Capítulo 1
- Capitulo 1 –
Dois anos depois...
Os zumbidos ensurdecedores já não eram tão irritantes quanto no início. Agora já estava quase que acostumado a conviver com os mesmos. Perguntas alheias ao que realmente o interessava. Questionamentos que de nada mais lhe serviam a não ser complicar ainda mais a vida de cada um dos bruxos. Já não sentia mais a, antes, tão freqüente tontura que o atormentava com os flashes sendo disparados em sua direção a todo o momento.
Para que se animar, como lhe dissera Hermione mais cedo, se não há nada de novo, nada de extraordinário em mais um dia monótono de trabalho? Onde as únicas coisas novas eram os nomes acrescentados na lista de assassinados?Onde encontrar esperança onde não há uma mísera faísca de luz acesa? Onde encontrar alegria onde não se ouviam mais os risos das crianças? Onde encontrar amor onde os corações das pessoas já não mais sabiam o significado disso?
Não aguentava mais essa vida.
Andava a passos largos no corredor do Ministério tentando ao máximo ignorar aquele aglomerado de repórteres que o atacavam em busca de algo a muito perdido pela sociedade bruxa: esperança. Faltava apenas dois minutos para a reunião com o chefe da área de aurores e ele ainda não havia chegado ao lugar marcado.
Abriu as portas da sala de reuniões de forma abrupta e foi direto para o seu lugar ao lado esquerdo do diretor. Não se pronunciou e nem mesmo se desculpou pelo atraso. Também não precisou fazê-lo. Harry Potter não era mais o mesmo desde o incidente. Desde aquele dia; o dia. Desde então ele vinha se comportando de forma fria e reservada. Ninguém ousava contestá-lo em nada. Glorioso era aquele que conseguia arrancar um resmungo de seus lábios. Monossilábico e irritantemente misterioso, só proferia frases com mais de três palavras quando conversava com Rony, Hermione ou Brendan, seu chefe. Mas, mesmo com toda sua recente arrogância, poucos eram os que desgostavam do grande Harry Potter.
Com uma carranca estranhamente alta – marca registrada de Brendan e hábito que Harry abominava – o chefe quebrou o incômodo silêncio que circundava o ambiente. Apoiou o cotovelo na mesa e enlaçou as mãos embaixo do queixo como costuma fazer antes de dá início a um sermão.
- Estávamos esperando por você, Harry – falou o óbvio.
O dia de Harry Potter não estava indo nada bem. Acordou tarde devido a terrível insônia que enfrentou durante a noite, estava faltando ovos na casa dele – um novo hábito trouxa que havia adquirido quando começou a morar sozinho em um bairro trouxa – e ele teve que tomar o café horrível que serviam no Ministério, se deparou com um tsunami de repórteres ao chegar para a reunião que, provavelmente, já havia começado e agora tinha que lidar com a carranca estampada na cara gorducha do seu chefe. “Bem, pior que isso não pode ficar”, pensou. Mas logo voltou à realidade: “O que estou pensando? É claro que pode piorar: eu sou Harry Potter, afinal”.
Seu olhar vasculhou o recinto conferindo quem estava ou não presente. Logo se voltou para seu chefe, mais uma vez, e respondeu seca e ironicamente.
- Desculpem-me senhores, acho que esqueceram de limpar a entrada do Ministério - se aconchegou na poltrona.
Brendan o encarou com uma sobrancelha levantada em um claro sinal de confusão, mas, ao perceber os lábios trincados em irritação de Harry, logo entendeu. Ele sempre odiou repórteres. O chefe do departamento de aurores sentiu uma crescente preocupação. Nesse estado temperamental ia ser complicado arrancar de Harry o que pretendia.
Ia ser uma longa reunião.
- Então, – começou em voz alta para chamar a atenção dos presentes, mas baixou o tom antes de continuar – convoquei os senhores para discutir uma realidade da qual já estão cientes. Já faz certo tempo que não temos idéia do paradeiro de Você-Sabe-Quem. E eu, pessoalmente, não estou nem um pouco satisfeito com o silêncio dele. Alguma coisa grande vai começar se não agirmos rápido. Mas me desestimula saber o quanto progredimos até agora: nada.
“Estou cansado de ouvir gritos e reclamações sobre a minha equipe. Sei que vocês são bons. Aliás, são os melhores, por isso escolhi vocês. Mas passar o dia com esses traseiros bonitinhos colados na cadeira não vai resolver nada! Já cansei de repetir: Vocês não vão encontrar nada em um pergaminho ou nesses livros velhos que tanto lêem. Já agüentei tempo suficiente, agora está na hora de mostrar a realidade para vocês. Já faz três meses! Desde...”
