Capitulo III
—Minha mãe. — prosseguiu — Guardava nela a baixela que usava. Pratos de louça brancos, como esses. E copos fortes, que não se quebrassem facilmente. Uma vez se zangou comigo e me atirou um na cabeça.
—Acertou-o?
—Não. Teria acertado se tivesse tido intenção de fazê-lo. — Voltou e lhe mostrou seu cativante sorriso — Possuía uma boa pontaria. Como é que se estabeleceu aqui, e não em outro lugar?
—Dedico-me a vender minha mercadoria.
—Não está nada mal. Quanto custa o dragão da vitrine?
—Tem muito bom gosto. Quinhentos e cinqüenta.
—Bem caro. — comentou, abrindo o único botão da jaqueta.
A Gina pareceu um gesto muito íntimo, mas não fez nenhum comentário.
—Vale o quanto gosta.
—Se for inteligente, pode conseguir mais. — meteu os polegares nos bolsos das calças e continuou percorrendo a loja — Quanto tempo faz que chegou aqui?
—Três anos e meio.
—De onde? — ao ver que não respondia se voltou e levantou uma sobrancelha — Só pretendia conversar, querida. Eu gosto de conhecer às pessoas com a que faço negócios.
—Ainda não fizemos nenhum negócio. — jogou o cabelo para trás e sorriu —querido.
A risada do Harry brotou, rápida e cativante. Gina sentiu um calafrio na coluna vertebral. Estava segura de que se encontrava ante o homem contra o qual qualquer mãe advertiria a suas filhas. Mas, por mais tentador que fosse, negócios eram negócios.
—Acredito que vou gostar de você, Gina. — disse Harry, inclinando a cabeça — Certamente, tem caráter.
—Outra vez tentando conversar?
—Só era um comentário. — olhou as mãos dela, sem parar de sorrir — Significa algo algum desses belos anéis que usa?
O estômago de Gina deu uma volta.
—Suponho que depende do que você esteja pensando.
—Não. — anunciou Harry com segurança — Não está casada. Teria me esfregado isso na cara.
Sentou-se em um sofá de dois lugares, de veludo vermelho, e apoiou um braço no respaldo.
—Não quer sentar? — convidou.
—Não, obrigado. Veio para falar de negócios ou para me convencer a me deitar com você?
—Eu nunca convenço às mulheres a se deitarem comigo.
Gina imaginou que tinha razão. Bastaria mostrar seu sorriso e estalar os dedos.
—Vim para falar de negócios. — disse Harry, cruzando as pernas — Por agora, só de negócios.
—Muito bem. Então, posso oferecer uma cidra quente.
—Aceitarei com muito prazer.
Gina se retirou por uma porta. Harry aproveitou a solidão para refletir. Não tinha intenção de ser tão direto; não tinha se dado conta de que aquela mulher o atraía tanto. Havia algo na forma com que estava ali, de pé, com sua jaqueta e suas mãos coberta com jóias, e seus olhos tão frios e divertidos.
Se alguma vez tinha visto uma mulher que anunciasse um caminho espinhoso, tratava-se de Gina Weasley. Embora poucas vezes escolhia o caminho mais fácil, tinha muitas coisas para se ocupar.
Gina voltou, caminhando sobre suas grossas pernas. O cabelo ocultava a metade de seu rosto.
Harry decidiu, de repente, que sempre poderia arrumar espaço no seu tempo.
—Obrigado. — disse ao agarrar a xícara fumegante que oferecia. — Tinha intenção de contratar algum decorador de Washington ou de Baltimore, e procurar eu mesmo alguns dos objetos.
—Posso oferecer o mesmo que qualquer empresa de Washington ou Baltimore, e a um preço melhor.
—Talvez. O caso é que eu gosto da idéia de trabalhar com alguém que esteja perto de minha casa. Vejamos o que pode fazer. — bebeu um gole —
O que sabe sobre a casa dos Barlow?
—Que se encontra em muito mal estado. Parece um crime que não tenha sido feito nada para preservá-la. No geral, nesta região do país são muito cuidadosos com os edifícios históricos. Se tivesse dinheiro, a teria comprado
eu mesma.
—E teria feito uma compra excelente. Essa casa é dura como rocha. Se não estivesse tão bem construída, agora seria uma ruína. Mas precisa muito trabalho. Terá que nivelar os chãos, engessar as paredes, atirar alguns tabiques e trocar as janelas. O telhado parece um desastre. — se recostou e encolheu os ombros — É uma questão de tempo e dinheiro. Quando estiver preparada, quero que tenha o mesmo aspecto que em 1862, quando os Barlow viviam aqui e contemplavam a batalha do Antietam da janela do salão.
—Você acredita nisso? — perguntou Harry com um sorriso — Eu diria que a ouviram abaixados no porão.
—Não é o que eu imagino. Os ricos estão às vezes tão cegos ante o mundo que é provável que considerassem um espetáculo e talvez só se incomodassem se o fogo quebrasse uma janela ou despertasse uma criança.
—Não compartilho sua opinião. O fato de ser rico não significa que terei que permanecer impassível quando uma pessoa morre diante do meu jardim.
—A batalha não chegou tão perto. Em todo caso, o que quero é que tudo pareça tirado dessa época. O papel das paredes, o mobiliário, os adornos, os quadros... — conteve-se para não acender um cigarro — O que acha da idéia de reconstruir uma casa assombrada?
—Interessante. — o olhou por cima da borda de sua xícara — Além disso, não acredito nos fantasmas.
—Acreditará neles antes de terminar. Quando era pequeno passei uma noite ali, com meus irmãos.
—Ouviam chiados e ruído de cadeias?
—Não. — respondeu muito sério — com exceção dos ruídos que fazia Rony para nos assustar . Mas há uma parte da escada que tem uma mancha, sem motivo aparente. Perto da chaminé do salão, cheira a fumaça. E quando se percorrem os corredores, tem-se a impressão de que há gente neles. Se houver bastante silêncio, é possível ouvir o ruído dos passos.
Apesar de não acreditar, Gina não pôde conter um estremecimento.
—Se você tiver tentando me assustar porque voltou atrás e não quer que eu aceite o trabalho, não vai conseguir.
—Só queria explicar o que eu senti. Quero que de uma olhada no lugar e que percorra os cômodos comigo. Veremos o que sente. Pode ser amanhã, por volta das duas da tarde?
—Perfeito. Terei que fazer medições.
—Muito bem. — deixou a taça a um lado e se levantou — É um prazer fazer negócios com você. Gina estreitou sua mão.
—Bem-vindo a cidade.
—É a primeira pessoa que me diz isso. — levou sua mão aos lábios, olhando-a — Claro que não sabe nada de mim. Até manhã. Outra coisa. — acrescentou enquanto se dirigia à porta — Tire o dragão da vitrine. Quero-o.
Enquanto saía da cidade, parou o carro a um lado da estrada e se deteve.
Apesar da neve e o vento gelado, desembarcou do veículo e contemplou a casa da ladeira da colina.
Suas janelas quebradas e suas varandas cansadas não revelavam nada, como tampouco revelavam nada os olhos de Harry. Talvez a mansão estivesse assombrada, mas não o preocupava. Começava a dar-se conta de que os únicos fantasmas dos que queria liberar-se estavam em seu interior.
Continua...
Geente to esperando comentarios! Preciso saber o que vcs estão achando da fic... =*
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