O Beijo do Dementador
CAPÍTULO 9 - O BEIJO DO DEMENTADOR
O SOL NUNCA NASCIA naquela parte do globo, talvez por isso todos os condenados fossem brancos como cal. Mas ela era uma exceção, tinha um enorme hematoma do lado esquerdo do peito, e ele ainda doía. Carregava um filho no ventre, embora ninguém acreditasse. E também era Belatrix Leastrenge, embora quase ninguém a chamasse por esse nome.
Sabia que iria morrer muito em breve, e teria que dar um jeito de evitar que isso acontecesse, já que seus objetivos eram bem maiores: o Lorde havia lhe dado instruções explicitas, mas agora, tendo passado quase quatro meses naquela maldita cela, a sua lealdade a ele começava a se esvair.
Sua varinha, onde diabos iria encontrá-la? Muito provavelmente já fora destruída, e de qualquer forma seria quase impossível recuperá-la. Teria que roubar uma, e teria que ser logo. Não sabia quanto tempo mais iriam adiar a sua execução, os Dementadores ficavam mais sedentos a cada segundo, podia sentir seus hálitos atravessando as paredes maciças.
Um casal de ratos passou pela sua coxa, com movimntos idênticos e cronometrados. Ela teve uma idéia.
Mas os gemidos em uma língua estrangeira vindos da cela ao lado atingiram os seus ouvidos, bloqueando o pensamento.
- Mas quem ous... – ela sussurrou para o espanhol ao seu lado.
- Eu séi quem procúras i posso ajudá-la – respondeu ele com um sotaque forte, e Belatrx o indagou com o olhar – soy a quem chamam Kassianus, y voy ajudá-la – ele respondeu, sussurando ainda mais baixo.
Ela estava em choque, devia confiar naquele estranho? Nunca havia ouvido falar nele, seria a favor da sua causa? Era sua única e mais remota esperança. Decidida, e com muita cautela ela disse, num ensaio de movimento labial:
- Distria-os – ele se limitou a assentir, muito vagarosamente, fingindo gemer.
Belatrix então gelou novamente ao perceber a aproximação de um Dementador. Teria lido seus pensamentos?
Para seu alívio, ele apenas acompanhava um pequeno grupo de aurores: iriam levá-la para o Beijo.
- BELATRIX LEASTRENGE! – o auror mais velho gritou, as palavras ecoaram em seus tímpanos, ela se levantou como se impelida por um impulso elétrico.
Ele se aproximou, segurando a varinha firme, porém muito no fim do cabo.
- São vocês que servem comida? – Kassianus perguntou, e os três bruxos viraram em sua direção. O auror nem sentiu quando a varinha escorregou da sua mão. Mais que depressa, Belatrix a escondeu com o pé.
- O que disse? – o auror perguntou.
- Estoy aquí a dois días e não comí nada.
- Seu espanhol vagabundo, aqui é realmente um milagre servirem uma refeição ao dia, sinto muito se você perdeu as duas. Michel – ele se virou para o auror mais moço – como é o nome dele?
Ele passou a consultar uma prancheta com um enorme catálogo, os outros dois ainda distraídos com Kassianus. E foi com facilidade que Belatrix subtraíu a varinha do bolso do homem com a prancheta. De cócoras ordenou, num feitiço não verbal: Gemini; e a varinha abaixo do seu pé se duplicou, surgindo uma nova à esquerda da original. Recolocou a varinha dele no bolso.
- Ora, mais eu tenho direitos internaccionais! – rosnou Kassianus.
- Você é um criminoso, não tem direito algum! – os dois homens responderam, completamente alheios à ação que se desenrolava aos seus pés.
Foi quando Belatrix guardou a varinha original em um local que ninguém revistaria, que Kassianus terminou.
- Hã... senhor, o nome dele é Kassianus – o auror havia terminado a sua busca.
- Pois bem Kassianus, nos vemos em breve – disse o outro auror, enquanto recolhia a sua varinha do chão frio – vamos Leastrenge, tem alguém louco para te beijar.
Eles seguiram pelo corredor, que a cada passo que davam parecia aumentar dois. Quando finalmente chegaram ao fim, viraram à esquerda e subiram intermináveis lances de escadas.
A brisa marítima invaiu os pulmões de Belatrix sem pedir licensa, quando chegaram a um pátio circular descoberto, com uma pedra e correntes ao centro.
Levaram-na sem nenhuma cerimônia até a pedra, que ficava em um ângulo proposital, para impedir a movimentação do prisioneiro uma vez que acorrentado a ela.
- Devo reforçar a proteção? – Michel perguntou ao seu chefe.
- Quem precisa de proteção contra uma bruxa desarmada e enfraquecida?
Não havia mais ninguém ali, tirando os quatro bruxos e um trio de Dementadores. Não seria uma cena digna de platéia.
Quando os dois bruxos largaram dela para apanhar as correntes, ela pensou “agora”. Num ato de puro reflexo, ela apanhou a varinha roubada e desapartou.
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