Sentimentos
Voldemort não permaneceu por muito tempo no castelo. De fato, saiu ainda naquela noite, após terminar sua visita. Katherine voltou para seu quarto, jogando-se em sua cama, transbordando em felicidade. Ainda podia sentir os lábios de seu milorde sobre os seus -lábios frios e finos, porém lábios do homem que procurara sua vida inteira… Nada poderia tirar-lhe aquela sensação que enchia seu peito e dava-a asas para voar…
A não ser…
Katherine sentou-se em sua cama, sobressaltada. Lembrou-se do dia do ataque em Hogwarts, o dia em que beijara Draco pela primeira vez… Seria possível que no momento de maior felicidade de sua vida ela pensasse naquele…
…naquele o quê?
Não poderia ser; quais seriam as chances de estar sentindo alguma coisa por aquele… aquele garoto?
Aquilo manteve-a acordada o resto da noite. E logo pela manhã seguinte pôs-se de pé e escreveu uma breve carta para Draco, pedindo para vê-lo o quanto antes. Surpreendeu-se por não receber nenhum comentário negativo da parte de Morgan -sabia que não deveria encontrar o garoto, não se realmente estivesse (e ela estremecia sempre que pensava nisso) apaixonada por ele. Afinal, seu Lorde a estava usando agora em seu castigo agora, não estava? E ele decerto não apreciaria nem um pouco saber que sua nova (consorte?) o estava traindo com um Malfoy -família a qual tanto desprezava. Não, ele não gostaria, não importasse quem fosse seu amante.
Enviou a carta e pôs-se a espera. Algo totalmente inútil -afinal, estava na Suécia, sua coruja não conseguiria fazer tal viagem em três segundos- porém não restava nada mais a fazer.
Passaram-se duas semanas sem que Katherine saisse de seu quarto. Não recebia ninguém além de seu irmão e quando outra pessoa tentava entrar em seu quarto, era recebida com tal violência que não tentava entrar novamente.
Morgan não falou com Katherine nesse tempo -o que fez a garota alegrar-se com o pensamento de que talvez ela tivesse ido embora. Mas sabia que não era o caso -sabia que ela estava ali, a espreita, apenas esperando o momento para revelar-se em toda sua fúria contida…
Até que um dia seu irmão entrou em seu quarto e sentou-se em sua cama, oferecendo-lhe um bombom. A garota desembrulhou o doce e pôs-se a comer.
-Kath, Malfoy está lá embaixo.- Disse Rik. Katherine engoliu o chocolate e se engasgou.- Ele disse que você o chamou.
-Por que você não me disse antes?
-Não sabia que era tão urgente assim. Kath, você não está se metendo em mais encrencas, não?
-O que você quer dizer com isso?
-Quero dizer que… Eu também conheço os boatos dos comensais. Dizem que você é a nova mulher dele.- Katherine emaplideceu.- É, foi o que eu temia. Você sabe que isso não vai dar certo, não? Se ele descobrir sobre você e Malfoy… Kath, ele vai matá-la. E você sabe que ele sequer vai piscar.
-Não se importe com isso, Rik. Afinal, isso será um problema somente meu.
-Não se a raiva dele cair sobre Malfoy também.
A garota ainda não havia pensado naquele ponto. Levantou-se e, com um breve olhar para seu irmão, desceu a escadaria até a sala. Draco estava sentado em uma poltrona, pensativo. Ainda estava pálido, como quando estavam na escola e ele se preocupava com o que teria de fazer. Quando viu a garota, levantou-se por educação.
-Obrigada por vir.- Disse-lhe Katherine.- Poderíamos conversar lá fora?
-Pode ser.
Ela guiou-o até os jardins, onde caminharam lado a lado pelas árvores.
-E então, por que você me chamou?- Perguntou Draco, sério. Não parecia exatamente feliz por estar com a garota (provavelmente não havia esquecido seu último encontro).
-Eu preciso entender uma coisa, e só você pode me ajudar com isso.
-E o que você precisa entender?
