Insônia e Verdade: Uma noite d



O silêncio pairou no ar, entre os poucos centímetros que os mantinham separados. A revolta dele, a surpresa dela, tudo ali, naquele mesmo ar divido pelos dois... Draco Malfoy virou-se tomando o caminho do banheiro, empurrou a porta ao entrar, fazendo a mesma bater-se no batente com um estrondo alto e abafado.

Hermione fitou a porta, sua cabeça caindo sobre o pescoço. O que faria? Onde se metera...? Aquilo talvez fosse pior que a morte...

Desceu os pés da cama e tocou com eles o chão, pegou o porta retrato caído ali e o colocou sobre o criado mudo, sentindo uma fisgada no pé tratou de sair saltitando de sobre os pequenos e mesmo assim, muito perigosos, cacos de vidros, que se encontravam espalhados por todo o piso ao pé da cama. Puxou o edredom, derrubando-o sobre os fragmentos que já haviam sido o espelho de um porta retrato aquela noite. Seus olhos indo encontrar-se com a porta negra e fria do banheiro, seus pés a guiaram sorrateiros e temerosos até a maçaneta, envolvendo-a com a palma de uma das mãos, a girou para a direita, podendo ouvi-la se abrir num ruído metálico, empurrando a porta com cautela, escutou seu ranger agourento sem nada temer.

Seus olhos ergueram-se da pia, estivera olhando para a água cair, como se a mesma estivesse levando embora toda aquela tristeza que o havia invadido. Mirando o espelho viu o reflexo dela nesse, mas não via nitidamente, seus olhos ardiam e estavam embaçados pelas lágrimas que ainda estavam alojadas em suas pálpebras. Sentiu os nós dos dedos serem mais apertados à borda da pia, ela vinha em sua direção, voltou a baixar a cabeça, aquelas que seriam as últimas lágrimas rolando e queimando sua face, marcando-a mais uma vez de tristeza. Como conter os braços que tremiam? Como conter o próprio coração que por pouco não saia por sua boca...? Sempre achara que ele era pequeno demais para caber em uma mão, talvez fosse... Talvez estivesse apenas inchado com tanta desordem.... Tantos sentimentos ocultados e agora livres... Estava com vergonha, estava acima de tudo com medo. Um medo anormal, já sentira, era verdade, um medo mais intenso que esse...

Hermione hesitou em tocá-lo... Seus dedos adentraram o cabelo dele pela nuca, indo para cima, para a cabeça... Colocou-se ao lado dele, não esperava mesmo que ele a olhá-se logo que o tocasse.

Draco sentiu os dedos dela: arrepiando-se, fechou os olhos sentindo por breves momentos a ardência em suas pupilas aumentarem, mas logo isso passou, aliviava, a dor dava espaço à calma... Engoliu o excesso da saliva, tentando empurrar com ela todo o medo.

- Não precisa se esconder Malfoy – sua voz saiu calma, como a de uma mãe, ninando seu bebe, para que ele sinta paz e conforto. Os dedos escorregaram saindo dos cabelos louros, alcançando a face dele, em chamas, rosadas. Fitava o semblante do rapaz se tornar sereno.

Draco umedeceu os lábios febris, engolindo novamente aquele gosto amargo que estava em sua boca. Finalmente abrindo os olhos para olhá-la. – Vai embora – pediu num fiasco de voz que custou a sair. Não sabia que pedido era aquele, e nem por que o fazia. – Não precisa ir embora da casa, só... Sai do meu quarto... Me deixa em paz Granger...

- Mas... – queria ajudá-lo. “Que droga Malfoy o que está falando?”. Afastou suas mãos dele, seu corpo tomando o mesmo rumo.

- Por favor Granger – pediu mais uma vez. – Me deixa sozinho... Esquece tudo que eu disse, tudo que você ouviu... É besteira! – sabia agora por que pedia aquilo, de repente tudo estava claro. Não queria ouvir o que ela tinha a dizer, temia o que viria a ser pronunciado por ela no momento seguinte em que ele lhe perguntasse o que achava sobre aquilo tudo.

Havia sido um grande erro seu, desabafar assim, pra ela. Deixar suas emoções falarem mais altos e dizer o quanto a gostava, o quanto se sentia sozinho, o por que de tanto ódio por Harry Potter. O Potter... Quanto demoraria para ela ir correndo até ele e lhe contar toda aquela palhaçada? E rirem juntos... Os dois e o pobretão do Weasley? Até quando se tratava de debochar dele, Draco sentia ciúmes dela...

