Todos os dias, das oito às dez
‘Droga’, pensou uma morena no dormitório da Grifinória ao acordar na segunda-feira.
‘Droga’, pensou um sonserino loiro ao acordar naquele mesmo dia.
Ambos saberiam que a partir daquela manhã, teriam de aturar um ao outro, todos os dias e ainda fingir que se davam bem.
Era segunda, primeira aula do dia: feitiços. Hermione, diferentemente os outros dias, queria que aquela aula demorasse à passar, e talvez por tanto desejar, não foi isso que aconteceu.
Ela entrou na sala com Harry e Rony, e quando viu, já era hora de ir para a matéria seguinte. Atordoada e sem escutar uma palavra do que Flitwick falou, ela foi direto para a aula de Herbologia, com a Sonserina. E resmungou baixo ao lembrar-se de que teria de ver a cara azeda de Malfoy.
Encontraram-se todos, como de costume, na estufa A7, e sentaram-se em volta de uma grande mesa, com várias plantas em cima.
Quando a professora Sprout começou a falar, Hermione lançou um rápido olhar para Malfoy. Este conferia o relógio a cada dois minutos. Parecia que o loiro também queria que a aula passasse devagar.
Malfoy chegou até fazer algumas perguntas óbvias, na tentativa inútil de fazer a aula demorar mais a passar, mas para o desgosto de ambas as partes, não foi isso que aconteceu.
O que pareceu durar apenas vinte minutos para Hermione e Draco, foi o período de duas aulas inteiras. Já era hora do almoço.
Hermione permaneceu submersa em seus devaneios. Não respondia uma palavra do que lhe perguntassem, parecia abobada. Harry e Rony até tentaram conversar com a amiga, mas após muitas tentativas fracassadas, desistiram.
Não tinham muitas aulas pela tarde. Mione resolveu que voltar para o Salão Comunal da Grifinória seria o melhor por aquela tarde. Sentou-se em um canto afastado e abriu um livro que pegara na biblioteca na semana passada. Terminou-o na metade da tarde, tomou um banho e dormiu até pouco mais de cinco horas. Ao levantar e descer para o Salão Comunal, avistou Rony dormindo ao lado do livro de poções. A castanha deixou escapar uma pequena risada pelo nariz ao avistar o amigo, e deixou-o para trás ao sair pelo retrato da mulher gorda.
Desceu para os jardins, Harry acabara de sair do treino de quadribol contra a Corvinal.
- Harry – disse ela, na ponta do campo quando viu o moreno aproximar-se.
- Olá, Mione – ele disse sorrindo gentilmente. – onde estava? Procurei-te por toda parte!
- Estava dormindo – ela disse, preguiçosa. Ele riu, e os dois continuaram andando sem rumo pelos campos de Hogwarts.
- Suas aulas com Malfoy começam hoje, não? – a garota resmungou ao lembrar-se que teria de agüentar Malfoy quatro horas seguidas.
- Infelizmente sim – ela disse, desanimada. Ao contrário de Rony, Harry não parecia nada feliz em saber que Mione ficaria sozinha com Malfoy por um longo tempo.
Conversou com o amigo até a hora do jantar, e as sete subiram para o castelo, para encontrar Rony. O ruivo estava na porta do Grande Salão esperando os dois amigos.
- Onde vocês estavam?
- Por aí.
- Já ia sair procurando vocês! Anda, vamos jantar, estou com fome.
Sentaram-se, como sempre, na mesa da Grifinória. Sentaram apenas os três juntos, pois Gina estava na outra ponta, conversando com as amigas do mesmo ano.
Faltando vinte minutos para as oito, Hermione se retirou preguiçosamente da mesa.
- Estou indo – ela disse, sem ânimo. – não me esperem, vou voltar apenas depois da monitoria.
Rony concordou, em meio aos risos e Harry apenas balançou a cabeça, carrancudo.
Granger andava à caminho das masmorras, onde se encontraria com Draco e aí seguiriam para a Sala Precisa. Dava cada passo o mais lentamente possível, a fim de passar qualquer segundo possível a menos com Malfoy, mesmo sabendo que de nada adiantaria.
Chegou por fim as masmorras, o loiro ainda não estava lá, provavelmente estaria também adiando ao máximo o encontro com a castanha. Ela esperou, esperou, até que por fim, resolveu sentar-se no chão.
Consultou o relógio pela sétima vez, 20h36min.
