Quando um sonho acontece...



Quem será capaz de dizer, que ele não correra atrás do que mais desejava na vida? Ou seriam os seus esforços insuficientes para tão grande recompensa que seria o amor daquela pessoa?

Amor?

Dirigiu seus olhos vagos para algum ponto na escura mata que se erguia, ao redor de sua Mansão. Precisava dar ordens urgentes aos elfos para que o mais rápido possível, cortassem logo todos os pomares que se encontravam cheios demais. Ou seria melhor começar a pensar em mudar o ambiente? Quem sabe uma reforma na Mansão, ou até mesmo vende-la...? Sair da sombra que seus pais haviam deixado para si. Sair de sua vida e iniciar uma nova, longe daquilo que fora seu mundo. Aquilo? Ok, talvez Draco estivesse sendo um pouco injusto com tudo que o rodeava, mas depois de tudo que vinha acontecendo em sua vida, ‘aquilo’ era pouco demais.

Franziu o cenho, coçando a pontinha do nariz, que pinicava levemente, a ardência que sentira há tão pouco tempo – resultado do inchaço – já não mais existia. O supercílio também já começava a desinchar, na verdade não estava mais aquele verde-arroxeado assustador que estivera pela manhã. Benditas eram as poções modernas e indolores, logo não restaria nem mesmo a lembrança de tal dia em que quase ficara cego.

Recostou a cabeça sobre o encosto do banco do carro-bruxo. Esse deslizava pelo chão de terra, deixando para trás, uma névoa de pó na escuridão da noite fria, que se estendia lá fora. Fechou os olhos por instantes, e se deixou levar pelo trepidar suave do vidro aos seus lados, o corpo balançando-se lentamente, movido pelo ritmo que o carro seguia. A cabeça pendeu levemente para o lado, reconfortando-se melhor no encosto.

E por mais que doesse saber que jamais A possuiria como já a havia possuído, sabia que lembrar - apesar de alimentar falsas esperanças - era ainda o que possuía de mais precioso. Principalmente aquela noite; a melhor lembrança de toda a sua vida. E sabia, mesmo sem uma bola de cristal, ou folhas e incensos, que aquela seria a sua noite inesquecível. Por que fora com Ela.

Sentiu o carro ir desacelerando, parando na medida em que se aproximava da Mansão Malfoy. Os portões de ferro que se encontravam abertos rangeram quando o vento açoitou com mais força as grades, o carro passou quase levando consigo um lado do portão, ou deixando o retrovisor. Draco colocou-se sentado em posição ereta no banco traseiro, os olhos ficando para trás, vendo os portões fecharem-se em ordem desgovernada, logo depois, observou os galhos das árvores sacudirem-se atordoados com o vento que insistia em atingi-los com toda a força vital que podia possuir. O carro parou próximo à varanda de entrada, a porta sendo aberta por magia-automática. Desceu com o pé direito – não por que era supersticioso, tão pouco notara tal gesto – apanhando a capa que tirara ao entrar no móvel e o envelope que lhe fora confidenciado no novo – e primeiro – emprego.

Segurou com firmeza o papel pardo do envelope por entre os dedos, ou a ventania o levaria embora, como levara quase toda sua vida. Andou com passos apressados, até alcançar a varanda, a mão desocupada a pouco indo direto para a maçaneta, abrindo-a.

A lareira estava acessa, o que deixava a casa quente e deleitosa. Deixou a capa ao cabide na entrada, passando direto pela sala de estar.

-Bonnet prepare o meu banho – pediu indo para a cozinha atrás de algo para comer, mas deparou-se com o elfo vindo pelo pequeno corredor que vinha da copa, em sua direção, trazendo uma bandeja com biscoitos e chá. – Uow – exclamou animado ao ver os biscoito cobertos de açúcar cristalizados que pareciam estar pedindo, para serem comidos – Que bom que não foi preciso pedir o chá.. – sorriu apanhando um dos doces.

- Bonnet não fez o chá para o senhor Draco, Bonnet fez para a visita que está esperando o senhor Draco há quase duas horas, senhor Draco – o elfo rebaixou a cabeça, esperando um safanão ou algo do tipo.

Draco parou a comida a meio caminho da boca, surpreso e assustado. – Seu imbecil! Como deixa alguém entrar assim na Mansão e ainda mais esperar por mim há duas horas? – olhou para a luz que vinha da sala de estar, as sombras dos moveis, provocadas pelas chamas que crepitavam na lareira, dançando na parede do corredor e do hall, perguntando-se antes de fazê-lo ao elfo, quem poderia estar esperando tanto tempo por ele.

