Ronald Chaperffield
Capítulo 13 - Ronald Chaperffield
- ALGUÉM PODE ME EXPLICAR o que está acontecendo? – perguntou Harry, quando desaparataram em uma ruazinha do Principado de Mônaco.
- Foi o primeiro local que me passou na cabeça – disse Hermione, os locais que haviam passado pela sua cabeça eram um tanto incomuns ultimamente – pelo menos vamos ter onde nos camuflar.
Ela apontava para o fim da rua, bloqueado primeiro por cones e peneus, depois por uma expessa placa de alumínio: o Grande Prêmio de Mônaco.
Chegaram a uma rua que parecia ser a avenida principal. Avenida era modo de dizer, já que ali todas as ruas eram estreitas, tinham um número de curvas maior que seu comprimento, e um a inclinação que tornava imposível colocar qualquer coisa no prumo.
O roncar agudo dos motores era audível de qualquer distância, anunciando os treinos. Mas foi quando Harry viu um cartaz pregado na vitrine de uma loja; com dizeres em inglês, italiano, francês e espanhol; pôde confirmar a suposição da amiga. A corrida seria no dia seguinte.
Desistiram de procurar hospedarias, albergues ou casas de familiares; Harry duvidava que Hermione tivesse parentes ali, e o país parecia ser pequeno demais para os Wesleys. Além disso, a experiência havia dito a eles que essa não era uma boa opção.
Foi mesmo um milagre terem encontrado um hotel. A maioria dos quartos da cidade estava já ocupada ou reservada para a corrida, de modo que Hermione teve de pedir a suíte master, exorbitantemente cara, até para os padrões locais.
Pela primeira vez puderam desfazer as malas, embora soubessem em seus íntimos que não iriam ficar ali por muito tempo. Estavam tranqüilos, Hermione era exceção.
- Minha mãe vai me matar! – suspirou Hermione, olhando cabisbaixa o autódromo recém-construído.
- Tente ver por um lado positivo – disse Rony – você pode deixá-los na Austrália até quitar sua dívida. De qualquer forma, duvido que eles recordem dos seus saldos – riu.
- Não teve graça, Rony – repreendeu-o Gina.
- De qualquer forma nós não vamos deixar de pagá-la depois – garantiu Harry. Agora ele tinha certeza de que ela era mesmo Hermione, e não um produto de Poção Polissuco.
O sol invadia o cômodo. Harry ficou pensando qual a porcentagem da área total do país aquela suíte ocupava, visto que sua malha rodoviária tinha apenas dois quilômetros de extensão.
Todos se recusaram a descer. A aflição de Hermione era diretamente proporcional à dívida.
A maciez do colchão e das roupas de cama não impressionaram a Harry. Para tentar atenuar as preocupações de Hermione, todos estavam aproveitando os recursos que a suíte oferecia. Capricharam na hidromassagem e deram um trato no visual. Rony até usou o telefone, tagarelando assuntos sem sentido com a recepcionista.
- Cuidado, eles podem cobrar isso depois! – Hermione acordou de seu transe na janela, provocando um frenesi.
Gina, de roupão, parou de preparar a cama e saiu correndo para desligar a hidromassagem.
- Sua tola! – disse Rony – Você já pagou por tudo isso! Aproveite.
- Sabe Rony – ela se animou – é a primeira vez nesses dias que eu concordo com o que você diz! – e foi apanhar seu roupão no armário.
Foi bom todos terem feito aquilo, pois a atmosfera ruim pareceu abrir uma brecha. Foram dormir por volta das onze horas na quela noite, Harry não teve nenhum sonho.
No outro dia, o roncar dos motores estava mais alto do que nunca, tanto era quase impossível conversar. Tomaram café e almoçaram no restaurante do hotel, sob o olhar vigilante de Hermione, que cuidava para não ultrapassarem a quota máxima já paga com a diária.
Resolveram fazer outro “city tour”; embora não houvesse muita “city” mesmo sem o autódromo.
A maioria das ruelas estava ocupada ora por fileiras de carros de equipes de TV internacionais, ora por trailers dos competidores, muitos cercados de viaturas de polícia e linhas de contenção. Eram raros os locas em que se viam as arquibancadas, já que muitas pessoas optavam por assistir a corrida das sacadas dos seus hotéis.
As ruas pareciam fazer muito mais curvas que no dia anterior. Não era a tóa que Mônaco era um dos circuitos mais fechados do mundo. Até mmesmo o mar estava apertado. Ao passar por uma marina, Harry ouviu dois homens discutirem sobre uma vaga de iate num italiano muito arrastado.