‘Eu disse 20h!’ pensava ela com os nervos a flor da pele.
Então, ele chegou. Draco Malfoy andava na direção da castanha com sua postura elegante e imponente. Parou em frente à morena sem olhá-la verdadeiramente.
- Anda, levanta Granger – ele disse como se não estivesse atrasado – mostre-me logo onde fica essa sala.
- Mostraria antes se você não estivesse atrasado.
- Ah, por favor, essas aulas nem são de verdade!
- Mas precisamos fingir que são! E se Minerva aparecesse aqui? O que eu diria?
- Que estava me esperando, oras!
- Ah, claro! E como eu explico que você está quarenta minutos atrasado?
- Isso é problema meu, Granger.
A garota bufou e saiu andando. Malfoy esperou um momento e seguiu-a, mantendo uma distância de três metros entre eles. Ela andou, virou um corredor, virou outro, outro e Draco perguntou-se mentalmente como ela se lembrava do caminho.
- É aqui – ela disse parando em frente uma parede lisa.
- Como? – ele perguntou franzindo o cenho.
- O que queremos?
- Um lugar para fingir que estamos estudando! – ele exclamou como se fosse óbvio.
- E o que vou falar para a sala? ‘Queremos um lugar para fingir que estamos estudando’? – ela disse debochada, porém, uma porta materializou-se na parede antes vazia. Granger puxou a maçaneta e entrou, Malfoy em seus calcanhares.
A sala tinha uma mesa retangular com duas cadeiras no canto esquerdo. Na parede próxima, uma estante com vários livros. No centro, um tapete redondo com almofadas espalhadas e alguns pufes. No canto direito, um sofá e uma poltrona.
O loiro parou a poucos passos da porta enquanto a garota examinou o local. Foi diretamente para a estante, olhou-a por alguns segundos e logo pegou um livro velho e empoeirado. Sentou-se na cadeira próxima e apoiou o livro na mesa, Draco a observava com os olhos.
Após ver que a morena não falaria nada, ele andou até o sofá e largou-se preguiçosamente na superfície do mesmo. Após meia hora, ele dormiu.
Hermione consultou o relógio, 21h25min. Aproveitou para ver o que Draco estava fazendo, olhou para o garoto e esse dormia no sofá, com as mãos jogadas por cima da cabeça e algumas mechas do cabelo caindo angelicalmente sobre o olho direito. Ela revirou os olhos e voltou a dar atenção a sua leitura.
Faltavam dez minutos para o término da ‘’aula’’ e o começo da monitoria e a morena desejou profundamente que Malfoy acordasse logo, não seria nada agradável ter que acordar o sonserino.
Dez horas! ‘Agüente só mais um pouco’, pensou tentando confortar-se, em vão.
Arrastou-se até o outro lado da sala onde o loiro se encontrava.
- Malfoy! Acorda logo! – ela dizia enquanto dava cutucadas nada delicadas no braço do garoto. Após várias cutucadas que já estavam se transformando em socos, ele acordou. Bocejou e espreguiçou-se antes de abrir os olhos completamente.
- Anda. – ela disse, atirando os sapatos sobre o peito dele – Rápido, temos que fazer a monitoria.
Ele gemeu desanimado enquanto calçava os sapatos.
Os dois deixaram a Sala Precisa e no momento que Malfoy fechou a porta, a mesma desapareceu tornando a parede lisa novamente.
Começaram pelo lado leste do castelo. Passaram em frente à sala de feitiços, transfiguração, os banheiros femininos, desceram e subiram escadas, tudo em um silêncio constrangedor.
Eram 23h56min quando decidiram mutuamente retornar aos dormitórios. Fizeram o caminho inverso e chegaram ao Grande Salão, subiram a escada e ao chegarem ao topo, Malfoy virou para a esquerda, indo para o Salão Comunal da Sonserina e Granger para a direita, para o Salão Comunal da Grifinória.
Ao dizer a senha para o quadro, o loiro subiu para o dormitório, todos em seu quarto já estavam dormindo despreocupadamente. Deitou-se, indiferente.
Ao passar pelo retrato da mulher gorda, Hermione avistou um Rony tenso e um Harry à beira de um ataque de nervos.
- ONDE VOCÊ ESTAVA? – perguntou Harry, indo de encontro com a garota.
- Na monitoria? - ela sugeriu debochadamente.