Mas parou repentinamente. Estava tocando naquele assunto de novo. Sua cabeça teimava em voltar sempre para o mesmo lugar. A mesma lembrança. Mas sabia claramente o que podia vir a acontecer se verbalizasse seus pensamentos.
- Desde... – um dos bruxos presentes se pronunciou. – Vamos, continue Brendan! Pelo amor de Merlin, já faz muito tempo. – se levantou de forma exasperada – Se o Potter deixasse de ser tão fresco e abrisse a boca, facilitaria a vida de todos nós!
Harry mal esperou a frase terminar e já estava em pé, também.
- Você trabalhou muito duro para chegar onde está hoje Malfoy, não queira por tudo a perder cuspindo merda como está fazendo agora!
A esta altura, nenhum dos presentes viu exatamente como, Harry já estava com as duas mãos no colarinho de Malfoy e com o maxilar tenso de tanta raiva.
- SENTEM-SE!
A ordem foi completamente ignorada.
- Quando se trata do seu passado ninguém pode falar nada! Agora quando é o dos outros... – Draco deu uma risadinha nervosa e sem humor. – Você acha que pode fuder com a vida de todo mundo, Potter. MAS VOCÊ NÃO É UM DEUS!
Harry prensou Draco contra a parede com mais força. Os olhos, antes verdes, agora estavam escuros de tanta raiva.
- Você não sabe NADA sobre mim Malfoy. Por isso cale essa boca e sente seu rabo nessa cadeira! Na próxima vez não serei tão paciente...
Harry puxou o ar e depois soltou, se tranqüilizando. Calmamente soltou Malfoy e se virou retornando para sua poltrona, mas sem antes lançar um olhar em uma advertência silenciosa.
Mas Draco também não estava com muita paciência. Não é nada legal trabalhar em um ambiente onde todos – ou, ao menos, a maioria – te odeiam apenas porque seu pai estragou com todo o seu futuro virando um Comensal da Morte. Também não é nada prazeroso ser xingado constantemente por um imbecil que se acha o máximo por algo que ele ainda vai – supostamente - fazer: matar Voldemort. E foi por esses motivos e porque, afinal, ele é Draco Malfoy que a briga não acabou ali.
- Ora, seu...
Mas, antes que Draco pudesse terminar de proferir o insulto e pular em Harry, Brendan já estava segurando-o e pedindo para que se acalmasse.
Era sempre assim. Draco e Harry nunca iriam se entender. E Malfoy ainda tinha a absurda ideia de que Brendan sempre defendia o “santinho”. Brendan tinha certeza de que a obediência de Draco para com ele se devia inteiramente ao seu cargo de chefe.
- Agora que as duas moças terminaram o show, acho que posso continuar.
Harry encarou seu chefe com uma clara irritação.
- Não acho. Penso que deveríamos encerrar essa reunião. – Harry já estava se levantando. – Agora, se os senhores me dão licença...
- Isso não foi uma pergunta Harry. Sente-se para que possamos retornar à reunião.
Esse dia vai ser muito longo. Foi o que uma cabeça morena e outra loira pensaram ao mesmo tempo.
O recinto permaneceu em silêncio por mais um tempo antes que Brendan continuasse.
- Harry, eu sei que foi um momento difícil e é normal que você não queira compartilhar com a gente. Mas eu já aguardei tempo demais. Agora eu não estou mais pedindo e sim ordenando que nos conte o que realmente aconteceu naquela noite. E não adianta me olhar com essa cara, ela pode assustar os outros, mas não a mim.
“Olhe, não estou dando razão a ninguém, mas o Malfoy está certo em dizer que você não é diferente de ninguém aqui. Você não foi o primeiro e nem terá sido o último auror que passou por uma experiência de quase morte. Agora pare de me encarar como se quisesse me matar e comece a narrar sua história.”
- Não.
Brendan nunca gostou de ser desobedecido – um dos motivos pelo qual ocupa o cargo atual.
- Eu, como seu chefe e, portanto, superior, estou ordenando que fale!
Ser chefe sempre consumiu muito. Mas, mesmo assim, Brendan procurou sempre manter a calma e não se utilizar das vantagens que esse cargo lhe proporcionava. Gostava de ser tratado como igual pelos seus aurores. E estava odiando ter que falar dessa forma com Harry. Mas ele estava passando dos limites. Sabia que provavelmente estava agindo como um idiota cheio de si agora. Mas não importava. Ele iria conseguir as informações que queria.
