Prólogo



Prólogo

Não era em absoluto o que ela esperava como proposta de casamento.
— Pense um pouco, Mione. Tudo o que tem a fazer é dizer que casa comigo. Com todos os contatos que fizemos através dos anos, faremos uma equipe imbatível quando eu for ingressar na política.
O sorriso de Mione paralisou-se. Quando Kevin disse que tinha algo importante a falar com ela, não fazia a menor idéia de que o assunto seria ca­samento. Engraçado, quando imaginava um homem a fazer o pedido, havia luz de velas, música suave, vinho e ele ajoelhado dizendo quanto a amava, num discurso carregado de emoção, afirmando que não poderia viver sem ela. No mínimo.
Baixou os olhos para o solitário que Kevin estendia em sua direção. Parecia que iria pesar tanto que bai­xaria o braço. Teve a impressão de que o diamante piscara para ela. O que estaria esperando, afinal? Aquele homem era o sonho de toda mulher solteira!
"Minha filha tem trinta anos e ainda não tenho um futuro garantido. Vou acabar morrendo sem ver meus netos. Claro, com toda essa sua teimosia não iria mesmo ser fácil achar um homem que possa viver com você", ecoava a voz de sua mãe.
Faltavam apenas alguns meses para o trigésimo aniversário de Mione, que tinha o próprio negócio, uma hipoteca ainda no início dos pagamentos e com sorte seria totalmente proprietária do carro em pou­co mais um ano. Kevin fora o único homem com o qual saíra mais de uma vez nos últimos dezessete meses. Ele personificava o sonho das mães de moças solteiras. Com sua aparência de surfista, loiro com a pele bronzeada, ele não parecia com alguém que tivesse seu próprio negócio de automóveis em pla­nejamento para a expansão. Possuía uma bela casa e era considerado um dos mais disputados solteirões da cidade. Qual era o problema, então? Por que ela não estava gritando de animação e atirando-se aos braços dele? Não que as propostas de casamento viessem todos os dias, como diria sua mãe, se tivesse uma chance. Suspirou.
— Ficaria honrada em ser sua esposa, Kevin — respondeu ela, sem grandes entusiasmos.
Foi Kevin quem vibrou. Deu-lhe um abraço de urso que quase fraturou algumas costelas.
— Então vamos nos casar no seu aniversário. Tal­vez assim você não fique muito deprimida quando completar trinta anos junto com a festa de casa­mento — opinou ele, com um amplo sorriso.
Mione sacudiu a cabeça, incerta. Não sabia se o casamento iria amenizar o choque de mudar de al­garismo na idade. Ainda assim, acreditou que a no­vidade iria deixar sua mãe muito feliz.

— Harry, se quer uma opinião, acho que precisa sair da frente desses computadores um pouco mais — provocou Carolyn. — Às vezes eu chego a pensar que você é feito de circuitos impressos e microchips em lugar de carne e osso... claro que existem ocasiões em que prova que não é.
Harry Potter, conhecido como criador dos mais radicais jogos de computadores no mercado estendeu as pernas e espreguiçou-se. Sabia que seu jeans de­veria ter sido aposentado há muito tempo, porém estava mais preocupado com conforto do que com aparência. Seu cabelo preto precisava ser corta­do, e ele tinha consciência de parecer mais um de­socupado do que um mago dos jogos de computador. Sentiu uma pontada de culpa por não vestir-se me­lhor para Carolyn.
Carolyn Jeffreys era uma famosa advogada criminalista; como sempre suas roupas eram impecá­veis. Um tailleur leve de lã salmão completava a aparência de eficiência conferida pelo cabelo negro preso numa trança. A maquiagem era sutil, apenas para realçar a beleza de traços que provinha de sua ascendência italiana.
Tinham combinado de sair para jantar naquela noite, mas Carolyn ficara até mais tarde no escri­tório para colocar em dia sua papelada, portanto Sam sugeriu que ela passasse em sua casa e co­messem juntos comida chinesa. Ela acabara de che­gar, e acomodara-se no sofá com uma garrafa de vinho na mão.
Harry e Carolyn saíam juntos havia quase um ano. Ela costumava cancelar encontros em função do tra­balho mais vezes do que ele. Harry chegara a pensar nela como a madrasta para seus filhos. Imaginava se os filhos gostariam dela, pois não gostavam do padrasto. Segundo Davis, o sujeito era mesmo um idiota, e o último comentário de Lisa foi que ele deveria ter sido estrangulado ao nascer. O pobre Brandon dizia apenas que o homem não entendia de jogos de computador. Davam tanto trabalho à mãe, Marie, que ela ameaçava mandar os três para morar com o pai. Apesar de serem realmente difíceis parte do tempo, ele amava os filhos e sentia sau­dades todos os dias em que não os encontrava.
— Carolyn, o que acha do casamento? — indagou ele, servindo pato agridoce.
— Casamento?
Embora o tom de voz revelasse surpresa, ele per­cebeu algo mais. Obviamente ela já considerara o assunto algumas vezes.
Harry manteve o sorriso. Pronto, finalmente dissera o que imaginara tantas vezes.

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