- Até essa hora? – perguntou o moreno aflito – você disse que voltava meia-noite e já são...
- 00h06? – ela perguntou ironicamente.
- EXATAMENTE! – concordou Rony – SEIS MINUTOS DE PURA AFLIÇÃO!
- Ah, faça-me favor...
- Dessa vez passa, Hermione – disse Harry em tom de ameaça enquanto subia com Rony para o dormitório masculino – dessa vez passa.
Acordara desgastada no dia seguinte. Estava acostumada a fazer a monitoria, mas Malfoy a deixava cansativa. Desceu com Rony e Harry ao Grande Salão, a pequena discussão da noite passada foi esquecida como se não tivesse acontecido.
Hermione tentava prestar atenção na aula, porém, estava cansada demais para conseguir ligar alguma coisa do que o professor falava. De vez em quando conseguia captar palavras aleatórias e que não faziam sentido algum juntas.
As aulas com Malfoy foi a mesma coisa o resto da semana: Hermione lendo em um canto, Draco dormindo no outro, e isso parecia funcionar muito bem para os dois. A única coisa que a incomodava era o horário da monitoria, que ficavam em silencio. Hermione sempre falava demais e passar duas horas sem falar nada era muito desagradável.
- Puxe papo! – incentivou Gina – Pelo menos não ficarão em silêncio.
- Você não o vê todos os dias, Gina. – ela disse com um sorriso sem humor - Malfoy não é fácil.
Na monitoria daquela noite, a garota resolveu seguir o conselho que Gina dera na hora do almoço.
- Por que Minerva me pediu para te dar aulas? – ela perguntou hesitante.
- Pergunte a ela, como posso saber? – ele respondeu.
Depois dessa resposta, ela decidiu que não perguntaria nada, não durante aquela monitoria.
- Como estão indo as aulas com Malfoy? – perguntou Rony enquanto estavam sentados em um banco no jardim.
- Péssimas! – ela disse segurando os cabelos com força – Aquele loiro é insuportável! Não que ele não fosse antes, mas agora sou obrigada a conviver com ele! – o ruivo riu – Não ria da desgraça alheia, Ron!
- Enfim – ele continuou após perceber que a amiga não queria falar sobre Malfoy – sábado, com quem irá à Hogsmead?
- Acho que com Harry...
- Harry não vai – ele a cortou – ele irá cumprir detenção com Snape no dia.
- Não vou com ninguém, então – ela disse analisando.
- Claro que vai! Pode ficar comigo e com a Clarice.
- Não quero ficar segurando vela, Ron, obrigada.
- Ah, qual é, deixe de frescura!
- Não é frescura, é bom senso. – o ruivo deu os ombros.
Pela noite, resolveu que não desistiria de puxar assunto com Malfoy, pois o tédio falava mais alto do que seu orgulho.
- Noite quente, não? – ela falou, abanando-se.
- É – ele disse apenas.
- Não sente calor com essa jaqueta? – ela perguntou percebendo a roupa que ele usava.
- Er... não.
- Ah... – e o assunto se foi.
O final da monitoria foi um tédio, um silêncio sem fim.
Na terça-feira Hermione procurou Gina no intervalo, um fato raro de se ver.
- Gina! – ela chamou um pouco longe da roda de amigas que a ruiva estava.
- Oi, Hermione – ela disse um pouco surpresa pela morena tê-la procurado.
- Gina, preciso conversar com alguém! – ela disse neurótica – passo a maior parte do tempo nas aulas, estudando, lendo, escutando as conversas de Ron e Harry ou na monitoria, com Malfoy calado!
- Mione, acalme-se! – a ruiva disse puxando a amiga para um banco. – Estou aqui para conversar com você.
- Nos assuntos de Harry e Rony eu não me incomodo muito, às vezes eu até participo e eles não conversam o dia todo, mas a monitoria é simplesmente um tédio, Gina! As aulas nem tanto, porque eu passo lendo um livro, Malfoy dorme e eu não me importo, pois a leitura me distrai, mas na monitoria...
- Continue tentando, pode parecer difícil, mas não é impossível. – ela sorriu.
- Tem razão, Gina – ela retribuiu o sorriso da amiga – Obrigada.
- Sempre que precisar.
- Acho que já vou – ela disse olhando o relógio. A ruiva sorriu-lhe em resposta.
