à sua frente encontrava-se uma janela coberta por umas cortinas pretas. Na parede esquerda encontrava-se uma cama alta, com um aspecto confortável. As pernas e a cabeceira desta eram feitas de madeira escura. Tinha um édredon preto, dobrado até meio revelando uma manta vermelha e os lençóis brancos. Tinha três filas de duas almofadas. Na primeira tinham fronha branca, na segunda vermelha e na terceira preta.

Em cima da cama, e com o comprimento equivalente ao da cabeceira desta, encontrava-se um quadro com moldura preta que tinha uma grande foto, a preto e branco, era uma foto do mar a embater nas areias, podia-se ver ainda alguns fenos a esvoaçarem pela praia.

Do lado direito encontrava-se a porta que daria à casa de banho, junto a esta estava um armário branco e ao lado deste um espelho de moldura preta pregado à parede. Aos pés do espelho encontrava-se um pequeno baú igualmente preto, fechado por magia. Na parede da frente ainda havia uma cómoda preta, e por cima desta, penduradas na parede, havia duas molduras com formato de um quadrado de 3030. Eram igualmente pretas, e tinham, cada uma, uma foto a preto e branco, em que se poderia ver Rachel e uma criança pequena, com os seus três anos de idade, que deveria ser Annya.

Perto da cama encontrava-se um sofá branco de um só lugar, encostada às costas deste encontrava-se uma almofada vermelha.

- Pusestes as nossas fotos?- Murmurou Annya apontando para as molduras em cima da cómoda.

Rachel sorriu e anuiu com a cabeça-

- Faz o teu género.- Murmurou Annya ao fim de alguns segundos em silêncio.- O quarto.- Acrescentou.

- O meu género?- Rachel arqueou as sobrancelhas.- Como assim o meu género?

- Tu sabes...quarto preto...- Annya aproximou-se da cama, virou-se de costas para esta e deixou-se cair nesta. Quando caiu sobre esta, devido à força do impacto, a cama tentou empurrá-la de novo para cima, o que fez Annya dar um pequeno salto. Esta limitou-se a rir.- Muito confortável.- Disse.

Rachel observou-a rindo-se da atitude de Annya.

- Anda experimentar mãe, ou já estás demasiado velha para isto?- Perguntou Annya tentando provocar Rachel.

Rachel ergueu a sobrancelha e colocou as mãso na cintura.

- Demasiado velha? Eu digo-te quem está demasiado velha...- Dizendo isto dirigiu-se até à cama e deixou-se cair, igualmente, sobre esta. A cama agiu da mesma forma como agiu para Annya.

Ficaram assim durante algum tempo, relaxando na confortável cama, de braços e pernas esticados.

- Então, já gostas mais de Londres?- Rachel tentou de novo persuadir a filha a tal.

- Só porque a casa, o jardim e as divisões desta são giras não significa que o resto do país seja bom!- Respondeu-lhe Annya.

Rachel sorriu.

- Este país é uma seca.- Desabafou Annya por fim.

Rachel começou a rir-se.

- Que foi?- Perguntou Annya franzindo erguendo a sobrancelha.

- Parece-me que chove demasiado em Londres para esta ser uma seca.- Respondeu-lhe Rachel rindo.

Annya revirou os olhos.

- Tu percebeste.- Murmurou.

Annya pegou num elástico e atou o cabelo num elegante rabo-de-cavalo. Rachel observou-a e quando Annya acabou de atar o cabelo, Rachel apressou-se a dizer.

- Não gosto de te ver com o cabelo atado.- Murmurou retirando fios de cabelo que caiu sobre os olhos de Annya.- É demasiado bonito e raro para ser escondido dessa maneira.

Annya bofou de raiva.

- Ai mãe! Já não tenho dois anos para me estares a mexer no cabelo.- Murmurou irritada.

Rachel suspirou.

- Sem dúvida que conseguias ter mais piada quando tinha dois anos.- Murmurou.

Annya voltou a revirar os olhos, e deixou cair de novo as costas na cama. Rachel, que também se havia erguido um pouco, seguiu-lhe o exemplo.

Ficaram em silêncio durante alguns minutos até que Rachel pronunciou-se.

- Tive uma ideia.- Murmurou com grande felicidade. Annya olhou-a curiosa.- Vamos fazer uma lista das coisas boas e más da Califórnia e das coisas boas e más de Londres.

- Isso é fácil, a Califórnia só tem coisas boas, Londres só tem coisas más.- Murmurou secamente.

Rachel arqueou as sobrancelhas.

- Pois bem, então começo eu.- Fez um ar pensativo durante alguns segundos.- Primeira coisa boa de Londres: temos uma vivenda em que não temos vizinhos de baixo ou de cima. Isso permite-nos ouvir música alto, gritar e fazer festas, sem que os velhotes rezingões nos incomodem por as estarmos a fazer.

- É...também já não vamos ter que ouvir as "festas" dos outros às tantas da noite.- Murmurou Annya igualmente pensativa. Rachel sorriu ao ver o empenho da filha na tarefa, talvez conseguisse convencê-la.

- Mais aspectos positivos...- Rachel começou a pensar.

- Posso dizer os aspectos negativos?- Perguntou Annya impacientemente. Havia-se erguido. Rachel seguiu-lhe de novo o exemplo.

- Sim. Vai dizendo os aspectos negativos que eu penso nos positivos.- Respondeu-lhe anuindo afirmativamente com a cabeça.

- Então... Primeiro aspecto negativo: Só permitem fazer magia fora da escola a partir dos dezassete anos.- Começou Annya.

- Eu considero isso um aspecto positivo.- Interrompeu-lhe Rachel.- Está bem, está bem. É um aspecto negativo.- Acrescentou ao ver o olhar de censura que Annya lhe fez.

- Segundo aspecto negativo: Chove muito. Terceiro aspecto negativo: Não há praias. Quart…

- Hey, Hey, Hey. Para aí, para aí.- Rachel interrompeu de novo Annya, pondo a mão à frente desta como quando os polícias de trânsito mandam parar um carro.- Como assim não tem praias? Inglaterra é cercada por mar.

- Está bem, mas está sempre a chover ou a nevar, logo não se pode ir para esta.- Justificou-se Annya.

- Mesmo assim esta tem praias.- Murmurou Rachel entre dentes.

- Quarto aspecto negativo: As pessoas são antipáticas, de nariz empinado, com mania que são grande coisa mas não valem praticamente nada.

- Que exagero!- Exclamou Rachel ofendida.- Eu vivi aqui e não sou assim.

- Quase todas as pessoas são.- Corrigiu Annya.- Assim está melhor?

