Johansen



Katherine acordou sobressaltada. Acabara adormecendo em um banco numa praça enquanto vigiava a antiga casa de Elizabeth, em busca de pistas. Foi tomada imediatamente por receios, sentindo que deveria ir atrás de seu irmão imediatamente…


Levantou-se e alisou o vestido que trajava. Precisava aparatar, e precisava logo. Pôs-se a caminho de uma área mais deserta na vizinhança, que havia visto enquanto rondava por ali.


Um estalo depois e estava no quarto do irmão, em seu castelo sueco. O garoto, que olhava fixamente para o teto representando o céu noturno, não notou sua chegada, então ela sentou-se ao seu lado na cama e balançou-o.


-Terra chamando Rik. Está por aí?


-Katherine?- Rik sentou-se de um pulo, surpreso.- O que você está fazendo aqui?


-Queria te ver. Está tudo bem com você?


-Me ver? Mas você acabou de sair.


-Como? Rik, não nos vemos já fazem meses.


-Não, você acabou de sair. Ia voltar para Londres.


Katherine abriu a boca para replicar, porém percebeu o que havia acontecido. Alguém havia apagado a memória do irmão.


-Certo, eu sei que isso pode parecer estranho mas… Você não se lembra de nada mesmo?- ele negou balançando a cabeça.- Rik, alguém apagou suas memórias.


-Quê? Mas por que alguém faria isso?


A garota respondeu apenas com seu olhar supremo de “não é óbvio?”, que apenas fez seu irmão fazer uma careta, como se tentasse lembrar quem havia apagado.


-O melhor a fazer seria… tentar recuperar essa memória.


O garoto riu da irmã. -E como você pretende fazer isso? Você não sabe lançar esse feitiço.


Katherine mordeu o lábio. Precisava que Rik se lembrasse do que havia acontecido. Ninguém apagaria sua memória por nada -ou pelo menos ninguém conseguiria tão facilmente. Suspirou.


-Você vai ter que me ensinar.


-Katherine, isso não é algo que se aprenda de uma hora para outra! Apagaram minha memória, não meu juízo.


-Mesmo assim, é de suma importância que você me ensine. Ou prefere que eu peça ajuda para alguma outra pessoa?


Rik não respondeu. Era óbvio que percebia que ajuda de outras pessoas não seria prudente. A não ser…


-Johansen. Chame Johansen, ele sabe o feitiço. Ele pode ajudar.


Katherine fez uma careta de desgosto. -Não confio em Johansen. Ele apenas espera a hora de nos trair. Um inseto espião.


-Não discuta Katherine. Não vou permitir que você saia lançando feitiços desconhecidos por aí, em especial em mim.


A garota fez um último bico antes de desistir da briga e ir até a lareira chamar Johansen. Poucos minutos depois o outro aparecia de um vórtice de chamas verdes.


-Em que posso ajudá-la, Katherine?


Ela fez apenas um gesto para que ele a seguisse e levou-o até o escritório, onde Rik esperava inquieto. Katherine postou-se perto da porta enquanto Rik explicava a Johansen o que queriam dele. A garota analisava cada expressão do outro, procurando algo que indicasse o que ele pretendia. Nada, não encontrava nada. Mesmo assim, aquela sensação não sumia.


Sentira-a inicialmente quando descobriu Johansen espionando sua conversa com Anna, e desde então não conseguia sequer conceber a idéia de chegar perto do garoto. Era como se, enquanto não prestava atenção, ele fosse sugar todos seus segredo -para o que ela não sabia.


 -Sim, é bem simples… Posso fazê-lo facilmente mas… por que o faria?


O coração de Katherine disparou e ela sentiu o ódio percorrendo suas veias. Agarrou o garoto pela blusa, apontando sua varinha para ele antes mesmo que ele percebesse o que havia acontecido.


-Deixe-me explicar porque você vai fazer isso, e me ouça bem! Você vai fazer isso porque eu estou mandando, e não só estou mandando, como também pretendo lançar alguma maldição nem um pouco divertida em você se não o fizer. Deu pra entender?


Johansen engoliu em seco, porém riu. -Eu não tenho medo de você Katherine. Nunca tive


A garota soltou o aperto com o choque da verdade nas palavras do outro, e ele aproveitou para esquivar-se dela, tomando sua varinha e prendendo os braços da garota firmemente a suas costas com uma mão. Rik fez um movimento para ajudar a irmã, porém Johansen apontou a varinha para ele e com um aceno desarmou-o também.


-O que você quer, Johan?


O garoto aproximou seu rosto de Katherine, de modo que apenas ela escutasse o que ele diria, e sussurrou em seu ouvido. -O mesmo que sempre quis, Katherine. Você.


A garota enrubesceu de tal maneira que sentia seu rosto arder em chamas de ódio e vergonha. Tentou soltar-se, porém Johansen segurou-a mais firme.


-E então, o que vai ser? A memória de seu irmão por uma noite comigo.


 Katherine olhou bem dentro daqueles olhos enlouquecidos do outro e cuspiu nele. Num ato compulsório, Johansen levou a mão ao rosto para limpar-se, o que deu oportunidade para Rik pegar sua varinha e lançar-lhe um feitiço que jogou-o do outro lado da sala, desmaiado.