Passado duas semanas, Draco ainda não decorara o caminho da sala, portanto, encontravam-se antes das aulas em frente às masmorras. O loiro praticamente desmaiava no sofá e Hermione questionava-se mentalmente o que ele faria durante a noite para ter tanto sono na aula. As aulas já estavam se tornando chatas para a castanha também, que já lera todos os livros da estante. Acordar Malfoy já se tornara um hábito e com o tempo, Granger descobriu que o loiro acordava muito mais fácil com cutucões no ombro direito.
- Malfoy, acorda – ela disse com pequenas cutucadas no ombro – já está na hora da monitoria. - Ele acordou assim que ela relou em seu ombro.
Saíram da sala, em silêncio.
- Por que acorda quando relam no seu ombro? – ela perguntou enquanto passavam em frente do banheiro masculino.
- Não acordo quando relam no meu ombro! – ele respondeu de imediato.
- Claro que acorda! Acordo você desse jeito toda noite!
- Me lembre de lavar meu ombro. – ela revirou os olhos.
- Eu não teria que te acordar se não hibernasse no sofá!
- Não hiberno, Granger, somente ursos hibernam, eu sou da Sonserina e o símbolo é uma cobra se você nunca reparou.
- Não reparo no símbolo da sua casa, não reparo em nada que me faça lembrar você para ser mais exata.
- Saber que eu somente acordo se relarem no meu ombro é a prova.
- Sou obrigada a saber disso, Malfoy, senão eu não conseguiria te arrastar para a monitoria.
- Você bem que gosta de ter uma desculpa pra relar em mim – ele disse galanteador – olha Granger, você me surpreendeu, é a única garota que fica comigo um longo período sem tentar me agarrar. Sinceramente não sei como resiste.
- Você não conhece muitas garotas decentes e com bom gosto.
- Conheço, você que é diferente.
- Vou considerar isso um elogio.
- Não foi um elogio, Granger.
- Tanto faz – ela disse dando ombros – você é indiferente pra mim. – as palavras não o afetaram.
- Saiba que é recíproco.
As aulas tornavam-se melhores para Hermione agora, já que não estudava em período integral e deixava tudo para o horário da aula com Malfoy, onde não teria nenhuma distração. Harry e Rony estavam cada vez mais distantes, como a morena não fazia mais os deveres pela tarde, eles deveriam fazer por conta própria e não copiar. Demoravam o tempo dobrado para pensar e Granger não os ajudava.
- Por que não faz mais as tarefas? – Harry questionou no jantar.
- Deixo para fazer nas aulas com Malfoy, assim eu tenho algo pra fazer por duas horas.
- Vocês fazem o dever juntos? – ele perguntou frisando com nojo a palavra ‘juntos’.
- Malfoy dorme a aula toda, mal falo com ele – ao dizer isso, Harry deixou um pequeno suspiro de alívio escapar.
- Já tenho que ir – ela disse saindo – hoje só terei a aula, monitoria é com a outra dupla, volto mais cedo pro salão. – Harry e Rony apenas assentiram com a cabeça.
Granger andou até as masmorras e como sempre, Malfoy estava atrasado. Ele chegou após meia hora, cambaleando. Quando ele chegou mais perto, ela percebeu seu verdadeiro estado, ele estava bêbado.
- Malfoy o que...? – mas ela não teve tempo de terminar a pergunta, o loiro caiu em seus braços com o cheiro forte de álcool vindo de sua boca. Ela passou o braço pela cintura dele e forçou-o a passar o braço pelo seu pescoço. Com muito esforço, ela o guiou até a Sala Precisa e agradeceu mentalmente por estarem todos no Grande Salão, jantando.
Hermione chegou à frente da sala e pensou em uma suíte. Abriu a porta quando ela materializou-se em sua frente. Sustentando todo o peso de Malfoy, ela entrou diretamente para o banheiro com o loiro fungando em seu pescoço. Ao chegar no banheiro, Draco vomitou na pia e Granger fez uma pequena careta de nojo.
Abriu o chuveiro com uma mão e o colocou de baixo d’água.
- QUAL É O SEU PROBLEMA? – ela vociferou.
- Ah... Me deixa! – ele falou com a voz mole, dando tapas aleatórios no ar.
- Não vale à pena discutir com gente bêbada. – ela disse bufando e tentando controlar sua raiva.