Ou não.
- Para mim chega! Não tenho a obrigação de contar para ninguém o ocorrido daquela noite. E – ele se abaixou sobre a mesa aproximando seu rosto do de Brendan. – se quiser usar seus “poderes” de chefe e me despedir, vá em frente. Eu não ligo. Não tenho que ficar ouvindo isso.
Falando isso, se retirou.
-*-*-*-*-*-
-França-
- O que está fazendo?
Uma voz distante interrompeu seus devaneios.
- Pensando. – respondeu simplesmente.
A voz distante, agora não tão distante assim, se pronunciou mais uma vez.
- Ultimamente é só o que você tem feito.
Ginny levantou um pouco a cabeça e apoiou o corpo com os cotovelos para encarar sua amiga.
- O que você quer dizer com isso? – indagou enquanto baixava a cabeça levemente para um dos lados em um claro sinal de confusão.
- Quero dizer que você anda muito distante. Como se alguma coisa a estivesse perturbando. Sabe que eu não gosto de te ver preocupada.
Ginny baixou o olhar e refletiu mais um pouco.
Desde que saíra de Hogwarts e Londres, não houve uma única noite que ela não passou pensando o que estava acontecendo com sua cidade, com sua escola, com sua família... com Harry. Graças a Merlin ela teve a sorte de encontrar Holly, sua companheira de quarto quando ainda estudavam no internato e sua melhor amiga. Que Hermione não escute isso.
Mesmo sendo sua melhor amiga, Ginny ainda não teve coragem de contar seu passado. Todos os problemas e todas as frustrações. Não foi por falta de confiança. Ela só não sabia se Holly estava pronta para escutar e compreender todos os seus segredos. Eu devia ter lembrado disso antes de dá a chave do meu apartamento para ela. Ginny pensou. Agora Holly aparecia lá sem nem ao menos avisar e pegava Ginny em seus momentos mais vulneráveis. Já sei! Vou trocar a fechadura! Resolveu, por fim.
- Ginny, ta viva? – a amiga jogou uma bolinha de pergaminho amassado para ver se tirava a ruiva do transe.
A ruiva mais uma vez foi despertada para o mundo.
- Hm? – resmungou lerdamente enquanto massageava (mais para fazer drama que por ter realmente machucado) o local da sua cabeça onde tinha sido atingida.
A morena sentada do outro lado do quarto se exasperou.
- Ginny, pelo amor de Merlin! Já chega. Você vai me contar agora o que está te deixando tão aflita.
É, Holly estava pronta para ouvir e compreender todos os seus segredos.
- Holly, tem uma coisa que eu preciso te contar. – encarou os grandes olhos azuis e penetrantes da sua amiga. - Na verdade, muitas coisas. Mas eu preciso que você me entenda.
-*-*-*-*-*-
Quando chegou em casa ainda podia sentir o rosto quente tamanha era a raiva que sentia. Quem eles achavam que eram para mandar e desmandar nele daquela forma? Ouviu o som da sua própria risada sem humor ecoando pela sala vazia do seu apartamento. Estou até parecendo o Malfoy falando assim...
Risos.
Há três meses que não ria verdadeiramente; estava ciente disso. Aliás, rir não era a única coisa que não fazia há certo tempo. Dormir também tinha se tornado uma tarefa muito difícil de realizar. Era obrigado a reviver, todas as noites, a noite que mudou tudo. Mas, por outro lado, ele agradecia por isso. Não, ele não era um masoquista. Apenas curioso. Alguma coisa não estava certa sobre aquela noite. Algo que ele não conseguia descobrir o quê. Esse é o principal motivo por que não contou a ninguém como tudo aconteceu. Como iria contar algo que ele não faz ideia de como acabou? Não fazia ideia de como tinha sobrevivido àquela noite. Apenas desconfiava de algo...
Tudo estava muito confuso.
Ele definitivamente precisava da sua fiel companheira.
Tirou a capa que fazia parte do seu uniforme e a jogou no sofá enquanto continuava andando em direção ao seu quarto. Logo já estava com as duas mãos na gravata tentando arrancá-la a todo custo. Só Merlin sabia o quanto ele odiava gravatas.
Ao adentrar no quarto deu uma olhada rápida na cama, tempo suficiente para reparar no vazio em que ela se encontrava. Vazia como costuma ficar durante as semanas.
