Recompensas



- Isso é uma traição inadmissível! – esbravejou o Major Charlus Potter, socando a própria mesa.  Acostumado como estava com as explosões do major, Dumbledore sequer piscou.


- Mas é a verdade, Major.  Black Snake já liquidou três integrantes do bando, mas ainda há muitos outros à solta, todos eles com aquela maldita marca de uma caveira com uma cobra saindo pela boca. Se eles atacaram aquele trem em Nebraska, foi porque souberam do precioso carregamento que viajava em seu interior: o pagamento do soldo de todos os postos militares do Texas.


- Mas quem, Dumbledore! Quem teria deixado uma informação sigilosa como essa vazar? – o homem parecia desesperado, esfregando a cabeça suada e afrouxando a gola da farda.


- Essa é uma ótima pergunta, Major. Quem mais sabia?


- Bom... Algumas pessoas, certamente, mas não muitas. Eu, claro. O General e os oficiais de patente mais alta, que expediram o dinheiro. Acho que os oficiais de ambos os departamentos financeiros, de lá e daqui, também sabiam. Mas são pessoas à toda prova.


- Claro, claro. Sempre são. Até que traem e provam o contrário.


- Dumbledore, você não está querendo acusar um dos meus homens, não é?


- Não? Então como será que os bandidos souberam?


O Major pensou mais um pouco. Sem encontrar uma boa justificativa, perguntou:


- E o seu homem tem certeza que o bando está por aqui?


- Sim. Black Snake me garantiu que McNair sabia exatamente para onde estava indo. Ele disse que poderia ter pego o assaltante muito antes, ainda no Colorado, mas preferiu segui-lo até aqui.  Infelizmente, não foi possível pegá-lo ainda com vida, ou teríamos mais chances de descobrir o paradeiro do resto do bando.


- Sim, Albus. Ou de descobrir como eles conseguem as informações...


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Atrás do balcão da mercearia, Lily Evans arrumava algumas latas quando ouviu passos cruzarem a soleira da porta. Virando-se, a balconista ruiva se deparou com Black Snake, sério como sempre, aproximando-se do balcão.


- Boa tarde, senhor Snake! Em que posso servi-lo?


- Quero cem gramas de fumo...


A moça providenciou um pequeno pacote e viu uma nota de vinte dólares sobre a superfície polida do balcão.


- Mas, senhor! O fumo custa apenas 15 cents, eu não tenho troco para isso!


- Fica como gorjeta. É o que costumo pagar para meus informantes.


A resposta do pistoleiro foi  o equivalente a um tapa na cara de Lily. Indignada, a garota jogou o pacote de fumo furiosamente na direção dele e disse:


- Pois fique com o fumo como cortesia. E leve essa nota nojenta daqui! Eu não sou nem nunca fui sua informante, só arrisquei minha vida avisando sobre a armadilha porque... porque... ah, porque devo ser muito idiota, mesmo. Afinal, depois o senhor vai embora, e eu continuarei morando aqui e servindo de alvo para a quadrilha.


Black Snake guardou o fumo no bolso, puxou o chapéu para a frente do rosto, encobrindo ainda mais sua expressão sombria, e respondeu:


- Quando eu for embora, não haverá mais quadrilha ameaçando ninguém por aqui. Meus respeitos, senhorita.


E saiu. Sobre o balcão, a solitária nota de 20 piscou para Lily. Ela soltou um muxoxo de pouco caso, agarrou-a de forma displicente e a jogou para junto de suas companheiras de menor valor, na caixa registradora.


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- Black Snake, que prazer ter você novamente em minha casa – disse Bellatrix, insinuando-se sobre o pistoleiro que acabara de cruzar a soleira da porta. – O que vai ser hoje: jogos, bebidas ou alguma das garotas lá de cima? Ou talvez você queira algo mais... especial? – completou ela, sussurrando a última palavra em seu ouvido.


- Um uísque, Bella – respondeu Black Snake, afastando os dedos longos da mulher de seu peito. – Só um uísque... Mas um de verdade, e não aquele querosene que você vende para os mineiros que vêm aqui gastar o salário do mês.


- Está bem, então – Bella pareceu um pouco frustrada. – Venha, sente-se. Vou pegar nossa melhor garrafa.


Vendo a cortesã se afastar, Snape se recostou na cadeira, uma mão sobre a mesa e outra sobre o cabo da arma. Logo uma garota chegou com a garrafa e um copo, serviu uma dose e pousou a garrafa sobre a mesa. Black Snake tomou o líquido âmbar de uma vez só, bateu o copo na mesa e disse:


- Mais uma. E pode levar a garrafa.


A garota obedeceu e logo saiu, saltitante. Black Snake ficou segurando o copo de uísque e observando Bellatrix cantar, acompanhada pelo piano.


- You mean trouble, oh, with your Lucifer's eyes
And make me daydream, oh, and fantasize
Running through a field of flames
Playing our forbidden game


Snape não pôde deixar de apreciar a voz selvagem e sensual de Bella. Ele tomou mais um gole de sua bebida enquanto a ouvia cantar.


- Camouflaging all, you pass me in the hall
Leaving me standing naked with my feelings
Did you see me here, swallowing my tears?
Everything that was solid now is reeling


Ao terminar a música, o público aplaudiu e até os velhos bêbados encostados no canto do balcão assobiaram, pedindo bis. Bella, entretanto, desvencilhou-se de seus fãs, falou alguma coisa no ouvido de um homem parado ao lado do palco e dirigiu-se diretamente para a mesa onde Black Snake estava. O pistoleiro tomou de um gole o resto de seu uísque e se levantou, mas voltou a sentar quando a mulher puxou uma cadeira para si.


- Vamos, Black Snake, tome mais um copo. Este é por conta da casa, da minha garrafa pessoal – disse ela, enchendo seu próprio copo e o dele. – Do bom. Vamos brindar.


- Brindar a quê? – respondeu ele, erguendo ligeiramente o copo.


- Ao meu sucesso como cantora. E ao seu sucesso ao fugir de emboscadas fatais.


Ambos tocaram seus copos e tomaram todo o conteúdo de um só gole.


- Agora me conte, meu caro, como você conseguiu se livrar daqueles...


- Eu tive sorte, só isso – cortou Snape, antes de ouvir o fim da pergunta. – Eles eram barulhentos e inexperientes. No entanto – e nesse ponto ele se aproximou ligeiramente da mulher – eu gostaria de saber quem foi que colocou aqueles dois no meu encalço. Porque quando eu descobrir a identidade dessa pessoa, ela estará com os minutos contados.


Dizendo isso, se levantou, cumprimentou a mulher com o chapéu e saiu.


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Inspirando profundamente o ar frio da noite, Snape resolveu ir até o estábulo para ver se Testrálio, seu cavalo negro, já havia se recuperado. Ele estava mancando quando entraram na cidade trazendo o corpo de McNair.


O homem caminhou lentamente pela rua, já quase deserta graças à noite que avançava, e de repente parou em frente ao mercado. A casa de dois andares tinha quase todas as luzes apagadas. Apenas dois quartos, cujas janelas davam para a rua lateral, ainda estavam iluminados.


Então ele se pegou pensando no que ela estaria fazendo. Será que já estava dormindo? E ele imaginou também qual seria o aroma daqueles cabelos avermelhados, como seria o som da sua voz sussurrando em seu ouvido, como Bella fizera um pouco antes. Imaginou a mão delicada da garota sobre seu peito, ou talvez...


Abanando a cabeça, Snape desistiu de saber do cavalo e voltou para o hotel.

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