- Mas eu não ‘to bêbado – cambaleou para o lado e a morena teve que segurá-lo para não cair e a essa altura, a manga de seu uniforme estava ensopada. Ao perceber que ele estava um pouco mais consciente, ela desligou o chuveiro e lhe deu uma toalha e uma roupa seca. – Troque-se – ela disse ríspida e fechou a porta.
Depois de algum tempo, Draco saiu do banheiro, mas roupas do lado avesso revelaram que o efeito da bebida ainda não passara. Cambaleando, ele foi em direção à cama e deitou-se, Granger estava sentada na beirada da cama, olhando-o. O sonserino dormiu até as 22h30min e ao virar-se para o outro lado, gemeu com a pontada em sua cabeça. Colocou a mão na testa e sentou-se na cama.
- Onde eu estou? – ele perguntou olhando em volta. Granger se sentou nos pés da cama.
- Na Sala Precisa – ela esperou a resposta, mas ela não veio e após certificar-se que Draco não falaria mais nada, ela continuou - como você conseguiu chegar bêbado aqui? – ela frisou a palavra ‘bêbado’.
- Isso não é da sua conta, é Granger?
- Olha aqui, Malfoy – ela disse aproximando o rosto do dele – eu carreguei você das masmorras até aqui, não deixei ninguém te ver nesse estado, limpei teu vômito, te dei um banho e ensopei meu uniforme – ela mostrou as mangas -, acho que eu mereço no mínimo que você sacie minha curiosidade e me diga o que aconteceu. – Draco pareceu analisar a situação.
- Está bem – ele concordou por fim, ela fez uma cara vitoriosa e esperou calada, que ele continuasse – Nós, da Sonserina, fazemos festas no Salão Comunal com muita freqüência. Normalmente assim, no meio da semana, porque vigilância aumenta na sexta, sábado e domingo. Zabine é responsável pelas bebidas – a castanha abriu a boca para interrompê-lo, mas ele foi mais rápido – Pansy e as meninas assaltam a cozinha depois do jantar para pegar as comidas, Ricky, o nerd, não participa das festas, mas coloca um feitiço na porta e não deixa o barulho passar...
- E você, pelo que é responsável?
- Geralmente as festas são feitas no dia da nossa monitoria, minha parte é manter você longe do Salão.
- Por isso nunca passamos perto da Sonserina... – ela analisou e ele concordou com a cabeça – E como Zabine consegue trazer bebidas para dentro do Castelo?
- Existe uma saída, atrás da estátua da Bruxa De Dois Narizes que dá no porão do Cabeça de Javali. Zabine atravessa e rouba algumas garrafas.
- O dono não sente falta do estoque?
- O Cabeça de Javali não é o que chamamos de freqüentado. Devolvemos as garrafas com água e quando o barman vai servi-las, acha que passou do prazo de validade. Meu pai foi lá um dia e disse que a bebida era sem gosto, eu ri e apenas concordei. – ele contou com um sorriso no rosto, mas não um sorriso sarcástico, um sorriso verdadeiro e a castanha deixou escapar uma pequena risada pelo nariz. Os dois cortaram o riso abruptamente ao perceber que estavam rindo, rindo juntos. – Não ouse contar isso para ninguém, ouviu Granger? – ele voltou com o tom seco.
- Não vou contar, tecnicamente, eu também faço parte disso, nunca questionei porque não passamos perto da Sonserina.
- Exatamente – ele concordou com um sorriso de lado – Se eu rodar, você roda junto comigo.
Era quinta-feira, e para Hermione, os dias da semana eram divididos em ‘monitoria’ e ‘apenas aulas’. Desceu para o café com os amigos e agradeceu por Rony e Harry estarem dormindo quando chegou. A conversa com Malfoy de noite passada rendera e ela chegou meia hora depois. Não seria nada legal ter que explicar para os amigos o motivo pelo qual chegara atrasada.
Os resultados dos NIEM’s saíram. Harry e Rony deixaram a desejar e Hermione tirou notas excelentes. Por algum motivo, a castanha estava ansiosa para encontrar-se com Malfoy pela noite e saber como ele tinha ido, porém, ficou sabendo do resultado antes da aula.
- Srta. Granger, venha aqui, por gentileza. – a garota sentou-se na mesa da vice-diretora – Não sei o que acontece com Malfoy – ela disse – as aulas não surgiram efeito algum, creio até que ele piorou. – Hermione animou-se, McGonnagal poderia cancelar as aulas já que não mudou nada – por isso, vou dobrar o período da aula! – ela disse animada como se fosse uma vitória.