Rachel anuiu com a cabeça.

- Era uma pergunta de retórica. Continuando…Aqui não há pessoas de jeito.- Disse.- Quero dizer não se vê muitos homens muito atraentes.- Acrescentou ao ver o ar confuso que a sua mãe esboçou.

- Por acaso até há.- Rachel mostrou-se de novo ofendida.- Muitos mesmo. Conheci cá cada um…continua…

- Eu ainda não vi nenhum…- Murmurou Annya tristemente.

- Achas que os ias ver às sete da manhã?- Perguntou Rachel rindo-se.

- Está bem. Mas eles não são como aqueles californianos a andar de prancha na mã e com um enorme bronze, com um corpo espectacular…- Annya fez um olhar sonhador.

- E a entrar na água e fazer surf.- Rachel também esboçou um olhar sonhador.- HEY! Tu não podes estar a apreciar os homens mais velhos. Só os de catorze anos. O resto é tudo mais velho!

Annya revirou os olhos.

- Tenho dezasseis anos, mãe.- Sussurrou.

- Mesmo assim. Os californianos gostosos de prancha na mão são meus!- Rachel deitou a língua de fora.

Annya voltou a revirar os olhos mas depois riu-se e atirou um das almofadas a Rachel. Esta riu-se e lançou-a de volta.

- Além disso- Annya continuou- não há acção em Inglaterra, não é como a Califórnia, mistério adrenalina… As pessoas daqui são secantes.

- Hey. Eu vivi aqui e não sou secante!- Rachel olhou Annya irritada.- E acredita que aventura era uma palavra que costumava dominar o nosso dia-a-dia, aventura e adrenalina.

- Eu não tinha assim tantas certezas mãe…- Cantarolou Annya baixinho.

- Estás a insinuar algo?- Perguntou Rachel erguendo a sobrancelha.- Que eu saiba eu devo ser uma das mães mais bacanas que já se conheceu. Quem fazia festas até às tantas da manhã com as melhores músicas que alguma vez existiram? Quem é que te ensinou a andar de moto ainda no inicio deste ano? Quem te ensinou os melhores feitiços que sabes?

- Está bem…és uma mãe diferente, creio que em tudo. Mas mesmo assim…este país continua a ser uma seca!- Rachel riu-se.

- És um caso perdido.

Os raios alaranjados do sol bateram nos cortinados pretos, dando-lhes diversos tons.

Rachel sorriu. Pegou No braço de Annya levantou-se e puxou-a consigo.

- Que foi?- Perguntou Annya confusa.

- Quero-te mostrar algo, talvez te mude de opinião em relação a Londres.

- Está bem, mas duvido isso!- Rachel riu-se.

Puxou Annya até à saída do quarto, depois pelas escadas e por fim pela porta de entrada. Saíram e dirigiram-se até ao jardim. Caminharam pela erva aparada, junto aos canteiros de lírios e às sebes. Percorreram o jardim até chegarem à parte de trás da casa. As sebes impediam a visualização do que estava do outro lado destas. Rachel apoiou-se no muro de sebes e fez um sinal a Annya para que esta a imita-se. Annya assim o fez.

Havia um passeio, seguido ao lado por uma pequena estrada, que era interrompida de novo por um pedaço de passeio, onde haviam de quinze em quinze metros uma árvore. A seguir ao pequeno passeio haviam um pequeno muro que impedia a queda de uma pessoa para o rio que separava aquela rua da outra. Os reflexos que os raios de sol faziam ao embater na água eram belos. Batiam contra o muro, dando-lhe cores entre o laranja, vermelho e castanho. Alguns dos reflexos chegavam até Rachel e Annya.

Ao fundo, por entre uma fraca neblina, podia ver-se o sol a romper por trás das casas de aspecto antiquado.

- É magnífico.- Disse Annya soltando um leve suspiro.

- Se desceres pela Rua - disse apontando para o lado esquerdo – vais dar ao rio principal e vais poder ver o Big Ben. Sabes, Londres tem muitos monumentos bonitos e importantes, e além disso é repleta de belos jardins.- Disse com um sorriso.

- Até pode ter coisas giras. Mas eu continuo-o a preferir a Califórnia.

Rachel riu-se.

- És definitivamente um caso perdido.- Murmurou.

Annya riu-se.

- Bem, vai desfazer as malas. Hoje ainda te quero inscrever em Hogwarts. Por isso despacha-te.- Ordenou-lhe Rachel.

- Estava na esperança que se não desfizesse as malas poderia ir-me embora…- Confessou Annya.

- Bem podes tirar essa ideia da cabeça. Não vamos sair daqui tão cedo. Agora despacha-te!

Annya suspirou desanimada e dirigiu-se de novo para casa.

Rachel ficou a olhar ainda mais um pouco para o nascer do sol, depois lançou um longo suspiro e foi ela mesma desfazer as suas malas.

Andou até à entrada de sua casa e entrou nesta. Subiu as escadas e entrou no seu quarto.

Com um gesto da varinha desfez a mala e arrumou a roupa no armário, depois pegou numa pena que havia em cima da cómoda e começou a escrever num pedaço de pergaminho.


20 De Agosto de 1997
Querido Sam,
Escrevo-te a dizer que voltei. Estou de volta! Eu e a Annya. Sei que disseste que se calhar o melhor era não ter vindo, mas tive que voltar. Talvez seja de mim. Sou do contra. Espero que esteja tudo bem contigo.
Escreve-me de volta se conseguires.

Com muito amor
Rachel
P.S: Sabes algo da Ordem?


Aproximou-se do pequeno baú, murmurou umas palavras apontando-lhe a varinha, e este abriu-se.

Rachel guardou a carta, enviá-la-ia depois.

As suas mãos começaram a explorar o pequeno baú preto. Fechou os olhos. As suas mãos tocaram num objecto com um formato de livro. Pegou nele e retirou-o.

Sentiu o seu estômago enrolar-se enquanto dava um nó. As suas mãos começaram a tremer, esta foi obrigada a sentar-se no sofá branco que tinha no quarto.

Abriu o álbum. Na primeira página pode ver as fotos que havia tirado com Lily e Claire no seu primeiro ano em Hogwarts. Lágrimas caíram em cima do álbum.

Uma facada trespassou-lhe o coração quando viu uma foto sua com Sirius, Lily, James, Claire, Alice, Frank, Remus, Marlene e Pettigrew apareceu.

A dor havia-se acalmado com a distância, assim como nojo e ódio que sentia de si. Era quase indolor o seu dia-a-dia, mas agora, ao voltar a pôr os pés naquela terra que só lhe trazia memórias de dor e sofrimento, a dor horrorosa e o nojo haviam voltado.

