Capítulo 2



O gasto asfalto de uma ampla estrada na periferia de Londres começou a tremer levemente quando um carro- patrulha começou a aproximar-se a 160 km/h, o que deixava pedaços de borracha pelo caminho. Neste carro- patrulha encontravam-se duas pessoas. Um homem que segurava o volante com numa mão e com a outra, apontava tremulamente uma pistola para a segunda pessoa, no banco de trás. Este outro parecia muito mais calmo. Estava deitado no banco, pensativo, chupando a ponta de uma pena e segurando um bloquinho de notas. Vicent, o nosso fiel e frustrado aventureiro não dava a menor atenção à arma carregada que era apontada para ele, parecia que apenas tentava descobrir o gosto da pena, revirando os olhos a toda hora no intervalo em que escrevia alguma coisa no bloco de notas. O ladrão, nervoso, perdera a paciência:

-Que droga, quer guardar esse bloco? - Berrou, com um olho na estrada e outro em Vicent.

-Diz aí, qual é o teu nome? - Perguntou Vicent, sem dar bola para os gritos de seu seqüestrador

-Cala a boca! Quem manda aqui sou eu!

-Pô, eu estou colaborando numa boa e em troca só quero o seu nome! De onde você é? Londres? Liverpool?

O bandido mordeu o volante para não dar um tiro na testa daquele pentelho. Dirigia instavelmente e quase batera contra dois caminhões. Com uma virada brusca, deixou a estrada para entrar em uma trilha aberta por algum civil. Atravessaram uma cortina de plantas e trepadeiras e apareceu um sítio escondido. Não era nada luxuoso, na verdade era uma porcaria. O telhado era forrado com vários pedaços de madeira pregados e uma das vigas era reforçada com alguns blocos. Os cupins maltratavam as paredes e o mato quase invadia o segundo degrau da entrada. O ladrão conduziu o carro até o que antes era uma garagem. Agora era uma espécie de viveiro de ervas daninhas. Quando o carro parou, arrancou a chave da enguinição e saltou para fora do carro, esmagando a única planta atrativa do local, um pequeno dente de leão.

-Vai! sai já do carro! - Disse ele, apontando a arma diretamente para a cabeça de Vicent, que já guardava cuidadosamente seu bloco de notas e sua pena em um bolso interno de sua jaqueta. Desceu do carro e se espreguiçou lentamente, soltando um largo bocejo.

-Uaaaah! Nossa! Que é isso? O seu esconderijo? - Perguntou, analizando o sítio.

-Cale a boca e entre!

Atravessaram o mar de mato até chegarem dentro da casa de madeira. Era quase a mesma coisa que por fora, apenas com móveis empoeirados e muito mal tratados. Moscas dominavam o local, mesmo sendo inverno. Havia um certo tom fantasmagórico em como a luz atravessava as janelas empoeiradas e iluminava o interior, o que deixou a Vicent fascinado. Era um esconderijo perfeito! Correu para a poltrona mais próxima e foi tomando nota sobre a aparência do local. O bandido nem se preocupou, tinha outras coisas para fazer. Deixou de apontar psra Vicent e começou a discar em um celular muito velho.

Vicent, depois de tomar todas as notas que pôde, levantou-se para explorar o lado de fora, mas parou quando escutou o som de uma pistola sendo destravada. Virou-se e viu o ladrão falando no celular, mas ao mesmo tempo, apontando-lhe a pistola. Decidiu ficar. Mas... que graça tinha tudo aquilo? E se os policiais não vierem? Não haveria emoção! Tinha que fazer algo para agitar um pouquinho as coisas.

-É, tenho um refém, mas e daí, cara? - Dizia o ladrão, pelo celular - Os homens já já estão aí cheios de armas pra resgatar ele! Tem cara de ser um desses filhinhos de papai que...! - Houve um intervalo, onde parecia que o que estava do outro lado da linha dizia algo interessante. - Claro! Por que não pensei nisso antes? Um resgate! Meu, você está louco? Vão me rastrear e...

O sequestrado deixou de lado mais uma vez seu sequestrador e voltou para a poltrona, analizando as paredes feitas de uma madeira seca e frágil. É, por que não?

-Tá bom, você venceu! Vou obrigar-lhe a me dizer qual é o seu telefoooooo...!!!

O sequestrador fez uma careta quando, ao sentir cheiro de fumaça, virou lentamente a cabeça enquanto ainda falava ao celular. A porta de madeira, que antes pendia com apenas uma dobradiça nos eixos, agora irrompia em chamas, exalando uma fumaça negra e mal cheirosa. Ele deixou cair o celular com o choque e demorou para reagir. Correu até a porta e começou a dar chutes no fogo e cobrí-lo com seu casaco, mas era tarde, o fogo já tinha se espalhado por toda a parede e se aproximava de uma viga do teto, que mesmo com um bom chute poderia ceder. Desesperado, procurou água, mas em vão.

Vicent se divertia com o trouxa. Estava cômodo na poltrona, com a varinha no colo e não parava de escrever. Incendiara a porta para ver sua reação e estava satisfeito com o resultado. O ladrão corria de um lado para o outro, em pânico. Não haviam saídas, não havia forma de apagar o fogo... apenas havia a morte. Olhou para seu refém e lhe apontou novamente sua arma.

-Maldito! A culpa disto tudo é sua! Sua! - Seus gritos eram febrís e tinham a loucura em algumas palavras. Isto não estava nos planos de Vicent, que na hora se preparava para fugir.