Abriu o armário.
- Oi querida, estava procurando você.
Com um desejo não muito normal de se sentir por algo diferente de uma mulher, ele pegou a Tequila que estava guardada, abriu e começou a tomar. Sentiu uma sensação boa descendo pela garganta e de repente um estranho alívio tomou conta dele. Era esse o efeito da Tequila sobre ele e é por isso que ele a considerava tanto.
Deitou em sua cama king size e buscou seu travesseiro, mas sem nunca largar a garrafa de Tequila.
- Obrigada por exis... – começou a dizer encarando a garrafa.
Mas, antes que ele pudesse completar a frase, o cansaço junto ao estresse e ao efeito do álcool – da grande quantidade – que ele ingeriu o fizeram capotar. Harry Potter logo estava envolvido, mais uma vez, em suas lembranças.
Tudo estava destruído. Aquele vilarejo jamais seria o mesmo, percebeu. As casas estavam em ruínas. As árvores, ou o que ainda restava delas, iam virando cinzas aos poucos. O cheiro de sangue era tão forte que ele sentiu que podia vomitar a qualquer momento. Os gritos de crianças e adultos ecoavam no ambiente devastado. Comensais e aurores batalhavam avidamente com um único objetivo: sobreviver.
Já estava cansado de tanto procurar por ele. Mas sabia que estava ali, ele o havia avisado. Logo desistiu de sua busca ao se deparar com a luta que se desenrolava a sua frente.
Ron e Hermione estavam cercados por, no mínimo, 8 comensais. A garota estava com as costas encostadas nas de Rony de forma a não deixar que ele fosse atacado por trás. E o mesmo ele estava fazendo por ela. Mas era praticamente impossível desviar de todos os feitiços. A diferença era muito grande. Isso só fez o ódio de Harry para com os comensais aumentar ainda mais. Eles eram uns covardes.O menino-que-sobreviveu viu o cansaço e o medo nos olhos de seus melhores amigos e se desesperou. Não podia deixá-los ali. Não quando eles tinham um futuro juntos pela frente. Correu em direção à eles.
- Glacius! – Gritou o feitiço e logo viu três comensais caírem congelados ao chão. O espaço que abriu foi suficiente para chegar até o casal no centro da roda.
- Harry! – Hermione falou em parte com alívio e em parte com preocupação.- Você não devia está atrás de Voldemort?
- Não o encontro em lugar algum! – Falou ofegante enquanto se abaixava para escapar de mais um feitiço lançado sobre ele. – E, além do mais, não podia deixar vocês na mão.
Ron lançou um sorriso cansado e agradecido para o seu amigo.
- Obrigado.
Mas o sorriso logo desapareceu e ele não conseguia mais se mover. Era capaz apenas de assistir ao que ocorria ao seu redor.
Harry também ficou confuso. Em um momento eles estavam lutando e conversando e no outro seus dois amigos estavam petrificados. Não houve muito tempo para pensar no assunto.
- Crucio!
A voz de Voldemort preencheu o local e foi seguida por um silêncio mortal.
- Mas que por...?
Harry despertou do seu pesadelo com uma terrível dor de cabeça. Mas que barulho irritante era esse?!
Logo viu a tão familiar coruja do seu chefe batendo na sua janela pedindo para entrar. Ele se levantou e ouviu um barulho de vidro quebrando. Tinha esquecido que a garrafa estava em cima dele. Ia limpar aquela bagunça mais tarde.
Abriu a janela, pegou o pergaminho que a coruja trazia e a agradeceu com um pouco de comida para que ela pudesse ir embora. Mal terminou de ler o recado e já estava vestindo a capa e indo em direção à lareira. Ele finalmente resolveu aparecer.
N/A: Bem gente, aí está o primeiro capítulo... espero que gostem. Se não entenderem alguma coisa, podem me perguntar que eu respondo =) Portanto que não prejudique o enredo da fic né kkkkk Esse capítulo também não foi muito grande, mas no começo eu preciso colocar algumas informações realmente necessárias.
Comentem, por favor... Estão gostando do Harry dessa fic? Quero críticas construtivas! Kkkk
O segundo capítulo eu vou postar próxima sexta dia 12/11 ou dia 19/11... depende se eu entrar no computador ou não. Estou em época de provas finais kkkkk O capítulo já está pronto, assim como o resto da fic, é só a questão de se vou poder ou não entrar no comp.
Beijos e até o próximo cap.
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