Tentou recuperar o folgo que havia perdido.

Os olhos verdes e cruéis atravessaram a sua mente, trazendo-lhe ainda mais dor.

Estava ali numa missão, numa missão que prometera fazer a Lily.

Respirou fundo.

- Mãe?- Pode ouvir a voz de Annya ao fundo do corredor.

- Já vou.- Respondeu-lhe.

Fechou o álbum com força.

Recordações, recordações que não poderiam voltar a atormentá-la.

Levantou-se e guardou o álbum.

Havia coisas que não poderiam ser recordadas.

-.-

Annya olhou em seu redor, observando ao pormenor o local em que ela e Rachel haviam acabado de materializar-se.

O átrio, grande e escuro, encontrava-se quase vazio, somente ocupado por algumas pessoas que passavam por este, apressadas, vindas aos trambolhões de várias lareiras espalhadas pelas paredes escuras do átrio. No meio deste havia uma enorme estátua negra, onde se poderia observar dois feiticeiros que olhavam para o átrio com um olhar bastante superior e que trajavam mantos exuberantes. Estavam sentados num trono formado por pequenas pessoas (mulheres, homens e crianças), despidas e com expressões de puro sofrimento por susterem tamanho peso. Não era difícil de adivinhar quem representavam as pessoas nuas. Na base da estátua, gravadas em dourado, podiam-se ler as seguintes palavras: MAGIA É PODER.

Ao fundo do átrio podia ver-se uns enormes portões dourados que davam a um outro átrio, mais pequeno, onde haviam pequenas filas, de uma ou duas pessoas, em frente a umas pequenas grades douradas que deveriam das acesso aos elevadores. Eram umas vinte no máximo.

Annya observou o átrio, os seus olhos pararam na grandiosa estátua. Rachel observou esta, com um ar de choque, horror e nervosismo.

- Costuma estar aqui uma fonte dourada.- Murmurou abalada.- Não isto.

Annya nem pareceu escutá-la, observava cada pormenor da estátua, até que parou, voltou-se para o portão e fez um sorriso cínico.

- É muito...- Começou por dizer, mas foi interrompida por Rachel.

- Horrorosa e nazi.- Completou Rachel.

Algumas pessoas que acabavam de vir das lareiras olharam-nas intrigadas.

- Eu ia dizer obscena. Mas esses adjectivos também servem.- Dizendo isto começou a caminhar-se até aos portões, com o seu andar gracioso e superior.

Rachel observou mais um pouco a estátua, vários arrepios atravessaram-lhe a espinha. Algo ali não estava nada bem. Talvez Annya tivesse mesmo razão, talvez não devessem ter voltado.

Suspirou e começou a seguir Annya. Pode sentir, que atrás de si, várias pessoas a olhavam intrigadas e receosas. Talvez aquilo não estivesse mesmo nada bem.

O pequeno átrio era ocupado por pequenas filas de pessoas Annya ia começar a dirigir-se a um elevador, mas parou ao observar um pequeno cartaz rosa com letras douradas.

- Sangues de Lama e os perigos que representam para um sociedade de puros-sangue?!- Começou a rir-se. Diversas pessoas olharam-na cautelosas.- Muito democratas.

Rachel observou o cartaz com pavor. A sua face havia perdido toda a cor.

Dumblodore nunca permitiria tal coisa, o que se passava ali?

A compreensão começou a apoderar-se do seu corpo aterrorizado, talvez Dumblodore não tivesse capacidades para ajudá-los, talvez estivesse...

- Não, isso é impossível...- Murmurou baixinho, Annya olhou-a confusa, Rachel limitou-se a lançar-lhe um fraco sorriso.

Uns passos pesados atrás de si, despertaram a sua atenção para o centro do pequeno átrio. Voltou-se para ver quem era o interlocutor dos passos largos.

- Mattson?- A voz de Lucius Malfoy sobressaiu-se sob o silêncio que os poucos feiticeiros que passavam pelo o pequeno átrio faziam.- A sangue de lama da Mattson, regressou.

A sua voz demonstrava um certo histerismo e excitação que contrastavam com a sua pele pálida e cansada e o brilho de desânimo que passava pelos seus olhos azul acizentado.

Rachel observou Malfoy com atenção, naquele momento em que a criatividade lhe fugira, a última pessoa com quem lhe apetecia deparar-se era com toda a certeza a doninha do Malfoy. Última não, talvez penúltima.

- Malfoy.- Murmurou Rachel com um leve sorriso provocador. Começou a pensar nas diversas bocas que lhe poderia lançar naquele momento, mas nenhuma lhe veio à mente.

Os olhos de Malfoy começaram a passar pelo corpo curvilíneo de Rachel, um pequeno sorriso malicioso formou-se nos seus lábios. Um rapaz ao seu lado, que era extremamente parecido consigo, com iguais cabelos loiros mas curtos, olhos azuis acizentados e pele pálida, observava com curiosidade e nervosismo a situação que começava a desenrolar-se entre Rachel e Malfoy, olhava de um para o outro, mas por vezes os seus olhos seguiam o trajecto dos do pai e paravam na silhueta elegante de Rachel.

- Então sangue de lama, viste ver se aceleramos a tua morte?- Perguntou Malfoy por fim.

Rachel olhou-o com ódio. Ia abrir a boca para lhe responder, quando Annya, que se encontrava atrás de si, deu um passo largo para o lado esquerdo, e entrou no campo de visão dos Malfoy. Estes olharam-na com curiosidade. Os olhos de ambos percorreram o corpo da jovem, esta limitou-se a olhá-los com um sorriso de satisfação.

Malfoy deu um passo em frente, o corpo de Rachel endireitou-se e esta tomou uma postura de quem se preparava para contra-atacar caso necessário.

- Mattson, procriaste?- Começou a gargalhar com a própria piada, algumas pessoas olharam-no curiosas. Rachel ergueu a sobrancelha.- É uma mestiça ou sangue de lama. Possivelmente sangue de lama, porque quem seria o puro sangue que iria querer uma sangue de lama tão nojenta como tu?

Voltou a rir-se. A cara de Rachel contorceu-se com ódio, enquanto que um brilho estranho atravessou os olhos de Annya, podendo ser tanto de ódio como de excitação.

Annya cobriu a boca com as mãos e arregalou os olhos, como se tivesse acabado de ver algo surpreendente e inacreditável. Soltou uma leve exclamação de falsa admiração. Ambos os Malfoy e Rachel olharam-na confusos.

- Mãe!- Exclamou.- Tinhas razão, este país é mesmo um máximo, aqui até as doninhas fedorentas falam! Demais!