Ele deu um passo em direção a seu atacante. BANG! Um disparo. A bala por muito pouco não atravessara sua orelha direita. Tampando o ouvido, que parecia que havia sido martelado, Vicent sacou rapidamente sua varinha. Era melhor parar com aquilo, poderia sair de controle. BANG! Outro disparo. Desta vez a bala acertara um pedaço de carne. Vicent berrava de dor, enquando abraçava sua mão ensangüentada. Por reflexo, soltara a varinha, que agora rolava a alguns centímetros de seu dono. "Merda, isso está fora de controle!" Pensara Vicent, começando a não suportar o calor e a fumaça. As chamas começavam a corroer a viga.

-Eu vou morrer, mas vou te levar junto! - A voz maníaca do seqüestrador mal pôde ser ouvida por Vicent, cuja orelha ainda doía, assim como sua mão perfurada pela bala. Ele olhou, com os olhos invadidos pelas lágrimas produzidas pela dor e pela fumaça, para bandido que abria um sorriso demente enquanto mirava bem, segurando firmemente a pistola. Não erraria seu alvo desta vez. Tinha que agir rápido. Virou-se rapidamente e, com a mão esquerda estendida mentalizou "Accio Varinha!"

BANG!

Um novo disparo mal pôde ser ouvido entre as trepidantes chamas. Vicent caminhava até seu adversário, vítima da azaração do corpo preso. A maldição também parara a bala. Ele bufou, aliviado, mas deixou a calma de lado quando um pedaço de madeira caíu bem ao seu lado, com um baque que poderia deixar qualquer um surdo. Analizou a situação e descartou as possibilidades em dois segundos. Não poderia apagar mais aquele incendio, nem poderia atravessar as chamas que invadiam o portal ou abrir uma nova porta pela parede, o que deixaria a casa feito farofa. Só poderia sair dali vivo aparatando. Mas nunca havia aparatado em dois! Era a única possibilidade.

Agarrou-se ao petrificado e, com um giro de calcanhares, sumiu dali.

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Vicent aproveitava a tarde de sua maneira favorita: dormindo.Agarrava-se à sua almofada preferida e de vez em quando dava umas roncadas particularmente sonoras. Fazia uma semana que tudo acontecera. Vicent conseguira aparatar no meio do gramado da casa, enquanto essa caia, tomada completamente pelo fogo. Quando ouviu o som de sirenes de bombeiros, desaparatou bem rápido, deixando o ladrão no meio do mato, depois de aplicar-lhe um feitiço de perda de memoria.

Nos outros três dias não saiu de seu apartamento, dedicando-se ao máximo à sua história. Agora esperava seu salário e a resposta do Profeta Diário, comentando um salário fixo, ou, quem sabe, até uma promoção! Afinal, era a melhor história que já havia criado.

Finalmente, Vicent acordou, preguiçosamente, com o som de insistentes batidas em sua janela. Uma coruja cinzenta golpeava insistentemente sua janela, querendo entrar. Era a resposta! Ele saltou da cama e abriu a janela, sentindo novamente aquela brisa gélida invadir o cômodo junto da coruja.

-Passa isso logo! -Exigiu à coruja, arrancando de seu bico o pergaminho. Com os olhos esbugalhados, começara a ler a carta, mas eles foram fechando-se e fechando-se cada vez mais, até que suas pupilas pareceram apenas dois pontinhos miúdos e raivosos. Seu rosto espressava apenas um sentimento: fúria.

Caro Vicent

Estou sem palavras... ah não, acabei de encontrar duas: Está Despedido! Foi a última coisa que você escreveu para este Jornal! Sua história é típica de uma história em quadrinhos, não uma história de aventuras e romances! Um seqüestro trouxa! É ridículo! Você deveria encontrar sua vocação já que, não é esta!

DROPUS FINGER

P.S.: Sua indenização e seu salário estão embrulhados no seu Profeta Diário.

Vicent rasgou furiosamente sua carta, assim como o "Profeta" que também levava a coruja, que fugiu desesperadamente. Como podiam ter feito isso? Como podiam ter odiado? Como? Esgotado, jogou o papel picado para longe da cama e se jogou nela, fatigado, contando as moedas que haviam caído nela. Noventa galeões. Era suficiente para viver dois meses. Mas não era dinheiro o problema. Não, não era isso.

Ele assustou-se quando outra coruja entrou pela janela aberta. Esta era branca e grande. Piava energicamente. Vicent, achando que era outra reclamação do Profeta, ignorou a coruja, mas depois de olhar direito, viu que não continha o selo do jornal. Curioso, foi até a coruja, arrancou-lhe a carta e começou a ler.


Olha, eu simplesmente amei sua história! É demais! Morri de rir daquele seqüestrador! Tinha que ser trouxa! Mas seu jeito de escrever é maravilhoso, me entretive bastante com a história! Só não acredito que tenha sido baseada em fatos reais, mas isso não tirou a graça! Virei sua fã! Não deve ser a primeira vez que você lê um comentario de uma fã, mas mesmo assim tive que fazer isto! Ah, e espero por mais aventuras deste pirado! He he! Não demore, ou mais cartas virão!
Jessica Marchel

Vicent sentou-se na cama, sem tirar seus olhos da carta. A lia e re-lia muitas vezes enquanto as horas passavam e, quando finalmente anoitecera, ele abriu um largo sorriso, guardando a carta com todo o cuidado possível em uma gaveta e ali ficou, olhando para o teto e imaginando qual seriam as próximas histórias que faria. Sim, apenas para uma pessoa, mas... de verdade... quem ligava?

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N.A.: Ahá! Essa foi a primeira fic que terminei, no principio de 2007! Nossa, estou ficando velho T.T

Bem, o que achou? Gostou, odiou...? Expresse-se em um comentário bem bonito para fazer um autor frustrado feliz =3

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