- BonnetpensouquepodiaporqueBonnetviusenhoritaGrangeroutranoitecomose... – tentava explicar-se o elfo atropelando as palavras e emendando-as.

- Quem? – interrompeu sem mais querer saber o resto da história. – Cale-se Bonnet! – chegou a gritar quando o ser continuou a fungar e resmungar baixo, fazendo-o de uma vez por todas, parar. Respirou fundo buscando tranqüilidade, espalmou as mãos no ar a sua frente. – Calma... Só diga quem está aí – quis parecer claro, mas seu tom era o mesmo que usariam para falar com uma criança ou com uma pessoa que não entendia muito bem seu idioma.

- A senhorita Granger, senhor Drac... – mas mais uma vez não terminou de falar. O dono recolocava o biscoito sobre a bandeja e limpando as mãos nas vestes – mais precisamente na calça – saia disparado em direção a sala de estar, passos apressados sem precisão, talvez temesse dentro de si, que aquilo fosse uma mentira absurda. Mas um elfo, nunca mentiria a seu dono.

Parou ao batente da porta, uma mão de cada lado, o coração acelerado dentro do peito palpitando forte, os olhos indo de um sofá a outro, e desses para as poltronas e cadeiras, nada. Nada de Hermione. E já ia virar com centenas de xingamentos para se dirigir ao elfo - chegou mesmo a afastar os lábios para se pronunciar - quando a figura descomposta de Hermione Granger surgiu da porta do banheiro. Então seus lábios não estavam mais afastados por desilusão, e sim por surpresa.

- Você... – conseguiu sair do devaneio - ..aqui? – um breve riso, que a qualquer outra pessoa soaria cômico, mas que no momento significava mais. E nem ele, nem ela, poderiam explicar o significado ao certo da pergunta. Principalmente ela. Aquilo soara como: ‘depois de tudo ainda veio me humilhar em minha própria casa, tentando reconstituir a casca de um ovo, despedaçado em milhões de pedacinhos?’ e ‘como vejo, o que aconteceu ontem não foi o suficiente para alimentar o seu ego, então resolveu vir se certificar de que o idiota aqui está realmente no fundo do poço, não é?’.

- Não vim aqui pelo o que pensa que eu vim – deitou a cabeça sobre o ombro, como uma pessoa doentia faria. Apenas uma coisa em mente. Porém com Draco, era mais difícil do que com Rony.

- Não? – estava bem mais seco do que realmente desejava estar, e por mais que a odiasse imensamente por tudo que havia acontecido na noite anterior, não poderia negar assim diante de sua presença que seu amor não era capaz de superar qualquer desentendimento. Mas do que mesmo ele estava tentando fugir? De mais uma ilusão? Não, estava se iludindo mais uma vez, e ao menos tinha certeza se dessa vez iria ou não conseguir se recuperar. De modo que pensou mesmo em expulsa-la de seu lar, sem antes ao menos ouvir o que a menina tivesse a dizer. Os atos comprovavam coisas que as palavras não seriam jamais capazes de comprovar.

- Sabe Draco, eu fui uma idiota. Por que.. –endireitou a cabeça balançando-a, como que querendo despertar de uma vez por todas. – Eu cheguei realmente a esquecer tudo que tinha acontecido entre a gente – molhou os lábios antes de prosseguir. – Talvez tenha sido tão importante e tão inesperado que tenha provocado um colapso em meu cérebro, ou foi por puro desleixe meu...

...ouviu-a rir brevemente, seus olhos acompanhando cada gesto dela, os ouvidos sentindo suas palavras como a uma música desconhecida, que se quer aprender a cantar.

-... eu tive uma noite maravilhosa com você, uma coisa que eu nunca pensei que fosse acontecer na minha vida, e depois fui pra casa.. Pensando em você e em tudo que tinha acontecido. Realmente sua presença na minha vida, fez com que meu dia passasse mais rápido. Então cheguei em casa, e mamãe me disse que Rony tinha voltado... – suspirou – Eu estava esperando ele a um bom tempo, você deve saber. Então ele finalmente tinha voltado – virou-se, mexendo na maçaneta da porta. – Esqueci de tudo, por que eu pensava que tê-lo por perto fosse a coisa que eu mais queria. Esqueci de você... – murmurou essa ultima frase, questionando-se de como fora capaz de esquecê-lo.
- Aí ele apareceu, todo carinhoso e tudo parecia fazer sentido... Então você apareceu, a ficha caiu, mas eu estava perturbada e confusa demais com tudo pra fazer algo...