Hermione escutando suas palavras foi deixando o quarto, ele lhe poupava muitas coisas. Expressar o que sentia naquela noite seria difícil, mesmo estando sobre o efeito de uma poção ou feitiço.

Draco Malfoy; o Malfoy; louro aguado; doninha quicante; o rato da Sonserina; o filho de Comensal; Draco Malfoy... Não a pessoa que mais odiava, mas certamente estava no topo de sua lista. O ser mais nojento dentre tantos. Como dizer a ele que o odiava tanto?

Já na cama, a porta fechada, pensava em como era fria. Isso a revoltava. Como ele era cara de pau. Como queria cuidar daquela criança escondida atrás daqueles olhos perdidos. Como o odiava.

Por um momento pensou ter ouvido o que realmente ouvira.

“E te amo Hermione...”

A voz arrastada dele soou em sua cabeça, como que sussurrada em seus ouvidos instantaneamente. Estava gravado tão bem em sua mente, que se recordaria delas eternamente. Mentira dita por lábios frios, por um coração inexistente, um ser que não lhe fazia a mínima importância viver.

Seu ódio por ele vinha de cedo. Vinha do ódio dele pelas pessoas como ela... Mestiças... Vinha das tantas provocações e mal-tratos direcionados a Harry por ele... Por seus amigos, e pelas pessoas de sua “laia”.

Mas....

Virou-se na cama, as mãos buscaram o travesseiro, trazendo-o para perto de seu corpo. Abraçando-o.

Naquela noite, conhecera o novo Malfoy, o Malfoy que ela sabia, muitos desconheciam... Estava confusa... Gostara de seu beijo e queria cuidar daquela ferida que ele abrira, desabafando coisas tão profundas.. Confidenciando suas dores a ela... Queria cuidar dele... E se odiou ao pensar nisso, por que o odiava e tinha dó dele... Por que não conseguia esquecer os lábios sujos de sangue dele.... o Gosto que lembrava muito ferrugem, o cheiro de sangue... As lágrimas mornas dele a se misturar ao sangue, ao borrar sua pele alva...

Fechou os olhos... O barulho da chuva que insistia em cair lá fora trazendo o gosto do beijo dele de volta ao seus lábios e a sua boca... O dedo indicador indo para os lábios, na intenção de provocar o mesmo efeito que os dele, impossível... Impossível ser como Draco Malfoy era...




Fitou-se no espelho por um bom tempo. Os olhos mantendo-se no reflexo dos mesmos.. Estavam tão azuis aquela noite, em contraste com o vermelho de tantas lágrimas que haviam sido expulsas sem sua permissão. O nariz encontrava-se num vermelho-arroxeado, meio inchado... Fungou, sentindo uma pequena e fraca ardência no interior dele. Caminhando a língua pelos lábios, umedeceu-os, deixando-os tão vermelhos quanto o contorno de seus olhos. A pele alva e as bochechas borradas de rosa.

Já se vira tantas vezes assim de fronte ao espelho. Com os sentimentos esmagados por emoções, dores...

O solado dos pés doíam, agora recordava que havia pisado sobre cacos de vidros. Nenhuma dor se comparava a que sentia em seu coração, tão inchado e apertado por mãos invisíveis, mãos inexistentes que o sufocavam.

Ligou a torneira e com uma poça de água na mão, molhou a face. Limpando suas vistas. Afastou-se e secou o rosto numa toalha que havia ao lado da pia, bordada em um D e um M, enlaçados. Caminhou vagarosamente para o quarto, seus olhos avistando primeiramente o edredom caído ao chão, ela o colocara lá para que ele não voltasse a pisar nos cacos de vidros. Uma fina linha puxou seus lábios para o lado, num sorriso sem dente e agradecido.

Apoiou as mãos sobre a cama e colocou os joelhos sobre ela, subindo ao conforto do lençol bagunçado. Deitou-se, puxando o lençol e se cobrindo com o mesmo. Estava com frio. Não era um frio carnal, mas um frio emocional... O que será que ela iria lhe falar? Quem sabe lhe dirigiria ofensas de gravidade absurdas... Realmente não sabia o que estaria se passando pela cabeça dela agora. Muito menos sabia se ela ainda permanecia na mansão. E isso de certa forma o deixou preocupado. Ela não podia deixar a casa, o mundo se acabava em águas lá fora, e como sabia a propriedade dos Malfoy era imensa, não conseguiria aparatar..

