Parte I



O som de passos parecia seguir-lhe insistentemente, onde quer que ele fosse. Tentou girar um corredor e entrar em uma passagem secreta que lhe levou de volta para o segundo andar, mas foi inútil. Parecia ser uma sombra, a qual se aproximava cada vez mais e mais rápido.

- Filch, maldito seja... - Pensou o garoto, que agora subia novamente para o terceiro andar, o mais silenciosamente que pôde, saltando dois degraus cada vez, mas tropeçou no último degrau e caiu pesadamente no chão de mármore.

- Garoto, tenho a noite toda para te perseguir, mas seria melhor para você e seus jovens pulsos desistir agora. - No corredor abaixo já era possível avistar a silhueta fracamente iluminada do velho zelador Harikar Filch, segurando tremulamente uma lanterna acima da cabeça. Ele caminhava calmamente, mas mesmo assim ganhava terreno em grande velocidade. - Agora, fique quieto aí.

Mas o garoto fez o contrário. Levantou-se com toda a energia que conseguiu e começou a correr, agora sem se importar se fazia barulho ou não. Desviava das armaduras que, vez ou outra, tentavam lhe acertar uma machadada involuntária, enquanto traçava uma rota indefinida pelo castelo. Até que, finalmente, parou para recuperar o fôlego. Respirando fundo, apurou os ouvidos, mas não conseguiu perceber nenhum sinal da proximidade do zelador.

Porém, a calma foi momentânea, já que começou a ouvir passos vindo das duas direções do escuro corredor onde ele se encontrava. Não sabia qual era, nem em que andar estava. Senão saberia se havia alguma passagem secreta em algum lugar. Os passos se aproximavam rapidamente. "Maldição, preciso de um esconderijo, rápido...". Olhava freneticamente para os lados a procura de algum buraco onde se esconder. Estupefato, se deu conta de que havia uma porta bem na sua frente. Não hesitou ou se perguntou como não havia percebido antes, apenas se apressou em entrar rapidamente na sala e trancar a porta e fechá-la o mais silenciosamente que pôde.

Ofegante, ficou parado ali, sem largar da maçaneta ou da chave dourada que estava encaixada na fechadura logo abaixo, apenas ouvindo as duas pessoas se cruzarem exatamente na frente da sala.

-Professor Dumbledore, o que faz em pé tão tarde? - Pode-se reconhecer a voz de Filch.

-Apenas passeava. - Respondeu Dumbledore, com uma voz ausente. - Sucede algo, Hari?

-Nada demais, professor, apenas uma peste que eu tenho de erradicar... - Sua voz tornou-se gélida e cruel ao pronunciar as últimas palavras. - Sabe de algo a respeito?

-Não, não o vi, se é o que deseja saber. Tom é... Realmente ótimo em fugas. Bem, que o senhor tenha uma boa noite, Hari. - E se afastou lentamente. Filch o imitou, momentos depois.

"Como eles não tentaram entrar aqui? Aquela ratazana velha não seria tão estúpida em ignorar essa hipótese..." O garoto deixou de olhar diretamente a porta e recuou alguns passos. "Além do mais, Dumbledore também deve ter percebido que eu estava aqui. Será que apenas me ignoraram? E que sala é esta?"

Deu meia volta e sua área de visão foi invadida pela parte interna da maior câmara que já vira. Estava abarrotada de objetos estranhos, de móveis esquisitos e coisas dignas de outras épocas da história, entre elas um machado com uma macabra mancha de sangue seco pendendo em cima de um armário de oito pernas que parecia, que a qualquer momento, entraria em erupção de tão cheio que estava. O jovem, deslumbrado, começou a caminhar pela câmara, analisando com fascinação o contraste temporal apresentado em todos aqueles objetos.

"Que lugar é este? Algum tipo de depósito secreto? Não... A porta não estaria destrancada". Passou a mão pelas caixas e móveis empoeirados e iluminados pela pouca luz emitida por tochas espalhadas pelo aposento. Não era possível ver o outro lado, tomado por trevas absolutas, já que não havia tochas acesas por ali nem janelas pela qual a lua poderia ajudar. Parecia estar no subsolo.

Para testar a resistência de um trono digno de um rei, deu dois chutes em cada perna. Ao notar o bom estado do móvel, deixou seu corpo repousar na almofada que a recheava, porém levantou-se rapidamente ao sentir que havia sentado em algo. Era um livro. Um livro velho e mal tratado, com páginas amareladas e a capa negra e desbotada, sem nenhuma inscrição ou título nela. Acomodou-se na poltrona novamente e abriu o livro.

Estranhou ao ver que as primeiras páginas estavam em branco. Franziu o cenho depois de folheá-lo todo e ver que não havia sequer uma palavra escrita. Ficou olhando para ele com desdém. "O que há com este livro? Por que algo tão velho não tem nada escrito?" Em uma outra situação, o garoto teria jogado o livro no chão e começado a buscar algo mais interessante, mas aquele livro... Tinha algo interessante nele.

Finalmente, depois de continuar a estudar cada mancha da maltratada capa do livro, o garoto se deu conta da hora que era. Já estava escondido ali fazia mais ou menos meia hora. "Melhor eu aproveitar agora que o Filch já deve estar longe e voltar ao dormitório e começar minhas pesquisas". Ao pensar isso, segurou com firmeza à alça de uma bolsa que levava a tiracolo toda a noite, recheada de livros, originariamente da Seção Reservada da Biblioteca de Hogwarts. Graças a sua visita secreta, noturna e evidentemente proibida, agora tinha que escapar mais uma vez do astuto zelador. Hesitou um momento, mas levantou-se de um salto, enfiou o livro negro de qualquer jeito dentro da mochila, saiu cautelosamente da sala e correu até as masmorras, ao dormitório Sonserino.


Finalmente pôde relaxar os músculos em uma escrivaninha da sala comunal da Sonserina. Era um lugar nada aconchegante para qualquer outra pessoa que não fosse, por natureza, da casa. Apenas uma vela iluminava a superfície do móvel, mas ainda assim seria difícil enxergar alguma coisa. Mas o garoto não se importava, enxergava o suficiente no escuro. Puxou sua mochila para perto de si e pôs a mão dentro para tirar um dos livros roubados da Seção Reservada.

Aquele era um passatempo estranho. Ele lia diariamente tudo o que podia, tentava descobrir todas as variantes de feitiços existentes. Sempre ampliando seus conhecimentos. Apenas queria poder, finalmente, ser mais forte que os outros. Para isso, agora precisava daqueles livros. Continham informações valiosas e fórmulas de feitiços complexos e proibidos há muito. Era uma mina de ouro.

Mas, ao retirar a mão da mochila, apenas segurava o mesmo livro negro que pegara naquela sala estranha. Poderia ser apenas coincidência, mas o garoto não acreditou. Já não acreditava em coincidências. Levou o livro para cima da escrivaninha, pegou uma pena e um tinteiro em uma estante, molhou a pena sutilmente, abriu o livro em uma página aleatória e começou a escrever:

"Sou Tom Marvolo Riddle..." - Mas retirou rapidamente a pena de perto do papel quando se deu conta de que o primeiro "S" estava sendo absorvido pelo papel, assim como o resto das letras até que o papel voltasse a ser como era um minuto atrás: vazio. Intrigado, passou novamente o dedo pela página. Tinha uma textura um pouco diferente dos pergaminhos convencionais. Ficou assim até que o papel começara a esquentar levemente e novas palavras começavam a fluir do papel.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.