- Onde quer chegar Hermione? – estava impaciente. Nunca fora muito bom para escutar as historinhas que sua mãe vinha ler todas as noites antes de dormir. Acabava dormindo sempre, antes de chegar ao final emocionante em que o bem vencia o mal. Talvez por esses e outros motivos, nunca acreditara muito que coisas boa podiam vir, e que depois da tempestade vem sempre a calmaria e a reconstrução de tudo que se perdeu, com esforço e amor.

- ..mas quando eu fui para casa naquela noite – ignorou a pergunta e a inquietação do outro, prosseguindo, não querendo deixar a coragem escapar por entre os dedos, como quase deixara ele escapar de sua vida. – Eu comecei a pensar. E por mais que eu tentasse ver tudo de outra forma, era em você que eu estava pensando constantemente. Então deixei que meu coração e tudo que eu sinto sejam mais fortes. – ergueu a mão tirando alguns fios de cabelo do rosto, a cabeça encostou-se a porta do banheiro, fechou os olhos. - E por mais que naquela noite, eu tenha estado na cama com ele, era você que eu realmente queria sentir...

...deslizou as mãos para dentro dos bolsos, os olhos indo para o chão encarpetado. Ela estivera com Rony na cama, enquanto ele estivera em casa, deixando quase a alma ir junto com as lágrimas. Querendo morrer, por que sabia que ela estava com o outro na cama. Mas ouvir a confirmação daquilo que era obvio o perturbou um pouco mais.

- ..Eu sei que é mais difícil pra você do que pra mim. – voltou-se novamente para ele, mesmo não conseguindo enxergar sua face, fitou sua figura destacada na luz fúnebre que vinha da sala. – Mas me perdoa.. – caminhou lentamente a língua por sobre os lábios. Estava com a boca seca. O coração à uma batida de parar de bater, ou sair pela boca e ir aos pés dele.

Tirando as mãos de dentro da calça. Levou-as à cabeça, levando o cabelo para trás. Olhos fechados, digerindo com precisão cada palavra que ela havia lhe dito. O pedido de perdão ecoando na mente atordoada. Olhava-a. O estado de choque em que a menina se encontrava. A verdade estampada em seu semblante. Ela não mentira. Ela não estava ali para brincar consigo. Não poderia estar mentindo. E prometeu a si mesmo em silêncio, que se Rony surgi-se de qualquer lugar ali, mataria os dois, sem a menor piedade que qualquer ser - humano poderia possuir em si.

Um pé ante o outro. Foi assim que caminhou até a menina. Podia ouvir o barulho da ventania do lado de fora das paredes e mesmo assim a respiração dela, era audível. Ergueu a mão até atingir sua face, tocando sua bochecha. A cabeça dela, reclinando para o lado, deitando na palma de sua mão; olhos fechados. Bem como uma criança que recebe o carinho de um pai ou de uma mãe. Aproximou a face, tocando os lábios aos dela, de leve. Não deixou que aquilo chegasse a ser um beijo. Apenas um carinho. Tirou a mão, encontrando os olhos dela nos seus.

- Era tudo que eu poderia querer. – murmurou, sem vontade de colocar mais força para falar. Não havia necessidade. Estavam próximos. – Talvez.. – passou a mão em sua face novamente, encantado com uma beleza que já havia descoberto antes. - ..Talvez tenha sido melhor assim não é? – sorriu, as pálpebras sustentando novas lágrimas. Fungou segurando a emoção que lhe tomara de repente. – Acho que isso foi pra nos testar Mione. Para te mostrar que me ama. Para me mostrar que eu posso me reerguer depois de um tombo... – um espasmo de sorriso. – Perdão é forte demais, não acha? Eu simplesmente te aceito.

O ponto final, mal foi colocado em sua frase, e os braços de Hermione buscaram o corpo do menino. Envolvendo-o. Sua vida dependia daquilo. Pelo menos naquele momento era o que mais precisava: os braços dele, o calor do corpo dele, o contato com sua pele.

- Vamos passar uma borracha nisso t..