Levantou-se e saiu do quarto em direção ao que cedera para ela dormir, foi com passos lentos, pisando leve sobre o carpete verde musgo que cobria todo o piso do corredor central. Parou à porta fechada, tocando a maçaneta e a abrindo. O quarto estava escuro, mas a luz que entrava pela janela de cortinas abertas clareava um pouco o aposento com uma luz azulada, meio prateada... Clareava a cama de dorso e cortinado de rendas delicadas, feitas à mão, presas por uma fitinha de junto ao dorso. Havia um amontoado de pano ali, ao qual erguia-se um pouco e depois se abaixava. Ela dormia, ressonando baixo e calmamente.

Aproximou-se com cautela, não queria acordá-la de seu sono que parecia ser leve. Parado ao lado da cama, abaixou-se, ficando prostado ao seu lado, seu rosto de fronte ao da jovem que tinha um semblante passivo. Com as costas da mão, acariciou sua face, tão lisa e macia, que poderia ser considerada facilmente, igual à de um bebe que acabara de deixar o útero de sua mãe e de ser banhado pela parteira. Seu cheiro gostoso, chegando logo as narinas dele, sendo inspirado. Causando-lhe o desejo de se aproximar mais.

Observou que os olhos dela tremerem um pouco, um sonho agitado, talvez até um pesadelo. Sua mão tocou o ombro dela.

- Granger – chamou, sua voz saindo um pouco pastosa, em conseqüência do choro e de usá-la em um sussurro tão baixo. – Granger – uma leve balançada a fez sair do sono.

Acordara, e aos poucos abria os olhos sonolentos, que por uma razão conhecida queriam permanecer fechados, puxando-a para dormir mais profundamente. Ao abrir os olhos, viu de imediato alguém recortado com o fundo azulado da janela à frente. Tirando a mão de debaixo do edredom levou-a ao olhos, esfregando-os para que pudesse enxergar melhor.

- O que? – ainda estava rouca, por decorrência da friagem que havia pegado e da chuva. Certamente pegaria um resfriado daqueles. Nada que uma boa poção não pudesse curar. Mas o que a perturbava era o que ele queria consigo agora.

- Estou sem sono... Poderia me fazer companhia? – sua voz soou tão mansa que acabou assustando a si próprio. Não voltou atrás. Mas de fato ela ficaria confusa, há minutos atrás a expulsara do quarto e agora vinha lhe pedir companhia.

Hermione sentou-se, os braços erguendo-se no ar. Os lábios se afastando, num bocejo sonolento, levou a mão à boca, escondendo o bocão que abrira. Sentou-se, o edredom escorregando de sobre o peito e indo parar no colo, passando a mão pela cabeça ajeitou o cabelo, prendendo-o com uma pequena fita. Olhou para ele. – Pensei que quisesse ficar sozinho... – coçou a nuca, um novo bocejo.

- Eu também pensei isso – deu a volta na cama e sentou-se sobre a mesma, ao lado e de frente para ela, as pernas dobradas como os índios costumam sentar-se. – Olha Granger, não vamos falar sobre tudo que aconteceu essa noite. Eu sei que amanhã, assim que deixar a Mansão, vai sair correndo para contar aos seus amiguinhos tudo, então, poupe os detalhes a eles, ok?

- Eu não vou contar nada, desde que deixe de ser irônico – ameaçou a jovem com um sorriso sonolento e incontido nos lábios recém umedecidos.

Ele riu, um riso sarcástico – Olha Hermione – e achou estranho dessa vez chamá-la pelo primeiro nome, mesmo antes pronunciando o nome dela enquanto explodia com a mesma. Agora parecia algo mais solto, cada letra flutuou diante de seus olhos e dançaram livremente pelo ar. Hermione... O nome dela era tão bonito, só não mais que a própria. Perdia-se em pensamentos que não faziam o menor sentindo, mas que para ele, naquele momento tinham total razão em estar em sua mente.

Fitava a face dele, esperando que o mesmo terminasse seu protesto. Mas o louro não falava, olhava para o nada, o abismo de seus próprios pensamentos. Ergueu a mão à altura dos olhos dele, com o dedão e o dedo do meio em atrito, fez soltar-se deles um estralo, dois...

O barulho chegou ao seu cérebro acordando-o do devaneio – O que? – perguntou logo que seus olhos bateram nela. – O que foi? – estava um pouco perdido, antes mesmo de “voltar a si”, pensava em como os pais eram idiotas, e escolhiam nomes idiotas... Mais coisas sem a menor importância.