Malfoy olhou-a surpreendido, Rachel começou a tossir para disfarçar as gargalhadas. Algumas pessoas que chegavam pararam para observar a cena.

- Como te atreves sua fedelha...- Malfoy começou a aproximar-se de Annya ameaçadoramente, esta continuou com a sua postura descontraída enquanto que Rachel voltou à postura de contra-ataque.

Annya riu-se.

- Desculpa não poder ficar a brincar contigo.- Os olhos de Malfoy brilharam, estava a pouco mais de um metro de Annya, Rachel encontrava-se ao lado deste, agarrado a varinha, que se encontrava apontada para o chão, com firmeza.- Mas é que eu e a minha mãe temos coisas mais importantes para fazer, esse trabalho- disse sacudindo a mão para Lucius Malfoy com desdém- é para os funcionários do zoo, algo que nenhuma de nós é. Adeusinho.- Deu um leve aceno e dirigiu-se até ao elevador, tocando no botão para chamar este.

Rachel não conseguiam reprimir as gargalhadas com o comentário que a filha fez. Malfoy contorceu a cara como quem acabara de tomar uma dose de algo com um péssimo sabor. Os seus olhos fulminaram Annya por trás.

- Suas imundas.- Disse com desprezo.- Como se atrevem a falar assim com alguém que tem o sangue mais puro do que aquele que alguma das vossas cabecinhas imundas, alguma vez poderia sonhar ter. Merecem ir para Azkaban e apodrecerem lá. Sangues de Lama. Imundas. Impuras.- Continuou a murmurar mais uma série de alcunhas e adjectivos.

Rachel retribuiu-lhe o olhar de ódio e abriu a boca para dar-lhe uma resposta, mas de novo foi interrompida por Annya, que se havia voltado ao ouvir o último palavrão que Malfoy lhe dissera.

As suas expressões alegres, provocadores e serenas haviam sido transformadas em umas frias e cruéis, os seus olhos não brilhavam de euforia ou satisfação, mas sim de pura crueldade e ódio. Malfoy sobressaltou-se ao ver uma boa imitação do olhar do seu mestre.

Annya, sem sequer esperar pelo consentimento da mãe, começou a avançar até Malfoy, sem nunca substituir o seu olhar frio. Andava de uma maneira elegante mas ao mesmo tempo perigosa e superior.

- Nós podemos ser impuras, nojentas e sangues de lama- dizia a Malfoy enquanto avançava até este- mas pelo menos...

- Annya.- Rachel chamou a filha, tentando faze-la recuar, mas esta nem lhe prestou atenção.

- Mas pelo menos- repetiu, encontrava-se a centímetros de Malfoy, os olhos de Malfoy estreitaram-se- ainda temos as nossas varinhas.

Dizendo isto lançou um sorriso de desdém, deu de ombros e voltou para o elevador, que chegara no preciso momento com um pequeno sinal.

Tanto os Malfoy como Rachel, observaram a jovem, estupefactos. A pele de Lucius Malfoy que já se encontrava bastante pálida, conseguiu perder ainda mais a cor, ficando com um aspecto muito doentio. Os seus olhos brilhavam tanto pelo choque como pelo medo que se apoderara do seu corpo e mente. Quem era aquela miúda para saber tanto sobre ele?

- Anda mãe.- Ordenou Annya baixo.

Rachel nem contestou, seguiu a filha até ao elevador ainda surpreendida.

As grades douradas fecharam-se, dando o sinal que o elevador não tardaria a descer. Mas antes de tal acontecer, Rachel e Annya ainda poderão observar dois Malfoy petrificados pelo espanto e terror, que uma bela miúda de dezasseis anos, lhes provocara ao demonstrar as suas tenebrosas capacidades.

Quem seria aquela garota?- Várias perguntas formavam-se nas mentes dos poucos que assistiram à estranha cena que decorreu no pequeno átrio.- Como poderá uma garota estrangeira, saber tal coisa? Quem será ela?

Annya fechou os olhos, podia ouvir os pensamentos inúteis daqueles ingleses de puro sangue se quisesse, de tal forma que os ouviu.

Se havia algo que Annya Mattson gostava de fazer, para além de magia e desvendar mistérios, era "ler" os pensamentos daqueles que a tentavam mandar abaixo. Era uma arte rara, legimancia, era só concebida para aqueles que a estudavam bastante, só para aqueles que eram excelentes feiticeiros, e por muito estranho que fosse, Annya conseguira-o fazer sem grandes esforços, ouvira falar de tal uma vez e tentou, falhou à primeira mas ao fim de algumas dez vezes, já o conseguia fazer na perfeição.

Sabia que Rachel a observava com indignação, fazia-o sempre que sabia que ela andara a vasculhar as mentes dos outros, por muito maus que fossem. Rachel era assim, não gostava que Annya utiliza-se as tão hábeis capacidades que possuía, não que Annya fosse muito de respeitar essa regra, afinal tal como a sua mãe lhe ensinara, as regras existem para serem quebradas.

- Escusas de me dar o sermão de que não devo ler mente, mãe.- Murmurou abrindo os olhos.

Rachel encontrava-se à sua frente, com os braços cruzados e um olhar severo. Tinha uma mente impenetrável, não que Annya alguma vez a tentara visualizar, não se atreveria a fazer tal, mas sabia que mesmo que tentasse isso iria ser quase impossível, se não o era mesmo, de se ler. Apesar de ter um olhar profundo que revelava todos os seus sentimentos e tudo o que sentia, ela não deixava passar as mentes coscuvilheiras além disso, não lhes revelava os seus segredos e pensamentos. Rachel podia não ser boa em legimancia, mas em contrapartida era uma excelente oclumens.

Os olhos azuis profundos de Rachel mostravam a indignação que sentia ao ver Annya a ferir uma das regras que havia imposto, mas mesmo tentando escondê-lo, não conseguia deixar de mostrar o orgulho que tinha em ver a sua filha a dar uma grande humilhação ao Malfoy, ao revelar o segredo que mais lhe causava dor. Era até algo que a deixava feliz.

- Vais dizer-me que não gostaste de saber o que estava a deixar a doninha com um ar tão abatido.- Rachel não se abstraiu da sua posição de pura irritação, não falou, mas apesar de toda a frieza e irritação que tentava transmitir à filha por esta ter quebrado uma das regras que Rachel considerava mais importantes, os seus lábios não puderam deixar de dobrar-se ligeiramente para cima demonstrando um sorriso de pura satisfação.

O elevador parou com um enorme tremor. Uma voz feminina começou a proclamar em voz alta.