- Não. – afagava o cabelo dela. – Isso nos servira de exemplo.- beijou sua bochecha, encostando a testa na sua. – Até que você me diga que não me ama mais. – repousou os lábios nos seus novamente. Deixando que sua língua fosse de encontro a dela, a cabeça inclinando-se à um ângulo que lhe fosse possível melhor encaixe de seus lábios. As mãos escorregaram de encontro a sua cintura, mantendo o corpo da menina bem mais próximo do próprio.

O elfo observou a tudo em silêncio, não era de sua índole sair dando palpite sobre a vida do dono. Apenas se encaminhou, passando pelo pouco espaço que os corpos - difusos na pouca claridade - davam até a parede, e deixou a bandeja com chá e biscoitos sobre a mesinha na sala. Aparatou em seguida para a cozinha, não querendo atrapalhar a felicidade do dono. E mesmo sabendo que elfos, eram apenas elfos, animais-mágicos que não deveriam nutrir sentimentos, queria por tudo, a felicidade de seu dono, de Draco Malfoy.



Foi inacreditável acordar e se encontrar ao lado ela. Mais inacreditável ainda, era lembrar-se da noite anterior. Não. Não haviam transado. Não haviam sequer se despido. Apenas deitaram e ficaram conversando sobre coisas que não tinham sentido algum. Aquilo sim era mágica. O modo como tudo tinha um sentido a mais quando estava falando com ela. As piores bobeiras de sua vida haviam sido ditas naquela cama ao lado dela. E mesmo assim a menina o escutara. Quase como se aquilo tudo, fosse realmente interessante. Bem mais interessante era o que ela lhe contara sobre o mundo trouxa e suas invenções à quais, ele, já havia sido apresentado.

- Quando eu aprender a usar esse tal de telfone, juro que te ligo de uma em uma hora..

- É telefone Draco - e ela ria. Ria como se estivessem lhe fazendo cócegas.

Rira tanto naquela noite, que quase tirara o maxilar do lugar. Chegara realmente a reclamar de dor na bochecha, com os olhos cheios de lágrimas, algo que chegou realmente a causar preocupação em Draco - nada demais claro. Estava com a pele corada. E a felicidade dela, era o que mais o fazia feliz. Ria da risada dela, ria com ela. Sentia-se idiota. Mas quem se importava? Se ser idiota é ser feliz, queria continuar sendo idiota pro resto da vida ao lado daquela mulher.

Não queria sair da cama, mesmo sabendo que o mundo ainda era o mesmo lá fora, que tinha que levantar e ir trabalhar. Não queria ir. Tinha receio de que tudo aquilo se acabasse. Que fosse apenas um sonho. Sentou-se, escorregando para perto dela. - Mione - chamou beijando-lhe a face.

O sonho fora interrompido e estava tudo escuro agora. Relutou em abrir os olhos, havia uma pequena mexa de sonho que insistia em misturar a fantasia com a realidade. Ouviu de novo a voz ao longe, a escuridão voltando. Abriu os olhos lentamente. Os olhos azuis que focou, a fazendo desistir de xingar por a terem acordado. Sorriu levando as mãos a face.

- Só mais um pouquinho, ta? - virou pro outro lado, olhos fechados, aquela sensação de descanso.

- Não.. - abraçou-a, voltando a se deitar. - Você tem que ir trabalhar e eu também, esqueceu? - deitou a face sobre a sua, aninhando-a contra o corpo.

- Uhum - as palavras dele não tinham tanto sentido, quando o sono a estava engolindo mais uma vez.

- Uhum? - riu, ouvindo-a concordar de novo. - Vamos Hermione. Você não é mais uma criança... - beijava seu ombro, puxando o edredom pra baixo, descobrindo-a.

- Não - resmungou tentando segurar o pano. Estava tão quentinho ali debaixo. Então, se fosse uma criança poderia dormir mais um pouco. Aquilo era injustiça. Não tivera uma infância confortável como aquela.

- Mi.. - tocou com os lábios seu busto, subindo, roçando apenas - ..one - chamava, dando-lhe leves beijos pelo pescoço.

Virou-se o olhando, um sorriso nos lábios. - Ah se eu fosse acordada assim todas as manhãs - dedilhou sua face, acarinhando-a, os dedos adentrando em seus cabelos, arrepiando-os ainda mais.

- Isso é um pedido de casamento? - sorria com ela, os dentes se fechando no lábio inferior, sobrancelha levemente arqueada. Ar de menino travesso, que está aprontando alguma, mas que a mãe por cegueira-materna, nunca enxerga.