Quando chegaram aos boxes, a quantidade de trailers pareceu duplicar, juntamente com as centenas de mecânicos e auxiliares dando os últimos retoques nos carros, para a corrida dali a uma hora.
Foram chegando ao fim do autódromo quando Hermione deu um gritinho:
- RONY, ELE É IGUALZINHO A VOCÊ! – e apontou, num escândalo, para um outdoor ao lado do boxe de uma equipe de uniforme vermelho e amarelo. O piloto da equipe era uma versão de Rony com barba rala.
- Acha mesmo? – ele perguntou, se vangloriando.
- SIM! – ela assentiu, energicamente.
- Acho que ela precisa de um copo d’água – Harry afastou-a da multidão que invadia a região, Gina foi junto – para se recuperar do choque – sua voz foi se esvaindo em meio ao som dos espectadores que chegavam.
Rony se viu sozinho, as pessoas esbarrando nele, foi quando um homem, com o uniforme vermelho, veio correndo em sua direção:
- Graças a Deus eu achei você – seu sotaque era uma mistura de francês, italiano e alemão – venha, não podemos perder tempo, a corrida vai começar em poucos minutos – o homem o arrastou para dentro do box e chamou alguns companheiros de equipe:
- Dê um jeito nele – pediu a um dos auxiliares, que empurrou Rony para detrás de um biombo e lhe entregou o macacão.
- Vista – disse ele, puxando mais para o italiano.
- Como eu faço isso? – perguntou Rony, o conjunto de fivelas botões e velcros era um desafio.
- Parece que ontem a noite foi boa – o ajudante sorriu, maliciosamente – vou pedir um aumento de salário por isso – sua expressão ficou séria e ele começou a ajudar Rony a vestir o macacão.
Rony ficava cada vez mais confuso. Foi quando o homem apareceu com um capacete que Rony compreendeu:
- Espere! – ele falava, enquanto o outro literalmente enfiava o capacete em sua cabeça – acho que não sou quem você pensa! – ele gritou, mas sua voz foi abafada pelo visor, que embaçou. Ao tentar erguê-lo, foi impossível, porque estavam calçando luvas às suas mãos.
- PARE! – Rony gritou com todas as suas forças, quase rachando o visor do capacete, mas ninguém lhe deu ouvidos.
Agora lhe acoplavam um protetor cervical, fechando qualquer brecha pela qual seus apelos pudessem escapar.
Ele foi levado para fora, e quando viu o carro de bico proeminente quase teve um acesso de desespero. Foram precisos quatro homens para colocá-lo no cockpit.
Quando o diretor da equipe apareceu para desejar boa sorte, erguendo o visor, Rony temeu estar dando suas últimas palavras:
- Senhor, houve um engano, eu não sou quem você pensa...
- O que eu lhe disse sobre as diversões noturnas antes das corridas, senhor Chaperffield? – ele parecia estar falando com uma criança de três anos.
Foi quando um milagre aconteceu:
Rony virou a cabeça o máximo que pôde e, ao longe, viu o rosto dos três amigos procurando por ele:
- HERMIONE!!!!!!! – ele quase estourou as cordas vocais, e Hermione ouviu. Foi correndo em sua direção, junto com Harry.
- HERMIONE! HERMIONE! DIGA A ELES QUE ESTÃO COMETENDO UM TERRÍVEL ENGANO! – Rony se esgüelava no cockpit.
- Senhor – ela disse com muita calama – esse não é seu piloto.
- É claro que não! – ele ria, ficando púrpura – é impressionante como esses moços mudam após uma noitada – ele avaliou Hermione de cima a baixo – ainda mais com uma dama como tal.
Hermione teve a dignidade de não golpeá-lo com sua bolsa, que estava com um peso maior que o normal, porque sabia que isso não iria melhorar a situação; ao contrário, só iria distancia-la de Rony.
- Muito obrigada – ela fingiu. Harry achava impressionante a facilidade com que a amiga fazia isso.
- Pois bem – o diretor da equipe começou – como nosso amiguinho aqui não está no seu juízo perfeito – apontou para Rony – talvez você possa ajudá-lo na corrida.
Uma buzina soou, e os carros das outras equipes foram saindo da reta dos boxes.
- Como eu ligo essa coisa? – Rony olhava indignado para o amontoado de botões, alavancas e luzes piscantes na sua frente. E o chefe explicou rapidamente a localização dos freios e do acelerador, o que cada botão fazia, etc. Mas não ajudou muita coisa.
- Nós estaremos no seu ouvido – ele então deu uma batidinhano capacete e saiu com os outros da pista.
Harry e Hermione foram guiados pelo chefe de equipe através da garagem, chegando a um trailer que estava tão cheio de monitores, sensores, birutas e marcadores, que andar se tornava uma aventura. Harry teve a idéia de que alguém pegou a sala de controle de missão da Nasa e enfiou numa lata de sardinha.
