Escolhendo lados



Katherine era uma garota de longos cabelos, no momento azuis, porém normalmente negros, olhos extremamente claros e belos e pele branquíssima. De acordo com os pais, parecia muito com a tia, porém não se lembrava dela. Soubera que ela morrera no parto de seu primo, porém não sabia o que ocorrera com o primo.


Viveu no castelo de seus pais na suécia até completar 9 anos, idade com a qual partiu para sua escola de bruxaria. Morgan sempre soubera que era uma bruxa, uma vez que vivia rodeada de magia. De acordo com seus pais, ela realizara sua primeira magia aos dois anos, dando vida a sua boenca -e jogando-a pela janela logo em seguida. Enquanto criança, a maior parte de suas magias eram dedicadas para atormentar seu irmão mais novo, Rik. Ele, que só aprendera a controlar sua magia aos 6 anos, não teve oportunidade de se defender da irmã, passando então a maior parte do tempo o mais longe dela possível. Mesmo assim, os dois se amavam o suficiente para se ajudarem quando necessário.


Desde que começara a frequentar os grandes corredores da escola de bruxaria, Katherine se via atormentada todas as noites com pesadelos, sempre envolvendo serpentes e um homem extremamente estranho, de olhos vermelhos, pele pálida e praticamente sem nariz. Esses pesadelos a atormentavam a maior parte das noites, até que descobriu que realmente gostava de serpentes e que o homem estranho não era tão estranho assim. Viu-se anseando por encontrá-lo, se é que era real. Uma vez, aos 13 anos, perguntou a seus pais sobre eles. E essa for a a gota d’água para eles: levaram-na a um hospital onde deram-lhe uma pílula que lhe garantiria noites sem sonhos.


O que, é claro, não deixou Katherine nem um pouco feliz. Queria continuar tendo os sonhos, e pretendia continuar os tendo. A intromissão de seus pais só lhe mostrara que o homem realmente existira e deu-lhe uma força de vontade ainda maior para encontrá-lo.


Mesmo assim, não sabia como procurar. Começou a passar mais tempo nas bibliotecas -de casa e da escola- procurando referências à ele -sabia que era alguém importante.


Descobriu algo sobre ele aos 16 anos. Perambulava entre as salas de aula, em um domingo no final do ano letivo, quando um colega encontrou-a e mostrou-lhe uma revista inglesa. “O Pasquim”, era o nome da revista, e sua matéria falava sobre a volta de “Aquele-que-não-deve-ser-nomeado”, em uma entrevista com Harry Potter. Katherine não simpatizou com o garoto de cara. Tampouco seus outros colegas simpatizaram. Reuniram-se para discutir a matéria nas férias, na casa de Katherine.


Sentados em volta da mesa de centro da sala principal, estavam Katherine, Rik e mais outras três pessoas de sua escola: Johansen, Anna e Markus. Na mesa, a revista e os livros que haviam encontrado sobre o assunto na biblioteca da casa.


-Então, aqui diz que aquele-não-nomeado foi um poderoso bruxo que, odiando trouxas- Johansen completou sua frase fazendo uma careta a menção de “trouxas”- matou centenas, ou até mesmo mais em sua busca por poder. Ou algo do gênero.


-Fez muito bem.- Disse Markus, mostrando o punho.- Não sei como não tinham feito isso antes.


-Diz também- Cortou Johansen, aumentando seu tom de voz.- Que ele foi derrotado por um bebê. Esse bebê.- Ele apontou para a revista, onde a foto de Harry Potter aparecia timidamente. Markus fez um barulho indicando seu descontentamento com a imagem.


-Parece que não foi tão derrotado assim, afinal. E agora que ele voltou, provavelmente vai voltar para o plano anterior, não concordam? E, convenhamos, é um ótimo plano. Matar trouxas! Isso é perfeito para a limpeza do mundo.


-Ora Markus, não banque o machão.- Riu Katherine, analizando a foto na capa da revista mais uma vez.- Como se você algum dia fosse capaz de matar alguém. Há! Não me faça rir.


Anna gargalhou ao comentário da outra, apoiando-se em Johansen para não cair. Markus, envergonhado, baixou a cabeça para esconder o rubor que cobria sua face. Como Johansen começara a rir também, Markus puxou sua varinha, apontando-a para Katherine.


-Uuh, cuidado para não me assustar demais.


-Não RIA de mim, Katherine. Ou pode ser a última coisa que você fará na vida.


Katherine observou Markus, descrente. O outro incomodou-se mais ainda com a zombaria da garota e começava a pronunciar um feitiço, porém Katherine lançou o dela antes. Markus viu sua varinha voar para longe de seu alcance e sua língua inchar até ocupar todo o espaço de sua boca, chegando perto de sufocá-lo. Rik pegou a varinha do outro e sentou-se novamente em seu lugar, em uma das pontas da mesa. Anna riu ainda mais, caindo no chão e rolando.