Riu sem graça, corando. - Ah pára seu bobo - bateu a mão em seu ombro, os dedos se fechando em sua camiseta. - Ta me deixando sem graça.. - soltou-o, as palmas da mão indo pro rosto, cobrindo-se.

- Nossa - riu brevemente. - Imagina então o que iria acontecer se eu te pedisse em casamento. - estava com os olhos fixos nela, prestando atenção em sua reação. Ela ficou em silêncio, as mãos no rosto. - Olha pra mim - puxava suas mãos, com cuidado, sem muita força. Ela balançando a cabeça, dizendo que não. - Ah vamos. Não dá pra te pedir em casamento com você assim... - sorriu. Ela congelara de novo.

Parou de balançar a cabeça como uma doida alucinada que quer esconder algo. Do que ele estava falando? Draco estava louco. Deslizou os dedos pela face, deixando-a a mostra. Engoliu o excesso de saliva. A face em chama ardente. Olhava nos olhos dele, perdendo-se naquele azul incontestável. - Do que você ta falando?

- Eu quero me casar com você. - fixava a imagem dela em mente. Queria lembrar-se daquele momento dali a anos, décadas, séculos.. vidas. - Não quero esperar pra ser o seu homem, para poder acordar todo dia ao seu lado despenteado assim e ter que te convencer de que temos uma vida pela frente pra estruturar e tornar real. - era incrível como as palavras simplesmente vinham quando se tratava dela, de estar falando olhando em seus olhos. Nunca fora bom orador. Nunca soubera dizer coisas agradáveis, mas ela lhe inspirava a qualquer coisa. Lhe dava coragem de deixar as emoções transparecerem. - Quero passar noites e noites falando de coisas que eu nunca falei pra mais ninguém, e ouvindo você contar todas as noites, a primeira vez que acertou a tabuada do dois completa. - sorriu. - Quero que você seja só minha, e quero poder mostrar que eu te amo pras outras pessoas.

Fora a coisa mais bonita que ouvira em toda a vida? Se não, era por que ainda estaria por vir. Não importava, pois saíra da boca dele. E tudo que vinha de Malfoy, passara a ser como diamante... Não. Draco era o próprio diamante: viera da lama, pedra bruta e aos poucos, tomara forma.. Preço inestimável o seu valor. E talvez ela fosse indigna de tanto amor, tão puro como era o dele. Pois era recem-descoberto. Talvez Malfoy não soubesse o que era realmente o amor, e confundia o desejo com o sentimento. Porém, algo em seu tom, em sua voz, carregava o poder de fazer o coração dela, querer saltar. Não rumo ao chão dessa vez. Rumo ao coração dele. Quase querendo tornar-se um só. Ele falava com o coração. Falava com pureza. Com sinceridade.

Sorriu, sabendo que não lhe cabia mais nada, a não ser tentar retribuir a qualquer custo tanto amor. Entregar-se de âmago e corpo. Entregar sua vida a ele. Impossível não querer chorar ouvindo aquilo. Não era seu momento mais feliz. Sua vida já fizera enorme sentido quando se entregara para ele, naquela mesma cama. Ali, fora a pessoa mais feliz. - Será que todos os momentos marcantes vão ser vividos aqui? - olhou pros lados, olhando para as paredes.

Draco olhou por tudo também. Seu quarto. O que mais sabia de Draco, até mais que ele próprio. O que vira seus brinquedos. O que presenciara muitas descobertas do garoto que se tornava homem. O que sentira sua fúria em momentos revoltantes. O que o acolhia sempre, não importando seu temperamento ou estado. Seu quarto. Olhou para baixo. Largou-se na cama ao lado da menina. - Acho que não - seus olhos fitavam o teto. Passagens renascendo em sua memória. Via-se atingindo por acidente a janela, com sua primeira experiência com uma varinha e com a mágica. Os cacos de vidro haviam voado para todo lado. Mas ele ria, divertindo-se com tudo aquilo, que era novo.

Virou-se de lado na cama, olhando-o. Draco estava com os olhos fora de foco. Um brilho incomum. Não estava consciente. Devia estar vagando em alguma lembrança. Voltando ao passado. Encostou a cabeça em seu peito. O deixaria devanear um pouco, ouvira dizer que era saudável dar um tempo para as memórias, pô-las em ordem, reviver até mesmo as ruins.