Ela riu – Esta sofrendo de aminésia Malfoy? – arqueou levemente a sobrancelha, um sorriso ainda a brincar marotamente nos lábios.

Inclinou a cabeça um pouco para o lado, deixando-a num ângulo de uns trinta graus. Os lábios afastaram-se, mas o som de sua voz não saiu, então os fechou, olhando para o short do pijama ao qual usava para dormir. Mais uma vez o silêncio, odiava-o as vezes, por que ele sempre tinha de voltar nesses momentos? Por que ela não falava nada, nem que fosse a pior besteira do mundo... Nem que fosse um insulto a sua pessoa...

- Onde estão seus pais? – a duvida é a pior inimiga do ser humano, ela mata e Hermione não queria correr o risco de morrer. Talvez os pais dele tivessem saído e logo voltariam, ou até mesmo estavam na casa, dormindo num dos quartos do corredor. Bruxos que desprezam trouxas, se vissem uma Mestiça ali, a primeira coisa que fariam era matá-la e depois perguntar quem era.

Levantando a cabeça, e com esse movimento deixando fios de cabelos por sobre os olhos, Draco a mirou um tempo, avaliando a pergunta. Pelo menos ela falara. Dirigira-lhe a palavra. – Como você deve saber meu pai está em Azkaban, seu julgamento é na próxima semana – um riso fraco e triste, soltou-se por seus pulmões como uma dor agoniante, ergueu de leve o ombro, como se quisesse expressar que não fazia diferença para ele, mas seus olhos mentiam – Minha mãe é uma foragida – olhou para o teto, tentando por tudo fazer as lágrimas que voltavam a se juntar, voltar para seu lugar de origem e de fato conseguiu – Acho que foi para fora do pais. Outro continente... Quem sabe já não é mais Narcisa Malfoy, pode ser talvez uma Joanne... Ou sei lá... – respirou fundo – Metade da fortuna pertencente aos Malfoy’s, ou seja, metade da minha fortuna, vai ser revertida para obras de caridade, dizem que é dinheiro sujo e roubado, mas que as pessoas necessitam dele – riu desdenhoso.

- Acha que qual vai ser a sentença de seu pai? – mirava a face dele iluminada pela luz que entrava pela janela, o azul-acizentado dos olhos dele tornando-se quase transparente. Notava-o agora forte...

- E resta duvidas de que será o Beijo? – olhou em seus olhos. Dessa vez não se sentiu triste. Sua voz saiu firme, e mais parecia querer isso mesmo para o pai. Talvez fosse verdade, queria o homem que lhe dera a vida, morto. Merecia isso. Mas merecia sofrer um pouco mais. Mas era seu pai, e mais uma vez Draco encarava uma confusão que lhe provocou uma leve fisgada na têmpora, que pareceu pulsar mais forte. Levou o dedo por sobre essa. – Também não quero falar disso... Por que não me conta o que tem feito, além daquele curso de auror?

- Faço estagio em uma biblioteca bruxa – mexeu no edredom – Unindo o útil ao agradável...

- Granger uma vez, Granger até morrer – sabia que a menina sempre gostara de ler, e que era ela quem levava aqueles dois ‘exploradores’ nas costas. Presenciara certa vez na biblioteca, Rony Weasley esticando o pescoço e copiando seu dever. O que parecia ser muito normal na rotina deles. Lembrou-se de Hogwarts e dos colegas da Sonserina. – Sente falta da escola?

Ela fez uma careta – Que pergunta é essa? É lógico que não, quem sentiria? – um meio riso, que ela percebeu ter saído bem distraído, como os risos que dava quando Harry estava contando uma de suas atrapalhadas por eventos, ou quando juntava o trio para sair e comer pizza.

- Eu sinto... Sinto falta do Quadribol... E de Pansy e Mila... De Crabbe e Goylle não... Mas, eu gostava apesar de odiar, a escola... Sabia que os pais deles também estão em Azkaban? – perguntou como uma amiga que conta uma novidade sobre o novo aluno bonito que entrou em sua sala.

Hermione deu os ombros – Eles mereceram estar lá. Não tenho dó de pessoas que não prestam – balançou a cabeça negativamente.

- E de mim? Você tem dó? Você me odeia não é?