 -O que ele pediu?


 Katherine fez que não e apanhou sua varinha. Ela havia quebrado. Grande.


-Me desculpe, mas eu simplesmente não podia fazer aquilo. Teremos de achar outra saida.


-Tudo bem Kath, você não tinha obrigação nenhuma. E tenho certeza de que vou pensar em alguma coisa. Até lá… Seria bom nos livrarmos dele.


A garota concordou silenciosamente e juntos levaram o rapaz até uma torre, onde o prenderam. Katherine tomou para si a varinha dele - afinal, era sua culpa a varinha dela ter quebrado. Em seguida, voltaram para o escritório, onde jogaram-se nas poltronas próximas ao fogo.


-Tenho que encontrar Lizzie.


Rik sobressaltou-se a menção do nome da outra. -Por que isso?


 -Voldemort. Ele a quer. Lizzie é sua filha com a tia Morgan.- Katherine não pode deixar de notar a surpresa de seu irmão ao descobrir que Elizabeth era sua prima.- Você sabe para onde ela foi?


 -Não, como eu saberia? A garota me odiava!
 
-Nada tem parecido tão óbvio ultimamente queridinho. Me ajude a encontrá-la, por favor.


-Mas você pretende entregá-la? -Rik sequer tentava esconder seus sentimentos, permitindo a irmã ver a desaprovação e o medo em seu olhar. Ela lançou-lhe um breve olhar indicando a falha. -Perdoe-me se me parece insano entregar a garota à ele.


-Eu sei que parece insano, porém não é, acredite em mim. Eu tenho meus planos também.


-E vai me contar?


-Em seu devido tempo. Primeiro o mais importante. Vai me ajudar ou não?-    Rik soltou um longo suspiro e concordou com um aceno de cabeça.- Ótimo. Então precisamos colocar nossas cabeças para pensar… Onde ela poderia ter ido?


A porta abriu-se subitamente. Assustados, os dois irmão voltaram-se para ela apenas para encontrar seu pai, um homem de meia-idade irado. Ele controlava seus passos para não demonstrar seus sentimentos porém não conseguia manter-se impassível.


-Saia Rik. Preciso falar com Katherine.- Rik sequer esperou um segundo pedido -levantou-se e saiu rapidamente, surpreendido pela ordem. Assim que o garoto fechou a porta, o homem indicou a poltrona para a filha sentar. Ela não ousou desobedecer. Alguns minutos de silêncio transcorreram, os dois apenas se entreolhando.- Katherine, me diga que você não perdeu o juizo. Me diga que você não é uma comensal. -A garota nada disse, e seu pai suspirou.- Eu sei que nunca fui um pai muito presente, passei muito tempo trabalhando para conseguir montar alguma coisa para o futuro de você e seu irmão, mas nem por isso achei que vocês iamse perder desse jeito… Aquele homem! Primeiro Morgan, agora você… Sabe, você realmente se parece muito com minha irmã… quase como um duplo. Exceto esse cabelo azul.


Katherine sorriu levemente. -Sim, você já me disse isso.


-Claro, já devo ter dito uma centena de vezes… estou ficando velho, sinto isso em cada osso de meu corpo… Você sabia que sua tia -minha irmã conheceu ele ainda em Hogwarts? Parece que tinham um pequeno romance, se é que alguém como aquele homem possa já ter tido algo do gênero… Nosso pais tiveram de intervir, mas nem assim conseguiram separar eles…


-Como assim, tiveram de intervir?


-Bem, Dumbledore avisou nossos pais, seus avós, avisou eles sobre o que estava acontecendo, sobre o perigo da situação. É claro que disse apenas que ele tinha alguma espécie de problema, não sei o que… Mas nossos pais entraram em pânico, transferiram ela para Beauxbaton e quando ela terminou a escola deram um jeito de fazer ela desaparecer… mas não funcionou tão bem, é claro, afinal ele reencontrou ela… e depois ela veio morar comigo, mas eu não sabia qual era o problema e deixei ela ir… e então…


Seu pai não conseguiu terminar o pensamento. Katherine notou que ele se sentia culpado pelo que ocorrera com Morgan, e esta não conseguiu evitar se pronunciar. Levantou-se de um pulo e abraçou o irmão, que supreendeu-se com a súbita mostra de afeição por parte da filha.


-Não foi sua culpa. Eu… ela, fez o que fez por conta própria, ninguém pode ser culpado por isso.


-Sim… sim… perdoe-me o sentimentalismo. Eu só não quero que aconteça o mesmo com você filha. Você precisa se afastar dele.


“Como se fosse fácil”, pensava Katherine. Mas não podia dizer aquilo para o pai, ou ele provavelmente teria um treco.


-Já estou cuidando disso, pai. -respondeu Morgan. O homem pareceu acreditar na sinceridade da garota, pois sorriu e, com pancadinhas desajeitadas no ombro da filha, deixou a sala, permitindo a entrada de Rik.


-Agora é mais urgente do que nunca encontrarmos a Lizzie.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.