Alguns técnicos já murmuravam instruções para outros pilotos da equipe, em diversos idiomas. O chefe que guiou Harry e Hermione se acomodou em uma cadeira reforçada em frente à um dos monitores.
- Como está o tempo? – ele perguntou, e imediatamente obteve a resposta de um operador com um monitor que reproduzia imagens de satélite em tempo real:
- Estão ótimas – ele conferia o monitor na sua frente – a umidade relativa do ar está diminuindo a temperatura do asfalto, e só teremos que fazer três trocas de pneu. A velocidade do vento está favorável, e não temos previsão de chuva.
- Ótimo – ele estralou os dedos – vamos começar.... Ah... senhorita, você e seu amigo podem sentar-se aqui – ele indicou dois lugares vagos ao seu lado – Vistam os fones de ouvido.
Harry atendeu ao pedido, e imediatamente sentiu seu canal auditivo ser invadido por um turbilhão de sussurros e chiados.
- Ham... senhor... – Harry apontou para os fones de ouvido.
- Oh, talvez eu deva ajustar a freqüencia – ele começou a girar um botão, e a situação melhorou – assim está melhor para vocês?
Os dois acentiram
- Powolski – ele pediu por um operador russo – ajude o Ronald a encontrar seu lugar no grid de laragada.
Menos de dois minutos depois Rony já estava em seu lugar, podiam ver por uma câmera. Uma coisa era certa: se ele batesse, não seria por negligência da equipe. Isso tranqüilizou os dois.
- Pois bem – os dois viraram em sua direção – Rony precisa chegar em quinto para se manter estável na tabela de pontos. Abaixo disso ele perde três posições na tabela, acima, melhor. Mas acredito ser um milagre ele chegar em quinto nas suas atuais condições – Harry já achava um milagre ele terminar em último, quanto mais em quinto.
Todos ali sabiam que o circuito de Mônaco era o mais fechado, íngreme, com o maior número de curvas, e o mais difícil do campeonato. Acidentes graves eram rotina.
Foi então que uma sonora buzina anunciou o início da contagem: todos ficaram apreensivos, Harry já não sabia se o que estava em sua garganta era seu pomo-de-adão ou seu coração. Pelas câmeras puderam ver os faróis da pista se tornando gradativamente mais verdes do que vermelhos.
- Ele sabe quando deve começar a corrida? – Hermione parecia desacreditar que ele soubesse o que era uma corrida. Powoski indicou com o polegar.
Quando a buzina inicial tocou, todos os carros saíram em disparada menos, é claro, Rony.
- FAÇAM AQUELE IDIOTA SAIR DO LUGAR!!! – o chefe de equipe ficou púrpura naquele exato momento, lembrava em muito o tio Válter, exceto pelos três queixos.
- RONY, PISE NO ACELERADOR!!!!!!!!!!!! – Hermione e Harry gritaram juntos, fazendo as paredes do traler vibrarem.
Tudo o que Harry ouviu em seguida foi um amontoado de chiados, sob os quais se achava a voz de Rony:
- Está bem – interferência – estou indo! – Harry viu o carro avançar alguns metros e parar – Calma, estou indo...
- ESTÁ INDO COISISSÍMA NENHUMA!!!!! VOCÊ JÁ DEVERIA TER IDO!!! – Hermione ficava mais vermelha que o uniforme dos oficiais ao seu lado.
Harry temia que os outros carros o atropelassem, mas antes que eles o alcançassem, ele partiu.
Na primeira reta, Rony correu como um louco, sem ninguém para atrapalhá-lo. Mas na primeira curva, na Sainte Devote, ele se atrapalhou na rotatória, quase invadindo a contra-mão.
- MEU DEUS! ELE QUASE MORREU – Hermione olhava indignada para o chefe, se perguntando como ele era capaz de assistir aquela carnificina eminente na maior tranqüilidade.
- Não se preocupe! – ele ria – o pior ainda está por vir! Nós temos o túnel! – Harry media quanto tempo a amiga agüentaria sem dar um tapa na cara daquele velho.
A próxima reta também foi tranqüila,e Rony parecia estar pegando o jeito do carro. Andava cada vez mais rápido, muito rápido.
- Cuidado – o chefe falou para Rony, com muita calma, sua voz transmitia profissionalismo – há duas curvas muito fechadas à frente.
- Está bem – a sua voz era firme, sem uma gota de insegurança.