- NÃO – Granger deixou escapar e Minerva a encarou com um olhar interrogativo. Ao perceber o que tinha feito, Granger tentou concertar a frase –... vejo a hora de começar! – a castanha forçou um sorriso e Minerva sorriu animadamente.
- É bom saber que você e o jovem Malfoy estão se dando bem. Vocês ainda se tornarão bons amigos – ela finalizou otimista.
- É – Granger concordou sarcasticamente – ótimos.
- As aulas serão dobradas – ela disse ao ver Malfoy na porta da Sala de Poções, por algum motivo, ele estava chegando no horário.
- É? – ele perguntou despreocupado e Hermione poderia localizar, em algum lugar daquele rosto, animação. – Que horas?
- Você não vai fazer nada? – ela perguntou surpresa com a reação dele.
- Você quer que eu faça o que? Reclame com McGonnagal? – debochou – Faça-me o favor, eu preciso passar de ano. – Hermione deu os ombros e seguiram para a aula.
Granger deixou as lições para fazer no horário da aula e sentou-se na mesa do canto e abriu os livros. Malfoy, porém, não se encaminhou para o sofá onde normalmente dormia e sim para a cadeira ao lado dela. A garota apenas percebeu que ele estava ali quando sentiu a leve respiração do Sonserino no seu pescoço.
- Que susto! – ela exclamou, com a mão no coração – ele a ignorou.
- O exercício dois está errado, Granger. – ele disse, conferindo o papel da garota – As Runas de Ganzeller ficam na Escócia, e não na Holanda. – ela o olhou, chocada – Não fica? – Granger consultou o livro.
- Na verdade... Você está certo. – Hermione se sentiu um tanto estranha falando isso, ainda mais para Malfoy, ele sorriu.
O loiro não dormiu naquela aula, ficou sentado ao lado de Hermione, acompanhando apenas com os olhos o dever da garota, e esta se sentiu pouco a vontade sendo observada por Malfoy. Saíram para a monitoria no horário de sempre.
- Quando eu era pequeno – ele começou quando estavam pouco mais da metade do caminho, os olhos de Granger brilharam: ele começara uma conversa – uns dois anos, acho, fui mexer na estante e um troféu do meu pai caiu em cima do meu ombro direito. Machucou feio e eu tive que levar alguns pontos.
- Por isso acorda quando relam no seu ombro? Trauma? – ele assentiu. Já que ele estava de bom humor, a garota iria aproveitar – Eu estava na casa de minha avó um dia, subi em cima de uma cadeira, abri um guarda-chuva e achei que voaria. – ela falou cada palavra olhando para baixo e um pequeno sorriso apareceu em seu rosto – cai no chão, rasguei minha roupa, ralei minhas mãos e os joelhos. Até hoje tenho medo de altura. – Malfoy sorriu. Não foi um sorriso, na verdade, o canto de seu lábio esquerdo elevou-se um pouco. Poderia ser qualquer coisa, uma coceira, uma contração muscular, mas Hermione queria acreditar que era um sorriso, um sorriso quase imperceptível, mas ainda assim um sorriso.
- Nunca tive medo de altura – ele afirmou orgulhoso – meu pai me ensinou a voar quando tinha sete anos. Ele era um ótimo jogador de quadribol.
- Sério?
- Sim. Ele era batedor no time da Sonserina.
- Meus pais não eram bruxos... er, você deve saber – ele fez sinal para que ela prosseguisse – mas passávamos muito tempo juntos. Todo final de semana saíamos. Parque, passeios de bicicleta, piqueniques, almoço na minha avó... – seu rosto continha um sorriso, como se estivesse revivendo tudo o que estava falando - Então minha avó morreu – o sorriso desapareceu – meus pais ficaram deprimidos, nunca mais saímos, não como antes.
- Sinto muito. – ele respondeu quase em um sussurro.
- Obrigada – ela deu um sorriso triste. Hermione consultou o relógio – MALFOY, É QUASE UMA DA MANHÃ! – ele parou de supetão.
- COMO?
- Merlin, Filch está andando por aí! – ela falou, desesperada. – Temos que voltar logo pro Salão e...
- Shhhh – ele tampou a boca dela com sua mão fria e Granger estremeceu ao toque. Uma gata miou.
- Madame Norra – os dois disseram em uníssono.
- Tem alguém aí, minha linda? – escutaram a voz forte e rouca de Filch no final do corredor.