- Nível Quatro, Departamento de Regulação e Controlo de Criaturas Mágicas, incorporando as Divisões de Animais, Seres e Espíritos, o Gabinete de Ligação dos Goblins e o Serviço de Aconselhamento sobre Pragas.- A porta de grades douradas deslizou, ficando assim durante alguns segundos, começando a fechar-se de novo, até que uma mão a segurou impedindo-a de se fechar.

Um homem alto e magro, com cabelo negro, olhos igualmente negros sem emoção, com uma barba curta e negra e que trajava um manto igualmente negro que lhe esvoaçava em redor dos pés, entrou dentro do elevador.

Não cumprimentou nenhuma das presentes. Ficou alguns segundos sem reparar nas presentes, até que os seus olhos repararam nestas. Começou a olhá-las de esguia, reparando primeiramente nos corpos para depois reparar nas roupas, aí arregalaram-se sem se preocuparem com a impressão que poderiam dar, o homem fez uma expressão de nojo.

Annya que se começava a irritar com a falta de educação e falta de bom senso do homem, ao ver este fazer tal começou a vasculhar a sua mente. Este não tinha qualquer resistência em torno desta.

- Como é possível haver umas ainda com o descaramento de saírem à rua. Ainda mais com roupas tão nojentas, tão muggles. Sangues de Lama. Merecem morrer todos. Malditos nojentos, não merecem secar pisar o chão tão nobre quanto este.- Pensava o homem.

Annya saiu da sua mente, aquela frase bastou-lhe para saber o carácter do homem. Ouvira apenas que era um chefe de um dos gabinetes, Ligação aos Goblins, pelo que entendera. Nunca tivera um grande emprego, mas desde que Voldemort dominara o Ministério, tinha como passa tempo denunciar os colegas que eram sangues de lama, subindo assim no seu posto de trabalho. Annya nem procurara saber o nome do homem, o nome dos cretinos nunca lhe interessara.

Eram assim como estavam as coisas ali em Inglaterra. Talvez isso servisse para convencer a sua mãe que não era a melhor altura para Londres.

O elevador voltou a parar com o enorme tremor, mas Annya não prestou atenção à voz feminina, reparou apenas que o sujeito abandonava o elevador. Respirou aliviada.

- Foi-se embora finalmente.- Murmurou.- Estava a pouco de não lhe lançar uma maldição imperdoável.

Rachel revirou os olhos.

- Leste-lhe a mente, duas vezes seguidas hoje. Creio que seja por termos mudado de casa. Isso é alguma espécie de birra? É que não resulta comigo.

- Não mãe.- Respondeu-lhe Annya.- O tipo é que já me estava a enervar com os olhares dele. Parece que tem problemas com roupa muggle, e possivelmente com a música destes.- Annya começou a olhar para a sua própria roupa.- Eu cá acho o preto bem giro, mas quem vai entender estes ingleses?

Rachel continuou a não olhar para Annya.

- Anti-democrátas.- Murmurou com desprezo. Isso fê-la lembrar-se de algo. Um sorriso formou-se nos seus lábio, hora do ataque.- Sabes da última?

- Não.- Respondeu-lhe Rachel sem grande interesse.

- Parece que aquele sujeito...Volamort, não sei se diz-se assim, chegou mesmo ao poder. Ouvi isso na mente do homenzinho.- Annya fez um ar pensativo.- Isso deve explicar os cartazes rosas de mau gosto e a estátua do "MAGIA É PODER". Está a dominar o Ministério, deve ser o ministro daqui. Não parece que nos vamos dar muito bem.

Ao contrário do que Annya esperava, Rachel não demonstrou qualquer tipo de emoção ou sentimento, continuou quieta a olhar para as grades douradas, mas Annya pode notar o leve medo que se apoderou um pouco do seu belo olhar.

A voz voltou a anunciar mal o elevador parou. As grades abriram-se fazendo Rachel sair rapidamente do elevador seguida de uma Annya ligeiramente desanimada.

Estavam num corredor que tinha uma longa alcatifa vermelha, que deveria chegar até ao fim deste. As paredes eram cheias por várias portas, cada uma com o número do gabinete. Por vezes o corredor ia dar a um mais pequeno e mais estreito.

Rachel andou pelo corredor sempre olhando de uma porta para outra, Annya seguia-a com um passo apressada para acompanhar o da primeira.

O corredor estava deserto, algo estranho visto que já eram oito horas, e a essas horas já deveria haver pessoas a trabalhar.

Os passos de Annya e Rachel eram o único barulho possível de se ouvir no corredor. Podia-se ouvir até o eco destes.

- Podes esperar mãe?- Perguntou Annya irritada.- É que eu ainda não consegui adquirir a capacidade de voar.

Rachel continuou com o seu andar apressado.

- Não voas, mas talvez esteja na altura de aprenderes a andar um pouco mais depressa.- Respondeu Rachel igualmente irritada.

Annya correu um pouco para conseguir apanhar Rachel.

- O que se passa?- Perguntou olhando curiosa para Rachel.

- Não se passa nada. Porque perguntas?- Rachel não parou, olhou apenas Annya pelo canto do olho.

- Pareces…sei lá… apressada. – Rachel sorriu e parou abruptamente, fazendo Annya parar bruscamente e quase cair para a frente.

Rachel observou a porta que se encontrava do seu lado direito.

- Queres matar-me ou algo do género?- Annya observou Rachel com algum aborrecimento.

Rachel sorriu. Suspirou e bateu levemente na porta à sua frente.

Uma voz roca mandou-a entrar, esta olhou nervosa para Annya antes de abrir a porta, Annya lançou-lhe um sorriso encorajador.

Rachel abriu a porta lentamente, entrou, Annya seguiu-a.

Haviam três pessoas dentro da sala, todas exerciam longos mantos, mas podia ver-se que o que se encontrava de pé era o que trajava o manto mais exuberante, os outros dois encontravam-se sentados atrás de uma secretária. Os três, uma mulher e dois homens, voltaram a cabeça para a porta onde Rachel e Annya se encontravam.

O homem de manto exuberante arregalou os olhos ao ver Rachel, depois sorriu com um ar superior.

- Ena quem temos aqui?- Disse dirigindo-se até Rachel e Annya.- A sangue de lama, ex-auror da Mattson.

- Yaxley!- Rachel retribuiu-lhe o sorriso.- A última vez que te vi estavas a ir para Azkaban.

Yaxley olhou-a com ódio, as suas faces tornaram-se rígidas e inexpressáveis.

- Não tarda nada é o sítio onde estarás, Mattson.- Sibilou. Os olhos deslocaram-se até Annya.- Quem é a miúda?