A pergunta de Malfoy chegou aos seus ouvidos num tom que lhe soou meio engraçadinho. Meigo até, o modo como ele movimentou a cabeça, demonstrando indignação. Somente estando debaixo do mesmo teto com ele, em uma situação como aquela para conhecer o Malfoy oculto pelo uniforme de Hogwarts. Chegava até a achar que antes o menino não passava de um bonequinho de seu pai, que era modelado pelo mesmo, Lucio Malfoy era uma pessoa realmente capaz de querer corromper seu filho para o próprio proveito. Draco não passava de um filho manipulado, que tinha como exemplo o pai, mas depois da queda de Voldemort e da prisão do mesmo, ele descobrira o caminho certo a seguir. Quem sabe não tivesse desenvolvido a capacidade de ter sentimentos bons, e o melhor, um coração quente.

- Bem... Esse Malfoy não, mas o Malfoy de antigamente sim. Desprezo-o – passou a franja que soltava para detrás das orelhas, onde um pequeno brinco de esfera reluzia numa tonalidade de difícil compreensão. – Esse Malfoy é bonzinho... Só fica assim quando está a noite é? – brincou em tom animado.

Draco fitava sua face, as linhas que faziam suas bochechas recolherem-se quando ela sorria, seu sorriso, seus lábios. O brilho oculto de seus olhos. – Só fico assim com você – sua voz saiu mais baixa, mas suficientemente alta para ela escutar muito bem. – É estranho por que eu não sei explicar, sabe? – riu nervosamente, por que tinha de ter falo o que falara. – Eu gosto de você Hermione, mesmo te odiando... Eu gosto... E gostei de te beijar, e se eu pudesse – engoliu o excesso da saliva. – Eu beijaria de novo, de novo, e mais vezes... – por que nesses momentos as palavras vão saindo sem antes serem medidas, sem serem pensadas ou planejadas?

- Você pode – murmurou ela, talvez quisesse que ele não escutasse, tão baixo falou, mas ele escutou e seus lábios pararam de profanar o que sentia naquele momento. – Eu também gostei... Eu também quero – “Mas que droga Hermione Granger! Você não quer nada” a voz em sua cabeça esbravejou, querendo ser mais forte que seu desejo. Era a razão, mas a razão não poderia ir contra o seu querer.

Ele pulou de onde estava para mais perto dela, faltando pouco para suas pernas ficarem sobre as da jovem. Sua mão passou rápida pela face dela, puxando-a para perto da sua. Movimentos rápidos e bruscos. Sua mão na nuca dela, seu corpo inclinado sobre a mesma. Lábios que se queriam, sedentos se saciavam naquele beijo que parecia desesperado.

Seu corpo tocou a cama, sentia o peso do loiro mais uma vez sobre si, entre um e outro o tecido macio do edredom. Suas mãos às costas dele, subindo para o meio da mesma, levando consigo a veste, erguendo-a, tirando-a do corpo dele.

Draco precisou afastar-se para que a camisa do pijama fosse ao chão. Ajoelhado sobre a cama, observou-a livrar-se também da camisa que usava, a propósito, uma camisa sua. Aquilo era a chave para muita coisa. Apreciou por momentos os seios dela, desafiadores da gravidade mantinham-se em pé, alvos e de bicos rosados, enrijecidos, aparentemente saborosos. Sentiu-se excitar... O formigamento no baixo ventre. Seus olhos vidrados no corpo quase nu a sua frente. Queria avançar sobre ele, como esfomeado sobre comida... Mas não queria que fosse assim, tudo de qualquer jeito, somente para saciar seu prazer. Não... Queria proporcionar a ela as mesmas sensações.

Com as mãos a tremer levemente, tocou as laterais de seus seios, os dedos deslizando sobre a pele, quase não a tocando, indo para os bicos, seus olhos foram repousar sobre a face dela, enquanto seus dedões rodeavam a aureola rosada, pressionando com leveza a pele, contra o corpo da mesma.

Hermione fechou os olhos, podia sentir os dedos dele, massageando-a, a mão tomando seus seios, enchendo-se com gosto naquele busto que hoje era farto. Um frio gostoso em seu ventre, bem próximo de onde a calcinha começava, que lhe fazia um calor subir...

Os lábios do loiro atingiram seu pescoço, lábios quentes e umedecidos lhe tocando a pele fria de excitação. Ouviu-a puxar o ar por entre os dentes, estava arrepiada. Sentando-se, conseguiu conduzi-la para sobre seu colo, as mãos escorregando para seu quadril, mantendo seus corpos próximos, fazendo-a erguer e baixar-se sobre seu colo. As mãos de Hermione em seus ombros, receosos a segurar o peso do corpo.

- Eu só posso estar sonhando – afastou a face da pele dela, inclinando a cabeça para trás, para enxergar o rosto da mesma. – Isso não pode realmente estar acontecendo... – mediu-a de cima a baixo incrédulo, olhos gananciosos, devoradores de detalhes.