-Você é patético. Não tente fingir que é bom em algo que nunca será, Markus, ou acabará sendo morto por pessoas como ele.- Katherine apontou o desenho que acompanhava a descrição d’aquele-que-não-deve-ser-nomeado em seu livro de magia das trevas. Ela já havia notado que aquele era o homem de seu sonho, e agora era apenas uma questão de tempo até encontrá-lo.


-Katherine, poderia pedir que você desfizesse o feitiço antes que nosso querido amigo sufoque?- Pediu Rik, gentilmente. Katherine torceu o nariz, porém desfez o feitiço. Markus respirou profundamente várias vezes, terminando extremamente pálido.- Obrigado, querida irmanzinha.


Katherine mostrou a língua ao irmão, demonstrando o que sentia por ser chamada de “querida irmanzinha”. Ele sorriu, ignorando o gesto da outra.


-De qualquer forma, não estamos aqui para nos matar.- Disse Anna, logo após retomar o ar.- Estamos aqui para discutir o partido que tomaremos.


-O que você quer dizer com isso?- Perguntou Rik.


-Oras, estamos a beira de uma guerra, não? E em guerras as pessoas tomam partidos, queridinho. Vamos ficar do lado de quem?


-Acredito que vocês estão se precipitando. Não existem indícios de que haverá uma guerra, muito menos de que ela nos alcançará. Por que devemos tomar o partido de alguém?


-Você propõe que fiquemos neutros?- Perguntou Katherine, irritada.- Você ousa propor que não lutemos? Não consigo acreditar que você é um covarde, Rik. Não parece meu irmão.


-E infelizmente você parece muito minha irmã. Não acredito que guerras sejam o caminho para mudar o mundo e você sabe muito bem disso.


-Mesmo assim, já temos idade o suficiente para lutarmos pelo que acreditamos.


-E o que acreditamos?


Não ouve discussão sobre esse ponto: todos concordavam que o mundo deveria ser dominado por bruxos. Rik balançou a cabeça tristemente.


-Vocês são deprimentes. Acham mesmo que isso é a saída para os problemas do mundo? Pois bem, morram sozinhos. Não me envolverei nisso.- Ele se levantou para sair. Anna fez menção de ir atrás dele, porém Katherine a segurou.


-Deixe que ele se arrependa de sua decisão sozinho. Agora, já que todos concordamos nesse ponto, creio que devemos ir para a Inglaterra. Parece que é lá que toda a ação está acontecendo, e é lá que conseguiremos encontrá-lo.


-Podemos ir ainda nesta semana.- Disse Johansen.- Tenho uma tia que mora em Londres, porém está viajando. Podemos ficar na casa dela. Katherine sorriu.


-Perfeito. Então será o que faremos. Nos encontramos na casa de Johansen depois de amanhã, logo pela manhã.


Todos se despediram e sairam, deixando Katherine sozinha na sala. Após jogar a revista na lareira, ela se dirigiu ao quarto do irmão, onde encontrou-o lendo um livro sobre poções.


-Maninho…- Disse ela, com uma voz infantil.- Não está chateado comigo, está?- Rik apenas lançou-lhe um olhar e voltou para seu livro. Katherine abraçou-o por trás.- Não fique assim Rik. Você sabe que não devemos brigar por causa desse tipo de coisa. Temos que permanecer unidos, lembra?


Rik suspirou e fechou seu livro. -Mesmo assim, você poderia me apoiar de vez em quando, ao invés de esperar que eu aceite todas as suas idéias.


-E eu prometo que vou apoiá-lo algum dia. É só que esse é um assunto de extrema importância para mim…


-Desde quando o destino dos trouxas lhe importa tanto?


Katherine abriu a boca para responder, porém ao invés de falar foi até o corredor para checar se ninguém a escutava. Fechou a porta e lançou-lhe um feitiço para que ninguém pudesse ouvir o que falavam. Rik ergueu as sombrancelhas.


-E o que significa isso?


-Rik, vou contar-lhe um segredo, porém você deve jurar que nunca vai contar para ninguém. Em especial papai e mamãe.


-Katherine, você sabe que eu nunca contaria seus segredos para ninguém. O que foi?


-Você se lembra do sonho que eu costumava ter, antigamente? Com aquele homem? Então, ele é aquele homem.


-O quê? Mas como você sabe disso?


-Pela foto no livro. Mas não é só isso, eu tinho certeza de que era ele desde antes de ver a foto. Eu preciso vê-lo, você entende? Eu preciso! Você virá comigo para Londres? Por favor.


Rik concordou silenciosamente. -Porém não espere que eu me junte ao partido, certo? Irei apenas para acompanhá-la.


Katherine abraçou o irmão mais uma vez, beijando sua testa. -Obrigada maninho, sabia que você entenderia.

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