Rachel olhou para Annya, que até então se tinha mantido em silêncio, esta começou a observar Yaxley com um olhar avaliador.

- A minha filha. Ia transferi-la em Hogwarts- olhou para os três com desdém- mas vendo por quem está frequentada, mudei de ideias.

Annya sorriu com uma enorme satisfação.

A mulher que ainda não se havia pronunciado lançou uma gargalhada estridente.

- Ela tem que ir para Hogwarts, são ordens do ministério.- Disse rindo-se.- Se tiver sangue digno, o que eu duvido, poderá entrar em Hogwarts, senão irá para Azkaban para acompanhar-te. Deves estar com pena de ter voltado Mattson.

Yaxley começou a rir-se, tanto Rachel como Annya olharam-no com ódio.

- Os dementors vão ficar contentes por ter a companhia de umas carinhas tão bonitas.- Disse rindo-se maldosamente.- Vais ver como é bom Azkaban, Mattson. Os dementors vão ficar contentes- repetiu- têm andado com muita pouca diversão ultimamente.

Os três devoradores riram-se. Rachel olhou-os ainda com mais ódio.

- Então porque nãos os vais animar tu, Yaxley.- O sorriso trocista de Yaxley desapareceu.

Ia responder mas o outro homem pronunciou-se.

- Sentem-se.- Disse friamente apontando para duas cadeiras que se encontravam à sua frente.- Temos algumas questões para vos pôr.

Rachel começou a dirigir-se para uma delas, seguida por Annya.

- Passei bem, obrigada.- Respondeu rudemente enquanto se sentava numa cadeira.

A mulher gargalhou.

- Não queremos saber como passaste. Por nós era melhor teres morrido, menos uma imunda no mundo.- Disse olhando com desprezo tanto para Rachel como para Annya.- Menos duas.

- Devoradores da Morte.- Sussurrou Rachel ao ouvido de Annya, tentando explicar-lhe o que se passava.

- Já tinha percebido.- Respondeu Annya ríspida.

Yaxley aproximou-se da cadeira de Rachel e empurrou-a mais contra a secretária.

- Não sabes o tempo que eu esperei por isto.- Susurrou ao ouvido desta.- O dia em que te veria na cela onde me puseste a passar pior do que aquilo que passei, Sangue de Lama.- Lançou uma gargalhada fria.- Vou ver-te todos os dias, quando estiveres em Azkaban, vou rir-me da tua cara de sofrimento. Vou rir-me ao ver-te no local onde mereces estar, Sangue de Lama imunda.

Cuspiu para o chão aos pés de Rachel, esta não fez qualquer movimento para além de olhá-lo com rancor.

- Yaxley, deixa-nos começar.- Disse a mulher com um sorriso gélido.- Não tarda nada, poderás pôr essas duas com os dementors.

Rachel riu-se.

- Ela tem um sangue mais puro que o de vocês todos juntos.- Disse rindo-se.

- Cala-te.- Ordenou-lhe o homem.- Vamos começar. Yaxley- voltou-se para o homem que ainda se encontrava ao lado de Rachel- vais ficar por aqui.

- Claro, Carrow. Não perderia isto por nada deste mundo.- Respondeu-lhe Yaxley.

Yaxley começou por se sentar numa mesa que havia no pequeno gabinete.

Rachel inspirou fundo. Annya continuava sem se pronunciar, observava, atenta o que desenrolava.

- Temos que começar por estabelecer a árvore genealógica, para ver se à sangue bruxo no sangue dela.- Começou por dizer a mulher.

- E o que é preciso para fazerem a árvore genealógica dela?- Perguntou Rachel com uma ligeira curiosidade, algo começava a não agradar-lhe.

- Comece por dizer-nos quem é o pai e a que família bruxa pertence.- Um sorriso insensível formou-se de novo nos seus lábios.- Algo que não me parece acontecer neste caso.

Annya olhou para a mulher com raiva.

- Pa…pai.- Balbuciou Rachel.

- Sim mãe.- Respondeu Annya sem retirar os olhos da mulher.- As pessoas normais costumam ter um pai e uma mãe.- Uma gargalhada fria soltou-se da sua garganta. Carrow, Yaxley e a mulher olharam-na confusos.- Bem podem esquecer essa ideia. Ela nunca me disse quem era o meu pai durante estes dezasseis anos, o que vos faz pensar que ela vos vai dizer agora?

Rachel sorriu orgulhosa.

- Oiçam o que ela está a dizer. A menina sabe.

Annya franziu o sobrolho.

- Menina?- Perguntou ofendida.

- Sim Annya, menina…

- Então como pensas pôr a tua filha em Hogwarts, Mattson?- Perguntou a mulher.

- Não vou para Hogwarts, fácil.- Disse Annya sorrindo.

- Queres ir para Azkaban?- Perguntou Carrow erguendo uma das grossas sobrancelhas.

- Não.- Respondeu Annya O seu sorriso alargou-se.- Saímos desta sala, dirigimo-nos para a saída, pegamos no primeiro avião que virmos e vamos para os Estados Unidos. E ficamos todos felizes.

- Não me parece.- Respondeu Rachel séria.

- Ninguém vai sair daqui.- Disse Yaxley brutamente.

Annya cruzou os braços e bufou com raiva.

- Desmancha prazeres.- Murmurou.

Rachel fez um ar pensativo. Um sorriso formou-se nos seus lábios.

- Não há uma outra maneira de verem se há magia no sangue da Annya, quero dizer, se ela herda de alguma linhagem pura?- Perguntou.

Carrow trocou um olhar com a mulher.

- Sim há.- Respondeu Yaxley.- Ela dá-nos uma amostra do seu sangue e nós com um feitiço vemos se ela descende de uma linhagem digna. Mas creio que nem vale a pena desperdiçar tempo. Filha tua só pode ser tão impura quanto tu.

Rachel revirou os olhos e suspirou.

- Experimenta. Nem que seja só para me humilhares mais.- Sorriu ao ver o ar pensativo de Yaxley. Sabia manipular quando era necessário.

- Não faz diferença nenhuma tentarmos, já sabemos a resposta.- Disse Carrow.- Rachel sorriu.

Yaxley deu de ombros.

- Pois bem, façam como entenderem.- Um sorriso cruel formou-se nos seus lábios.- Mattson tu vais comigo para a Comissão de Registo dos que Nasceram Muggles. Depois a tua cria vai ter contigo.

Dizendo isto segurou no braço de Rachel e puxou-a com força.

- Larga-me.- Bradou Rachel com fúria.- Eu sei caminhar e sem muito bem onde isso fica, não preciso de seguranças.

- Não vou permitir que fujas.- Gritou Yaxley.