Ela fechou os olhos, e demorou-se um pouco com eles assim. “Sei que quando abrir os olhos não será o Malfoy aí embaixo... É...” Foi abrindo lentamente os olhos, seus cílios atrapalhando em primeiro momento ver a pessoa a sua frente, mas logo os cabelos louros tomaram seu campo de visão. Um sorriso um tanto quanto bobo, que depois de segundos transformou-se em demente. – Merlin! – elevou as mãos aos cabelos, passando-os para um dos ombros. – O que estou fazendo? – aquilo tudo parecia uma grande piada. Não se recordava do exato momento em que deixara de estar vestida.

- Está bêbada por acaso? – ele riu, cada nota de seu riso demonstrando uma felicidade incomum. Seus olhos também deixavam isso claro.

Ele a amava, e só agora isso fazia sentido na vida de Hermione Granger... Draco Malfoy a queria possuir... Entregaria-se assim, facilmente... Só por um eu te amo...?

Sorriu sem graça, abaixando a cabeça. Por que diabos não conseguia separar seu corpo do dele? Que atração era aquela pelo filho de Comensal? Não estava ali a mais de duas horas, no entanto sabia que o conhecia tão bem quanto qualquer outra pessoa que passara a vida toda ao lado dele... Como Pansy Parkinson... O que ela na verdade era dele, a Pansy? Sentiu uma pequena pontada no peito ao pensar na possibilidade da bochechuda já ter tido algo com o loiro. Seu loiro? “Pare com isso...” Balançou a cabeça vagamente tentando afastar da mente a visão indistinta de uma masmorra e um casalzinho beijando-se calorosamente. O que Pansy fazia com a boca na de Draco? “Pare com isso....” A cena havia mudado, estavam num quarto, igualmente com aquele em que se encontrava com o rapaz... Mesma cena... Mas a moça tinha cabelos escuros e bochechas salientes... Pansy Parkinson... “PARE COM ISSO!!!”. Cravou as unhas no braço para acordar daquele pesadelo... Por Merlin... Estava apaixonada por Draco Malfoy... Isso não era certo... Não podia ser... “Mas os opostos se atraem” disse uma voizinha suave em sua mente, até soou bem maliciosa... Afinal de contas de que lado sua consciência estava?

Draco a fitava com grande curiosidade, não gostava do silêncio dela. Levantou a mão e encostou-a no queixo da moça, erguendo seu rosto. Ela parecia perdida em algo, talvez não estivesse aceitando a idéia. Aproximou a face a dela, seus olhos nos de Mione. – Tudo bem? – perguntou, seus lábios vagamente encostando-se nos dela.

Umedeceu os próprios. – Eu to com medo Dra... – engoliu o excesso da saliva. – ...co.

- De que? – perguntou como se falasse com uma criança pequena. Com as mãos desenhou o rosto dela, maçãs coradas.

- De passar a gostar de você... – falou baixo, como se houvesse mais alguém no cômodo, e tal pessoa não pudesse ouvir. – De me apaixonar... Por você... – dava atenção às pequenas rachaduras de cinza, nos olhos azuis dele. Estava sentada sobre seu colo, sentindo um certo volume entre uma coxa e outra.

- Deixe-se apaixonar por mim – tocou seu queixo com os lábios, fazendo-a fechar os olhos. – Eu te amo... – subiu o beijo pros lábios.

Hermione voltou a abrir os olhos, segurou a face dele com as duas mãos. – Não vai me machucar não, é? – a pele dele era lisa, como a casca de um pêssego, e quente. Seu machucar não era fisicamente e ele pareceu entender.

- Nunca – sorriu com o canto dos lábios, um sorriso cínico sem a pretensão de ser. Gostou do sorriso dela, tão exuberante quanto a dona.

Os lábios voltaram a se unir. Hermione deixava que aquela paixão toda tomasse seu ser, retribuía-o com a mesma intensidade. Seu corpo nu foi deitado sobre a cama, agradeceu silenciosamente por ele não dirigir o olhar ao seu órgão sexual, mas não pode deixar de o olhar quando o mesmo se livrou da parte inferior da veste de dormir.

- Te peguei olhando – exclamou ele num tom mais baixo que o normal, um sorriso incontido nos lábios.

Mudou as vistas para o dorso da cama, o rosto ardeu mais. E depois riu com ele.