- Sempre que acontecia alguma coisa.. - sua voz se perdeu, vendo os pais brigarem à mesa de jantar, durante uma ceia de natal. - Sempre que eu desejava fugir e não podia. Eu me trancava aqui. –a criança de seus seis anos de idade, escondia-se dentro do enorme guarda-roupa, abraçado aos joelhos, esperando que os gritos parassem de ecoar dentro de sua cabeça.

Ouvia-o, sem interromper. Talvez por que não tinha nada a dizer, talvez por que sentia-se meio psicóloga dele. E seria sua mulher. Seria sua confidente.

Mordeu o interior da boca, o homem sempre tão frio em tantas outras ocasiões lhe dava um pequeno baú depois de pedir que fechasse portas e janelas do quarto, no interior da pequena caixa, havia uma pequena bola dourada, possuía asas que batiam rapidamente. Era um pomo de ouro. O menino, agora com seus oito anos, olhava encantado para aquilo que voava, mas não era ave.

- Se conseguir pegá-lo, lhe compro aquela vassoura que tanto quer, e ensino-lhe a voar. - prometeu seu pai com um tom que agradou o menino, era o tom da verdade. Sempre que falava daquela forma, cumpria.

Passou o dia inteiro trancado com quem mais temia naquele quarto, sem lembrar-se de surras ou brigas. Apenas corria e pulava atrás do pomo, rindo, acabando-se. O pai o pegara no colo, erguendo-o. E assim, num piscar de olhos, sentia as asas da esfera dourada, batendo na palma de suas mãos, que estavam fechadas segurando-a. Foi a primeira vez que viu o pai com orgulho de si, ou pelo menos a primeira vez que se lembra de ter visto.

Mas também fora assim, que se acostumara a fazer algo, sempre esperando um mimo em troca. Foi assim, que desejou pra sempre, fazer o pai sentir-se sempre orgulhoso do filho que possuía.

Esfregou os olhos, despertando. – Eu não quero formar uma família nessa casa Mione. Ninguém pode ser realmente feliz debaixo desse teto. - deixou a mão recair sobre os cabelos dela, afagando. - Não vamos ser a família mais feliz, mas vamos ser felizes.. Isso eu posso te prometer.

- Vou fazer cada minuto ao seu lado valer a pena - recuou a cabeça para trás, encostando o queixo em seu peito. Olhando-o. - Como se fosse o último... - sentiu um aperto no coração, como se uma mão delicada o tivesse apertado entre dedos e palma. Suou frio, sentindo o sangue do próprio coração escorrer por esse. Era claro que era apenas uma visualização do que não ocorrera. Viu o sorriso se formar nos lábios dele. Não quis preocupa-lo com o mau presságio que tivera, apenas abraçou-o novamente.

Jamais tivera don para visões e coisas do tipo, talvez fosse pelo o que ele havia dito. Talvez por medo de perder tudo que havia conseguido até ali. Talvez por isso sentira o peito ser esmagado, talvez por isso sentira como se o mesmo tivesse sido perfurado. Calor e frio. A sensação de sangue escorrendo. Tudo isso, era medo de perder a felicidade...

... Iriam se casar, iria ser a mulher dele e o ter como seu homem. Ninguém impediria. Nem seus pais, nem seus amigos, nem mesmo o espírito de seu pai, ou a reaparição da mãe do garoto. Nada seria capaz de impedir aquele sonho de se realizar. Simplesmente, nada.



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N.A.: Lalalala.. xD
Vamos primeiro as desculpas? x_x'
É, eu sou péssima pra promessas, acho que já deu pra notar *se morre* Então, demorei mais postei (y)
Os fakes me viciaram e me vejo perdida no mundo deles, sem tempo pra mais nada. Vou começar a pegar firme na fic agora, já que me formei, e não tenho mais nada a fazer da vida.
Pessoas, obrigada pelos coments. Outro dia uma moça me add no msn, fiquei emocionada. Então esse capítulo vai pra você Ninna (acho que é assim mesmo que escreve seu nome né? se não for, não faz mal, é de você mesmo que eu to falando.) que fez eu me lembrar da existência da fic *-* *aquela que só não esquece a cabeça por que é grudada no pescoço.*
tralalá.. xD
Enfim, até o próximo capítulo. o/

P.S: Esse é o meu presente [do meu aniversário de 18 *-*] para vocês. xD
Realmente, espero que gostem uu’

:*


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