- Eu não fujo, não sou cobarde.- Os olhos de Rachel voltaram-se para os de Annya que observava atenta a cena.- Além disso tenho aqui a minha filha.

- Muggles.- Atirou com desprezo.- São capazes de abandonar as suas próprias crias para se salvarem.

Rachel olhou-o com ódio.

- Eu não fujo de coisas inúteis.- Respondeu.

Yaxley olhou-a não muito convencido. Pegou na varinha e apontou-a a Annya, Rachel olhou para esta com receio.

- O que pen...- Começou à procura da sua própria varinha mas Yaxley interrompeu-a.

- Se sei que fugiste- Começou este por dizer- aqui quem paga é a mestiça.- Disse fazendo um leve aceno com a varinha na direcção de Annya.

Rachel olhou-o assustada.

- Eu não fujo.- Repetiu.

- Espero bem que não. A não ser que queiras ter uma cria morta.- Disse Yaxley com crueldade.

Os Carrow começaram a rir-se friamente.

Rachel olhou para Annya.

- Sei que aquilo vai demorar, por tanto, mal saias daqui vai para a Digon All, compra as tuas coisas e depois vai para casa.- Olhou para os três devoradores com receio, estes tinham sorrisos vis no rosto.- Até mais querida. Ai daquele que tocar com uma unha num cabelo da minha filha.

Os três riram-se.

- Como se tu nos pudesses fazer algo, Sangue de Lama.- Disse a mulher rindo com prazer.- Tens muita sorte se a tua filha sair daqui inteira.

- Mas possivelmente se sair daqui viva é para ir ter contigo a Azkaban, Mattson.- Disse Yaxley rindo-se do mesmo modo.

Rachel olhou-os com um profundo ódio, depois olhou com carinho para Annya e fez-lhe um pequeno aceno. Abriu a porta e saiu.

- Até mais, Annya.- Disse enquanto saía.

As gargalhadas dos três Devoradores da Morte ainda ecoaram pelo pequeno gabinete, mas logo cessaram.

- Não te preocupes miúda. Não tarda nada, estarás ao lado da mamã.- Disse Yaxley rindo, sendo acompanhado por Carrow e a outra mulher.

Annya olhou-os com uma enorme frieza e ódio.

A mulher pegou na varinha e ergueu-a.

- Estende o braço.- Ordenou a Annya.

Annya olhou-a com desconfiança, mas depois, vendo que estava em desvantagem, estendeu o braço esquerdo como lhe fora exigido. A mulher conjurou uma pequena taça de barro, que colocou por debaixo do braço estendido de Annya.

- Não te preocupes.- Disse com um grande sorriso que lhe mostrava quase todos os dentes amarelos.- Isto vai doer.

Annya lançou um sorriso falso, enquanto que a mulher e os outros dois homens soltavam sonoras gargalhadas.

A mulher murmurou um feitiço imperceptível para os ouvidos de Annya.

De inicio sentiu um frio incomodativo na zona do braço, mas logo começou a sentir uma dor gélida e uma imensa agonia e fraqueza.

A sua cara contorceu-se ligeiramente de dor e agonia. Yaxley e os restantes lançaram sorrisos satisfeitos.

Aos poucos a dor foi passando. Annya podia começar a sentir dormência no braço inteiro, em especial na sua mão esquerda. Abriu e fechou esta, repetidas vezes, quando sentiu o feitiço a acabar, de modo a tentar ganhar força nesta.

Começou a sentir-se tonta e fraca, e ainda conseguia sentir arrepios de frio e de dor a percorrerem-lhe a espinha e todo o seu braço dormente.

- Doeu?- Perguntou Yaxley aproximando-se do pequeno grupo. Um sorriso cruel estava desenhado nos seus lábios finos.

Annya retribuiu-lhe o sorriso.

Os seus olhos foram parar à pequena taça de barro, esta estava cheia até metade com sangue, o seu sangue. Haviam feito de propósito. Isso explicou a enorme fraqueza que sentia, com certeza que se encontrava pálida.

- Vamos ver de que sangue és feita.- Disse Yaxley rindo-se, mas logo acrescentou à frase.- Não que eu tenha dúvidas de qual seja a tua imunda matéria.

Risos frios soltaram-se das gargantas dos três devoradores.

Yaxley apontou a varinha à taça e de novo um feitiço inaudível fez desencadear uma luz azul clara na ponta da varinha, esta percorreu o sangue fazendo este criar pequenas ondulações.

De inicio nada aconteceu, o sangue continuou com o seu tom vivo. Os olhares dos três devoradores brilharam de prazer e satisfação o que não agradou nada a Annya. Yaxley afastou-se da taça lançando risos vitoriosos.

- Já deu para perceber que tal como a tua mamã, não passas de uma Sangue de Lama medíocre.- Disse dando de costas para a mesa. Tanto Carrow como a mulher, que se encontravam debruçados sobre a taça, afastaram-se colocando-se encostados ao topo das suas confortáveis cadeiras.

Os sorrisos e caras de satisfação de Carrow e a mulher depressa desapareceram, o sangue que estava na taça começou a ganhar um tom azulado.

- Yaxley.- Murmurou a mulher escandalizada. Este voltou-se, e aproximou-se apressado da taça.

Os seus olhos arregalaram-se ao ver o tom azul-ciane que aparecia na taça.

- Não é possível.- Murmurou com o choque iminente na voz.

Annya sorriu.

- Creio que isso é bom para mim.- Disse rindo-se.

Yaxley olhou-a com ódio.

- Parece que a vadia da tua mãe arranjou um puro sangue.- Murmurou com desprezo. Os olhos de Annya faiscaram ao ouvir tal ser dito sobre a sua mãe.

Yaxley aproximou-se de Annya e segurou-a por um dos braços, esta debateu-se.

- Tu podes ter-te escapado, hoje.- Murmurou com ódio.- Mas a tua mãe não vai ter a mesma sorte, isso garanto-te, vou fazer de tudo para que não o tenha. Não que eu precise de fazer grande esforço, o destino dela já está traçado, desde que nasceu.- Soltou uma gargalhada de loucura.- Tal como a de todos os Muggles e Sangues de Lama imundos.

Annya olhou para a mão de Yaxley que segurava o seu braço, uma nova faísca atravessou os seus olhos. Yaxley largou o braço de Annya rapidamente, como que este o queimasse. Os seus olhos demonstraram surpresa e incredulidade. Murmurou várias palavras incompreensíveis enquanto afagava a própria mão, Carrow e a mulher olharam-no sem entenderem a situação decorrente.

Annya sorriu cruelmente.