Eles pararam. Estavam em uma clareira -a clareira favorita da garota, a clareira na qual passava suas tardes de verão quando mais nova. Rodeados de eucaliptos, a luz do sol quase não chegava ao solo, recoberto apenas por folhas velhas. Ela pegou o garoto pela mão -ao que ele fez uma cara de desconfiança- e beijou-o. Ele fez menção de desviar-se, porém percebeu que aquele era um beijo diferente dos outros que já haviam trocado. Antes eram beijos selvagens, cheios de desejo -agora, eram beijos apaixonados, suaves. O tipo de beijo que trocariam dois amantes ao se reencontrarem após uma longa ausência forçada.
-Bem, isso te ajuda a entender alguma coisa?
-Muito mais do que você imagina.- Respondeu a garota. Ela tremia. Tudo, dos pés a cabeça, até mesmo sua voz. Encostou-se na árvore atrás de si, procurando apoio.- Me perdoe.
-Qual parte?- Ele tentou ser ácido em sua resposta, porém ela pareceu-lhe tão frágil que Draco se sentiu um idiota por fazê-lo. Nunca a havia visto assim, tão delicada, como se pudesse desabar ao mínimo sopro -nunca a havia visto assim, tão linda. Sentiu uma imensa vontade de abraçá-la, de acalentá-la, de tê-la para si.- Perdoo. O que seja, qualquer coisa, eu perdoo.
Ele aproximou-se e a abraçou. Ficaram enlaçados, no silêncio preenchido por suas respirações e seus corações, isolados em si mesmos -e mesmo assim juntos.
-Quer me explicar o que está acontecendo?- Perguntou Draco para quebrar o silêncio.
-Bem, é algo que acontece o tempo todo com pessoas que se amam e de vez em quando com pessoas que não sentem nada uma pela outra…- Respondeu ela, sem olhar para o garoto. Ela sentiu seu rosto esquentar (deveria estar o mais próximo possível de um pimentão que já estivera em sua vida inteira). Draco estava sem fala.- Por favor, não torne isso mais estranho do que já é.
-Eu adoraria, mas não consigo pensar em nada inteligente para dizer.
-Então diga algo estúpido.
-Eu… adoro quando você não bate em mim depois de me beijar?
Katherine riu e deu um leve tapa no peito do rapaz, que riu também.
-Pode-se dizer que nosso relacionamento teve um começo interessante.- Comentou Katherine, buscando um assunto qualquer para não ter que abordar seu tema mais temido.
-É uma história que podemos passar as gerações futuras. Mas Kath… não estamos nos esquecendo de nada?- Ela olhou nos olhos de Draco e soube ao que ele se referia.
-Preferia não ter que pensar nisso. Não tenho nada a ver com ele, não tenho nada a fazer com ele, nada, nada, nada.- Katherine olhou para seu braço esquerdo (tatuada em sua pele pálida, a marca negra, uma lembrança constante de quem ela tentava enquecer no momento, aparecia através da blusa transparente). Ela suspirou.- O que você propõe?
-Sem idéias. Posso pensar em algo mais tarde, mas não posso garantir nada.
-Sim… Até lá…- Ela deu-lhe um selinho.- E se eu voltasse para Londres?
-Para trairmos o Lorde debaixo de seu nariz? -Se tomarmos cuidado ele sequer perceberá.
-Ele vai perceber. É um dos maiores bruxos de todos os tempos! Provavelmente já sabe agora mesmo.
-Ou talvez ele ainda não saiba. Talvez seja melhor fazer isso bem na frente dele, pois ele nunca suspeitará de algo assim. Ele não nos consideraria loucos o suficientes. Um sorriso iluminou o rosto de Draco.
-Minha gênio do mal.- Ele deu-lhe um suave beijo na testa e alisou seus cabelos.-Brilhante! Quando você irá?
-Amanhã mesmo. Não quero esperar um único dia a mais!
-Então será amanhã. Devo ir agora, ou então perceberão minha ausência. Até.
Eles se despediram com um novo beijo apaixonado e sem fim. Draco desaparatou, deixando Katherine na borda da clareira.
“Não faça isso Katherine”, disse a conhecida vozinha interior. “Tom perceberá.”
“Não se você não contar.”
“E por que eu não deveria contar?”
“Porque eu não sou a única que será castigada.”
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