- Corre, Granger – ele disse, puxando-a pela mão. A garota apenas obedeceu. Correram, os passos de Filch atrás dos dois.
- Aqui! – ela disse, arrastando-o para um armário de vassouras. Hermione entrou, sendo seguido por Draco que fechou a porta.
O lugar não era pequeno, pelo contrário. As vassouras compridas estavam em uma parte do armário e o resto do espaço era ocupado por alguns barris.
Os dois colaram o ouvido na porta a fim de ouvir algum movimento do outro lado da porta, mas nada era escutado fora a respiração desregular de ambos. Granger deixou o corpo ceder e deslizou com as costas na parede até chegar no chão, Malfoy porém ficou em pé com os braços cruzados e os olhos fechados. A garota o encarou interrogativa, mas ele não abriu os olhos.
- Malfoy? – ela perguntou após cinco minutos que o rapaz estava na mesma posição sem se mexer, não houve resposta. – Fale comigo! – nada – Ei, pare com isso, você está me assustando. – ela alterou o volume da voz – MALFOY!
- Fale baixo Granger e se... – mas parou abruptamente e colou o ouvido na porta – Filch. – murmurou apenas.
Hermione abriu a boca para perguntar, mas antes que algum som saísse, Malfoy a pegou pela cintura em um movimento rápido e arrastou-a para atrás das vassouras.
- Filch está vindo, escutei os passos – ele sussurrou perto do ouvido da garota, fazendo os pêlos da nuca arrepiarem. – Fique quieta. – a grifinória assentiu.
Dois segundos depois a porta foi aberta, porém esse fato passou despercebido para os dois jovens no meio das vassouras. O loiro a prensava na parede com o corpo musculoso – graças ao treinos de quadribol – e ela se impressionou com a altura dele: sua testa mal chegava ao nariz de Malfoy. Ela observou cada detalhe que poderia enxergar naquele momento: seu rosto magro, o formato oval de seu queixo, seu nariz fino, as bochechas levemente cheias, as sobrancelhas em um tom um pouco mais escuro que os cabelos, a testa lisa e perfeita com algumas mechas do cabelo louro caindo-lhe sobre os olhos, ah, os olhos! Apenas assim, de perto, ela conseguiu ver a cor exata deles, como o cinza da íris trazia várias outras matizes timidamente perceptíveis, com alguns riscos de azul ridiculamente pequenos e um verde menos presente ainda, pupila incrivelmente negra e os cílios na mesma tonalidade de preto.
Draco olhava-a da mesma forma, como se analisasse cada centímetro de seu rosto: sua face pequena e o queixo arredondado, o nariz curvo levemente arrebitado na ponta, as maçãs do rosto rosadas e franja comprida cobrindo a maior parte da testa. E seu olhos, os olhos amendoados, em um castanho tão único, com leves tonalidades de marrom, mais escuros e claros formando uma bela lista de cores. Hermione sentiu-se corar com o olhar tão intenso do loiro. Ele desviou o olhar e encostou-se ainda mais nela quando Filch começou a procurar perto no local que eles estavam. Malfoy manteve a cabeça encostada no pescoço da morena, abaixando-se para que a cabeça não relasse nas vassouras e teve que lutar para não deixar-se hipnotizar no cheiro de pêssego que os cabelos dela emanavam.
Por fim, Filch foi embora, porém, os dois continuaram imóveis, e apenas dez segundos depois se soltaram, constrangidos. Hermione tropeçou em três barris antes de achar a saída e Draco embaralhou-se no meio das vassouras.
- Vamos voltar logo para o Salão – ela disse atrapalhada e sem olhar para ele diretamente, Malfoy apenas assentiu com a cabeça.
Andaram em um silêncio constrangedor até a escada que separava o caminho dos dois. Hermione virou as costas para o loiro e começou a subir a escada.
- Tchau – ele disse seco, subindo a escada da esquerda sem olhar pra ela.
- Tchau – ela respondeu após certificar-se que estava escutando direito, e a essa altura, Draco já estava no meio da escada, mas ainda assim, Granger pode ver uma pequena diminuição no ritmo do sonserino.
_______________________________________
oi gente, *-* segundo capítulo aí pra vocês!
por favor, comentem :D
beijos, A.M. ;*
Comentários (1)
aaaaaaaaaaaah cade o prox cap? T_______T Bubuaa plis atualizaaa
2014-02-16