- Mestiça.- Murmurou Yaxley enquanto erguia os olhos para o rosto de Annya, as suas expressões transbordavam ódio e dor.- Sai daqui antes que eu te decida lançar uma maldição imperdoável, e acredita que não falta muito para eu o fazer.

Annya lançou-lhe um falso ar de mágoa. Yaxley voltou a cuspir para o chão.

- Dá-lhe a lista Carrow.- Murmurou enquanto dava festas sobre a própria mão. A mulher entregou-lhe uma lista feita a pergaminho, este colocou-o na mão de Annya, evitando o contacto físico.- Vou estar de olho na tua carinha bonita, querida , tem cuidado.

Uma das mãos aproximou-se do rosto de Annya para dar-lhe uma carícia, mas logo baixou-se quando Yaxley se lembrou do “incidente” com a outra mão.

Annya olhou-o com desdém.

- Não tenho medo de ameaças seres inúteis e insignificantes.- Murmurou enquanto lhe retirava a lista das mãos.

Começou a dirigir-se até à saída. A sua mão pousou na maçaneta da porta.

- Eu se fosso a ti tinha cuidado com a língua, mestiça.- Ameaçou Yaxley novamente.- Não te esqueça que eu vou estar no julgamento da mamã, talvez lhe mande os dementors darem-lhe um beijo.

Annya voltou-se para os três que a observavam atentamente. Os seus olhos brilharam de raiva.

Vários dos objectos ali presentes começaram a agitar-se. Carrow e a mulher olharam-na estupefactos, mas Yaxley continuou a olhá-lo, retribuindo-lhe o olhar de rancor e fúria.

Annya estreitou os olhos. Em menos de um segundo, todos os pequenos objectos que havia no gabinete, rebentaram, partindo-se em pedaços espalhados por toda a sala.

Vários vidros foram parar à pele dos devoradores que uivaram de dor.

Annya colocou as mãos a cobrir a boca.

- Oh!- Exclamou com uma falsa admiração.- Eu fiz isto? Epá desculpem.

Dizendo isto saiu do gabinete sem dar hipóteses de algum dos presentes lhe lançar um feitiço.

- O Snape vai ter problemas com esta.- Ouviu Carrow dizer por entre os diversos uivos de dor.

Riu-se com prazer.




Rachel observou o papel com o questionário. Como tinha acabado de se mudar e como o dia ia estar cheio de "entrevistas" com diversas pessoas consideradas Sangues de Lama, iriam pô-la numa espécie de lista, para depois chamá-la mais tarde.

Rachel riu-se. Não a iriam meter em Azkaban, se fosse necessário esconder-se-ia com Annya, mas com toda a certeza que não iria parar a Azkaban.

Começou a ler o questionário que se encontrava na folha de pergaminho.

" Nome Próprio:
Apelido:
Data e local de nascimento:
Nome dos pais:
Profissão dos pais:
É descendente de alguma linhagem de feiticeiros de sangue puro? Se sim, diga quais."

Rachel amachucou o papel e lançou-o ao chão.

- Ridículo.- Murmurou.

Annya já devia estar em casa, como ela era...

Sorriu, pelo menos Annya estava em segurança.

Parou em frente das grades douradas do elevador. Carregou num botão, as grades deste abriram-se. Entrou neste.

Annya tinha razão, não deveriam ter voltado, havia posto a vida de Annya e a sua própria em risco.

Lançou um longo suspiro.

Fechou os olhos. O elevador começou a subir. Talvez fosse melhor verificar se Annya tinha mesmo chegado a casa, talvez fosse melhor ver se ainda não estava naquele gabinete com Yaxley.

Rachel abriu repentinamente os olhos e carregou num botão que dizia dar para o nível dois, este ficou com uma luz azul em seu torno.

- Detestam os Muggles mas usam coisas idênticas que estes criaram.- Murmurou para si, soltando uma risada oca.

Voltou a fechar os olhos. O elevador continuava a subir, possivelmente alguém o havia chamado primeiro.

Rachel abriu os olhos. O elevador era largo e comprido para um elevador, deveriam conseguir caber lá umas dez pessoas, sem precisarem de ficarem apertadas.

Podia ouvir a voz feminina a falar, sempre que paravam num novo andar. Podia sentir o tremor do elevador sempre que chegavam a um novo andar. Mas Rachel estava abstracta a isso, os seus pensamentos estavam alheios ao que se passava no desinteressante elevador. Encostou a cabeça a uma parede e tornou a fechar os olhos.

A voz voltou a anunciar.

- Piso nível oito. Átrio.- O elevador voltou a tremer.

Passaram-se alguns segundos até Rachel poder ouvir uma pessoa entrar no elevador. Não abriu os olhos, e pelo que percebeu o estranho sujeito também não havia reparado na sua existência.

Um arrepio seguido por um forte frio no estômago, despertaram a sua atenção para o mundo real. Fazia muito que não sentia sensações daquelas.

Inspirou.

Um cheiro forte adentou-lhe pelo nariz. Um cheiro que lhe era estranhamente familiar.

De novo um arrepio atravessou-lhe o corpo, mas desta vez foi seguido por fortes batidas no seu coração.

Os passos do sujeito também não lhe era estranhos.

Naquele momento o único som que conseguia ouvir era o das batidas do seu coração, admirou-se por o estranho não o conseguir ouvir.

Inspirou fundo. O cheiro do sujeito voltou a entrar-lhe pelas narinas arrepiando-a ainda mais.

Fechou com uma maior intensidade os olhos. O seu coração não parava de palpitar.

Segundos passaram, segundos em que ela não se atrevera sequer a respirar.

Sentiu todo o seu corpo numa enorme dormência causada pelos diversos arrepios e pelas voltas que o seu estômago decidira começar a dar.

Aquilo não era normal. Não no seu dia-a-dia.

Desde à muito tempo que não tinha tais emoções. Mais exactamente desde à dezasseis anos atrás.

Inspirou fundo. O seu rosto voltou-se na direcção em que se podia ouvir a respiração do sujeito. Abriu os olhos enquanto fazia este movimento.

Uma luz, provinda de lamparinas flutuantes que esvoaçavam perto do tecto, brilhava em torno do sujeito. Rachel abriu e fechou os olhos diversas vezes até se poder adaptar a estas e poder ver finalmente quem lhe havia perturbado os pensamentos alheios à realidade.

Sentiu uma enorme pancada no estômago. O seu coração parou com a função que até então exercia. Sentiu que a sua boca havia ficado aberta pelo espanto.

Se tivesse voz teria gritado.



Obrigada pelo comentário Ivana.

Desculpem a demora, espero que tenham gostado

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