Rony descreveu um arco muito gracioso na pista. Parecia conhecer o carro à décadas. A curva passava em frente ao cassino. Depois desa curva, e de uma pequena reta, surgiram as duas curvas que o chefe alertou. Pelo monitor Harry viu que elas formavam um “S” em declive num morro. Rony diminuiu a velocidade o mínimo possível, seguindo a risca as orientações.
Em seguida veio ele: o túnel. Como quase toda a pista, era inclinado. Por dois segundos o fone de Harry não captou som algum, apenas estática.
- Querem me dar um oi? – a voz foi um calmante para Harry.
- Ele vai passar na reta dos boxes em um segundo – em meio Hermione já estava lá.
- PEGA ELES RONALD!!!!! – ele passou como um tiro por ela, que agora chorava. Harry lhe ofereceu um lenço.
Quando voltaram para a cabine, Rony já disputava posição com o décimo lugar.
- O que houve? – Harry perguntou, achando aquilo obra divina.
- Um acidente depois do cassino, cinco carros bateram, e dois estão fora.
Nos monitores, todos puderam ver o Safety Car entrar na pista com as sirenes amarelas ligadas. A bandeira amarela foi tremulada.
- Reduza a velocidade! – Harry informou, prontamente.
- Se os carros que estão nos boxes voltarem antes do Safety Car, Rony perde duas posições.
Harry podia ouvir as outras equipes consertando seus carros o mais rápido possível. “Demorem”, ele pensou.
Os carros aora formavam uma fila comportada atrás do Safety Car que, para alívio geral, passou pela entrada dos boxes antes dos acidentados e saiu da pista.
A bandeirada verde foi dada. A corrida recomeçou.
Naquele atordoamento inicial, Rony foi esperto e ganhou mais três posições.
- Mais três acidentes e ele ganha – o humor negro de Hermione era de gelar o sangue.
Foram necessárias mais quarenta voltas e três reabastecidas para que ele ganhasse mais três posições; e um acidente para ganhar mais uma. Estava agora em nono.
- Vamos lá! – Hermione estimulava – mais três posições até o fim!
- Como se fosse fácil! – o espaço apertado parecia estra deixando Rony irritado. Nisso, ele ultrapassou mais um.
- Você não parece ter problemas com isso – Hermione deu um risinho.
- Mas que diabo é isso?
Tanto Harry quanto Hermione ouviram o que Rony ouvia: Ludwig Van Betowen.
- Parece que ele gosta de escutar B.. RONY, ATRÁS DE VOCÊ!!! – a explicação de Harry foi interrompida pelo carro que se aproximava de Rony por trás
- AGORA NÃO!!!! – a voz de Rony soou ameaçadora. A música alegre entrava em choque com a atmosfera de tensão trasmitida pelo carro prata que se aproximava.
- NÃÃÃÃÃÃÃOOOO – Rony fechou-o três vezes seguidas. O carro prata recuou, foi reabastecer.
- Agora! – o chefe gritou para Rony, que acelerou. Nisso, ganhou uma posição.
- Mais uma – sussurrou Hermione. Rony tinha mais cico voltas para isso.
Foi quando uma luz piscou.
- Ronald, reabastecimento – ordenou o chefe.
Ele entrou nos boxes o mais rápido possível.
- Se correr ganha mais uma posição – o chefe disse, enquanto ele terminava de reabastecer.
Ele correu. Harry podia ver os outros carros se aproximando. Era agora ou nunca. Rony correu mais. Hermione apertava tanto a mão de Harry na bancada que chegava a parar a circulação.
Rony passou.
Hermione quase arrancou a mão de Harry quando pulou de alegria.
- ELE CONSEGUIU! ELE CONSEGUIU! – ela pulava, espatifando meia dúzia de equipamentos.
- Calma – o chefe de equipe a trouxe para a terra firme – ele agora precisa manter essa posição – no que disse isso, houve outro acidente, bem longe de Rony.
- Parece que seu santo é forte, mocinha – ele ria.
- Como ia dizendo...
Era praticamente impossível alguém ultrapassar Rony àquela altura.
A bandeira quadriculada tremulou, Rony em sexto.
Alguns minutos depois, Harry e Hermione aguardavam ansiosos Rony sair do carro, entre várias dezenas de repórteres e fotógrafos.
No que Rony tirou o capacete, Hermione correu em disparada ao seu encontro, pulou no seu colo e tascou um apaixonado beijo francês.
- Pensei que você fosse morrer – ela suspirava nos braços do namorado.
- Agora eu sei que toda aquela história da França era mentira! – ele brincou, coberto de suor.
- Cala a boca! – ela pediu, e com seu jeito muito peculiar de fazer quem ama calar a boca deu-lhe outro beijo apaixonado. Os dois ignoravam completamente os flashs.
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