- Quer passar a mão? Fazer carinho? – brincou o louro enquanto inclinava seu corpo sobre o dela. Mantendo-se afastado na parte do quadril.

- Draco – resmungou. Ouviu-o perguntar um novo “Quer?” regado com um risinho malicioso. – Isso é nojento... – e riu do ar ofendido dele. Riu baixo, com certo dengo.

Ele balançou a cabeça negativamente, dobrou os braços, deixando sua face sobre a dela, um novo beijo se iniciava, conduzido pelos pingos de chuva que ainda caiam lá fora, que afoitavam a janela. Era o único som que ouviam, e era bom, romântico até.

Draco levou a mão ao membro ereto, seus lábios afastando-se dos dela, olhou para baixo, foi guiando-se ao caminho certo. Tocou-a, sentindo a jovem contrair os músculos das coxas, tentando fechar as pernas... Impossível com o seu quadril no meio delas. As mãos de Hermione foram para suas costas. Malfoy voltou-se para ela, o beijo recomeçando, sentia a respiração da menina libertar-se por suas narinas e atingir sua face, ela arfava.

Estranho não era bem a palavra para descrever a sensação do pênis dele encostando, em si. As pernas se contraíram sem que fosse dada a ordem. Seu peito inchou, por que o coração queria sair pela boca. Era quente, e estranhamente lembrava um dedo muito grosso melado de sabe-se lá o que. Ele voltou a beijá-la, isso deveria ser uma enganação. Fazê-la relaxar, mas não estava funcionando muito bem. Aquilo parecia grande demais para caber lá, e isso assustava muito, Mione.

Sentiu-o imprimir o corpo contra o seu, seu membro invadindo-a vagarosamente. Mas uma vez os músculos contraíram-se, apertando mais a passagem. Estava doendo, ardia e parecia querer rasgá-la por completo. Separou seu rosto do dele, virando-o para o lado, numa careta agoniada.

Draco sentiu as unhas dela fincando-se em suas costas, seu semblante dolorido. Recolheu o corpo para trás, afastando seu quadril do dela. – Doeu? – tocou a face dela com a palma da mão, virando-o para si. Hermione tinha lágrimas nos olhos, ela concordou pressionando um lábio contra o outro. – Desculpa... – pediu de imediato. – Olha, relaxa ta? Não dói se você não estiver com medo. Não tenha medo de mim – balançou a cabeça negativamente e vagarosamente. – Não vou te machucar – novo carinho em sua face. – Confia em mim, Mione...

Engoliu mais uma vez o excesso da saliva, tentando afastar aquele medo de si. Ele perguntou se tava tudo bem, novamente. – Tudo... – respirou fundo, buscando um melhor apoio para as mãos, que havia passado por debaixo dos braços dele e estavam mais uma vez em suas costas. Soltou o ar por entre os lábios afastados. – Pronto... – fitou-o, tentando arrancar dele toda aquela calma. Malfoy devia ser experiente e ela ali, fazendo feio na frente dele, que parecia não se importar com tal imprevisto. Era inexperiente, e isso a fez lembrar que jamais fizera aquilo.

- Vai doer um pouco, mas logo passa... Pode enfiar as unhas se quiser ta...? Se doer muito, me avisa que eu tiro... O.k? – deu-lhe um selinho carinhoso, encostando seu nariz no dela. Ela por sua vez concordou com a cabeça. – Não se assuste... – ergueu um braço da cama, mantendo seu corpo erguido pelo outro e pelos joelhos. A mão foi levada à altura da boca.

Ele lambeu as pontas dos dedos, os olhos desceram por seu corpo, parando em seu sexo, sentiu os dedos dele tocarem-na, lubrificando sua vagina. Seu corpo ergueu-se um pouco do lençol e da cama, seus olhos fecharam-se, os dentes prenderam o lábio inferior. Ele apertou-a com leveza, os dedos esfregando-se na garota, rancando-lhe gemidos baixos e indistintos, que se misturavam gradativamente ao barulho da chuva contra a vidraça da janela.

Achou aquele, o momento exato, ela estava embalada na excitação. Tirou a mão dela e levou-a ao próprio membro, voltando a colocá-lo na entrada da vagina. Seu braço voltando para a lateral do corpo da jovem. Impulsionou seu corpo mais uma vez para cima do dela, seu membro deslizando para dentro, as coxas de Mione tentando fechar-se, encontravam-se com o quadril dele. Os lábios de Draco se entreabriram, as pálpebras pesaram de prazer e se fecharam. A passagem estreita, quente e molhada, pela qual acabara de passar, lhe provocou isso, falta de ar e um gás incomum. Seu gemido encontrou-se com o dela no espaço e tempo.

As unhas enterraram-se na pele das costas de Draco, sentira-o deslizar para dentro de si. Deliciosa submissão, deliciosa sensação de preenchimento. Não pode conter aquele gemido, aquela fácil expressão de gostar. Ele voltava a afastar-se, saindo... Não, queria-o dentro de si. E ele veio....

Uma, duas... Muitas vezes aquela noite... Completaram-se por completo. Chegaram ao ápice juntos, no mesmo instante, isso não o fez perder aquela ereção. Era desejo demais para ser saciado em uma única gozada. Os gemidos estavam por todo o quarto, as palavras se encontravam e dançavam juntas o ritmo daquele amor que nascia. Que era fecundado no coração dela, regado no dele. Suor e saliva, dividiam os mesmos corpos, acariciados e apertados, por mãos que entrelaçavam seus dedos, fazendo-as amarem-se também.




Um raio que caira ali próximo, os fez olhar para o céu através da janela. O quarto fora iluminado por breves segundos, um clarão parecido com um lampejo que se soltava de uma varinha, quando um feitiço era lançado. E essa lembrança fez Draco rir.

- Que foi? – Hermione apoiou o queixo em seu peito, fitando-o. O sorriso bobo pelo acontecimento de outrora ainda nos lábios.

- Lembrei-me de quando era criança... Estava chovendo... Como hoje assim, não muito forte. Mas eu só tinha sete anos de idade – falou parecendo indignado, como se ela duvidasse de algo.- Então eu acordei assustado bem na hora que um raio caiu por aqui perto... Levantei correndo e fui pro quarto dos meus pais... Deitei com eles... – seus olhos começavam a adquirir um brilho meio aquoso. – Meu pai disse que um homem não podia ter medo disso, que era besteira... Minha mãe não... Começou a me contar uma dessas historinhas para criança... Disse-me que o lampejo lá fora era um feitiço, que um bruxo muito poderoso, que morava no castelo mais alto do mundo, lançava sobre a Terra, para que todas as crianças tivessem bons sonhos... – um novo riso, dessa vez ela acompanhou-o. Respirou fundo. – Aquilo me pareceu ter sentido até meus dez anos de idade... Imaginava eu conhecer esse bruxo... – de repente sua voz tornou-se grave e séria. – Quando soube que era mentira, fiquei com muita raiva de minha mãe... Não entendia por que ela mentia tanto para mim... Agora entendo que ela só queria que eu dormisse... Fosse para ter uma boa noite de sono, ou para deixá-la em paz – sorriu para Hermione, retribuindo o sorriso dela.

- Dez anos Draco? Você não era meio crescido para isso não? – arqueou levemente a sobrancelha. Deitando novamente a cabeça em seu peito e fechando os olhos, inalando o cheirinho dele, ainda existente em sua pele.

- Ta, tudo bem... Eu confesso, acreditei até os quinze... Mas não conta pra ninguém hein... – abraçou-a, mais apertado.

- Não vou contar, bebezão... – passou os braços pelo corpo dele, o envolvendo.

- Bebezão? Hermione, por Merlin né? Que coisa mais trouxa! – brincou com um sorrisinho sarcástico nos lábios.

- Trouxa né? – cerrou os olhos ameaçadoramente. Enquanto sentava-se.

- O que vai fazer? – tentou parecer sério, mas realmente não dava. Sentiu as mãos dela em seu corpo, fazendo cócegas, não segurou por muito tempo a explosão de risos que estava em seu estomago. – Pára, pára! – empurrou-a, à deitando sobre a cama. – Tenho um jeito melhor de tortura – deitou-se sobre ela, seus lábios na fauce de Hermione. Beijando, mordendo e chupando.

- Isso é bom... – levou as mãos aos cabelos dele.

A noite era uma criança que eles haviam gerado. Brincadeiras, risos e sorrisos sem fim. Até que o sono venceu-os, e eles dormiram, sendo parabenizados por sonhos maravilhosos, um presente de forças maiores, por tão lindo amor.




N/A:.Particularmente, eu gostei muito desse capítulo, apesar de ter sido dificil escrever da forma como escrevi, mas como eu já disse para uma amiga : "A razão do existir do ser humano é sempre se superar" e mais uma vez, eu me superei... Obrigado Alik's e quero pedir desculpa por... Vc sabe, essa fic era pra ser nossa... Mas... Perdão...

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